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sábado, 24 de abril de 2010

XII Encontro de Presidentes, Mestres e Conselheiros OCDS - (Palestra 1)

Tema : Santa Teresa (cristológica, eclesial, oracional e mariana)

• São realidades que em Santa Teresa estão intrinsecamente relacionadas, como que desdobramentos naturais de uma única realidade: Deus. Deus Uno-Tríno é a fonte que dá vida e sustenta todas as realidades dele oriundas.

• Cristológica: Teresa de Jesus e Jesus de Teresa. É todo um programa de vida que se aprofunda e desenvolve à medida dos anos. Cristo é o centro de sua vida e sua história a tal ponto de também nela ocorrer o que Paulo apóstolo experimenta: “não sou mais eu quem vivo, é Cristo quem vive em mim”.
Sua espiritualidade cristológica está profundamente enraizada na S. Escritura, particularmente nos Evangelhos, na Liturgia (Missa e Ofício), nos Sacramentos e que se prolonga na oração pessoal. É seu AMIGO, seu LIVRO VIVO, seu CAPITÃO DE AMOR.
“Não sabes que sou poderoso? Que temes?” (V. 36,16)
“Eu sou fiel”. (R. 28,1) = (Ap 1,5;19,11)
Mesmo no ápice de sua vida espiritual, jamais abandonou as expressões populares das relações com o Senhor, como p. ex. o Jesus Menino que presidia suas fundações, o Senhor do Horto e as várias representações da paixão, etc...
“Tenho compreendido claramente que esta é a Porta pela qual devemos entrar, se pretendemos que a soberana Majestade revele grandes segredos. Não queira outro caminho, ainda que esteja no cume da contemplação. Por aqui irá seguro. É por meio deste Senhor nosso que nos vem todos os bens”. ( V. 22,6.7)

• Eclesial: Teresa é e quer ser filha da Igreja até a morte. Absolutamente nada sem a Igreja.
Sem negar, naturalmente, a realidade espiritual da Igreja Corpo Místico, Teresa vive a realidade terena da Igreja, compartilhando a dramática situação eclesial do séc. XVI; preocupa-se em dar o melhor de si para o bem da Igreja. A evangelização do novo mundo (América) interessa-lhe particularmente.
Quer relacionar-se com “homens da Igreja” e que estes sejam “santos e letrados” para deles receber ajuda oportuna, tanto pessoal quanto comunitária para suas monjas.
Na sua atividade de fundadora, bem como na sua obra escrita e na sua experiência mística, tudo vem submetido à autoridade eclesial, mesmo havendo, em alguns casos, certas hesitações. Todo seu carisma e ministério é exercido dentro da estrutura eclesial: “ Em tudo sujeito-me à Santa Igreja Católica”. Nota importante na eclesialidade de Teresa: esta acontece, antes de tudo, na própria comunidade religiosa: é o “pequeno colégio de Cristo”, onde “todos deverão amar-se e fazer-se amáveis”.

• Oracional: a vida cristológica e eclesial de Teresa, como que um movimento natural de relação amorosa, encontra na oração sua “ Terreno” privilegiado.
A oração teresiana é, antes de tudo, uma atitude existencial: Ela não é outra coisa “ senão tratar de amizade – estando muitas vezes tratando a sós – com quem sabemos que nos ama”. (V. 8,5)
Nesta relação ( e justamente por ser relação !) “o principal não é pensar muito, mas amar muito” (4M, 1,7). Trata-se, portanto, não apenas de atos de oração, mas de atitudes orantes, uma vez que “ o verdadeiro amante em toda parte ama e se lembra do amado”. (F. 5,16)
Esta atitude orante, em S. Teresa, compromete seriamente toda a existência e não deixa espaço para o mínimo farisaísmo: “Não deveis assentar vossos alicerces só em rezar e contemplar. Com efeito, se não buscardes virtudes e o exercício delas, ficareis sempre anãs. E praza a Deus que não seja só no crescer, porque já sabeis que quem não cresce, diminuí. (7M, 4,9)
Para o orante, a mãe e mestra Teresa é categórica: “Segui sempre o mais perfeito” (C 5,3).

• Mariano: como nos aspectos anteriores, o marianismo em Santa Teresa invade e ilumina toda sua existência.
Nascida e criada em família profundamente cristã, Teresa vive com fervor e simplicidade sua vida de fé e esta vida é marcada pela presença viva e fecunda da Mãe do Senhor. Toda a sua trajetória e experiências é um canto de amor e gratidão para com a Virgem Maria, a tal ponto de ser chamada, também de “ Teresa de Maria”. Teresa jamais separou Maria de Jesus, da Igreja, da oração e do Carmelo. Maria é como que o perfume que exala suavemente sempre e em toda parte.
Para além de sua devoção popular à Virgem, jamais abandonada, as elevadas experiências de S. Teresa tem raízes bíblicas e fortes motivações teológicas. A Mãe de Deus é proposta com modelo de união com Cristo. Ver 6 M 7,14.
“ A companhia do bom Jesus é proveitosa demais para que nos afastemos dela, o mesmo acontecendo com a da Sua Sacratíssima Mãe” (6M 7,13)
Eis um texto pouco divulgado, no que se refere à Virgem como modelo e testemunho de fé e sabedoria: “Ó segredos de Deus! Aqui não há senão entregar o intelecto e pensar que, para compreender as grandezas de Deus, ele de nada vale. Convém nos lembrar do que fez a Virgem Nossa Senhora, com toda sua sabedoria, perguntando ao anjo: como se fará isso? E quando o anjo lhe disse: O Espírito Santo virá sobre ti, a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, ela não tratou de mais disputas. Como quem tinha grande fé e sabedoria, percebeu algo que, diante da intervenção dessas duas coisas, nada mais havia para saber ou de que duvidar” (CAD 6,7).
De diversos modos, na experiência e espiritualidade de Teresa, Maria surge como modelo e testemunho, mas também como intercessora e auxílio: “ Entendi ter muita obrigação de servir a Nossa Senhora e a São José, porque muitas vezes, estando eu totalmente perdida, Deus voltava a me dar saúde graças aos seus rogos” (R 30).
Toda sua intimidade divina foi sempre vivida sob o patrocínio da Virgem Maria. Humana como é, Teresa jamais desprezou os recursos dos simples: “Sinto uma alegria indizível olhando para uma imagem de Nossa Senhora” (CE 61,7).
Como mãe e mestra nossa, deixa-nos o seu amoroso convite, sempre atual e necessário para nossa vida cristã e carmelitana: “ Já que possuís tão boa Mãe, imitai-A e considerai a imensa grandeza dessa Senhora, bem como a vantagem de tê-La por padroeira”. (3M, 1,3)
Olhando com simplicidade e amor para Mãe do Senhor e nossa, descobriremos na constelação da santidade uma ESTRELA de primeira grandeza, cujo nome é MARIA: “ Quem é esta donzela? É filha do Eterno Pai E reluz como uma estrela”. (P. 14)


Frei Afonso de Santa Teresinha, ocd