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quarta-feira, 29 de julho de 2009

VI - Encontro de Jovens da OCDS



VI - Encontro de Jovens da OCDS

Tema: “Conhece - te a Ti mesmo!“

Lema: “A meu ver, jamais chegamos a nos conhecer totalmente se não procuramos conhecer a Deus!”

(Santa Teresa de Jesus)

Auto - conhecimento

"O primeiro passo para a experiência de Deus é o conhecimento de si mesma. Quando se refere ao conhecimento de si, Teresa tem sempre em vista uma dupla finalidade: a própria miséria, de um lado e a experiência de Deus, de outro, pois: "pensar que entraremos no céu sem entrar em nós, conhecendo-nos e considerando nossa miséria e o que devemos a Deus pedindo-lhe muitas vezes misericórdia, é desatino".
Durante seus dias de trabalhos interiores para alcançar oração, Teresa encontrará um sábio conselho agostiniano de que "a verdade não está fora, senão no homem interior". Neste aspecto, ela considerará o interior de cada homem, como um precioso castelo de diamante, cujas moradas não somente correspondem respectivamente as áreas da personalidade humana, mas também o Centro, que é o lugar em que se realiza o encontro com o próprio Deus: "Falo de considerar a nossa alma como um castelo todo de diamante ou de cristal muito claro onde há muitos aposentos, tal como o céu tem muitas moradas, e no Centro, no meio de todas está à principal, onde se passam as coisas mais secretas entre Deus e a alma". Para Santa Teresa, o conhecer a si mesmo é necessário não é somente para que se alcance a harmonia e o encontro consigo, ou ainda a plenitude de nosso ser. O auto - conhecimento é indispensável para uma caminhada mais ousada, ou seja, chegar a conhecer o próprio Deus que habita no profundo, no Centro de cada homem.
Não há relacionamento com Deus sem que saibamos quem somos e o que somos.
Nas suas próprias palavras: "considero maior graça de Deus um dia de humilde auto-conhecimento, mesmo à custa de muitos sofrimentos e aflições, que muitos dias de oração" . Entretanto segundo a mesma Teresa, para que o auto-conhecimento se torne completo, pleno, faz-se necessário uma atitude de busca do conhecimento de Deus.
O auto-conhecimento para Teresa, não se separa do conhecimento de Deus: "A meu ver, jamais chegamos a nos conhecer totalmente se não procurarmos conhecer a Deus".

(Considerações sobre Santa Teresa de Jesus)

O Carmelo Descalço

(You Tube)

Vocação e carisma no Carmelo descalço


O Carmelo sempre despertou e continua despertando interesse. As grandes figuras do Carmelo passam pela nossa frente com certa nobreza e elegância, relembrando os grandes mistérios do Deus misericordioso que desde o profeta Elias continua a falar na noite, na montanha e no deserto.
A história do Carmelo é marcada pela beleza de uma presença constante de Deus e um desejo permanente de não deixar-se apegar aos desejos terrenos. Os carmelitas tentam ultrapassar as nuvens do relativo e perder-se no céu infinito do amor do Senhor.
Ao longo da história do Carmelo, percebemos a misericórdia do Senhor que conduz a sua Ordem através de imprevistos, desertos, momentos difíceis, mas que consegue vencer. Do monte Carmelo chegam à Europa, sentem-se rejeitados, mas confiam na proteção de Maria e vão superando os momentos cruciais da vida, afirmando-se cada vez mais.
A árvore do Carmelo será renovada, quase formando uma árvore nova através de Santa Teresa e São João da Cruz.

O Carmelo descalço, numa total transparência, começa na Igreja uma nova forma de espiritualidade.
Num estilo marcado pela simplicidade e austeridade, surge na Igreja uma nova família religiosa, que assume como carisma o ministério da oração. Rezar e ensinar os outros a rezar. Os ensinamentos dos místicos carmelitas serão como que chama viva iluminando a noite da fé.
O Carmelo ocupa um lugar de destaque dentro da Igreja pela sua insistência na oração e pela força da fecundidade interior. Uma nova maneira de fazer apostolado. O ser fermento, sal e luz é sempre questionador e ao mesmo tempo encantador.

Carisma Teresiano


Como todas as Ordens religiosas, o Carmelo tem um carisma próprio, uma fisionomia que o distingue dos outros, uma identidade, um patrimônio espiritual que é chamado a renovar constantemente numa fidelidade criativa. Nós, carmelitas, somos constantemente chamados a voltar às fontes e renovar-nos por meio de um processo de conversão, para que o espírito de Santa Teresa e São João da Cruz permaneça sempre vivo, seja cada vez mais atraente para o mundo de hoje e capaz de suscitar entusiasmo, admiração e desejo de imitação nos corações de tantos
jovens de todos os tempos.

Os mais importantes elementos de nossa vocação:


Abraçamos a vida religiosa “em obséquio de Jesus Cristo”, apoiando-nos no comum destino, na imitação e no patrocínio da santíssima Virgem, cuja forma de viver constitui para nós um modelo de configuração com Cristo.
Nossa vocação consiste numa graça que nos impele, numa comunhão fraterna de vida, a uma misteriosa união com Deus pelo caminho da contemplação e da atividade apostólica que se fundem indissoluvelmente a serviço da Igreja.
Somos chamados à oração, que, alimentada pela escuta da Palavra de Deus e pela Liturgia, nos conduz ao trato de amizade com Deus, não só quando rezamos, mas também na vida. Comprometemo-nos nesta vida de oração, que se nutre da fé, da esperança e, sobretudo, da caridade divina, a fim de podermos, purificados os corações, nos aprofundar em nossa vocação cristã e nos dispor a uma efusão mais copiosa dos dons do Espírito Santo. Assim participamos do carisma teresiano e continuamos a inspiração primitiva do Carmelo, envoltos pela presença e pelo mistério do Deus vivo.
Pertence a mesma razão de ser do nosso carisma animar de zelo apostólico a oração e toda a vida consagrada, trabalhar de diversas maneiras a serviço da Igreja e dos homens, para que verdadeiramente a ação apostólica proceda da íntima união com o Cristo; mais ainda, aspirar também a sublime forma de apostolado que flui da plenitude do estado de união com Deus.
Pretendemos realizar ambos os serviços, o contemplativo e o apostólico, formando uma comunidade fraterna. Desse modo, fiéis à idéia primitiva de Santa Teresa de fundar uma pequena família à imagem e semelhança do pequeno “colégio de Cristo”, graças à nossa comunhão de vida baseada na caridade, tornamo-nos testemunhas da unidade da Igreja.
Finalmente esforçamo-nos por edificar a nossa vida sob o fundamento da abnegação evangélica conforme a regra e os ensinamentos de nossos Santos Padres.

Após apresentarmos estes importantes elementos da vocação carmelitana fica fácil compreender a beleza desta vocação contemplativa ao serviço da igreja.

O carmelita quer ser um fermento discreto, mas que atue na comunidade com seu testemunho e com seu amor. Uma presença de Deus na Igreja Universal e na Igreja local.

Nas constituições carmelitas da-se bastante importância a oração, a vida fraterna e ao apostolado da espiritualidade.

A oração tem como finalidade nos colocar mais perto de Deus, para estarmos mais perto dos homens e mais perto dos homens para estarmos mais perto de Deus. Deus e o homem são mistérios inseparáveis.

O Carmelo quer estar a serviço de Deus para estar a serviço da humanidade e ser no meio dela uma luz que guia para Deus.

Precisamos de Santos


Precisamos de Santos sem véu ou batina.

Precisamos de Santos de calças jeans e tênis.

Precisamos de Santos que vão ao cinema, ouvem música e passeiam com os amigos.

Precisamos de Santos que coloquem Deus em primeiro lugar, mas que se "lascam" na faculdade.

Precisamos de Santos que tenham tempo todo dia para rezar e que saibam namorar na pureza e castidade, ou que consagrem sua castidade.

Precisamos de Santos modernos, santos do século XXI, com uma espiritualidade inserida em nosso tempo.

Precisamos de Santos comprometidos com os pobres e as necessárias mudanças sociais.

Precisamos de Santos que vivam no mundo, se santifiquem no mundo, que não tenham medo de viver no mundo.

Precisamos de Santos que bebam coca-cola e comam hot dog, que usem jeans, que sejam internautas, que escutem disc man.

Precisamos de Santos que amem apaixonadamente a Eucaristia e que não tenham vergonha de tomar um refrí ou comer uma pizza no fim-de-semana com os amigos.

Precisamos de Santos que gostem de cinema, de teatro, de música, de dança, de esporte.

Precisamos de Santos sociáveis, abertos, normais, amigos, alegres, companheiros.

Precisamos de Santos que estejam no mundo; e saibam saborear as coisas puras e boas do mundo, mas que não sejam mundanos".

(João Paulo II)

“ Oh! Verbo eterno, palavra de meu Deus, quero passar a vida a ouvir-vos, quero ser de uma docilidade absoluta para tudo aprender de Vós; e, depois, através de todas as trevas, todos os vácuos, todas as fraquezas, quero fitar-Vos sempre, e ficar sob a vossa grande luz. Oh! Meu Astro amado, fascinai-me para que não me seja mais possível sair de vosso clarão radioso. “

( Beata Elisabete da Trindade )

Frei Patrício Sciadini, ocd

O caminho do método da oração carmelitana é o mais simples de todos.

“Quando o coração reza sempre responde:

“A oração é um íntimo diálogo de amor com Aquele que sabemos que nos ama”

(Santa Teresa).

Ou “um olhar lançado para o céu, um desabafo do coração”

(Santa Teresinha).

“Procurai lendo e encontrareis meditando; batei orando e abrir-se-vos-ão contemplando”

(São João da Cruz).

MENSAGEM AOS JOVENS PARTICIPANTES DO VI ENCONTRO

“Reconhecendo-te em Jesus Cristo

Caros Jovens: Paz a vocês!

Gostaria de propor à reflexão de vocês a cena do chamado de Jesus ao Jovem rico, como aparece no evangelho de Marcos 10 e no seu comentário abaixo, a fim de que, acolhendo o amor gratuito de Jesus, se busque um conhecimento e uma maior capacitação do amor, fonte de todo conhecimento humano e espiritual.

“Um homem se aproxima de Jesus e lhe pergunta como alcançará a vida eterna”. Seguindo a tradição israelita, Jesus lhe recorda que cumpra os mandamentos. O homem confessa que «já os cumpriu»: sabe agir, é um bom cumpridor, se comporta bem em nível de leis. Porém ainda não chegou ao plano estritamente religioso da contemplação pessoal, o da gratuidade. Por isso, o texto segue: “Jesus, olhando-o com amor, lhe disse: Uma coisa te falta: vai, vende o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me”.

O Evangelho não impõe uma lei, não se fecha no cumprimento de um mandato. Superando todo legalismo, a partir da plena gratuidade do reino, Jesus contempla e quer bem ao homem que o busca, e com um olhar e uma palavra de amor pede sua companhia. Este é o seu ponto de partida, o caminho que conduz à «civilização do amor»: o amou, olhou com carinho e lhe disse: «segue-me, vamos juntos».

A religião (experiência de reino) se situa, para Jesus, no amor gratuito, não no cumprimento da lei, nem no dinheiro do rico. A lei não basta: não é sinal nem princípio de amor. O dinheiro em si não é religião, ainda que sirva e seja necessário para os pobres: para que eles possam enriquecer-se com o dom da riqueza deste mundo, aberta para o reino. Como Messias do reino, Jesus só quer amor: quer caminhar com aquele que o busca dialogar com ele gratuitamente, iniciando um caminho conforme o Reino.

Jesus mostra-se assim como quem sabe olhar a uma pessoa para amá-la, suplicando uma resposta (esperando seu amor). “Mas o homem rico da passagem não acolhe o olhar de amor de Jesus, não se deixa contemplar por ele, não responde a seu olhar com um olhar de amor também: calcula seus bens e se vai, porque depende deles.” Qual é a tua resposta?

Que este encontro seja de aprofundamento no conhecimento de Jesus e na resposta ao seu amor livre, fiel e gratuito se conheça a medida de si mesmo: a de amar sem medida.

Deus os abençoe e a todos os que trabalharam para e neste e VI Encontro.

Fr. Alzinir Francisco Debastiani ocd

S. Paulo, julho de 2009.

VI - Encontro de Jovens da OCDS

Tema: “Reconhecendo – te em Cristo!”.

Lema: “A meu ver, jamais chegamos a nos conhecer totalmente se não procuramos conhecer a Deus!”.

(Santa Teresa de Jesus)

Palestra: – Auto - Conhecimento em Maria como modelo Carmelitano – Tayara

“O aspecto particular da Virgem Maria que deve estar presente em qualquer pessoa chamada ao Carmelo é a inclinação a meditar em seu coração, é a frase que o Evangelho de São Lucas usa duas vezes para descrever a atitude de Maria frente a seu Filho”. Se todos os demais aspectos da vida mariana podem estar presentes, a devoção, o escapulário, o terço e todas as demais coisas. Todos eles sim, todavia, são aspectos secundários na devoção mariana. Maria é nosso modelo de oração e meditação. Este interesse em aprender a meditar ou a inclinação à meditação e a característica fundamental de qualquer secular carmelita e talvez, a mais importante.

(...) Maria é para os membros da Ordem Secular o modelo de atitude meditativa e de disponibilidade. Ela atrai e inspira os carmelitas de uma maneira contemplativa a entender a vida do corpo místico de seu Filho, a Igreja. Isto é, ela atrai a pessoa ao Carmelo”. (P. Aloysius Deeney, OCD in Elementos Para O Discernimento Da Vocação À Ordem Dos Carmelitas Descalços Seculares).

O Carmelo é um celeiro de possibilidades. Nele há uma rica herança não apenas de tradições, mas de possibilidades de enriquecimento e de crescimento espiritual. Na transitoriedade da vida, o Carmelo nos aponta que podemos ser santos, que podemos viver o que antes parecia impossível: uma santidade impregnada de nossas humanidades. Através da espiritualidade carmelitana, enxergamos que vivemos no tempo na esperança da eternidade, com os olhos no Absoluto.

O ser humano é um peregrino em busca de novas fontes para seu ser. E é nesse contexto que se torna importante o discurso sobre a espiritualidade e sobre o auto-conhecimento.

A espiritualidade pressupõe o auto-conhecimento do ser humano em sua totalidade e integralidade, ou seja, o ser humano a ser compreendido como corpo, alma, psiquismo, desejos, ego, superego, relacionamentos com os outros, consigo e com Deus. A espiritualidade vista como medida de enriquecimento, cura interior, relacionamento com Deus e consigo para projeções externas é uma forma do ser humano se ver com realidade, com verdade. A espiritualidade pode significar uma medida de reconciliação com Deus, partindo do arrependimento do pecado, que se projeta na reconciliação consigo e com o outro.

Quando penso em “modelo carmelitano”, penso em contemplação, em espiritualidade e em como a nossa espiritualidade está empobrecida, devido ao ritmo da vida que levamos. Não temos tempo para pensarmos tristes ou alegres, resolvidos ou indecisos, fazendo ou não a coisa certa. Não temos tempo para pensar, para sentir, para nos experimentar como humanos, para conhecer as nossas fragilidades, para o AUTO-CONHECIMENTO.

Nossa espiritualidade passa por esse mesmo caminho, o dos atropelos. Muitas vezes agimos como cristãos por obrigação, fazemos a vivência da fé cristã por tradição ou devocionismo vazio. E o conhecimento verdadeiro e autêntico de Deus vai sendo sonegado. Dessa forma, o RECONHECENDO-TE EM CRISTO não pode acontecer.

Vista de uma maneira cristã podemos acreditar, de forma talvez um pouco reducionista, em três dimensões da espiritualidade: a adoração (verticalidade – Deus e Eu), a reflexão (crer é também pensar) e a ação (a fuga da alienação e a espiritualidade do engajamento). Assim, pode-se tentar falar em espiritualidade integral, aquela que nos diz quem somos e nos aponta para o que devemos ser.

Nesse contexto, é que começamos a pensar em MARIA como modelo de espiritualidade. É importante pensarmos que a espiritualidade passa pelo conhecimento, discernimento, intercessão e intervenção.

Em praticamente todos os momentos bíblicos em que se fala de Maria, há a presença dessas dimensões:

Anunciação (Lucas 1, 26)

Visitação (Luc. 1-39)

Bodas de Caná (Primeiro Milagre de Jesus) (Jo 2, 1) –“Fazei tudo o que Ele vos disser”.

Aos pés da Cruz (Jo 19, 25)

Como carmelitas amantes do Carmelo ou apenas desejosos de conhecê-lo, sabemos que Maria é um dos seus alicerces mais profundos e mais ricos. Cristãos-católicos proclamam-se filhos de Maria, carmelitas, alem de filhos proclamam-se irmãos da Virgem Santíssima, desta que leva o nome da nossa ordem e é a Rainha do Monte Carmelo.

Na história da Ordem Carmelita, temos que a Virgem Santíssima apareceu a São Simão Stock no século XIII, momento em que instituiu o escapulário e fundou as configurações do modelo carmelitano por meio desse santo que mais tarde viria a ser o superior da Ordem. Portanto, a presença de Maria na história do Carmelo é algo profundo e antigo. Para nós, Maria não é somente a mãe que intercede junto ao Pai, ela é modelo de silêncio e voz, espera e ação, palavra e musica força e fragilidade feminina. Tudo isso, indubitavelmente, se resume no auto-conhecimento de Maria e de sua posse de si mesma.

Orando à Virgem do Silêncio, Pe. Inácio Larranaga evoca:

Tu és disponibilidade e receptividade. Tu és fecundidade e plenitude. Tu és atenção e solicitude pelos irmãos. Estás revestida de fortaleza. Resplandecem em ti a maturidade humana e a elegância espiritual. És senhora de ti mesma antes de ser Nossa Senhora. Em ti não existe dispersão. Em um ato simples e total, tua alma, toda imóvel, está paralisada e identificada com o Senhor. Estás dentro de Deus e Deus dentro de ti. O mistério total te envolve, te penetra e te possui, ocupa e integra todo o teu ser. [1]

Espiritualidade integral no modelo mariano, nas palavras de Fr. Patrício Sciadini, é “dizer um sim grávido das conseqüências do amor”.

É também deixar que o Espírito Santo nos conduza nesse caminho de auto-conhecimento: dando-nos o dom da FÉ que transforma e frutifica nosso temperamento, caráter, psiquê e olhares, oferecendo-nos a concretude de ser verdadeiro na manifestação da nossa cristandade e da nossa religiosidade.

Assim, a religiosidade (que é a dimensão que nos re-liga ao Absoluto) deixa de ter aquela forma antes esvaziada de espiritualidade e possa ter a mesma autenticidade da fé de Maria, com o Espírito Santo, permeando todas as dimensões do ser.

“O homem para ser dono de si mesmo deve viver em seu interior e só a partir daí terá um trato autenticamente humano. De outro lado, a misteriosa grandeza da liberdade está no fato de que Deus mesmo a respeita. As decisões do homem são intransferíveis, só a si e à sua consciência cabem as determinações transcendentais que o homem há de tomar na vida” (Edith Stein in El alma, El yo y La libertad, tradução livre).

Maria também demonstra ser modelo de auto-conhecimento para o cristão e para o carmelita, pois é sinal constante da presença ardente do Espírito Santo. Na encarnação (anunciação do anjo), a pessoa do Espírito Santo tomou posse total do universo de Maria. Desde então, ela passa a irradiar o Espírito de Deus por onde passa:

Visitação (Luc 1, 41)

Cântico de Simeão (Luc 2, 33)

Pentecostes (Atos 1, 14)

Conhecer-se exige interiorização, processo que está intimamente ligado à meditação e à contemplação, marcas características da Virgem. O auto-conhecimento, muitas vezes, é um processo longo e doloroso, de verdadeira lapidação e crise, uma crise que propicia o crescimento e o amadurecimento. Diante da crise, devemos seguir o exemplo da Mãe, da Virgem do Silêncio, que guardava todas as coisas no seu coração e meditava. (Lucas 2, 19).

O silêncio e a meditação de Maria eram como lâmpadas que iluminavam as trevas da dor, da angústia, dos seus inúmeros questionamentos. Um silêncio que grita.

Maria era, apesar de santa, humana, portanto cheia de humanidades, confusões, dúvidas e questionamentos. Sua grandeza está no fato de que em meio a tanta humanidade, Maria não reage de forma impaciente, irritada, agressiva, temerosa, mas sempre temente confiante e paciente, ou seja, tendo a mais pura expressão de FÉ. Mais uma vez o silêncio grita.

Ex.: Quando Jesus se perdeu no templo (Luc. 2, 41)

Quando Simeão anuncia que Jesus seria sinal de contradição e que uma espada traspassaria sua alma. (Luc. 2, 33)

Quando Jesus morre na cruz (Jo 19, 25)

Diante da anunciação e da encarnação, como pode não ter Maria saído repentinamente com medo? Como pode uma jovenzinha assumir plano tão grandioso, com tão grandiosa serenidade? Tudo isso, além de ser reflexo de ter sido concebida sem pecado, revela a integridade emocional e psíquica de Maria. Só alguém que se RECONHECE EM DEUS é capaz de agir assim.

Luc. 1 38: Sou uma serva, Faça-se!

Nesse reconhecimento e nesse faça-se, há uma imensa profundidade que revela intensa entrega, fé e doação. Mais uma vez nos recordamos do sim grávido das conseqüências do amor.

Maria diante do silêncio de Deus

Muitos santos, teólogos e escritores expressaram o silêncio de Deus, um silêncio que fere que causa dúvida e dor, mas um silêncio que pode falar forte ao coração, tudo depende do olhar.

São João da Cruz, o grande santo carmelita e doutor da Igreja assim descrevem esse silêncio:

Onde é que te escondeste

Amado me deixando com gemidos?

Fugiste como cervo, havendo-me ferido.

Saí por ti clamando, já eras ido.

Jesus, mostrando toda a sua humanidade, também expressa na cruz o silêncio do Pai quando tem a impressão de abandono: “Pai, por que me abandonaste?”.

O salmista também o expressa: “Onde está o seu Deus?” (Salmo 41)

Não se trata de sarcasmo de um voltairiano ou de um ateu. É a expressão de um crente envolvido pelo silêncio de Deus.

O silêncio de Deus é algo que está presente, mas a fé adulta, daquele que decide tomar posse de si mesmo e ter auto-conhecimento em Cristo, é a fé que vê o essencial, aquele que é invisível.

E Deus continuava em silêncio. Que fará Maria? Seu faça-se proporcionará continuamente um formidável estado interior de calma, serenidade, elegância, dignidade, uma categoria interior fora de série. Não haverá no mundo emergências dolorosas e nem eventualidades surpreendentes que possam desequilibrar a estabilidade emocional da Mãe. Antes de ser Senhora nossa fora senhora de si mesma. [2]

Na cruz: Maria foi silenciosa sempre e, na sua humildade, percebemos que sempre preferiu ficar em segundo plano. Mas no momento da maior humilhação e dor de seu filho, ela se coloca em primeiro plano, aos pés da cruz, ainda silenciosa, mas forte e plenamente íntegra, compreendendo sua posição de mãe não apenas do salvador da humanidade, mas de mãe da humanidade na extensão de João. Compreendeu, pois todo o significado daquele momento (João 19). Aí Maria mais uma vez diz FAÇA-SE!

Nas palavras de Pe. Inácio Larranaga,

“Tudo que não se abre é egoísmo. Devoção mariana que acaba em si mesma é falsa e alienante. O trato com Maria, que busca exclusivamente segurança ou consolação, sem se irradiar para a construção de um reino de amor, não só é uma sutil busca de si mesmo, mas um perigo para o desenvolvimento normal da personalidade.”

O papel de Maria, assim, não é de ser solucionadora dos nossos problemas como se tratássemos com ela de forma comercial. Mas ela nos ajuda a encarnar Cristo em nós, ajuda-nos a RECONHERCERMO-NOS EM CRISTO e, dessa forma, ajuda-nos a sermos mais íntegros, mais completos e a trilharmos um caminho mais reto rumo ao auto-conhecimento misericordioso. Com ela aprendemos a nos olhar com mais respeito, mais misericórdia e, conseqüentemente, sermos cristificados, conformados a Jesus.

Digamos, ao modelo de Maria, um sim grávido das conseqüências do amor, por meio do silencio que grita!

tayaralemos@msn.com

Carmelitas seculares em constante serviço e oração

Vamos nos entreter com a espiritualidade carmelitana, fonte que sacia nossa história.

Espiritualidade de oração e silêncio que satisfaz nosso coração desejoso de experiência de amor com o Amado.

Experiência essa que nos empenha a caminhar rumo a um mundo mais justo e mais fraterno.

“Todos os homens são chamados a participar na caridade da única santidade de Deus: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (MT 5,48).

Em que consiste a perfeição?

"A função da perfeição é fazer com que cada um de nós conheça a sua imperfeição." (Textos Cristãos)

Conhecendo a nós mesmos e procurando trilhar o caminho do bem, estamos alçando a perfeição.

Configurando a Cristo Jesus, pois fomos criados à sua imagem e semelhança.

“O seguimento de Cristo é o caminho para chegar à perfeição que o batismo abriu a todo cristão. Por ele se participa da tríplice missão de Jesus: real, sacerdotal e profética. A primeira o compromete na transformação do mundo, segundo o projeto de Deus. Pela segunda, oferece a si e oferece toda a criação ao Pai com Cristo e guiado pelo Espírito. Como profeta anuncia o plano de Deus sobre a humanidade e denuncia tudo o que a ele se opõe [1]. 1] Lumem Gentium 31-35.

A grande família do Carmelo Teresiano está presente no mundo de muitas formas. Seu núcleo é a Ordem dos Carmelitas Descalços, formada pelos frades, as monjas de clausura e os seculares. É uma só Ordem com o mesmo carisma. Esta se nutre da longa tradição histórica do Carmelo, recolhida na Regra de Santo Alberto e na doutrina dos carmelitas doutores da Igreja e de outras santas e santas da Ordem. ”(Proêmio das Constituições OCDS)

Creio que nossa missão é sermos amigos fortes de Deus.

No cenário competitivo desse mundo, correr atrás do essencial. Viver a alegria e a fé. Ser diferente, fazendo com a nossa vida a diferença através do testemunho constante.

Entusiasmar com a novidade do Evangelho, não desistindo nunca de acreditar, pois a esperança no Ressuscitado é o que nos impele a prosseguir.

. “Os Carmelitas Seculares, em união com os Frades e as Monjas, são filhos e filhas da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de Santa Teresa de Jesus. Portanto, compartilham com os religiosos o mesmo carisma, vivendo-o cada um segundo seu próprio estado de vida. É uma só família com os mesmos bens espirituais, a mesma vocação à santidade (cf. Ef 1,4; 1Pd 1,15) e a mesma missão apostólica. Os Seculares trazem para a Ordem a riqueza própria de sua secularidade[2]”. (Const ocds)

Somos uma só ordem com o mesmo carisma, empenhados a ser no mundo uma presença do amor de Deus através da vida orante. Isso é sempre um desafio porque há o medo, a desilusão, o desespero, o desamor, a desconfiança, a violência e tantos outros terrores que nos afastam do essencial.

È preciso realmente ter desejo de santos, e estarmos de pé como esteve sempre nossa mãe e irmã a Virgem Maria.

Tender àquilo que nos propõe caminho novo em busca do reino que é dos pobres e excluído.

Alguns princípios vão nos orientar para essa vivência carmelitana (Const OCDS)

(A) Viver em obséquio de Jesus Cristo;

(b) Ser diligentes na meditação da lei do Senhor;

(c) Reservar tempo para a leitura espiritual;

(d) Participar na liturgia da Igreja, tanto na Eucaristia como na Liturgia das Horas;

(E) Interessar-se pelas necessidades e pelo bem dos demais na comunidade;

(f) Armar-se com a prática das virtudes, ao mesmo tempo em que se vive uma vida intensa de fé, esperança e caridade;

(g) Buscar o silêncio interior e a solidão em nossa vida de oração;

(h) Usar prudente discrição em tudo que fazemos.

Levando em conta as origens do Carmelo e o carisma Teresiano, os elementos primordiais da vocação dos leigos Carmelitas Teresianos podem ser assim sintetizados:

(A) Viver em obséquio de Jesus Cristo, apoiando-se na imitação e no patrocínio da Santíssima Virgem, cuja forma de vida constitui, para o Carmelo, um modelo de configuração com Cristo;

(b) Buscar a “misteriosa união com Deus” pelo caminho da contemplação e da atividade apostólica, indissoluvelmente irmanada, a serviço da Igreja;

(c) Dar uma importância particular à oração que, alimentada com a escuta da Palavra de Deus e a liturgia, possa conduzir ao trato de amizade com Deus, não só quando se ora, mas também quando se vive. Comprometer-se nesta vida de oração exige nutrir-se da fé, da esperança e, sobretudo, da caridade, para viver na presença e no mistério do Deus vivo [14];

(d) Impregnar de zelo apostólico a oração e a vida em um clima de comunidade humana e cristã;

(E) Viver a abnegação evangélica a partir de uma perspectiva teologal;

(f) Dar importância, no compromisso vangelizador, à pastoral da espiritualidade como a colaboração peculiar da Ordem Secular, fiel à sua identidade Carmelitano-Teresiana.

Penso que podemos espelhar no exemplo de nossos santos que tão jovens ofereceram suas vidas para o Amor. Conhecendo a experiência de Teresinha de Jesus, Elizabeth da Trindade, Teresa dos Andes, Edith Stein, Josefa Naval etc. vamos fazer também nosso caminho.

“Não me arrependo de ter me entregue ao amor”. Stª Teresinha do Menino Jesus

Entreguemo-nos ao amor, e que essa entrega nos faça amar mais e servir melhor. Dedicar mais e empreender o reino de amor e de justiça, de compromisso e doação, de vivência e fé, de anúncio e denúncia, de discípulos e missionários á luz do Espírito que é fogo que inflama nossas almas e nos impulsiona a Ser, e não desistir.

Ana Maria Eymard Pereira Scarabelli-OCDS

Valores

“Bendirei continuamente ao Senhor, seu louvor não deixará meus lábios”.

Glorie-se minha alma no Senhor; ouçam-me os humildes, e se alegrem.

Glorificai comigo o Senhor, juntos exaltemos o seu nome.

Procurei o Senhor e Ele me atendeu, livrou-me de todos os temores.

Olhai para Ele a fim de vos alegrardes, e não se cobrir de vergonha o vosso

rosto.

Vede, este miserável clamou e o Senhor o ouviu, de todas as angústias o livrou.

O anjo do Senhor acampa em redor dos que o temem, e os salva.

Provai e vede como o Senhor é bom.

Feliz o homem que se refugia junto dele.

Reverenciai o Senhor, vós, seus fiéis, porque nada falta àqueles que o temem.

Os poderosos empobrecem e passam fome,

Mas aos que buscam o Senhor nada lhes falta.

Vinde, meus filhos, ouvi-me: eu vos ensinarei o temor ao Senhor.

Qual é o homem que ama a vida, e deseja longos dias para gozar a felicidade?

Guarda tua língua do mal, e teus lábios das palavras enganosas.

Aparta-te do mal e faze o bem; busca a paz e vai ao seu encalço.

Os olhos do Senhor estão voltados para os justos e seus ouvidos atentos aos seus clamores.

O Senhor volta à face irritada contra os que fazem o mal,

para apagar da terra a lembrança deles.

Apenas clamaram os justos, o Senhor os atendeu e os livrou de todas as suas

angústias.

O Senhor esta perto dos contritos de coração, e salva os que tem o espírito

abatido.

São numerosas as tribulações do justo, mas de todas livra o Senhor.

Ele protege cada um de seus ossos: nem um só deles será quebrado.

A malícia do ímpio o leva à morte, e os que odeiam o justo serão castigados.

O Senhor livra a alma de seus servos;

Não será punido quem a Ele se acolhe.”

Salmo 33.

Vale a pena repetir o versículo 16: “Os olhos do Senhor estão voltados para os justos e seus ouvidos atentos aos seus clamores”.

Diante dos desafios e mistérios da vida, o homem que busca o seu apoio no Senhor nada temerá. Porém muitos são os que buscam, como razão maior de sua vida, o acúmulo de riquezas, o poder ou a beleza exterior. Triste sorte dos que confiam nestes falsos ídolos como fonte de vida, de paz e de amor.

“Nem a beleza, nem o poder dos ídolos podem igualar-se a essas maravilhas (de Deus). Eis por que não há motivo para crer nem proclamar que sejam deuses, já que não lhes é dado praticar a injustiça junto aos homens nem lhes outorgar o bem. Se admitis que não são deuses, não tenhais deles receio algum. Eles não têm a faculdade de amaldiçoar os reis nem de abençoá-los. Muito menos podem fazer com que no céu apareçam sinais aos pagãos; não brilham como o sol, nem alumiam como a lua”- Baruc 6, 62-66.

Conforme estrutura-se em nós esta ordem de valores, define-se as nossas prioridades e metas de vida. Caso creia que o dinheiro é o fundamental, orientarei o meu tempo e atividades para conquista-lo. O mesmo ocorre com a beleza física, o poder, o status, etc. Consumimos o nosso tempo precioso, muitas vezes, apenas com o que está externo, com o que se findará e não nos servirá de nada para a nossa eterna salvação. Deixamos até mesmo de viver o amor, o que deveria ser o centro, por nos deixar escravizar por um sistema que nos conduz a sermos meros produtores e consumidores.

Ao realizarmos pesquisas com crianças e adolescentes temos detectado uma triste realidade: elas pedem Paz! Muitas escrevem que não suportam mais as brigas familiares e quase 100% delas coloca como o bem mais precioso, a vivência do amor na família.

Todos sabemos que o ser humano precisa ser amado e amar para ser feliz, mas em uma sociedade que visa o lucro, esta vivência vai se tornando cada vez mais escassa. Trabalha-se muito, compra-se muito e nas poucas horas de convívio a televisão e o computador roubam o espaço. Quantas ilusões tem nos afastado do essencial.

Nesta roda viva aonde os “modelos” impostos para serem imitados são apenas “aparência”, encontramos garotos preocupados em vestir-se com determinadas marcas de roupas e adquirir aparelhos, motos etc. As meninas são vítimas de regimes alimentares cruéis, plásticas, academias para chegarem a ser objetos que serão usados e descartados.

A onde está o nosso valor? O que precisamos ter ou ser para sermos amados?

Será que temos consciência da grandiosidade da nossa existência quando Jesus afirma: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo...”- Mt5?

Será que a altura, o peso ou os bens materiais de Jesus faziam alguma diferença no que Ele era e é? E Nossa Senhora, S. Paulo, Santo Antonio, S. Francisco de Assis?

Tudo isto torna-se nada quando comparado a existência maravilhosa destes. As pegadas que deixaram transformaram a história porque eram portadores de Graça de Deus.

Reflexões:

1- Aos olhos de Deus, onde está o nosso valor? O que precisamos fazer para alcançarmos à plenitude? Isto é acessível a todos?

2- Aos olhos de um mundo capitalista onde está o nosso valor? O que é preciso fazermos para o alcance da plenitude? Isto é acessível a todos?

3- Quais são as conseqüências pessoais de se ter como valores apenas os bens deste mundo? Conseguiremos nos amar? Quais as conseqüências sociais de um mundo que vive a inversão de valores? Se o dinheiro é um valor maior, isto gerará o desejo de acumulá-lo. Se uns poucos acumularem o que acontecerá com a maioria? E se ocorrer esta mesma inversão tendo em vista o poder ou o prazer?

4- Quais seriam as conseqüências pessoais e sociais se houvesse a busca dos valores propostos por Jesus no Sermão da Montanha, em especial nas bem-aventuranças (Mt5)?

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” Mt 6,33.

Maria Inês (Psicóloga)

DEZ PASSOS DA ORAÇÃO CARMELITANA

1- Uma determinada determinação de rezar. Decidir-se a rezar todos os dias, em todos os momentos, determinar um tempo para a oração diária, para “estar a sós com aquele que sabemos que nos ama”. Não desistir.

2 - Preparação remota: criar um ambiente externo de “silêncio e recolhimento” e um ambiente interior: “presença de Deus, atenção aos sinais dos tempos e dos lugares que nos falem de Deus”, para saber reconhecer Deus que nos visita.

3 - Preparação próxima: um pouco antes da oração desligar-nos de tudo o que pode nos perturbar, preocupar. Todo encontro que é amor se prepara com antecedência e se deixa tudo por ele. Saber dar espaço para que Deus bata à nossa porta. Ele quer entrar e estar conosco no nosso “castelo interior”.

4 - Presença de Deus: é o momento importante quando, invocando o Espírito Santo, nos dispomos a rezar. Reza-se, rezando. É o Espírito Santo o mestre da nossa oração, deixe que ele reze em você. Invocar o Senhor.

5 - Leitura meditativa: é sempre bom se ajudar, quando o coração está árido, com uma leitura, preferencialmente a Bíblia, ou outro livro. Santa Teresa sempre levava um livro na sua oração. Ler lenta-atenta-amorosamente para saborear a palavra de Deus.

6 - Meditação: refletir e aplicar à nossa vida a palavra lida. Um trabalho da mente muito importante. Deus nos fala e quer que nós compreendamos a sua palavra de amor. É sempre importante escolher um tema para meditar. A improvisação em nenhuma coisa é boa, também na oração não ajuda.

7 - Diálogo afetivo ou amoroso – “coração da meditação carmelitana”: deixar expandir o coração, falar com Deus a partir da vida, do cotidiano, não ter pressa, não ter medo, dizer ao Senhor que nos ama tudo o que se passa em nosso coração. É o face a face. É o deixar-se mar por Ele.

8 - Compromisso: todo encontro oracional deve ser confirmado, consagrado num compromisso concreto, viável, que fecunde a nossa vida e nos torne sinais verdadeiros da presença de Deus. Evitar compromisso teórico e barato. O que hoje quero fazer a partir da minha meditação?

9 - Agradecer: depois de todo encontro de amor, de amizade, sentimos a necessidade de agradecer. Pode agradecer com o seu coração, com suas palavras ou com textos que lhe fazem bem: “Magnificat, Pai-nosso...”.

10 - Voltar ao trabalho: com o coração novo, com empenho e compromisso. Depois da oração não estamos mais sozinhos. Deus vai conosco, as três pessoas da Trindade trabalham conosco. É vida nova, é paz, compromisso, amor concreto.

Se todos os dias formos fiéis a este caminho de oração,

em pouco tempo a nossa vida será transformada, comprometida.

“Na realidade, a oração é um descanso, um repouso”.

É aproximar-se com toda a simplicidade daquele que se ama.

É permanecer junto a ele como um filhinho nos braços de sua mãe, num abandono do coração”

(Beata Elizabete da Trindade)

Oficina Bíblica

Grupo 1 São João da Cruz

São João da Cruz nasceu em 1542, provavelmente no dia 24 de Junho, em Fontiveros, província da cidade de Ávila, em Espanha. Os seus pais chamavam-se Gonzalo de Yepes e Catalina Alvarez. Gonzalo pertencia a uma família de posses da cidade de Toledo. Por ter-se casado com uma jovem de classe “inferior”, foi deserdado por seus pais e tornou-se tecelão de seda. Em 1548, a família muda-se para Arévalo. Em 1551 transfere-se para Medina del Campo, onde o futuro reformador do Carmelo estuda numa escola destinada a crianças pobres. Por suas aptidões, torna-se empregado do diretor do Hospital de Medina del Campo. Entre 1559 a 1563 estuda Humanidades com os Jesuítas. Ingressou na Ordem do Carmo aos vinte e um anos de idade, em 1563, quando recebe o nome de Frei João de São Matias, em Medina del Campo. Pensa em tornar-se irmão leigo, mas seus superiores não o permitiram. Entre 1564 e 1568 faz sua profissão religiosa e estuda em Salamanca. Tendo concluído com êxito seus estudos teológicos, em 1567 ordena-se sacerdote e celebra sua Primeira Missa.

No entanto, ficou muito desiludido pelo relaxamento da vida monástica em que viviam os Conventos Carmelitas. Decepcionado, tenta passar para a Ordem dos Cartuxos, ordem muito austera, na qual poderia viver a severidade de vida religiosa à que se sentia chamado. Em Setembro de 1567 encontra-se com Santa Teresa de Ávila, que lhe fala sobre o projeto de estender a Reforma da Ordem Carmelita também aos padres, surgindo posteriormente os carmelitas descalços. O jovem de apenas vinte e cinco anos de idade aceitou o desafio. Trocou o nome para João da Cruz. No dia 28 de Novembro de 1568, juntamente com Frei Antônio de Jesús Heredia, inicia a Reforma. O desejo de voltar à mística religiosidade do deserto custou ao santo fundador maus tratos físicos e difamações. Em 1577 foi preso por oito meses no cárcere de Toledo. Nessas trevas exteriores acendeu-se-lhe a chama de sua poesia espiritual. "Padecer e depois morrer" era o lema do autor da "Noite Escura da alma", da "Subida do monte Carmelo", do "Cântico Espiritual" e da "Chama de amor viva".

Evangelho: João 7,1-2.10.25-30.

Depois disto, Jesus continuava pela Galileia, pois não queria andar pela Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo.

Estava próxima a festa judaica das Tendas.

Contudo, depois de os seus irmãos partirem para a festa, Ele partiu também, não publicamente, mas quase em segredo.

Então, alguns de Jerusalém comentavam: «Não é este a quem procuravam, para o matar?

Vede como Ele fala livremente e ninguém lhe diz nada! Será que realmente as autoridades se convenceram de que Ele é o Messias?

Mas nós sabemos donde Ele é, ao passo que, quando chegar o Messias, ninguém saberá donde vem.

Entretanto, Jesus, ensinando no templo, disse - lhes: «Então sabeis quem Eu sou e sabeis donde venho?! Pois Eu não venho de mim mesmo; há um outro, verdadeiro, que me enviou, e que vós não conheceis.

Eu é que o conheço, porque procedo dele e foi Ele que me enviou.

Procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe deitou a mão, pois a sua hora ainda não tinha chegado.

Comentário ao Evangelho feito por São João da Cruz (1542-1591), Carmelita, Doutor da Igreja. Cântico Espiritual, estrofe 1 (a partir da trad. OC, Cerf 1990, p. 1218).

«Procuravam, então, prendê-Lo, mas ninguém Lhe deitou a mão»

Onde Te escondeste, meu Bem-Amado, deixando-me num gemido constante?

Fugiste, qual veado, havendo-me ferido; Por ti clamando, eu fui. Ah, em vão Te segui!

«Onde Te escondeste?» É como se a alma dissesse: «Verbo, Esposo meu, mostra-me o lugar da Tua morada.» O que equivale a pedir-Lhe que manifeste a Sua divina essência, porque «o lugar da morada do Filho de Deus», diz-nos São João, «está no seio do Pai» (Jo 1,18) ou, falando noutros termos, é a essência divina, invisível a todo o olhar mortal, impenetrável a todo o entendimento humano. Isaías, dirigindo-se a Deus, diz-Lhe: «Na verdade Vós sois um Deus escondido» (Is 45, 15).

Por isso, é de notar que, por muito íntimas que sejam as comunicações, por muito sublime que possa ser o conhecimento que uma alma tenha de Deus nesta vida, o que ela percebe não é a essência de Deus e nada tem de comum com Ele. Na realidade, Deus está sempre escondido da nossa alma. Quaisquer que sejam as maravilhas que lhe sejam desveladas, a alma deve sempre tê-Lo por escondido e procurá-Lo em sua morada, dizendo: «Onde Te escondeste?» De fato, nem a comunicação sublime nem a presença sensível são testemunho seguro da favorável presença de Deus numa alma, nem a secura e a carência de tais dons serão um indício da Sua ausência. É o que nos diz o profeta Job: «Passa diante de mim e eu não O vejo, afasta-Se de mim e não me apercebo» (Job 9, 11).

Devemos daqui tirar um ensinamento. Se uma alma for favorecida com sublimes comunicações, conhecimentos e sentimentos espirituais, não deve nunca persuadir-se de que possui a Deus ou que vê clara e essencialmente a Deus, nem que esses dons signifiquem ter mais a Deus ou estar mais em Deus do que os outros; da mesma forma, se todas estas comunicações sensíveis e espirituais vierem a faltar-lhe deixando-a na aridez, nas trevas e no desamparo, não deve ela nunca pensar que nesse estado Deus lhe falta [...]

O principal intento da alma, neste verso, não é pois pedir devoção afetuosa e sensível, que não dá certeza nem evidência da posse do Esposo nesta vida: ela reclama a presença e a clara visão da Sua essência, que quer fruir, de maneira firme e segura, na outra vida.

´´Para chegares a saborear tudo, não queiras ter gosto em coisa alguma.

Para chegares a possuir tudo, não queiras possuir coisa alguma.

Para chegares a ser tudo, não queiras ser coisa alguma.

Para chegares a saber tudo, não queiras saber coisa alguma.

Para chegares ao que não gostas, hás de ir por onde não gostas.

Para chegares ao que não sabes, hás de ir por onde não sabes.

Para vires ao que não possuis, hás de ir por onde não possuis.

Para chegares ao que não és, hás de ir por onde não és.

Modo de não impedir o tudo:

Quando reparas em alguma coisa, deixas de arrojar-te ao tudo.

Porque para vir de todo ao tudo, hás de negar-te de todo em tudo.

E quando vieres a tudo ter, hás de tê-lo sem nada querer.

Porque se queres ter alguma coisa em tudo, não tens puramente em Deus teu tesouro.´´

São João da Cruz

Grupo 2 ELIZABETE DA TRINDADE

Eu sou a Elisabete da Trindade, ou seja, Elisabete que desaparece, que se perde nos Três e se deixa invadir por eles."

Elisabete da Trindade é uma jovem carmelita descalça, cheia de vida e de entusiasmo. Ao longo de seus 26 anos de vida, soube vivenciar o mistério da Trindade que habita no coração humano. Elisabete nasceu em 1880, na França. Sempre transmitiu a todos os que a circundavam alegria, espontaneidade, jovialidade, vivacidade. Jovem aberta à beleza da natureza, à amizade e à música. Em 1894, sente o apelo interior para o Carmelo e sua paixão por Deus na pequena cela do seu coração só foi aumentando. Em viagem, em grupo, em casa ou ao piano, vivia no mais profundo de si mesma. Ainda muito jovem, fez experiência do sentido místico da presença de Deus e a habitação trinitária a conduz a um projeto de vida... "Encontrei o meu céu na terra porque o céu é Deus e Deus está na minha alma. No dia em que entendi tudo isso, tudo se iluminou em mim e gostaria de revelar este segredo àqueles que amo, para que, através de todas as coisas, também eles se unam mais a Deus." Sua vida de oração como colóquio com Deus é fundamentalmente teresiana. Sua espiritualidade de interiorização tem dimensões bem concretas: seu silêncio interior conduz à unidade do ser espiritual, leva à solidão e à vida de oração.

"A vontade de Deus deve ser-lhe o alimento, o pão de cada dia; cada incidente, cada acontecimento, cada sofrimento, cada prazer é um sacramento que lhe dá Deus."

Evangelho

Lucas 19,1-10

Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade. Vivia ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe de cobradores de impostos. Procurava ver Jesus e não podia, por causa da multidão, pois era de pequena estatura. Correndo à frente, subiu a um sicómoro para o ver, porque Ele devia passar por ali. Quando chegou àquele local, Jesus levantou os olhos e disse - lhe: «Zaqueu, desce depressa, pois hoje tenho de ficar em tua casa.» Ele desceu imediatamente e acolheu Jesus, cheio de alegria. Ao verem aquilo, murmuravam todos entre

si, dizendo que tinha ido hospedar-se em casa de um pecador. Zaqueu, de pé, disse ao Senhor: «Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais.» Jesus disse-lhe: «Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão; pois, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido.»

Comentário ao Evangelho feito por Elisabete da Trindade:

Desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa”.

O divino Mestre repete constantemente à nossa alma esta palavra que ele disse um dia a Zaqueu. “Desce depressa”. Mas qual é este descer que ele exige de nós senão uma imersão mais profunda em nosso abismo interior? Este ato não é uma “separação superficial das coisas externas”, mas é uma “solidão do espírito”, um desprendimento de tudo que não é Deus. “Enquanto nossa vontade tem caprichos estranhos à união com Deus, fantasias contraditórias, nós permanecemos no estado de infância e não caminhamos a passo de gigante no amor; porque o fogo ainda não consumiu toda a escória. O ouro não está puro. Estamos ainda em busca de nós mesmos; Deus não destruiu ainda toda a nossa hostilidade para com Ele. Mas quando a fervura da caldeira purificou totalmente todo o amor vicioso, toda dor viciosa, todo o vicioso temor, então o amor torna-se perfeito, e o anel de ouro de nossa aliança mais largo que o céu e a terra. Eis aí a adega secreta onde o amor introduz seus eleitos. Este amor nos arrasta por atalhos e veredas que somente ele conhece; e nos arrasta sem apelo, pois já não se pode mais retroceder”10.

Oh !

Depressa responderei ao teu

chamamento, dentro em pouco

serei toda sua, dentro em breve

direi adeus a tudo o que amo.

Ah! O sacrifício já esta feito,

o meu coração está desligado de

tudo, nada lhe custa fazer por

Ti.

Mas há um sacrifício doloroso

ao meu coração,

um sacrifício para o qual Te

peço para me ajudares:

é a minha mãe, a minha irmã.

Estou feliz por ter um

verdadeiro sacrifício para Te

oferecer.

Porque Tu cumulaste-me de

presentes e eu, que tenho para

Te trazer ?

Tão pouca coisa e esse pouco,

é ainda um dos teus dons.

Ah! Pelo menos ofereço-te um

coração que a nada mais

aspira senão a partilhar os Teus

sofrimentos, um coração que só

vive para Ti, que só te quer a Ti

que há tantos anos só aspira a

ser Teu...

Beata Elisabete da Trindade

Grupo 3 Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face

Teresa de Lisieux é conhecida como Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face ou, popularmente, Santa Teresinha. Nascida Marie Françoise Thérèse Martin (Maria Francisca Teresa Martin), era filha de Louis Martin e Zélie Guérin. Quando nasceu, era muito franzina e doente e, desde o nascimento, exigia muitos cuidados.

A prematura morte da sua mãe, quando tinha apenas quatro anos fez com que ela se apegasse a sua irmã Pauline, que elegeu para sua "segunda mãe". A repentina entrada dessa irmã no Carmelo, fez a jovem Thérèse, adoecer. Curada pela ‘Virgem do Sorriso’, imagem da Imaculada Conceição por quem seus pais tinham afeição, tomou uma forte resolução de entrar para o Carmelo.

Entrou para ser aluna na Abadia das Beneditinas de Lisieux, e lá permaneceu por cinco anos, porém após sofrer muitas humilhações, de lá saiu e passou a receber aulas particulares.

Quase ao completar catorze anos, no Natal de 1886, Teresa passa por uma experiência que chamou de "Noite da minha conversão". Ao voltar da missa e procurar seus presentes, percebe que seu pai se aborrece por ela apresentar comportamento infantil. A menina decide então a renunciar a infância e toma o acontecido como um sinal inspirador de força e coragem.

Seis meses depois, Teresa decide que quer entrar para o Carmelo (Ordem das Carmelitas Descalças). Como a pouca idade a impede, é levada por familiares, em novembro de 1887, para uma audiência com o Papa, em Roma, para pedir a exceção. Em Abril do ano seguinte é aceita. Concedida a autorização ingressou em 9 de Abril de 1888 e tomou o nome de Thérèse de l'Enfant Jesus.

Fez sua profissão religiosa, em 8 de Setembro de 1890, e tomou o nome de Thérèse de l'Enfant Jesus et de Sainte Face, mas ficou conhecida após sua morte como Thérèse de Lisieux.

Inclinada por temperamento à calma e a tristeza, Thérèse com lindos cabelos castanhos, olhos claros e traços delicados, quando escrevia no seu diário “Oh! Sim, tudo me sorrirá aqui na terra”, atravessava uma época em que experimentava injustiças e incompreensões. Já atingida pela tuberculose, debilitada nas forças, não rejeitava trabalho algum e continuava a “jogar para Jesus flores de pequenos sacrifícios”.

Após seis anos na ordem, em 1894, almejando o caminho da santidade, Teresa percebe que não conseguiria pelas tradicionais mortificação, disciplina e sacrifício observadas pelos santos a quem se dedica a estudar. Inspirada nas palavras de um padre, Teresa adota a "Pequena Via", um caminho pequeno e reto para a santidade, que consiste simplesmente em se entregar ao amor de Jesus Cristo, para que Ele conduza pelo caminho.

Morreu em 30 de Setembro de 1897, com apenas 24 anos. Disse, na manhã de sua morte: “eu não me arrependo de me ter abandonado ao amor”, e na iminência de sua morte disse às religiosas que estavam à sua volta: "Farei cair uma chuva de rosas sobre o mundo!". No dia 4 de outubro de 1897, foi sepultada no cemitério de Lisieux.

Sua irmã, Paulina, também carmelita, publicou em 1898 os escritos de Santa Teresinha, intitulados "História de uma alma". No dia 17 de Maio de 1925, Teresinha foi canonizada pelo Papa Pio XI. O mesmo Papa a declara Patrona Universal das Missões Católicas em 1927. O Papa João Paulo II a declara Doutora da Igreja em 1997.

Em carta tornada pública em 1º de outubro de 2007, o Papa Bento XVI recordou que "Teresa de Lisieux, sem haver saído de seu Carmelo, viveu à sua maneira, um autêntico espírito missionário oferecendo ao mundo uma nova via espiritual lhe obteve o título de Doutora da Igreja. Desde Pio XI até os nossos dias, os Papas não têm deixado de recordar os laços entre oração, caridade e ação na missão da Igreja."

No dia 19 de outubro de 2008, Dia Mundial das Missões, em Lisieux, na basílica dedicada precisamente à sua filha, os pais de Santa Teresinha, Luís Martin e Zélia Guérin foram beatificados pela Igreja, em cerimônia presidida pelo cardeal José Saraiva Martins. Na ocasião Saraiva Martins conclamou as famílias presentes "para que imitem os dois esposos e se tornem eles próprios lares santos e missionários." Foi o segundo casal a ser beatificado pela Igreja Católica.

Evangelho

Lucas 1,26-45

No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.

Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.

Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação.

O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.

Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.

Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.

Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem?

Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.

Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.

Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.

Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?

Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.

Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!

PORQUE TE AMO, MARIA


Quando o anjo te anunciou que serias a Mãe

Do Deus que conquistastes por tua humildade,

Tornou-te onipotente essa virtude oculta,

Ela ao teu coração trouxe a Trindade santa

e o Espírito de Amor, cobrindo-te em sua sombra,

O Filho, igual ao Pai, encarnou-se em teu seio...

Inúmeros serão seus irmãos pecadores,

Uma vez que Jesus é o teu primeiro filho!...

Ó Mãe muito querida, embora pequenina,

Trago em mim, como tu, o Todo-Poderoso

e nunca tremo ao ver em mim tanta fraqueza.

O tesouro da Mãe é possessão do Filho,

e sou tua filha, ó Mãe estremecida.

Tua virtude e amor não são, de fato, meus?

E quando ao coração me vem a Hóstia santa,

Teu Cordeiro Jesus, crê que repousa em Ti!...

Tu me fazes sentir que não é impossível

Os teus passos seguir, Rainha dos eleitos,

Pois o trilho do céu nos tornastes visível,

Vivendo cada dia as mais simples virtudes.

Quero ficar pequena ao teu lado, Maria,

Por ver como são vãs as grandezas do mundo.

Ao ver-te visitar a casa de Isabel,

Aprendo a praticar a caridade ardente.

Santa Teresinha do Menino Jesus


Grupo 4 SANTA TERESA DE ÁVILA

Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Jesus nasceu na província de Ávila, Espanha, numa família da baixa nobreza. Seus pais chamavam-se Alonso Sánchez de Cepeda e Beatriz Dávila e Ahumada. Teresa refere-se a eles com muito carinho.

Aos sete anos, gosta muito de ler histórias dos santos. A mãe de Teresa faleceu quando esta tinha quatorze anos: "Quando me dei conta da perda que sofrera, comecei a entristecer-me. Então me dirigi a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei com muitas lágrimas que me tomasse como sua filha".

A jovem comunica ao pai que desejava tornar-se religiosa, mas este pediu-lhe para esperar que ele morresse para ingressar no convento. No entanto, em uma madrugada, com 20 anos, a santa fugiu para o convento Carmelita de Encarnación, em Ávila, com a intenção de não voltar para casa. Seu pai, ao vê-la tão decidida, deixou de opor-se à sua vocação. Um ano depois fez a profissão dos votos. Pouco depois, piorou de uma enfermidade que começara a molestá-la antes de professar. Seu pai a retirou do convento. Os médicos, apesar de todos os tratamentos, deram-se por vencidos à enfermidade, provavelmente impaludismo (malária), que se agravou. Teresa conseguiu suportar aquele sofrimento, e começou a praticar a oração mental. Finalmente, após três anos, ela recuperou a saúde e retornou ao Carmelo.

Segundo o costume dos conventos espanhóis da época, as religiosas podiam receber todos os visitantes que desejassem, a qualquer hora. Teresa passava grande parte de seu tempo conversando no locutório. Isto a levou a descuidar-se da oração mental. Vivia desculpando-se dizendo que suas enfermidades a impediam de meditar.

Cada vez mais convencida de sua indignidade, Teresa invocava com freqüência os grandes santos penitentes, Santo Agostinho e Santa Maria Madalena, aos quais estão associados dois fatos que foram decisivos na vida da santa. O primeiro foi a leitura das "Confissões" de Santo Agostinho. O segundo foi um chamamento à penitência que ela experimentou diante de um quadro da Paixão do Senhor: "Senti que Santa Maria Madalena vinha em meu socorro... e desde então muito progredi na vida espiritual". Sentia-se muito atraída pelas imagens de Cristo ensangüentado na agonia. Certa ocasião, ao deter-se sob um crucifixo muito ensangüentado, perguntou: "Senhor, quem vos colocou aí?" Pareceu-lhe ouvir uma voz: "Foram tuas conversas no parlatório que me puseram aqui, Teresa". Ela chorou muito e a partir de então não voltou a perder tempo com conversas inúteis e nas amizades que não a levavam à santidade.

Uma sobrinha de Santa Teresa, também religiosa no convento da Encarnação, deu-lhe a idéia de fundar uma comunidade reduzida. A Santa, que já estava há 25 anos naquele convento, resolveu colocar em prática o plano de fundar um convento reformado.

A inauguração causou grande reboliço em Ávila. A fundação não era bem vista em Ávila, porque as pessoas desconfiavam das novidades e temiam que um convento sem recursos se transformasse em um peso para a cidade. Santa Teresa não perdeu a paz em meio às perseguições e prosseguiu colocando a obra nas mãos de Deus.

Teresa estabeleceu em seu convento a mais estrita clausura e o silêncio quase perpétuo. A comunidade vivia na maior pobreza. As religiosas vestiam hábitos toscos, usavam sandálias em vez de sapatos (por isso foram chamadas "descalças") e eram obrigadas a abstinência perpétua de carne. A fundadora, a princípio, não aceitou comunidades com mais de treze religiosas. Mais tarde, nos conventos que possuiam alguma renda, aceitou que residissem vinte monjas.

A grande mística Teresa não descuidava das coisas práticas. Sabia utilizar as coisas materiais para o serviço de Deus. Certa ocasião disse: "Teresa sem a graça de Deus é uma pobre mulher; com a graça de Deus, uma fortaleza; com a graça de Deus e muito dinheiro, uma potência".

Na fundação do convento de Burgos, que foi a última, as dificuldades não diminuiram. Em julho de 1582, quando o convento já ia com suas obras adiantadas, Santa Teresa tinha intenção de retornar a Ávila, mas viu-se forçada a mudar seus planos para ir a Alba de Tormes visitar a duquesa Maria Henríquez. A Beata Ana de São Bartolomeu afirmou que a viagem não estava bem programada e que a Santa estava tão fraca que desmaiou no caminho. Certa noite só puderam comer alguns figos. Chegando a Alba, Teresa teve que deitar-se imediatamente. Três dias depois, disse à Beata Ana de São Bartolomeu: "Finalmente, minha filha, chegou a hora de minha morte". Ela morreu às 9 horas da noite de 4 de outubro de 1582. Exatamente no dia seguinte efetuou-se a Mudança para o calendário gregoriano, que suprimiu dez dias, de modo que a festa da santa foi fixada, mais tarde, para o dia 15 de outubro. Foi sepultada em Alba de Tormes, onde repousam suas relíquias.

Evangelho

Mateus 6,7-15

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: ‘Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes.”

O PAI-NOSSO E O POEMA NADA TE TURBE DE SANTA TERESA DE ÁVILA



PAI NOSSO QUE ESTAIS NOS CÉUS

SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME

NADA TE TURBE

NADA TE PERTURBE

VENHA A NÓS O VOSSO REINO

NADA TE ESPANTE

NADA TE ESPANTE

SEJA FEITA A VOSSA VONTADE

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

TODO SE PASA

TUDO PASSA

O PÃO NOSSO DE CADA DIA

NOS DAI HOJE

DIOS NO SE MUDA

DEUS NÃO MUDA

PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS

ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS

A QUEM NOS TEM OFENDIDO

LA PACIENCIA TODO LO ALCANZA

A PACIÊNCIA TUDO ALCANÇA

E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO

QUIEN A DIOS TIENE

NADA LE FALTA

QUEM A DEUS TEM

NADA LHE FALTA

MAS LIVRAI-NOS DO MAL

SÓLO DIOS BASTA

SÓ DEUS BASTA

Amém.


Busca-te em Mim

Alma buscar – te - ás em mim

E a mim, buscar-me-ás em ti.

De tal sorte pôde o amor, alma, em mim te retratar

Que nenhum sábio pintor soubera, com tal primor,

tua imagem estampar.

Foste por amor criada, bonita, formosa e, assim,

em meu coração pintada, se te perderes, amada alma,

Buscar-te-ás em mim, buscar-me-ás em ti.

Porque sei que te acharás em meu peito retratada,

Tão ao vivo desenhada, que, em te olhando, folgarás

Vendo-te tão bem pintada.

E se acaso não souberes em que lugar me escondi

Não busques aqui e ali, mas se me encontrar quiseres

A mim, buscar-me-ás em ti, buscar-te-ás em mim.

Sim, porque és meu aposento, és minha casa e morada

E assim chamo no momento em que de teu pensamento

Encontro a porta cerrada

Busca-me em ti, não por fora... Para me achares ali

Chama-me, que a qualquer hora a ti virei sem demora

E a mim, buscar-me-ás em ti, buscar-te-ás em mim.

Atualizando a história e a vida de Teresa de Jesus através da sua experiência de oração.

“Por mais baixinho que se fale, ele está tão perto de nós que nos ouvirá. Para buscá-lo não precisa de asas: basta pôr-se em solidão e olhá-lo dentro de si mesma”

Caminho de Perfeição 28,2.

Espanha do século XVI, na pequena cidade de Ávila da província de Castilha, num mosteiro chamado Encarnação, vivia uma jovem conhecida por muitos daquele povoado como Doña Teresa de Alhumada e Cepeda, uma monja carmelita, filha de fidalgos: Dom Alonso e Dona Beatriz.

Era um mosteiro numeroso e ali viviam diversas religiosas. Algumas ainda traziam consigo o status e as benesses da vida social em que viviam[3], porém a maior parte era constituída de pessoas desejosas de viver uma vida simples, austera e puramente evangélica[4].

Apesar da condição social favorável em que se encontrava, Teresa transitava em todos ambientes da vida comunitária, era querida por todas suas irmãs.

Nesta condição viveu a jovem Doña Teresa, assim eram chamadas as filhas dos fidalgos. Durante quase quarenta anos de sua vida religiosa viveu de maneira tediosa e confessa que com freqüência, durante a oração:

“Me ocupava mais em desejar que terminasse logo o tempo marcado... do que me entreter em bons pensamentos. Atenta eu escutava o relógio bater” [5].

O tempo passa para Teresa e ela se aproxima cada vez mais de uma eminente frustração, mas sem medo de olhar para si ela faz uma auto-avaliação e diz: “Passei nesse mar tempestuoso quase vinte anos de minha vida, ora caindo, ora me levantando” [6].

Passa o tempo e a história continua, muda o contexto das situações, mas o pêndulo dos conflitos humanos continua os mesmos, como no tempo de Teresa. O homem e a mulher atual sofrem os mesmos conflitos que esta jovem monja carmelita sofria:

“Nem me alegrava em Deus, nem achava felicidade no mundo. Quando estava em meio aos contentamentos do mundo, me atormentava o quanto eu devia a Deus. Quando estava com Deus, perturbava-me a oração as afeições do mundo” [7].

Estes conflitos trouxeram a Teresa uma série de complicações e enfermidades, foi um tempo de grande purificação e renúncia. Era difícil nessas condições praticar a oração de forma tranqüila, mas diante desses acontecimentos jamais se abateu, jamais se omitiu ou teve medo de fazer uma total revisão de vida, sua maneira de viver, pensar agir, rever os seus conceitos e atitudes[8]. Na queda, no sofrimento e na dor, foi levada a um total aniquilamento de si mesma, mas Teresa nunca deixou a prática da oração, dela sempre ela ressurgiu mais forte e renascida em Cristo.

Fortes amigos de Deus.

Teresa vai reconhecer que no transcorrer de sua vida encontrou várias pessoas que a ajudaram a se levantar de suas quedas: “O Senhor parece ter querido escolhê-las para proveito de muitas outras almas, especialmente nestes tempos em que os amigos de Deus precisam ser fortes para sustentar os fracos” [9], mas que também encontrou muitos que a fizeram cair:

“Para cair havia muitos que me ajudavam, mas para levantar-me achava-me tão sozinha que hoje me admiro de não ter caído para sempre. Louvo a misericórdia de Deus. Só ele me dava a mão” [10].

Teresa em meio a esses grandes sofrimentos encontra em Jesus Cristo, solitário e aflito, atado à coluna em agonia orando a Deus, o seu único e melhor amigo:

“Estava no oratório, diante de uma imagem de Cristo muito chagado, só de vê-lo em tal estado, fiquei muito perturbada, trazia em seu corpo as marcas do sofrimento que passara por nós, fiquei tão agradecida por aquelas chagas, que me partia o coração. Lancei-me a seus pés, derramando muitas lágrimas e suplicando-lhe que me fortalecesse para nunca mais o ofender” [11].

Nessa época alguém lhe presenteou com um exemplar das Confissões de santo Agostinho. Teresa fica muito feliz, pois já ouvira falar deste escrito, mas ainda nunca os tivera em mãos, afirmará que isso foi providência divina que a tivera mandado. Ela recordará a sua infância:

“Sou muito afeiçoada a santo Agostinho, por ser de sua Ordem o mosteiro onde estive como educanda, e por ter sido pecador” [12].

Assim Teresa persistiu na oração e na leitura de santo Agostinho e chegará a afirmar: “Lendo as “Confissões” parece ver-me como num retrato” [13]. Chama-nos a atenção que os santos mais atraentes no seguimento de nosso Senhor são aqueles que sem medo, se apresentam como grandes pecadores.

Assim Teresa persistiu na oração, apesar do vazio e da sensação de aridez em meio às humilhações espirituais que passava. Nesse ínterim a única coisa que pedia a Deus era:

“Que concedesse a graça para não mais o ofender e que perdoasse todos os meus grandes pecados e me consentisse permanecer sempre diante de si e trazendo-me sempre à sua presença” [14].

A partir desse momento Teresa se determina a caminhar sempre na presença do Senhor: “comecei a me entregar mais à oração e a tratar menos das coisas que me prejudicavam” [15]. Dedica-se com maior empenho à prática da oração e busca estar com freqüência à sua presença, a leitura e a meditação vão enriquecendo o seu coração na experiência e no conhecimento:

“Quando interiormente me figurava estar junto de Cristo, ou até mesmo lendo. Ocorria-me de repente tal sentimento da presença de Deus, que de modo algum podia duvidar que o Senhor estivesse dentro de mim, e eu, toda mergulhada nele” [16].

“Agora Teresa, sê forte” [17].

A partir de então, com a determinação totalmente enraizada na oração, ela faz uma revolucionária transformação em sua vida. Já próxima dos seus 42 anos Doña Teresa de Alhumada e Cepeda se torna a Teresa de Jesus.

Para se dedicar mais a oração e a vida fraterna deixa o grande mosteiro da Encarnação para fundar[18] uma pequena comunidade na periferia da cidade Ávila, e assim viver com maior reta intenção o seguimento de Jesus: casto, pobre e obediente, no recolhimento, na solidão, no abandono e na simplicidade numa exigente vida de oração.

Renuncia os títulos e os benefícios que a vida social lhe proporcionava e promete viver o exemplo do “colégio apostólico de Cristo” [19]. Esta será a sua regra máxima, viver na intimidade com o Senhor a partir da experiência da comunidade de Jesus de Nazaré.

Teresa se entrega completamente a Deus, mesmo em meio às trevas e aridez, assim ela descobre o verdadeiro significado do que consiste a oração e o sentido de nela perseverar.

A partir desses acontecimentos na vida de Teresa, ela percebe que a oração é uma partilha íntima entre dois amigos, e que é necessário dedicar freqüentemente tempo, atenção e ternura a quem se ama, isto é, estar a sós com Deus.

Esta experiência de amizade fará Teresa elaborar quase que um conceito para definir o que vem a ser a oração, ela vai afirmar:

“A meu ver, a oração não é outra coisa senão tratar intimamente com aquele que sabemos que nos ama, e estar muitas vezes conversando a sós com ele” [20].

Mais tarde esta sua experiência de oração imprimirá um modo carmelitano daquilo que chamamos de oração Teresiana.

A oração de Teresa de Jesus parte da experiência da amizade com Deus; um Deus próximo, amigo, irmão e companheiro. Na meditação que ela faz em sua obra intitulada, Caminho de Perfeição, onde discorre sobre o a oração do Pai-Nosso, ao explicar a frase: “que estais no céu” nos ensina que não devemos imaginar Deus habitando em um “céu” distante e inacessível de poder majestático; para Teresa o céu é Deus, e onde está Deus, o céu ali está[21].

Ela tem uma certeza tão grande nessa afirmação que não tem medo de dizer que, não é preciso morrer para ir para o céu para ver e falar com Ele; não é preciso gritar, pois por mais suavemente que se fale, ele está tão perto de nós que nos ouvirá, basta ficar em solidão e silêncio, olhar para Ele de dentro de nós mesmos sem nos afastarmos e falar-lhe com grande humildade[22].

Portanto Teresa de Jesus mestra de oração afirma sem hesitação, que o lugar da morada de Deus somos nós.

“É absurdo”, escreveu Teresa de Jesus: “pensar que havemos de entrar no céu [conhecer a Deus] sem primeiro entrar [conhecer] em nós mesmos, a fim de conhecer e considerar nossa miséria e os grandes benefícios que devemos a Deus e pedir-lhe muitas vezes misericórdia” [23].

Com firmeza Teresa revela que conhece muito bem a constituição humana, para ela a oração se torna mais autêntica, na medida em que conhecemos a nós mesmos e torna dizer; “é muito bom, é sumamente bom entrar primeiro no aposento do seu próprio conhecimento, antes de voar a outros” [24].

Teresa sabe que em matéria de oração é sempre tentador desejar os graus mais elevados, isto é, buscar, viver e se preocupar somente das “coisas espirituais”, como se elas fossem algo destacado dos acontecimentos do mundo. Buscaobservar as realidades do mundo com distância, a fim de não se comprometer com “coisas terrenas”.

Para Teresa de Jesus esta não é uma oração autêntica, ela é completamente irreal e perigosa, não produz o bem para a pessoa, para a humanidade e para a Igreja.

Esta modalidade alienante de oração cria desculpas para que a pessoa não assuma as exigências e responsabilidades da vida real.

Quando esse tipo de modalidade de “oração” é vigente, cava-se um profundo abismo entre a relação da oração com o mundo e suas instituições: a política, a cultura, a ciência, a ecologia, o trabalho e até internamente com a própria Igreja, o ecumenismo, os movimentos sociais e pastorais. Com isso ignoram claramente os sofrimentos humanos, as injustiças, os preconceitos e assumem uma atitude envernizada diante dessas situações sem um comprometimento profético de anúncio e denúncia. Teresa de Jesus chamava esse tipo de oração de perspectiva umbilical de “oração dos encapuzados” [25].

A oração autêntica se transforma em tribuna[26] do qual, o homem e a mulher falam de Deus ao mundo[27], é quando a oração sai do âmbito dos particularismos e se torna uma oração preocupada com situações globalizantes, sai da perspectiva umbilical e levanta a cabeça para contemplar a ação de Deus no mundo.

É quando a oração se torna profética. A voz da pessoa orante se transforma em “voz do Senhor”. O profeta é aquele que fala em nome de Deus, é seu porta-voz, anuncia e denuncia a dor, a injustiça, a guerra, as perseguições, a liberdade e paz.

O Deus em que o profeta acredita é o Deus da misericórdia e da vida. O profeta tem a capacidade de ler a crise do mundo com os olhos e o coração de Deus.

A oração é a história do diálogo de Deus com o seu povo, ele falou a nós pelos patriarcas e profetas, homens e mulheres de oração, falou através de Jesus de Nazaré, “a palavra definitiva do Pai” [28].

Se no primeiro momento tentaram amordaçar a boca de Deus, calando João Batista a fio de espada, agora se levanta o Filho de Deus, a palavra eterna do Pai. Este crucificado e morto numa cruz, Deus o ressuscitou, este acontecimento tornou-se o epicentro de um grande tsunami na história: a presença de Deus no meio do seu povo, e o sonho não acabou.

Ele continuou falando pelos apóstolos e mártires, pelos santos e doutores e continua falando ressuscitado nas vozes do clamor do seu povo.

A onda causada por este grande Tsunami chega até nós através do elo de uma interminável corrente de santidade de amor e fidelidade a Jesus Cristo e ao seu evangelho: Tomás de Aquino, Teresa de Jesus, João da Cruz, Bartolomeu de las Casas, José de Anchieta, D. Oscar Romero, ou ainda bem próximos a nós, Chico Mendes, Dorothy Stang, Dom Helder Câmara, Dom Luciano Mendes de Almeida, Ivo Lorscheiter.

Estes não foram meros expectadores da história vendo-a passar, não aceitaram ser figurantes, atuaram na história como protagonistas de um tempo novo, tempo de paz, justiça e amor. Deram continuidade a esta grande história de amor entre o céu e a terra, o reino de Deus e a cidade dos homens contando e escrevendo com suas próprias vidas a utopia do reino. O grande romance entre Deus e o seu povo, esta bela historia de amor, continua hoje como extensão da História da Salvação pela participação desses homens e mulheres de Deus na paixão do nosso Senhor.

Este é o ponto crucial da oração, do qual ela se transforma em diálogo com todos os seguimentos sociais e instituições a fim de torná-los mais éticos, humanos, justos e fraternos, enfim evangelizados.

Este é o desafio da práxis da oração. Orar é encontrar a Deus e fazê-lo ser encontrado pelos homens. Orar não é tratar de idéias a respeito de Deus, mas estarmos abertos à sua graça e a sua incomensurável misericórdia de infinitas possibilidades.

Deus age livre da nossa vontade. Na sua livre escolha, ele manifesta sua predileção de atuação no mundo através da nossa frágil e limitada humanidade.

Então a humanidade pode transformar o mundo através da oração?

Sim. Porque Deus escolheu atuar no mundo através dos homens, mulheres e crianças, especialmente aqueles que o buscam com o coração dos bem-aventurados[29]. Somos chamados por vocação a construirmos um mundo de paz e de justiça, esta é a maior expressão de fé que a nossa oração pode alcançar.

A oração autêntica é aquela que exige de nós o reconhecimento de que Deus pode agir como Deus na humanidade. Os homens e mulheres, buscadores de Deus pela fé através da oração, não podem admitir que haja contingências e limitações a ação de Deus na história.

Não podemos deixar amordaçar a boca de Deus que fala na história e na vida do seu povo. Não podemos deixar apagar a chama do sonho, das transformações e mudanças do intervento de Deus no meio do seu povo.

Deus está conosco, esta é uma verdade. Assim poderemos dizer como Teresa de Jesus: Deus não está distante do seu povo confortavelmente morando num céu inacessível, Ele está no meio de nós, caminha com seu povo, fala e sofre conosco.

Através da oração não somos nós que encontramos a Deus, mas é Deus quem nos encontra primeiro. A Oração é a história dos encontros de Deus com a humanidade, ninguém poderá ousar dizer que saiu a procura de Deus e conseguiu falar com Ele, porque foi Deus primeiro quem rompeu o véu de separação. É sempre Deus quem fala primeiro.

Teresa de Jesus e a Sagrada Escritura.

Mas ainda há outras formas de diálogo através da oração. Teresa de Jesus, contemporânea a tantos eminentes teólogos de seu tempo ousou ler, ensinar, e até interpretar alguns textos bíblicos da sagrada escritura.

Não era comum naquele tempo possuir uma bíblia, geralmente, até os religiosos, tinham pouco ou quase nenhum acesso [no caso das mulheres] aos textos bíblicos.

Os textos bíblicos permitidos eram feitos através de citações em outros livros, de piedade ou de orações comuns [Liturgia das Horas], geralmente eram citações escolhidas cuidadosamente para não gerar conflitos e interpretações fora dos parâmetros daquilo que era ensinado.

Teresa sabe ler. Ler?! Sim, ela sabe ler. Era muito comum na época de Teresa de Jesus encontrar mulheres que não sabiam ler e escrever, como ainda até hoje no nosso Brasil.

Como vimos, Teresa era filha de fidalgos e teve uma boa formação intelectual, aprendeu provavelmente a ler com sua mãe Dona Beatriz e liam juntas as famosas “novelas cavalherísticas” da época.

No colégio das Agostinianas de Ávila, ela tem uma educação muito sólida, seja no aspecto humano e espiritual. A importância da formação intelectual e humana para Teresa de Jesus terá primazia na fundação das novas comunidades.

Ao fundar sua primeira comunidade na periferia de Ávila, cujo nome era Convento de São José, Teresa, suprime os títulos de “Doñas” de suas irmãs, pois isto marcava fortemente a diferença social entre elas, e irá afirmar: “Aqui nesta casa todas hão de ser iguais” [30], não somente no nome, mas também na condição: “O ofício de varrer comece a partir da madre priora” [31].

Para Teresa a autoridade na comunidade se conquista pela capacidade de amar e servir, assim vai exigir: “A priora procure ser amada por todas” [32].

No início da fundação, Teresa de Jesus não admitia que houvesse diferenças entre as chamadas irmãs coristas e não coristas, porque as coristas sabiam ler e rezavam no coro, as não coristas, por serem analfabetas deveriam rezar de outra forma, fora do coro.

Mas com o passar do tempo, Teresa de Jesus se vê forçada a rever esta situação. Com a entrada de muitas jovens que não sabiam ler e escrever, mas possuíam uma excelente formação humana, passará admiti-las, proporcionando-lhes a devida formação. Muitas delas aprenderão a ler e a escrever tendo Teresa como mestra.

Teresa é uma mulher que investe no ser humano, isto possibilitará mais tarde a entrada de uma irmã que atenderá pelo nome de Ana de são Bartolomeu. Teresa formou esta mulher começando a lhe ensinar a ler e a escrever, mais tarde ela se tornará o seu “braço direito” na direção das novas comunidades.

Irmã Ana acompanhará Teresa de Jesus em suas viagens e será sua enfermeira particular. Será a primeira carmelita que sairá das fronteiras além de Espanha para fundar Carmelos na França e em Flandres (Bélgica).

Como vemos, não bastam somente bons sentimentos e desejos piedosos para lermos a Palavra de Deus, é necessário que da nossa parte haja um maior empenho dedicação na nossa formação intelectual, acadêmica e vivencial; não somente para ler, mas para que possamos também aprender, vivenciar, ensinar e transmitir o que lemos e aprendemos da Palavra de Deus.

Muitas vezes encontramos o povo de Deus, na situação daquele funcionário etíope que lia as sagradas escrituras e indagado por Felipe para saber se ele entendia o que estava lendo, o povo responde: “Como posso ler se não tem alguém que me explique?” [33].

Necessitamos hoje de pessoas não somente formadas e informadas na Palavra de Deus, mas também de pessoas comprometidas de tal forma que possam tirar a palavra do conceito, da letra, da abstração, da idéia. A Palavra de Deus que é vida necessita de alguém lhe dê um corpo.

A inquisição.

Um dia a inquisição baixou pelas redondezas da cidade de Ávila proibindo a leitura de vários livros. Teresa de Jesus é aconselhada fazer uma limpeza em sua biblioteca particular, o que lhe custou muito pesar, pois era uma mulher amante de bons livros, e nessa época, não se conseguia livros com facilidade.

Neste momento de grande renúncia, o Senhor lhe fala profundamente ao seu coração: “Teresa, não temas, eu serei para ti um livro vivo” [34]. Não basta, a leitura, a meditação, a reflexão da sagrada escritura, o tempo presente necessita da encarnação da palavra, de um testemunho vivo, encarnado na história, como foi para Teresa de Jesus.

Teresa era uma mulher arguta, muito amiga de grandes intelectuais. Eram seus diretores espirituais e confessores[35], tinha também nessas amizades e a segurança do respaldo doutrinal e teológico diante de algumas dificuldades.

No prólogo do Caminho de Perfeição, obra orientada para a formação de suas monjas, que já havia sido uma vez retida pela inquisição, Teresa no prólogo vai iniciar citando frei Domingos Bañes[36], usando assim a autoridade teológica do dominicano, pois naquela época, era quase que inconcebível uma mulher escrever um livro de conteúdo místico-teológico.

Em diversos momentos nos seus escritos, Teresa usa de um delicado sofisma feminino para conseguir argumentar o que deseja e ludibriar muitos daqueles que a perseguiam repetindo: “eu na minha condição de mulher. Eu imperfeita como sou[37] e ainda “sendo mulher e ruim, senti-me incapaz de trabalhar como desejava para a glória de Deus”[38], são com essas e outras palavras e usando de elegância e sutileza feminina, que Teresa vai conseguir falar e escrever tudo aquilo que sabe, pensa e conhece sobre a vida espiritual.

Consciente da condição feminina naquela época principalmente no meio eclesiástico, Teresa é muito cautelosa. Ao lermos algumas páginas dos seus escritos, no primeiro golpe de vista, ela nos deixa a impressão de uma baixa estima de si mesma quanto a sua formação intelectual. Mas num segundo momento percebemos que esse sentimento é o seu ardil, seu trunfo, pois os censores da inquisição estão mais preocupados em arrancar dela a vênia de submissão às autoridades eclesiásticas.

A partir de então Teresa de Jesus sabiamente adere aos famosos cabeçalhos iniciais de suas obras, sinal recorrente em todas as obras de escritores católicos daquela época, inclusive são João da Cruz:

“Se alguma coisa não estiver conforme à doutrina da santa Igreja Católica Romana, será por ignorância, não por malícia. Pela bondade de Deus, sempre estou, estive no passado e estarei no futuro sujeita à santa Igreja. Seja ele para bendito e glorificado! Amém”[39].

Teresa Mestra espiritual.

Teresa não rompe somente os limites da sua condição feminina, ousa ir além, ela quer ensinar a sua experiência oracional a partir da sagrada escritura.

Era comum em todas as escolas de espiritualidade da época pedir como tarefa pessoal a todo dirigido, para elaborar um comentário sobre o Cântico dos Cânticos.

Creio que a obra de Teresa: “Conceitos do Amor de Deus” [comentário sobre o Cântico dos Cânticos], seja a primeira obra da sagrada escritura elaborada e comentada por uma mulher. Num tempo em que o acesso a sagrada escritura era raríssimo, mais raro ainda era uma mulher ousar comentar um texto bíblico, e Teresa o faz.

A marca feminina da leitura de Teresa é carregada de ternura, docilidade e paixão, são esses sentimentos que permeiam todo seu comentário.

Nela Teresa nos ensina uma nova atitude na leitura do texto bíblico e nos oferece algumas recomendações:

“Assim vos recomendo, quando lerdes algum livro, ouvirdes sermão ou pensardes nos mistérios de nossa sagrada fé, não vos canseis nem gasteis o pensamento em tentar decifrar o que não puderdes entender com facilidade; muitas dessas coisas não são para mulheres, e nem mesmo para os homens” [40].

Teresa gostaria de poder saber mais sobre a sagrada escritura a fim de perscrutar o mistério divino com maior profundidade, mas reconhece a sua limitação, não importa se o texto está escrito em latim, hebraico, grego ou em castelhano sua língua natal, seja em que língua for o mistério será sempre mistério:

“Quem numa só palavra traz em si mil mistérios, faz com que não o entendamos a princípio. Se estivesse em latim, em hebraico ou em grego, não era de espantar; mas em nosso vernáculo [castelhano], quantas coisas há nos salmos do glorioso rei Davi que, ditas apenas neste vernáculo, se mostram tão obscuras para nós como se estivem em latim[41]”.

Atualmente os mais sábios e interados no assunto, poderão afirmar: Teresa de Jesus faz somente algumas considerações de interpretações espirituais sobre a sagrada escritura.

Correto. Mas não podemos esquecer o contexto histórico da eclesiologia e teologia da época, somente pelo fato de ser uma mulher e de ter a ousadia de interpretar a sagrada escritura, mesmo que seja uma interpretação espiritual, já é um ato digno de respeito.

Teresa avança e quer mais, é uma mulher sedenta de Deus, e no Caminho de Perfeição, obra orientada à formação das monjas carmelitas, ela vai a partir do capítulo 28, tecer um comentário da oração do Pai nosso.

Novamente alguém poderá me indagar: Mas isto era muito comum na espiritualidade da época, os mestres espirituais, pediam com freqüência para seus dirigidos, que elaborassem um comentário do Novo Testamento, [geralmente o Pai nosso] como um exercício de meditação da Palavra de Deus.

Correto. Mas volto a afirmar um diferencial de grande importância, esta dirigida era uma mulher, que nunca colocou os pés em uma universidade, nunca estudou teologia, e se tocou algum dia, ou viu de perto uma bíblia, provavelmente foi entre quatro paredes e bem longe dos inquisidores.

Sua leitura da Bíblia.

Como vimos, Teresa Jesus entra no elenco da tradição daqueles grandes mestres espirituais que através da Lectio Divina ofertaram à espiritualidade a sua contribuição. Teresa de Jesus, já no século XVI, nos oferece uma leitura da sagrada escritura na ótica e na experiência feminina.

Teresa de Jesus enriqueceu e detalhou melhor alguns pontos da vida de oração com explicações mais claras e muito ricas de simbolismos; isto favoreceu e tornou o seu conteúdo mais acessível e de fácil compreensão. Neste sentido podemos afirmar que Teresa de Jesus é uma verdadeira Mestra da Oração para a vida cotidiana.

A novidade da contribuição de Teresa de Jesus à vida de oração, o que tornou sua experiência tão acessível e popular, foi que ela parte da experiência e do simbolismo das coisas vida cotidiana para explicar a união da alma com Deus.

Quem na época de Teresa de Jesus, e entre nós até hoje, em algumas regiões do Brasil, não precisa tirar água do poço para manter a casa e a subsistência familiar?

Ou ainda andar distâncias enormes para buscar água represadas em açudes durante a seca?

Assim era no tempo de Teresa de Jesus, ela a partir de um simbolismo tão próximo à realidade da vida cotidiana do seu povo, vai dar corpo a uma experiência que chamará de “primeiro grau da oração”. Vai comparar este esforço a uma cansativa tarefa, de pouco a pouco transportar água de um poço para sua casa, seja para a manutenção da família, seja para regar uma horta ou um jardim[42].

Trata da oração de maneira diferenciada, busca uma nova nomenclatura acessível para poder se relacionar com Deus. Teresa de Jesus chama a Deus de Pai amoroso, Deus compassivo de cuja misericórdia quer proclamar cantando com sua própria vida. Chama Jesus de Filho de Deus, mestre, irmão, companheiro e amigo, e atribui ao Espírito Santo a força propulsora da sua capacidade de amar, ela o chamará de meu Divino Esposo.

Teresa não está preocupada em cavar conceitos e dogmas conciliares para fundamentar suas afirmações, não está preocupada em teologizar sua oração com conceitos que mais nos afastam de Deus do que nos aproximam dele; ela simplesmente está mais preocupada e desejosa de que, comportando-se como uma filha da Igreja possa chamar a Deus de Pai. Sente-se muito próxima, amiga e companheira de Jesus, principalmente na hora do seu maior e crucial sofrimento; tem no Espírito Santo o seu amante e esposo, a Ele se entrega totalmente e deixa-se arrastar pela mão de Deus.

Esta foi uma mulher seduzida por Deus e a ele, ela se deixou seduzir. Para Teresa a finalidade da oração é: “conhecer quem é este homem-Deus, e quem é o seu Pai” [43] e prossegue dizendo: “Entender estas verdades, eis o que é a oração mental, não faleis com Deus, pensando em outras coisas” [44].

Teresa, uma mulher experiente e prática e emocionalmente equilibrada, sem deixar de ser sensível e acolhedora, possuía uma grande percepção do conhecimento humano, pois fizera uma profunda experiência de conversão aos quarenta anos.

Teve que enfrentar e argumentar com grande elegância de alma com homens e mulheres, autoridades e letrados, bons e maus; foi amada e querida por uns, odiada e repudiada por outros.

Com atitude enfrentou sérios desafios em alguns mosteiros pouco disciplinados. Mesmo diante de grandes problemas, levou a bom termo a obra que o Senhor lhe havia pedido, passou por momentos de grande aridez espiritual e perseguições, mas mesmo assim, jamais deixou de escrever, mesmo em meio às muitas e longas viagens que tinha que fazer para realizar a fundação de mosteiros.

Teresa sabia que a maior herança que poderia deixar para as suas monjas, era a sua experiência com Deus através da oração.

Teresa escreve aquilo que vive, por isso para alguns, seus escritos parecem um tanto caótico, porque em Teresa de Jesus, oração e vida se misturam. O tripé que vai sustentar toda sua experiência mística é: a , a Oração e a Vida.

Teresa sabia muito bem o chão que estava pisando, sabia que toda sua experiência de oração devia estar plantada na realidade humano-existencial, isto é, firmadas na vida e nos acontecimentos da história, pois a separação entre oração e vida, poderia levá-la como num escorregador direto aos alumbrados[45], colocando a perder todo o seu trabalho.

Sua admirável capacidade em unir a vida mística à uma incessante atividade apostólica, dentro e fora dos mosteiros, demonstra profundamente a grande compatibilidade entre a vida contemplativa e a vida apostólica.

Mestra em humanidades

Em sua autobiografia, Teresa elenca alguns problemas enfrentados por aqueles que começam a se exercitar na prática da oração, especialmente aqueles que encontram dificuldades em acalmar seus sentidos: a imaginação, os sentimentos e as preocupações da vida.

Engana-se quem pensa que no século XVI não havia estresse e grandes preocupações, que a vida transcorria calma, monótona e sem correria.

A seu modo, e ao seu tempo, a vida no século XVI portava consigo a difícil convivência, com seus riscos e perigos, a bandidagem, doenças de toda espécie, num tempo em que não havia médicos [eram os barbeiros], antibióticos e analgésicos, não existia salário, comia o que se produzia, se trabalhava tinha e possuía, caso contrário se passava fome, sem falar das complicações com as intempéries que eram avassaladoras.

O centro da vida social girava em torno das igrejas, que era escandida com as celebrações e festas litúrgicas. O sino da igreja, edifício mais alto e de maior porte da cidade, através do tipo de toque, anunciava a todos os acontecimentos sociais e religiosos do povoado, demarcava as horas e convocava a todos em momentos excepcionais.

Ao chegar o mensageiro da corte, as notícias e decretos do rei, eram anunciados à frente da porta da igreja. Este era o lugar onde toda a gente podia obter informações sempre atualizadas dos acontecimentos, não foi a toa que Lutero para tornar conhecida as 95 teses sobre a Reforma, fixou-a na porta da igreja Wittenberg, não que isso significasse diretamente uma afronta a Igreja de Roma, mas que nessa época, este local era o único lugar e o mais comum para se fazer uma comunicação.

É neste contexto histórico social e eclesial que Teresa vive, é a partir dessa experiência vivencial que ela quer contribuir para a transformação do homem do seu tempo, quer ensinar o povo rezar.

É na agitação desse contexto da vida cotidiana do século XVI, que esta monja carmelita tem uma nova proposta de oração.

Passa o tempo, o mundo e os acontecimentos do mundo, mas os conflitos humanos estão profundamente enraizados no homem, por isso que as palavras de Teresa de Jesus sobre a oração não envelhecem, são sempre atuais, porque ela fala de Deus ao homem.

Que coisas as pessoas querem saber sobre a oração?

Eis alguns questionamentos para Teresa de Jesus que chegam também até nós:

1° Momento: [ad extra] - Como fazer oração.

a. Preparação remota: Onde, como? [Lugar]

b. Preparação próxima: De que modo? [Atitude]

c. Orar: O que rezar? [Conteúdo]

2° Momento: [ad intra] - Como administrar os conflitos na oração.

a. Primeiro Passo: Conhecer e reconhecer os sentidos para fazê-los calar e sossegar a alma. [A carne]

b. Segundo passo: Administrar e trabalhar a imaginação. [o Demônio]

c. Terceiro passo: Colocar a criatividade e a alegria a serviço do intelecto, do pensamento e da memória. [o Mundo]

3° Momento: [ad gentes] - A diaconia da oração.

a. Contemplação: Atingir a Verdade do mistério Deus. [Crescer na Comunhão]

b. Discipulado: Atuar no concreto da vida a união e comunhão com Deus e com os irmãos.

[Dar Testemunho]

c. Missão: Transformar minha oração em serviço e anúncio do Evangelho.

[Compromisso Missionário]

Respostas possíveis:

1° Momento: Aspectos externos da oração [ad extra].

Preparação remota.

a. Onde e como? [Lugar]

A questão de onde orar, que lugar é o mais apropriado, onde fazer oração foi um dos primeiros desafios enfrentado por Teresa de Jesus que morava em um Mosteiro com mais de 180 monjas, que tinham consigo suas, “parentes, amigas, empregadas, até escravas e animais de estimação” [46], todas habitavam no mesmo convento.

Este foi um dos pontos mais relevantes para aquelas que queriam se empenhar na vida de oração. É certo que numa comunidade menor, mais reservada, onde se cultiva a solidão o silêncio e o trabalho, se poderia viver a fraternidade e a oração com mais intensidade e com maior característica evangélica: “Determinei-me então afazer este pouquinho a meu alcance, que é seguir os conselhos evangélicos com toda a perfeição possível e procurar que estas poucas irmãs aqui enclausuradas fizessem o mesmo"[47].

Por isso que Teresa vai inovar fundando pequenas comunidades do tamanho do colégio apostólico de Cristo: “nesta casa não serão mais que treze[48].

Atualmente, esta é também uma questão relevante:

Onde orar?

Qual é o lugar mais propício para oração?

Devemos lembrar que o lugar por excelência onde o Senhor escolheu para orar em Espírito e em verdade é o chão da nossa própria existência, a vida.

Nós somos o lugar privilegiado onde Deus quer orar. Somos lugar, terreno, chão, casa, templo, somos igreja; Deus quer orar em nós.

Mas esta afirmação, não exclui os espaços domésticos de oração: aquele lugarzinho ao lado da cama, onde colocamos a nossa bíblia, um quadro, uma imagem de nosso Senhor ou da virgem Maria, o nosso rosário, uma vela, ali também é um santuário de Deus.

Nos espaços sociais do trabalho, no trajeto do ônibus, do metrô, na escola, na academia ou na fila do banco. Recolhe-te em silencio no teu santuário interior, ali está Deus, fale com ele.

O verdadeiro orante é aquele que consegue elevar seu pensamento, seu coração e a sua alma a Deus e a ele expressar uma oração simples; seja na penumbra e no silêncio de uma bela e importante catedral gótica, seja em plena Rua 25 de março na última semana que antecede as festas natalinas, seja diante de um belo espetáculo da natureza num por de sol em uma praia, ou ainda na rudeza da vida de uma favela, em meio à pobreza e simplicidade de uma família, ou ainda no sorriso de uma criança, ou no choro desesperado de uma mãe que perdeu o seu filhinho.

A alma orante eleva a Deus seu pensamento em prece e seus sentimentos à humanidade que sofre. É solidária em todas as circunstâncias e momentos, os felizes e os cruciais da vida cotidiana.

Mas também outro lugar de forte expressão da nossa oração é a comunidade eclesial, principalmente quando ela é acolhedora, comprometida, participativa, enfim, “entusiasmante”.

Nela formamos um só corpo, temos um só projeto, um só desejo, comungamos os mesmos sentimentos de Cristo quando celebramos a eucaristia. Na comunidade através da nossa oração e atividade pastoral, nós celebramos aquilo que acreditamos.

Preparação próxima.

b. Que modo? [Atitude]

A pessoa que ora tem uma atitude diferente de encarar a vida, Deus e o mundo. A verdadeira oração - trans-forma - muda o nosso jeito de pensar, ser e agir no mundo. Principalmente na nossa maneira de tratar com os outros e com aquilo que é diferente e suas diferenças, isto se chama conversão.

A nossa conversão advém a partir do momento que na oração nós nos colocamos de frente com o rosto de Jesus de Nazaré. O rosto de Jesus nos revela outros rostos: o rosto do pobre, da criança, da mulher, do idoso, do marginalizado, dos sem teto, do drogado, do injustiçado[49].

Diante desses rostos de crucificados nos confrontamos com os rostos dos crucificadores, o adversário, o perseguidor, aquele que rouba, desrespeita, violenta, maltrata e mata, estes através de suas ações perversas buscam instituir o anti-reino de Deus.

Mas o orante é aquele que mesmo diante desses sinais de morte faz uma opção preferencial pela vida, aquela que Jesus, o rabino pobre de Nazaré, prometeu: “a vida verdadeira, a vida em abundância” [50].

Esta deve ser a atitude e o modo de vida daquele que entra nesta aventura da oração, fazer uma profunda experiência de conversão dos seus pensamentos, idéias e conceitos, tão cristalizados, “imexíveis” e empoeirados que necessitam de velas, candelabros, rendas e perfumes para nos desviar atenção, eles se encontram instalados num canto de nossas consciências talvez por insegurança ou até por conveniência.

A novidade, sempre nos assusta e o medo neutraliza a audácia, quem não fizer uma profunda experiência de conversão ficará sempre navegando à margem e na superficialidade da oração; bom mesmo é entrarmos no “olho do furação”, no centro da tempestade, este é o lugar onde seremos testados e comprovados na oração, é o lugar onde Jesus levou seus discípulos para testá-los e prová-los e na fé[51] e para Teresa de Jesus é o “centro do Castelo”.

Teresa está entusiasmada com as boas notícias de mudanças e renovação da vida religiosa que os ventos do Concílio de Trento[52] trazem. Está também consciente das notícias de perseguições, tumultos e divisões que a Reforma Luterana[53] vem gerando, mas ela não teme, não recua, ao contrário avança, a única arma que trás em punho é a oração, sua bandeira é a contemplação[54].

A oração nos coloca em confronto com realidades distantes, mas principalmente com situações próximas a nós. Diante dos conflitos que a vida eclesial vive, ela propõe viver o mais e melhor possível a reta intenção do seguimento de Jesus através da oração e do amor aos irmãos[55].

Sabemos que a oração transformou a vida de Teresa de Jesus que dizia à suas irmãs: “Para vós religiosas, isso é muito importante, pois quanto mais santas, tanto mais conversáveis com as vossas irmãs” [56]. Este é um ótimo crivo para discernirmos, como anda a nossa vida de oração, pois quanto mais tratáveis, mais educados, serenos e pacíficos com as diferenças, mais conversáveis com nossos irmãos mais próximos e a nossa oração terá uma ressonância de maior abrangência.

Este é o crivo Teresiano para saber a autenticidade da nossa oração: quanto mais próximo do irmão, mais perto de Deus.

Fazer oração.

c. Orar: O que o rezar? [Conteúdo]

Com freqüência encontramos na oração pessoas divagando, parecem desorientadas, não concentradas. Como vimos acima, a oração nos coloca diante de um rosto: o rosto de nosso Senhor. É para ele que a nossa atenção deve estar centrada.

Sabemos que todo diálogo exige espaços de silêncio, para falar e para escutar, para escutar e para responder, para responder e para perguntar, entre palavras e espaços de silêncio alcançamos a arte do diálogo.

O que falar na oração?

O conteúdo da oração Teresiana é simples, é a meditação dos gestos, palavras, ações e comportamentos de Jesus, sua atitude e seu modo de ser e agir no mundo. Jesus veio ensinar a sermos mais plenamente humanos.

Quanto mais humanamente perfeitos mais próximos de Deus nos tornamos, elevando a nossa condição humana diminuímos a distância entre a nossa humanidade e a santidade de Deus.

Jesus de Nazaré é para Teresa, um “Livro Vivo”. É uma Pessoa do qual ela se relaciona, fala, conversa, partilha, trata as suas alegrias e tristezas, conquistas e derrotas, mas é também alguém com quem tem uma conversa sincera e amiga; ela reclama, implora, insiste e não desiste, é uma verdadeira sedutora de Deus na oração.

Algumas pessoas com freqüência encontram dificuldades nesse diálogo porque falta assunto isto é, “conteúdo”, o que tratar e como falar. Diante dessa dificuldade, Teresa nos apresenta uma maneira que ela chamou de “método”: A oração dos simples.

“Tinha eu este método de oração: não podendo raciocinar com o intelecto, procurava representar Cristo dentro de mim. Sentia-me bem nos passos em que o via mais solitário. E estando sozinho e aflito, como pessoa necessitada, havia de acolher-me. Destas simplicidades tinha muitas. Em especial achava-me à vontade na oração do Horto, onde lhe fazia companhia. Pensava naquele suor e na aflição, que o Senhor havia experimentado. Desejaria, se fosse possível, enxugar aquele suor tão penoso” [57].

Podemos falar e escrever muito sobre a oração, mas temos que ser francos e sinceros: O berço da oração é a família. É nela que aprendemos a orar. Com essas palavras descobrimos que a Escola de oração para Teresa de Jesus não se chama Carmelo, mas sim experiência familiar:

“Durante longos anos, quase todas as noites antes de adormecer, quando me encomendava a Deus para bem dormir, tinha o costume de pensar um pouco neste passo da oração de Jesus no Horto, mesmo antes de ser monja. Comecei a ter oração sem o saber, e agora que se tornou hábito constante, não deixo de fazer essa reflexão, assim como de me persignar para dormir” [58].

Lembremo-nos sempre que depois da ação do Espírito de Deus em nossa vida, os melhores pedagogos da nossa oração são os nossos pais. O berço de uma autêntica experiência de Deus começa na família, mas também podemos contar com a “impossibilidade divina” [59].

2° Momento: [ad intra] - Como administrar os conflitos na oração.

a. Primeiro passo: Conhecer e reconhecer os sentidos para fazê-los calar e sossegar a alma. [A carne]

Não somente Teresa de Jesus, mas também, muitos outros, mestres espirituais preveniram um tipo de decepção inevitável enfrentados logo nos primeiros graus da oração. É bom detectarmos este problema logo no início para conhecermos como essas dificuldades se processam na alma. Isso também revela o nosso grau de percepção da nossa consciência sobre nós mesmos.

É muito comum na iniciação da prática da oração encontrar algumas dificuldades que chamamos de distração e a imaginação.

Atualmente o ser humano não é preparado para refletir, conhecer e analisar os seus próprios conflitos, quando mais puder relativizá-lo, sublimá-lo, enfim esquecê-los será melhor. Infelizmente a vida sempre nos prepara algumas surpresas e em situações de extremo conflito o “susto nos surta”.

A oração é uma das coisas mais belas que saiu das mãos de Deus como oferta, dom e graça para o ser humano. O mais bonito ainda, é a gratuidade da oração, o meio do qual o homem fala a Deus, é a melhor e a mais saudável forma do homem conhecer a si mesmo.

A oração é como um conta-gotas aonde Deus silenciosamente e de maneira delicada, suave e mansa, vai primeiramente revelando quem é o homem e depois se revela quem ele é, para que o homem conheça quem é Deus.

Nas no itinerário dessa aventura, o descobrimento de Deus na alma, encontramos alguns vilões no caminho da prática da oração: a distração e a imaginação.

A distração cansada de vaguear sozinha e sem nada fazer na alma caminha, saltitante e cantarolando em direção ao intelecto. Através da nossa parte psico-afetiva, a distração vai libertar a sua melhor amiga da gaiola da racionalidade, para lhe fazer companhia: a imaginação.

A distração como sempre muito irresponsável inconseqüente e preguiçosa se associa a imaginação que é por demais hiperativa. Quando essa duas amigas se encontram juntas na solidão e no silêncio, aproveitam o recolhimento da alma e através de pensamentos errantes roubam a chave do quarto da memória e juntas ali escondidas fazem as suas diabruras.

Essas duas quando se encontram nessas condições se tornam difíceis de controlar e por demais danosas. Já dentro do quarto da memória e ainda motivadas por pensamentos errantes aproveitam este momento de fraqueza e a impotência da vontade, e vão diretas para os arquivos guardados na memória, ali essas duas tresloucadas, escancaram as gavetas das nossas vivências e fuçam nas fichas das nossas experiências.

É nesse ambiente que a distração e a imaginação se divertem e se entretêm, liberando pensamentos com lembranças, fatos e experiências que vão se exibir bem diante da nossa consciência durante a oração.

b. Segundo passo: Administrar e trabalhar a imaginação[60].

[o Demônio]

É assim que a distração e a imaginação vão repassando o filme das nossas vivências com lembranças e fatos de nossas experiências. As imagens deste filme voam loucamente diante de nós como verdadeiros fantasmas a nos assustar ou a nos dar prazer.

Nesta hora, é bom chacoalharmos a carcaça nossa existência com palavras firmes e fortes, cheias de autoridade e ordem: “Reconhece-te, pois pecador”.

Não tenha medo, não se deixe envergonhar e ser humilhado por esta experiência, ao contrário, humildemente se apresente diante do Senhor humanamente, desprovido de orgulho e de vaidade ou de querer fazer bela figura diante de Deus, como ensinava Teresa de Jesus, não podemos ter medo de “perder a honra” [61].

Transforme isso em oração e desarme o seu inimigo. Jesus ensina sempre a dialogar e como nós devemos tratar com os inimigos, nunca com adulações, delicadezas e conchavos, mas com fortaleza de ânimo, sabedoria, decisão, escolha, autoridade e responsabilidade.

Partilhe todos os acontecimentos de sua vida e experiências com o Senhor, ele é teu amigo, tenha certeza, ele te ouvirá, e estenderá para ti a sua mão poderosa, não te deixará prostrado, caído, ferido e humilhado, ele é o Bom Samaritano que encontramos pelos caminhos de nossas quedas.

Se no itinerário da prática da oração você se defrontar com esta mais pura realidade da sua humanidade, tenha certeza, você está no caminho certo.

c. Terceiro passo: Colocar a criatividade e a alegria a serviço do intelecto, do pensamento, da memória na oração. [o Mundo]

A finalidade da oração não é ficar se entretendo com a imaginação numa autocontemplação se perguntando quem sou eu? Ao contrário a alma deve se entreter na busca e no conhecimento de quem é Deus, isto é buscar e contemplar a Verdade.

Santa Teresa diz que: “A imaginação se inquieta mais com a força de não querer pensar em nada[62]”. Sabendo que a imaginação não se aquieta e produz na alma a distração, pois precisa estar sempre divagando como borboleta de flor em flor, nos vem a questão:

Como trabalhar a distração e a imaginação e colocá-la a serviço da oração?

A distração e a imaginação na oração estão em oposição a criatividade e a alegria. Lembro-me de um apotegma[63] monástico que sempre me ajudava nesta hora: “o demônio não sabe sorrir, somente escarnecer”.

O sorrido, a alegria, a brincadeira, o lúdico neutralizam a força da libido, diminuem o sofrimento, nos libertam de preocupações danosas e inúteis, nos elevam e não rebaixam e pisam a nossa dignidade.

A imaginação é sempre hiperativa, mas também muito fecunda, está sempre agitada em movimento. O movimento produz agitação. A agitação faz barulho. O barulho nos deixa inquieto. A inquietação trás desassossego à alma. Por isso que, em matéria de oração é necessário convertemos a imaginação em criatividade da alma.

E como podemos fazer isso?

Como converter esta imaginação “tresloucada” [64] em criatividade e colocá-la a serviço da oração?

Creio que no primeiro momento devemos deixar que a imaginação faça o seu trabalho, mostre o nosso lado mais louco, insano, e até perverso, não podemos fugir dessa nossa realidade, isto é a verdade sobre nós e temos que assumi-la como parte da nossa história.

Mas não podemos deixar que ela nos intimide, deixando-nos com medo de encarar a realidade. Devemos iniciar em nós um processo de re-educação da imaginação, evangelizá-la, colocar limites, saber dizer não, principalmente quando ela nos levar por caminhos falsos e irreais, por caminhos que vão contra as nossas escolhas fundamentais e refletem aquilo que não mais acreditamos.

A imaginação é totalmente perigosa e ruim?

Não, a imaginação não é algo por si só negativa e desnecessária. A imaginação quando divaga por demais em foro interno e pessoal é muito perigosa e às vezes danosa, mas quando usada de forma mais sociável e comunitária é muito bem vinda e saudável, principalmente nos momentos de recreios e brincadeiras.

Teresa nos chama a atenção e nos faz pensar com menos rigor sobre a imaginação ao afirmar que: “a imaginação não faz tanto mal como o nosso mau humor, especialmente a melancolia” [65].

3° Momento: [ad gentes] - A diaconia da oração.

a. Contemplação: Atingir a Verdade do mistério Deus. [Crescer na Comunhão]

Diz-se que o ser humano é um ser em construção e com freqüência encontramos pessoas, destruídas, divididas, retalhadas. Creio que a oração tem a capacidade de recompor os nossos pedaços. A reconstrução de um novo vir-a-ser do ser humano deve começar com a seguinte equação que formaram a base de sustentação desse novo edifício humano:

c Fé + Vida + Oração = Comunhão, Unidade e Testemunho.

Creio que a vivência desses três elementos irão nos fundamentar na comunhão, na unidade e no testemunho.

Atingir o equilíbrio [apesar das nossas deficiências] destes três pressupostos, e vivenciá-los com seriedade, é atingir a maturidade, alcançar a estatura de um cristão adulto e comprometido com o evangelho, isto é: viver como Jesus viveu, agir como Jesus agiu, pensar como Jesus pensou, amar, respeitar, usar de misericórdia e compaixão, perdoar, dar a vida pelo que acredita. Tudo isso é contemplar a verdade.

No último capítulo de sua autobiografia[66] Teresa de Jesus vai discorrer sobre esta descoberta: “Compreendi uma verdade que é a plenitude de todas as verdades” [67].

Contemplar o mistério de Deus através da oração é possível quando temos como Teresa de Jesus “uma determinada determinação” em atingir o conhecimento de Deus através de uma busca incansável da verdade. Isto não quer dizer que a totalidade daquilo que Deus é se esgota com a revelação da “Suma Verdade” para nós; ao contrário, a contemplação da verdade sendo o último patamar possível de ser alcançado pela oração nesta nossa efêmera existência é o recomeço de todo o processo novamente.

Na contemplação de Deus “Suma Verdade”, se descortina para nós uma realidade toda nova e vai se abrir um parágrafo todo novo da nossa existência, e ainda mais, nos descobrimos tão ínfimos e efêmeros diante da incomensurável, profundidade, extensão e largura da sabedoria de Deus[68].

a. Discipulado: Atuar no concreto da vida a união e comunhão com Deus e com os irmãos.

[Dar Testemunho]

Quando falamos de comunhão devemos estar atentos para não torná-la demais espiritualizada. A comunhão se atualiza no concreto da vida, na comunhão de intenções, de projetos comuns, saber trabalhar em equipe, ser, fazer e formar comunidade, isto é tornar-se Igreja. A comunidade é o rosto eclesial de Cristo.

O homem não se constrói sozinho, nós nos construímos em comunidade, precisamos do outro, não podemos viver destacados da comunidade, vivendo nossa fé no particularismo das nossas experiências.

A comunidade é a expressão da nossa união em Cristo e só podemos formar comunidade quando nos colocamos em atitude atenta de discipulado; querer aprender com o Mestre, ouvir o Mestre e agir com o Mestre[69]. O discípulo é aquele que:

c Vê e ouve o mestre. [é discípulo]

c É companheiro na caminhada. [é missionário]

c Age e fala como ele. [é apóstolo].

Ser discípulo é “ter os mesmos sentimentos de Cristo” [70], viver por Cristo, com Cristo e em Cristo é a expressão da plena comunhão de intenções e projetos: é ser Igreja.

Mas a aliança da nossa adesão ao projeto de Jesus Cristo deve ser coroada pelo testemunho que é martírio, sacrifício, entrega, oblação total e gratuita na perseguição, no sofrimento que nos leva à cruz. Saber viver por Jesus de Nazaré, é também saber morrer por ele.

É na cruz de Cristo que se fundamenta o nosso amor e testemunho. É com carimbo da cruz que é selada e comprovada a sua autenticidade da nossa adesão ao projeto de Jesus Cristo.

b. Missão: Transformar minha oração em serviço e anúncio do Evangelho.

[Compromisso Missionário]

Conhecer quem é Jesus de Nazaré e aderir ao seu projeto e isso nos afeta e compromete. A companhia da pessoa de Jesus de Nazaré no encontro com os discípulos de Emaús, “afetou-os com afeto”: “não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escritura” [71]. Jesus é companhia e companheiro[72] de caminhada.

O nosso coração também arde por causa de Jesus, fica inquieto, insatisfeito, incompleto, não sossega diante do apelo do evangelho da vida. Este apelo feriu os nossos corações nos deixou apaixonados pelo reino. Jesus atiçou fogo no coração humano e ele se alastrou sobre a face terra.

Somente um coração apaixonado pelas palavras do Mestre, o seu modo de ser e agir no mundo pode servir aquele que ama e aquele que ainda não ama perfeitamente.

Quem não sabe e não quer amar não está apto para servir. E na comunidade de Jesus de Nazaré se começa a amar e servir pelos últimos, os pobres, os pequenos, esquecidos e rejeitados, por aqueles que perderam o direito de ter voz e vez na sociedade.

Mas porque para seguir Jesus tem que sempre começar pelos pobres, pequenos, esquecidos e últimos?

Porque esta foi a práxis e o ensinamento de Jesus, ele recomeçou sempre de baixo, pelos pobrezinhos de Iahweh, o resto de Israel, um resto social que esteve sempre abandonado. Porque esta também sempre foi a sua experiência humana entre os homens, passou toda a sua vida se abaixando, descendo, se inclinando. Desceu na encarnação do Verbo; desceu para Nazaré com seus pais; desceu com os discípulos para orar; desceu morto da cruz; desceu a mansão dos mortos, desce na eucaristia e em Espírito e verdade desce continuamente sobre a Igreja.

Creio que já está na hora de também nós, descermos das nossas vãs pretensões e tornar-nos bons samaritanos da humanidade como Jesus.

Esta foi a grande descoberta de Teresa de Jesus na oração, que Deus não está num céu distante habitando num trono de poder majestático e inacessível, ele está bem pertinho de nós clamando ajuda, falando conosco, e às vezes se encontra anônimo, irreconhecível num rosto que sofre.

Que possamos como Teresa de Jesus, quando chegar para nós o entardecer da vida, expressar as mesmas palavras que ela disse por amor a Jesus e ao Evangelho da vida dizer:

“Enfim morro filha da Igreja”

Obrigado minha Teresa de Jesus!

ORDEM DOS CARMELITAS DESCALÇOS SECULARES
PERFIL DE UM CARMELITA SECULAR
Elementos para o discernimento da vocação à Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares
Pe. Aloysius Deeney, OCD
Delegado Geral


O ponto de partida para esta colocação é responder à pergunta: Quais são os princípios que se usa para discernir a vocação à Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares? Quem é chamado a ser um Carmelita Secular e, como você distingue entre os que são chamados e os que não são chamados?
Entre os frades e as monjas, as pessoas não saem por serem más pessoas. As pessoas não são mandadas embora do mosteiro (ou do convento) por serem moralmente inaceitáveis. Ser membro da Ordem é uma vocação, e uma vocação que precisa, para o bem de todos, ser claramente identificada. De outro modo, a Ordem – sejam os frades, ou as monjas, ou os seculares se desvia de seu caminho, confunde sua identidade.
Eu descreveria um membro da Ordem Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e Santa Teresa de Jesus como um membro praticante da Igreja Católica que, sob a proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo e inspirado por Santa Teresa de Jesus e por São João da Cruz, se compromete com a Ordem a buscar o rosto de Deus, para o bem da Igreja e do mundo.
Em tal descrição se distinguem seis elementos que, conjuntamente, são elementos que movem as pessoas a se aproximarem da Ordem e a buscar uma identificação com ela de uma maneira mais formal.
Membro praticante da Igreja Católica. Isto significa católico romano, não em referência ao rito latino, porém em referência à unidade sob a liderança do Bispo de Roma, o Papa. A maioria dos católicos romanos pertence ao rito latino; entretanto, há outros ritos dentro da Igreja Católica Romana: maronita, malabar, melquita, ucraniano, etc.. Há comunidades da Ordem Secular em cada um destes ritos: a comunidade OCDS do Líbano pertence ao rito maronita.
A palavra praticante diz alguma coisa sobre a pessoa que pode ser membro da Ordem Secular. Como critério básico para identificar um praticante da fé católica sugiro determinar sua capacidade de participar plenamente na Eucaristia, com uma consciência limpa. A eucaristia é o cume da identidade e da vida católicas; é o ponto de encontro entre o céu e a terra. Assim, se alguém é livre para participar do cume, então os pontos menores são certamente permitidos.
Na maioria dos casos, no passado, isto era de fácil determinação. As pessoas que vinham à Ordem Secular procediam de paróquias onde os frades estavam presentes, ou tinham contatos com frades ou monjas que os recomendavam para a Ordem Secular. O divórcio não era um problema significativo na vida católica; a maioria das situações era transparente. Hoje em dia não é assim. As coisas não são sempre claras, e é precisamente aqui que o Assistente Espiritual pode ser de maior ajuda para o Conselho de uma comunidade da Ordem Secular, ajudando a fazer uma seleção dos candidatos.
Darei um exemplo. Uma mulher se aproxima de uma comunidade de Ordem Secular. Ela é conhecida de alguns do Conselho, e eles sabem que ela está em seu segundo casamento. Eles também sabem que ela vai regularmente à missa e participa dos sacramentos. O Conselho gostaria de ter mais esclarecimentos antes de admitir essa pessoa na formação.
Há poucas possibilidades neste caso. A primeira é que a Igreja tenha declarado nulo seu primeiro casamento. Outra possibilidade é que, por acordo com seu confessor, ela e seu marido vivam de tal modo que participem dos sacramentos da Igreja. Uma entrevista com o Assistente Espiritual esclareceria as respostas, sem necessidade de maiores explicações. Respeitando o direito à privacidade e a um bom nome de que todo membro da Igreja desfruta, ele daria uma palavra ao Conselho que permitiria a essa pessoa entrar para a Ordem Secular.
A Ordem Secular é, juridicamente, parte da Ordem dos Carmelitas Descalços. É uma instituição da Igreja Católica Romana e está sujeita às leis da Igreja. A Sagrada Congregação deve aprovar sua legislação própria. Então, alguém que não pertence à Igreja Católica não pode ser membro da Ordem Secular. As pessoas não-católicas interessadas na espiritualidade do Carmelo são certamente bem vindas para participar de qualquer maneira que a comunidade os convidar, mas não podem ser membros da Ordem Secular.
Aqui nós temos o primeiro elemento de identidade de um membro da Ordem Secular: uma pessoa que participa da vida da Igreja Católica. Há, certamente, mais, porque existem milhões de pessoas que participam da vida da Igreja Católica que não têm o menor interesse no Carmelo.
Chegamos ao segundo elemento: sob a proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Não é qualquer devoção a Nossa Senhora que identifica a uma pessoa chamada à Ordem Secular. Há muitos cristãos que são muito devotos de Nossa Senhora e têm um caráter mariano altamente desenvolvido em sua vida cristã. Existem muitos cristãos ortodoxos, assim como anglicanos, que são verdadeiramente marianos. Há muitos católicos que usam o escapulário por razões válidas e com sincera dedicação a Maria, que não são chamados a serem Carmelitas Seculares. Não é só isso, mas há algumas pessoas que vêm à Ordem Secular precisamente por sua devoção a Maria, ao escapulário e ao rosário, que não têm vocação para a Ordem Secular.
O aspecto específico da Bem-Aventurada Virgem Maria que deve estar presente em qualquer pessoa chamada ao Carmelo é a inclinação a meditar em seu coração, frase que o evangelho de São Lucas usa duas vezes para descrever a atitude de Maria frente a seu Filho. Sim, todos os demais aspectos da vida e devoção marianas podem estar presentes – a devoção ao escapulário, o terço e outros. Eles são, todavia, secundários àquele aspecto da devoção mariana. Maria é nosso modelo de oração e meditação. O interesse em aprender a meditar ou a inclinação à meditação é uma característica fundamental de qualquer OCDS. Talvez seja a mais fundamental. Uma experiência freqüente em muitos grupos é a de ter pessoas que se aproximam da Ordem Secular para se tornarem membros – às vezes um sacerdote diocesano que é muito devoto de Maria, ou alguém que já tenha feito muitas peregrinações a santuários marianos em todo o mundo, ou uma pessoa que está muito familiarizada com muitas das aparições e mensagens atribuídas a Maria – verdadeira autoridade em movimentos marianos da atualidade. Muitas vezes essas pessoas não têm a menor inclinação para meditar em seu coração. Desejam tornar-se rapidamente “professores” da comunidade sobre a Bem-Aventurada Mãe e introduzem uma corrente mariana não-carmelitana na comunidade. Se essa pessoa é um sacerdote, é muito difícil para a comunidade proteger-se desse desvio em sua vida mariana. Há outros grupos marianos e movimentos que podem ser lugar para essa pessoa, porém não a Ordem Secular.
Além disso, na família Teresiano-Carmelitana há um lugar para aqueles cuja motivação primária é a devoção ao escapulário e a Nossa Senhora do Carmo. É a Confraria (ou Irmandade) do Escapulário ou a Confraria (ou Irmandade) de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
Maria, para os membros da Ordem Secular, é o modelo de atitude meditativa e de disponibilidade. Ela atrai e inspira o Carmelita a um modo contemplativo de entender a vida do corpo místico de seu Filho, a Igreja. É ela quem atrai a pessoa ao Carmelo. E no programa de formação, que a pessoa conhece quando entra no Carmelo, este é o aspecto que deve ser desenvolvido na pessoa. Então, digo que este é o segundo elemento: sob a proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo.
O membro da Ordem Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de Santa Teresa de Jesus é um praticante de qualquer dos ritos da Igreja Católica Romana que, sob da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo e inspirada por Santa Teresa de Jesus e por São João da Cruz... Aqui nós temos o terceiro elemento. Mencionei ambos, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz, e devo dizer, logo no início desta seção, que também posso incluir Santa Teresinha do Menino Jesus ou a Beata Elisabeth da Trindade ou Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), mas Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz são centrais para este ponto.
Tendo mencionado todos estes grandes personagens da tradição carmelitana, sublinho a importância de santa Teresa de Jesus, a quem, em nossa tradição, nos referimos como Nossa Santa Madre. A razão é porque a ela foi dado o carisma. Em muitas partes do mundo somos chamados Carmelitas Teresianos. São João da Cruz foi o colaborador original de Nossa Santa Madre tanto no aspecto espiritual quanto no aspecto jurídico da re-fundação do Carmelo neste novo caminho carismático; por isso é chamado Nosso Santo Padre. Para mim, é difícil imaginar um Carmelita Descalço, de qualquer ramo, que não seja atraído por um, que não o seja por ambos: suas histórias, suas personalidades e, o mais importante, seus escritos.
Os escritos de Santa Teresa de Jesus são a expressão do carisma dos Carmelitas Descalços. A espiritualidade dos Carmelitas Descalços tem um fundamento intelectual muito bem cimentado. Há uma doutrina envolvida aqui. Doutrina vem de docere, palavra latina que significa ensinar. Qualquer pessoa que queira ser Carmelita Descalça deve ser uma pessoa interessada em aprender dos Mestres do Carmelo. Há três carmelitas Doutores da Igreja Universal: Teresa, João e Teresinha.
Uma pessoa vem à comunidade. É uma pessoa com um grande amor pela Bem-Aventurada Mãe e quer vestir o escapulário em honra de Maria como um sinal de dedicação a seu serviço. Esta pessoa é muito orante, porém não tem interesse em ler ou estudar a espiritualidade do Carmelo Teresiano. Esta pessoa tenta ler um dos doutores Carmelitas, porém simplesmente não tem interesse em continuar lendo. Para mim, é uma boa pessoa, que pode pertencer à Irmandade do Escapulário, mas definitivamente não tem vocação para a Ordem Secular do Carmelo.
Este é um aspecto acadêmico da formação de um Carmelita Teresiano. Há uma base intelectual na espiritualidade e na identidade de quem é vocacionado para a Ordem. E, como acontece com cada frei e cada monja, cada Secular representa a Ordem. Um Carmelita que não tem interesse em estudar ou aprofundar as raízes de sua identidade por meio da oração e estudo perde sua identidade e não pode mais representar a Ordem. Também não fala pela Ordem. Muitas vezes, quando ouvimos um Carmelita falar, torna-se óbvio, enquanto escutamos o que é dito, que ele não foi além do que aprendeu na formação, anos atrás.
Esta base intelectual é o princípio de uma atitude de abertura ao estudo. Ela leva a um interesse mais profundo na Escritura, teologia e documentos da Igreja. A tradição da leitura espiritual, a lectio divina e tempo para estudar são a coluna vertebral da vida espiritual. Boa formação depende de boa informação. Quando a informação é ruim, ou ausente, ou incorreta, a formação é interrompida ou atrasada, tendo como resultado confusão para o Secular. Se esse Secular, por algum acaso, torna-se de algum modo representante de uma comunidade OCDS, a comunidade sofre. Isto acontece com os freis, com as monjas e também acontece com os Seculares.
Esta base acadêmica ou intelectual é muito importante e está, infelizmente, ausente em muitos grupos da Ordem Secular. Não é uma questão de “ser intelectual” para ser Secular. É uma questão de ser inteligente na busca da verdade sobre Deus, sobre si mesmo, sobre a oração, sobre a Ordem e sobre a Igreja. A obediência, desde longa data, tem sido associada com o intelecto e a virtude da fé. Obediência significa abertura para ouvir (ob + audire, em latim). É uma atitude radical da pessoa, para ir além do daquilo que ela já sabe. Educação também vem do latim (ex e ducere = levar para fora de). Santa Teresa descreve a pessoa da terceira morada como quase presa e incapaz de se mover. Uma das características desta pessoa, permanentemente na terceira morada, é que ela quer ensinar todo mundo: ela sabe tudo. Na realidade, ela é desobediente e não pode ser educada. Isto é, ela está fechada e incapaz de aprender.
O quarto elemento da descrição é: quem faz o compromisso com a Ordem. Há muitos católicos comprometidos, que são devotos de Maria e até mesmo experts em Santa Teresa, São João ou em um de nossos santos e não têm vocação para Ordem Secular. Estas pessoas podem ser contemplativas ou quase ermitãs, gastando horas na oração e no estudo cada dia, mas não têm vocação para serem Carmelitas. Qual é o elemento que distingue estas pessoas daquelas chamadas a seguir Jesus Cristo mais de perto como Carmelitas Seculares?
Não é a espiritualidade, nem o estudo, nem a devoção a Maria. Expondo de maneira simples, o Carmelita Secular é movido a comprometer-se com a Ordem e com a Igreja. Este compromisso, na forma das Promessas, é um acontecimento eclesial e um acontecimento da Ordem, além de ser um acontecimento na vida da pessoa que faz as Promessas. Em certo sentido, tendo sempre em mente os contextos particulares de família, trabalho e responsabilidades que estão presentes em sua vida, a pessoa que faz o compromisso passa a ser caracterizada como Carmelita.
Como disse, é um acontecimento eclesial e um evento da Ordem. É por essa razão que a Igreja e a Ordem têm uma palavra essencial, em união com o candidato, na aceitação e aprovação do compromisso da pessoa. É também por essa razão que a Igreja e a Ordem dão as condições e estabelecem os termos contidos nas Promessas. É possível que uma pessoa queira comprometer-se a certas coisas, meditação diária e o ofício divino, por exemplo. Porém a Igreja, por meio da Ordem, estabelece as linhas básicas e gerais para entender esta compromisso.
O Secular pertence ao Carmelo. O Carmelo não pertence ao Secular. O que quero dizer com isso é que há uma nova identidade, desenvolvida a partir da identidade batismal, que se torna, necessariamente, ponto de referência. Assim como a Igreja é ponto de referência para a pessoa batizada (a pessoa batizada pertence à Igreja), o Carmelo passa a ser ponto de referência para o Secular. Quanto mais “católico” alguém se torna, mais reconhece a universalidade da Igreja. Da mesma forma, quanto mais “Carmelita” alguém se torna, mais reconhece a universalidade do Carmelo. De fato, a pessoa que se compromete com o Carmelo na Ordem Secular descobre que o Carmelo se torna essencial à sua identidade como católico.
É porque as Promessas são o meio pelo qual alguém se torna membro da Ordem Secular que a formação para as Promessas é tão importante – formação e formação permanente.
Um aspecto importante deste compromisso é o compromisso com a comunidade. Uma pessoa que deseja ser membro da Ordem Secular deve ser capaz de formar comunidade, de ser parte de um grupo que está dedicado a uma meta comum, mostrar seu interesse pelos outros membros, ser capaz de apoiar outros na busca de uma vida de oração e ser capaz de receber o apoio de outros. Isto se aplica mesmo àqueles que, por várias razões, não podem participar ativamente de uma comunidade. Na formação com vistas ao futuro da comunidade, esta característica social é uma das que devem ser desenvolvidas. Há pessoas que são introvertidas e quietas, mas são muito sociáveis e capazes de formar comunidade. E há pessoas que são muito extrovertidas e ao mesmo tempo incapazes de formar comunidade. Nesta questão é necessário usar o bom senso. Responda à seguinte questão: daqui a dez anos, com a ajuda desta pessoa, o que a comunidade será?
Há também a questão de pessoas que pertencem a outros movimentos: Catecumenato, Focolares, Movimento Mariano de Sacerdotes, Renovação Carismática, por exemplo. Se o envolvimento da pessoa não interfere com seu compromisso com o Carmelo e se a pessoa não introduz na comunidade elementos incompatíveis com a espiritualidade OCDS, então, em geral, não há problema. Quando a pessoa desvia a comunidade de seu propósito e estilo de vida espiritual que os problemas começam. Algumas vezes há pessoas tão confusas que elas vêm ao Carmelo e falam sobre Nossa Senhora de Medjugorie. E vão a um encontro de Medjugorie e falam sobre oração teresiana.
O ponto mais importante é: a pessoa deve escolher a Ordem Secular. Este compromisso deve ser mais importante do que outros movimentos ou grupos.
Este compromisso com a Igreja mediante o Carmelo tem tanto um conteúdo, quanto um propósito. Eles estão expressos nos dois últimos elementos de minha descrição de quem é um Carmelita Secular.
O quinto elemento é buscar o rosto de Deus. Este elemento expressa o conteúdo das Promessas. Eu poderia reformular este elemento de várias formas: rezar, meditar, viver a vida espiritual. Escolhi este porque é bíblico e expressa a natureza da contemplação: observar maravilhado a palavra e a obra de Deus para conhecê-lo, amá-lo e servi-lo. O aspecto contemplativo da vida carmelitana deve concentrar-se em Deus, reconhecendo sempre que a contemplação é dom de Deus, não uma aquisição resultante do dedicar bastante tempo a essa tarefa. Este é o compromisso com a santidade pessoal. O Carmelita Secular deseja ver Deus, deseja conhecer Deus e reconhece que a oração e a meditação adquirem grande importância. As Promessas são um compromisso com um novo modo de vida, no qual a fidelidade a Jesus Cristo marca a pessoa e a maneira como ela vive.
A vida pessoal do Carmelita Secular se torna contemplativa. O estilo de vida muda com o crescimento nas virtudes que acompanha o crescimento no espírito. É impossível viver uma vida de oração, meditação e estudo sem mudanças. Este novo estilo de vida melhora todo o resto da vida. A maioria dos membros da Ordem Secular que são casados, e aqueles com famílias, experimentam que o compromisso com a vida carmelitana na OCDS enriquece seu compromisso matrimonial e familiar. Homens e mulheres Carmelitas Descalços Seculares que trabalham experimentam um novo compromisso moral pela justiça no lugar de trabalho. Os que são solteiros, viúvos ou separados encontram neste compromisso com a santidade uma fonte de graça e força para viver suas vidas com dedicação e propósito. Isto é o resultado direto de buscar o rosto de Deus.
A oração é a essência do Carmelo? Muitas vezes ouvi ou li esta afirmação. Nunca tenho muita certeza de como respondê-la. Não porque não saiba o que é a oração ou porque a oração não seja de grande importância para qualquer Carmelita, mas porque nunca sei o que o orador ou escritor quer justificar com seu enunciado. Se para a pessoa oração quer dizer santidade pessoal e a busca de uma espiritualidade genuína que reconhece a supremacia de Deus e da vontade divina para a família humana, então sim, eu concordo. Se a pessoa quer dizer que eu, como Carmelita, realizo minha inteira obrigação de Carmelita sendo fiel à minha oração e que não há nada mais que eu precise fazer, então não, não estamos de acordo. Santidade pessoal não é o mesmo que busca pessoal de santidade. Para um membro batizado da Igreja a santidade é sempre eclesial, nunca egoísta ou apenas para satisfação própria. Nunca sou juiz de minha própria santidade (Nemo judex in causo suo).
Sou santificado pela prática das virtudes. Isto é resultado direto de uma vida de busca orante de Deus em minha vida. Este é o segredo Carmelita: a oração não nos torna santos. A oração é um elemento essencial na santidade cristã (carmelitana) porque é o contato freqüente e necessário para permanecer fiel a Deus. Este contato permite a Deus fazer sua vontade em minha vida, a qual então anuncia ao mundo todo a presença de Deus e sua bondade. Sem o contato da oração não posso conhecer a Deus, e Deus não pode ser conhecido por outros.
Buscar o rosto de Deus requer um inacreditável quantidade de disciplina no sentido clássico e original da palavra (discípulo – alguém que aprende). Devo reconhecer que sou para sempre um estudante. Nunca me torno um mestre. Sou sempre surpreendido com a ação de Deus no mundo. Deus é, para sempre, mistério. As pistas da existência de Deus sempre me interessam; eu as encontro em todos os momentos da vida, como solteiro, viúvo, casado, na família, no trabalho e na solidão. Porém, elas só se tornam reconhecíveis e claras por meio da oração, observando a partir do coração. O chamado à santidade é um desejo ardente no coração e mente daquele que é chamado à Ordem Secular. É um compromisso que o Secular deve assumir. O Secular é atraído pela oração, achando na oração um lar e uma identidade.
Esta oração, esta busca de santidade, este encontro com o Senhor tornam o Secular mais consciente do seu ser parte da Igreja. E, como membro mais comprometido com a Igreja, a vida do Secular é mais eclesial. À medida que a vida de oração cresce, ela produz mais frutos na vida pessoal (crescimento da virtude) e na vida eclesial (apostolado) do indivíduo.
Isto me leva ao sexto elemento da descrição: para o bem da Igreja e do mundo. Esta é a novidade no entendimento do lugar do Secular na Ordem e na Igreja. É o resultado do desenvolvimento da teologia da Igreja sobre o papel dos leigos na Igreja, e da aplicação dessa teologia à Ordem. Começando com o documento do Concílio Vaticano II Apostolicam Actuositatem – Sobre o Apostolado dos Leigos e seus frutos, os Sínodos sobre os Leigos, em 1986, e sobre a Vida Consagrada, em 1996 (Christifidelis Laici e Vita Consecrata), a Igreja tem sublinhado constantemente a necessidade de um mais aprofundado compromisso dos leigos para com suas necessidades e as necessidades do mundo. Santa Teresa tinha a convicção de que a única prova da oração era o crescimento nas virtudes, e que o fruto da vida de oração era o nascimento de boas obras.
Às vezes ouço um Secular dizer: o único apostolado do Secular é a oração. A palavra que torna esta afirmativa falsa é “único”. Uma atitude orante e obediente aos documentos da Igreja nos faz ver claramente que o papel do leigo na Igreja mudou. A Regra de Vida fala sobre a necessidade de cada Secular ter um apostolado individual. A Christifidelis laici ressalta a importância do apostolado de grupo das associações na Igreja, e a OCDS é uma associação na Igreja. Muitos Seculares, quando ouvem mencionar o apostolado de grupo, pensam que estou falando sobre a comunidade inteira estar envolvida em algo que toma horas e horas de cada dia. Não é isto, em absoluto, o que “apostolado de grupo” quer dizer. O parágrafo 30 da Christifidelis laici dá os princípios básicos de eclesialidade para as associações e faz uma lista dos frutos desses princípios. O primeiro fruto da lista é um desejo renovado pela oração, meditação, contemplação e vida sacramental. Estas estão “bem dentro do caminho do Carmelo”. Quantas pessoas precisam saber o que nossos carmelitas Doutores da Igreja têm a dizer! Se cada carmelita se dedicasse a propagar a mensagem do Carmelo, quantas pessoas evitariam confusão em sua vida espiritual! Entre em uma grande livraria e você verá quanta bobagem está classificada na seção “Misticismo”.
Cada comunidade tem que responder, como comunidade, a esta pergunta: Que podemos fazer para compartilhar com outros o que temos recebido por pertencer ao Carmelo?
Nós, como Carmelitas, podemos ajudar a esclarecer essa bagunça tornando conhecido o que sabemos. Isto não é uma opção. É uma responsabilidade. Ser Carmelita não é um privilégio. É uma responsabilidade, tanto pessoal quanto eclesial.
Como disse no começo, não é só um elemento que ajuda no discernimento da pessoa que tem a vocação para a Carmelo como Secular. É a combinação de todos estes elementos que faz a diferença!



[2] Inácio Larranaga. O silencio de Maria. São Paulo: Paulinas, 2008, p.72.

[3] “Teresa tenia experiencia en La Encarnación de Avila de una comunidad de 180 a 200 personas entre monjas y las personas familiares o de servicios” in, Introduccion a La lectura de Santa Teresa, pg 285.

[4] “Vida 7, 3 ”Há nele muitas monjas que servem ao Senhor com sinceridade e perfeição”.

[5] Vida 8, 7.

[6] Vida 8, 2.

[7] Vida 8, 2; 7,17.

[8] “Em vinte e oito anos de oração, mais de dezoito sustentei esta batalha de tratar com Deus e com o mundo” Vida 8, 3.

[9] Vida 15, 5.

[10] Vida 7, 22.

[11] Vida 9, 1.

[12] Vida 9, 7.

[13] Vida 9, 8.

[14] Vida 9,9.

[15] Vida 9, 9-4°§.

[16] Vida 10,1.

[17] Foram as palavras que nosso Senhor dirigiu a Teresa de Jesus diante do possível fechamento da sua última fundação em Burgos.

[18] Vida 32,10.

[19] Vida 32, 13; 36,19; 36, 29.

[20] Vida 8,5.

[21] Caminho 28,2: “Onde está o rei, aí está a sua corte, Deus está em toda parte. Onde está Deus, ai está o céu, Onde está Sua Majestade, ai está toda a glória”.

[22] Caminho 28,2.

[23] II Morada, 11.

[24] I Morada, 2, 9.

[25] V Morada 3,11.

[26] Lugar elevado de onde falam os oradores. Lugar onde falam os pregadores da Palavra de Deus: Ambão na Igreja católica. Púlpito para os evangélicos. Palanque para os políticos éticos e tementes a Deus.

[27] Veja os Discursos dos Papas, Paulo VI e João Paulo II na Assembléia das Nações Unidas.

[28] II Subida22,5.

[29] Mt 5, 1-12; Mt 25, 31-46.

[30] “Aqui não há para que falar nisso. Nesta casa jamais permita Deus tais lembranças. Seria o inferno! Pelo contrário, aquela que for de família mais nobre, seja a que menos tenha na boca o nome do pai. Todas hão de ser iguais”. Caminho 27,6.

[31] Const. 7, 1.

[32] Const. 11, 29.

[33] At 8, 26-34.

[34] Vida, 26,5.

[35] Vida 13,19; 26,3.

[36] Caminho, Prólogo, 1.

[37] Caminho Prólogo, 3.

[38] Caminho, 1, 2.

[39] Prólogo Moradas, 4; Caminho, Protestação agregada após a sua morte a pedido do bispo de Évora, Portugal.

[40] Conceitos do Amor de Deus 1,1.

[41] Conceitos do Amor de Deus 1,2.

[42] Vida 11,9.

[43] Caminho 22,7.

[44] Caminho 22,8.

[45] Grupo que teve origem na Espanha do séc. XVI, na ordem Franciscana e pregava existir somente a perfeição na oração e na contemplação das coisas divinas, desprezando os sacramentos e as boas obras. Afirmavam serem seus seguidores iluminados pelo Espírito Santo.

[46] Introduccion a La Lectura de Santa Teresa, varios autores, pg 286.

[47] Caminho 1,2.

[48] Caminho 4,7.

[49] DA. 8.6 Rosto sofredores que doem em nós. pg 184.

[50] Jo 10,10.

[51] Lc 8,24.

[52] As citações de santa Teresa sobre o Concílio de Trento não muitas e nem específicas, mas ela nos dá a entender que estava interada e acompanhava os acontecimentos e demonstra o seu desejo de colocar em prática suas diretrizes.

[53] Vida 7,4; 21,1; 32,6; 40.5-14. Caminho 1,2; 3,1-8; Fundações 3-10; 18,5; 5M 2,10; 7M 4,24.

[54] Poesia XXIX.

[55] Caminho,1,2.

[56] Ter fino trato, educadas, conversáveis, abertas ao diálogo.

[57] Vida, 9,3.

[58] Vida 9,4.

[59] “Deus é Senhor do impossível”.

[60] Ver capítulo 17 do livro da Vida.

[61] Em alguns momentos da vida de Teresa de Jesus, quando ela afirma: “perder a honra” se refere de maneira velada sobre a sua origem judaica. Mas, neste este caso, em sentido figurado, quer significar humildade perante os olhos de Deus.

[62] IV Morada 3,5.

[63] Ou, apoftegma: dito ou palavra memorável, proferida por personagem célebre; máxima, aforismo.

[64] Aquele que é desprovido de razão; falta de juízo; louco, amalucado, desvairado.

[65] Fundações 4, 2.

[66] Vida 40.

[67] Vida 40, 1.

[68] I cor 2 6-15.

[69] Esquema didático do Texto-Base do Ano Catequético Nacional 2009: Catequese: caminho para o discipulado. CNBB.

[70] 12,16.

[71] Lc 24.32.

[72] A etimologia da palavra companheiro deriva do latim “cum panis”, o nosso sócio de caminhada, é aquele que partilha,que parte e reparte o pão pelo caminho.