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sexta-feira, 28 de junho de 2013

LEITURA TERESIANA PROPOSTA PARA O ANO 2013-2014

   



LEITURA TERESIANA PROPOSTA PARA O ANO 2013-2014
Introdução:

AVILA – ESPANHA
14-06-2013

Querido irmãos e irmãs no Carmelo:
A leitura de Santa Teresa – um propósito fundamental do Carmelo para o V Centenário de seu nascimento- está sendo fonte de revitalização, ajuda para descobrir a profundeza e riqueza de sua espiritualidade. Nestes últimos anos compartilhamos suas obras - Vida, Caminho de Perfeição, Fundações, Castelo Interior-, que são as mais traduzidas e difundidas por todo o mundo. Teresa tem também outros escritos, mais breves, mas não por isso menos valiosos, que nos confiam a intimidade e o dia a dia de Teresa: suas experiências nas Relações, suas Exclamações, sua lírica nas poesias; nas Cartas, testemunhas de suas preocupações e anseios. É por isso que neste último ano de preparação ao V Centenário do Nascimento de Santa Teresa, queremos ler estes escritos breves, que formam uma grande e rica coleção que faria quase impossível para serem lidos em um ano em comum e em comunidade, até para uma leitura pessoal seria quase impossível. Por este motivo, escolhemos alguns textos. Assim queremos saborear algo desta riqueza, oferecer algumas passagens mais interessantes. E, como diria a Santa, “engolosinar-nos”, animar-nos a , com mais calma, a ler toda sua obra. Esta antologia é fruto das orientações do Pe. Tomas Alvarez e o trabalho dos padres Salvador Ros, Pedro T. Navajas e Gabriel Castro, assim como de outras religiosas da Companhia de Santa Teresa (Projeto Nudo) . Um trabalho que agradecemos vivamente , como também agradecemos à Editorial Monte Carmelo por ter nos colocado a disposição todos os textos de sua edição. Esperamos que as leituras deste ano, já próximo do Centenário, coroem esta aproximação à nossa Madre Teresa, e nos animem a crescer em nossa vocação levados por sua mão.

Pe. Antonio Gonzales
Secretário Geral do V Centenário

Do Nascimento de Santa Teresa.
                                                     

- Aqui no Brasil vai se usar a edição brasileira Edições Loyola e
Edições Carmelitanas de 1995
- Colocaremos a numeração correspondente à obra Brasileira e a página


1. RELAÇÕES OU CONTAS DE CONCIÊNCIA

- Salamanca, abril 1571. Um pequeno canto sobre o sofrimento. Êxtases.
. 15 – pg. 810
- Sevilha, fins de 1575 ou fevereiro – março 1576. Relação de sua vida espiritual e confessores.
. 46 – pg.787
- Palencia, 1581. Seu espírito e maneira de proceder.
. 6 – pg. 805
II. Conceitos de amor de Deus ou Meditações sobre o Cantar dos Cantares.
Capítulo 1 – pg. 849
III. Exclamações
. Exclamação 4 – pg. 890
. Exclamação 17 – pg. 902
IV. Poesias
- Vivo sem viver em mim
. 01 – pg. 917
- Vossa sou, para Vós nasci
. 02 – pg. 963
Oh formosura que excedeis!
. 06 – pg. 971
- Busca te em mim
. 08 – pg. 979
V. Cartas
* 1 A dom Lorenzo de Cepeda, em Quito
Ávila, 23 dezembro 1561
. 02 – pg. 1037
*2 A dom Lorenzo de Cepeda, em Quito
Toledo, 17 Janeiro 1570
. 25 – pg. 1066
*3 A dona Luisa da Cerda, em Paracuellos
Ávila, 7 novembro 1571
. 37 – pg. 1082
*A dona Juana de Ahumada, em Galinduste
Ávila, 4 fevereiro 1572
. 39 – pg. 1085
*A dona Maria de Mendoza, em Valladolid
Ávila, 7 maio 1572
. 40 – pg. 1086
*6 Ao Pe. Domingo Bañez, em Valladolid
Só tem janeiro de 1574
. 56 – pg. 1103
*7À madre Maria Bautista, em Valladolid
Segovia, metade ou final de junho 1574
. 62 – pg. 1111
*8 A dom Teutonio de Braganza, em Salamanca
Segovia, 3 julho 1574
. 65 – pg. 1115
*9 À madre Isabel de Santo Domingo, em Segovia
Beas, 12 maio 1575
. 78 – pg. 1133
*10 Ao Pe. João Batista Rubeo, em Piacenza
Sevilha, 18 junho 1575
. 80 – pg. 1135
*11 Ao Rei Dom Felipe II, em Madri
Sevilha, 19 julho
. 83 – pg. 1141
*12 Ao Pe. João Batista Rubeo, em Cremona
Sevilha, janeiro – fevereiro 1576
. 98 – pg. 1162
*13 A dom Lorenzo de Cepeda, em Toledo
Toledo, 24 julho 1576
. 108 – pg. 1185
*14 Ao Pe. Jerônimo Gracian, em Sevilha
Toledo, 23 outubro 1576
. 129 – pg 1224
*15 À Madre Maria de São José, em Sevilha
Toledo, 7 dezembro 1576
. 151 – pg. 1256
*16 Ao Pe. Ambrosio Mariano, em Madri
Toledo, 12 dezembro 1576
. 155 – pg. 1263
*17 Ao Pe. Jerônimo Gracian,em Sevilha (?)
Toledo, 13 dezembro 1576
. 154 – pg. 1260
*18 A do Lorenzo de Cepeda, em Ávila
Toledo, 2 janeiro de 1577
. 165 – pg. 1273
*19 Ao Pe. Jerônimo Graciano, em Sevilha (ou Paterna) (?)
Toledo, 3 janeiro 1577
. 152 – pg. 1257
*20 A dom Lorenzo de Cepeda, em Ávila
Toledo, 17 janeiro 1577
. 171 – pg. 1289
*21 A dom Lorenzo de Cepeda, emÁvila
(?) Não se encontra ou 10 janeiro 1577
.176 – pg. 1301
*22 Ao Pe. Ambrosio Mariano, em Madri
Toledo, 16 fevereiro 1577
. 178 – pg. 1305
*23 A dom Lorenzo de Cepeda, em Ávila
Toledo, 27 e 28 fevereiro 1577
. 179 – pg. 1307
*24 À Madre Maria de São José, em Sevilha
Toledo, 28 de fevereiro 1577
. 180 – pg. 1310
*25 A Roque de Huerta, em Madri
Toledo, 14 julho 1577
. 195 – pg. 1336
*26 Ao Rei Felipe II, em Madri
Ávila, 4 dezembro 1577
. 215 – pg. 1350
*27 Ao Pe. Hernando de Pantoja, em Sevilha
Ávila, 31 janeiro 1579
. 271 – pg. 1440
*28 Às Carmelitas descalças de Sevilha
Ávila, 31 janeiro 1579
. 272 – pg. 1442
*29 À Isabel de São Jerônimo e Maria de São José, Sevilha
Ávila, 3 de maio 1579
. 282 – pg. 1454
*30 À priora e comunidade de carmelitas de Valladolid
Ávila, 31 de maio 1579
. 283 – pg. 1460
*31 À Madre Maria Bautista, em Valladolid
Ávila, 9 junho 1579
. 285 – pg. 1463
*32 Ao Pe. Jerônimo Gracian, em Alcala
Ávila,10 junho 1579
. 286 – pg. 1464
*33 A dom Teotônio de Bragança, em Évora
Valladolid, 22julho 1579
. 293 – pg. 1477
*34 A dom Lorenzo de Cepeda, em La Serna (Ávila)
Toledo, 10 abril 1580
. 324 – pg. 1523
*35 À irmã Teresa de Jesus, em Ávila
Medina, 7 agosto 1580
. 337 – pg. 1544
*36 Ao Pe. Jerônimo Gracian, em Alcala
Palencia, 17 fevereiro 1581
. 357 – pg. 1573
*37 À Madre Maria Bautista, (?)
Não se encontra
*38 Ao Pe. Jerônimo Gracian, em Alcala
Palencia, metade de fevereiro (19 fevereiro) 1581
. 358 – pg. 1575
*39 Ao Pe. Jerônimo Gracia, em Alcala
Palencia, 21 fevereiro 1581
. 359 – pg. 1578
*40 Ao Pe. Jerônimo Gracian, em Alcala
Palencia, 27 fevereiro 1581
. 360 – pg. 1581
*41 A dona Juana de Ahumada, em Alba
Segovia, 26 agosto 1581
. 384 – pg. 1611
*42 À Madre Maria de São José, em Sevilha
Ávila, 8 novembro 1581
. 393 – pg. 1624
*43 A dom Lorenzo de Cepeda (Filho), em Quito
Ávila, 15 dezembro 1581
. 407 – pg. 1643
*44 À priora e Carmelitas Descalças de Soria
Ávila, 28 dezembro 1581
. 409 – pg. 1646
*45 À irmã Leonor da Misericórdia, em Soria
Burgos, metade de maio 1582
. 426 – pg. 1663
*46 A dom Jerônimo Reinoso, em Palencia
Burgos, 20 maio 1582
. 429 – pg. 1665
*47 À Madre Ana de Jesus, em Granada
Burgos, 30 maio 1582
. 430 – pg. 1667
*48 À Madre Maria de São José, em Sevilha
Burgos, 6 julho 1582
. 433 – pg. 1675
*49 À Madre Catalina de Cristo, em Soria
(última carta de Santa Teresa)
Valladolid – Medina, 15-17 setembro 1582
. 446 – pg. 1695


terça-feira, 25 de junho de 2013

Castelo Interior: Terceiras Moradas – Capítulo I- O homem das Terceiras Moradas


O homem das Terceiras Moradas tem que passar “a prova do amor”, que o vai libertar de egoísmos e ilusões narcisistas na vida espiritual. É-lhe pedido que fixe um programa de vida espiritual e de oração e se estabilize nele. Aparecem as primeiras manifestações de zelo apostólico, mas sobrevêm a aridez e as fases de impotência como estados de prova: “Prova-nos Tu, Senhor, que sabes a verdade…” (n. 9).

Sob a perspectiva bíblica, o cristão das Terceiras Moradas:
- é provado na sua autenticidade: como o jovem rico do Evangelho, como o Apóstolo Tomé (“morramos por Vós…”);
- vive em risco permanente, até se sentir personificado nas duas figuras paradigmáticas de David e Salomão: um, que supera o risco da queda; o outro, que sucumbe nela. 

Como o jovem do Evangelho

Mais um passo em direcção ao interior do Castelo…, e chegamos às Terceiras Moradas. O primeiro passo neste processo consistiu em “entrar”. Entrar nas Primeiras Moradas equivale a “começar”, ser de verdade o que cada um é no profundo de si mesmo e, a partir daí, pôr em movimento um processo de vida e de relação com Deus e com os outros.
No Castelo luta-se: é a segunda etapa do processo. Para ser e viver é preciso esforçar-se e batalhar. Agora, ao passar das Segundas para as Terceiras Moradas, o orante espera que à luta se siga a vitória e a paz. Mas não vai ser assim. A Santa Madre vai falar-lhe, ainda, de uma etapa de ascese, vigilância e esforço. Vai falar-lhe da prova do amor, dos riscos de ilusão e narcisismo, da passagem por uma espécie de adolescência do espírito.

Nesta nova etapa Teresa não teme tanto as novas provas, mas a própria pessoa, isto é, a Santa Madre teme que a situação espiritual se converta em pedra de tropeço para o próprio orante:
- por apoiar-se em si mesmo, naquilo que já fez;
- para exibi-lo como título diante de Deus;
- por ficar parado como se tivesse feito tudo: “Passai adiante de vossas obrazitas” (n. 6).

Para chamar a atenção do leitor da importância de uma leitura atenta, recomenda: “Olhai muito, filhas, a algumas coisas que aqui vão apontadas, ainda que atabalhoadas” (n. 9).

Nesta etapa Deus actua, responde aos esforços da pessoa, mas não como o orante espera. Deus não se faz presente “premiando” e aprovando, mas provando. Deus entra em cena provando-nos, revelando-nos a nossa verdade moral íntima, oculta no meio de tantas “obras” ascéticas.
Vai ser o refrão destas Moradas Terceiras: o homem é submetido por Deus à prova do amor. Como diz a Santa Madre: “provemo-nos (…) ou prove-nos o Senhor” (n. 7); ou ainda: “Prova-nos, Tu, Senhor, que sabes a verdade, para que nos conheçamos” (n. 9). O homem engana-se a si mesmo e Deus inicia a sua ofensiva declarando-lhe a verdade da sua vida.

A Santa Madre vai apresentar-nos um Deus que não Se dobra aos desejos do homem, mas um Deus que age transcendentemente e, por isso, desconcerta.
A acção de Deus vai pôr de manifesto a inconsistência e pobreza do que o homem fez até aqui: “Passai adiante das vossas obrazitas” (n. 6); e “Ainda é mister mais para que de todo o Senhor possua a alma” (n. 5).
Nada do que fizemos nos dá direito a nada: “Não peçais o que não tendes merecido, nem havia de nos vir ao pensamento que, por muito que sirvamos, o havemos de merecer” (n. 6); “Tenha-se por servo inútil”. Deus não vem atrás “pagando”, mas vai à frente abrindo caminho de graça.
Com esta sua acção, Deus faz ver ao homem a sua soberba espiritual: o homem quer dominar e submeter Deus, que Ele Se dobre às suas obras. Por isso, a prova rompe os esquemas espirituais que tinham regido o homem até agora, ao mesmo tempo que lhe abre o caminho a seguir: deixar-se conduzir por Deus.
Diante de todas as “obras” feitas até aqui, o “negócio” está em render a nossa vontade à de Deus, como veremos no capítulo seguinte. E esta será a grande viragem da vida espiritual.
Deus introduz o orante na aceitação do protagonismo de Deus na sua vida, a partir de uma passividade activa da sua parte. Nesta etapa Deus começa a dar a conhecer que é Ele que assume a iniciativa, actua, “embora muitas vezes não o queremos entender” (n. 7).

E, por isso, vem a secura e falta de ânimo, um sentimento de desencanto. Deus defrauda. A secura e a rudeza revelam a falta de humildade, isto é, a pouca verdade em que caminha a pessoa, que não se abandona a Deus. Diz a Santa Madre: “não posso acabar de crer a quem tanto caso faz destas securas, senão que é um pouco falta dela” [humildade] (n. 6).

O orante tinha clamado a Deus para que se lhe comunicasse. Deus fá-lo agora e, como o jovem rico do Evangelho, “lhe voltamos as costas (…) quando nos diz o que havemos de fazer” (n. 7).

Temos aqui a caracterização das “almas concertadas” e da nova fase que se inaugura nestas Terceiras Moradas.

Como se apresenta o orante das Terceiras Moradas? Apresenta aspectos positivos e aspectos negativos.

Aspectos positivos:
- “Muito desejosos de não ofender Sua Majestade”;
- “Por coisa alguma fariam um pecado”;
- “Amigos de fazer penitência”;
- “As suas horas de recolhimento”;
- “Gastam bem o seu tempo”;
- “Gastam bem sua vida e fazenda”;
- “Exercitam-se em obras de caridade”;
- “Decerto que é estado para desejar”;
- “Bela disposição” para chegar às Sétimas Moradas.

Aspectos negativos:
- “Almas concertadas”;
- “Dar-lhes conselho, não é remédio”;
- “Parece-lhes que podem ensinar a outros”;
- “Canonizam [as suas faltas] … e assim queriam que outros as canonizassem”;
- “Quereriam a todos tão concertados como eles trazem suas vidas”;
- “Que todos vão pelo seu caminho”;
- “Penitências concertadas”;
- “A sua razão está muito em si”;
- Agem “com tanto senso” e “grande discrição”.

A Santa Madre aprecia aquilo que o orante destas Moradas faz, chama-lhe “bem-aventurado”, mas põe a tónica no aspecto negativo: o estado em que vive é mais aparente que real. Precisa de uma orientação de fundo, reorientação que não fará por si mesmo, porque não vê que a necessita e porque está incapacitado moralmente para levá-la a cabo. Por isso intervém Deus com uma intervenção de amor: Deus quer que estas almas “passem adiante”. Esta acção de Deus revela o fundo de egoísmo do orante que permanece intacto sob a aparência de uma vida espiritual “concertada”, minuciosa e cuidadosamente programada.

O orante das Terceiras Moradas é acreditado pelas suas obras, são o seu troféu, o pedestal sobre o qual se eleva, como veremos no capítulo seguinte. Considera-se o “cânon” e “norma” de todos, ensinando a todos e não se deixando ensinar por ninguém. E diante de Deus apresenta-se com exigências, pensa que Deus lhe está obrigado a fazer mercês, a regalá-lo na oração.

Podemos dizer que o orante das Terceiras Moradas fez muitas coisas, mas ficou intacta a pessoa. Dá coisas, não se dá. Confia só nas suas obras. Faltou-lhe o amor que é saída de si, esquecimento de si, viver só por Ele e, para ser curado, o orante das Terceiras Moradas tem que reconhecer que lhe falta humildade, como veremos também no capítulo seguinte.

Em conclusão, podemos dizer que a libertação do “eu” do orante está por fazer. E esta libertação só se dá quando o homem se abandona e se confia incondicionalmente, em movimento de amor, nas mãos do Outro. A mudança a que é chamado o orante é dar-se a si mesmo com amor puro, sem interesse, por Deus somente. É dar gratuitamente.

Veremos ainda no capítulo seguinte que o orante é chamado a entregar a sua vontade a Deus e que é o interior, a vontade, que tem que ser curada. A pessoa cura-se na medida em que se abre total e radicalmente a Deus, rompe o cerco do “eu”, num movimento de amor e doação. Este é o “negócio”, não a multiplicação das obras externas.


Cristo nas Terceiras Moradas

A figura de Jesus afirma-se e cresce nestas Moradas como “modelo” da nossa vida. Apresenta-se como Caminho e o orante é chamado a segui-Lo. Ele “pede-nos que deixemos tudo por Ele”, já que a perfeição está em segui-Lo por caminhos de amor, que consistem em servir o próximo. O orante é convidado a morrer por Cristo: a morrer ao egoísmo, aos temores e medos que nascem da natureza, e a viver em comunhão de amizade com um “Deus tão generoso que morreu de amor por nós”. É convidado a viver as exigências do amor, tal como o expressou Cristo, a pôr toda a sua confiança e apoio n’Ele.


Também a Santa Teresa passou por esta etapa:
Vocação das suas Terceiras Moradas

Quando a Santa Madre escreve estas páginas das Terceiras Moradas tem já mais de sessenta anos de idade e claro que tem presente na sua memória a sua passagem por elas. Esta etapa na vida da Santa Madre ocupa um período demasiado prolongado, cheio de vaivéns e incertezas. Foi a década dos seus trinta anos, iniciada provavelmente como consequência da morte de D. Alonso, seu pai, quando ela entrava nos seus vinte e nove anos.

A morte de D. Alonso fá-la regressar, uma vez mais, “à verdade de quando era criança”: que “tudo passa”, que “tudo é nada”… Recupera os seus ideais, a sua tábua de salvação que é a oração, a sua determinada determinação de viver a sério a sua consagração religiosa, de ser coerente consigo mesma e com a voz misteriosa que a chama a partir de dentro.
Mas, neste período tudo em Teresa é tão frágil, tão quebradiço... Faz e desfaz. Luta e sucumbe. Escreveu no Livro da Vida: “Quisera eu saber descrever o cativeiro em que, nestes tempos, trazia a minha alma. Bem entendia eu que estava cativa, mas não acabava de entender em quê (…) Desejava viver, pois bem entendia que não vivia, antes pelejava com uma sombra de morte e não havia quem me desse vida nem a podia eu tomar. E Quem ma podia dar tinha razão de não me socorrer, pois tantas vezes me havia chamado a Si e eu O havia deixado” (V 8, 11-12).
O mesmo estremecimento se apodera da sua alma e da sua pena ao abordar agora o tema nas Terceiras Moradas: “Certo é, minhas filhas, que estou com não pouco temor escrevendo isto, pois não sei como o escrevo nem como vivo, quando disso me lembro muitas, muitas vezes. Pedi-Lhe, minhas filhas, que Sua Majestade viva sempre em mim; porque, se não for assim, que segurança pode ter uma vida tão mal gasta como a minha? (...) Mas bem sabe Sua Majestade que só posso presumir da Sua misericórdia; e, já que não posso deixar de ser a que tenho sido, não tenho outro remédio, senão acolher-me a ela e confiar nos méritos de Seu Filho e da Virgem, Sua Mãe…” (n. 3).

Aquilo que a Santa Madre recorda da sua vida nestas Terceiras Moradas, servirá de pano de fundo à exposição que ela vai fazer desta zona do Castelo.
Teresa está convencida de que todos temos que passar por uma experiência semelhante à sua. É a experiência agridoce da própria fragilidade, com alternâncias de auto-suficiência e de incoerência, de ilusões e humilhações, de firmes determinações e de dúvidas envolventes e totais; experiência da própria insegurança radical e necessidade de descobrir a misericórdia amorosa de Deus como tábua de salvação.


Quatro tipos bíblicos

Tal como sucedeu nas outras Moradas anteriores, Teresa recorre espontaneamente a quatro personificações bíblicas. Um dos tipos bíblicos, elabora-o ela própria a partir de um salmo sapiencial. O outro toma-o directamente do Evangelho. Vai utilizá-los como verso e reverso desta etapa do caminho espiritual.
A Santa Madre inicia assim as Terceiras Moradas: “Àqueles que, pela misericórdia de Deus, venceram estes combates e com perseverança entraram nas Terceiras Moradas, que lhes diremos, senão «bem-aventurado o varão que teme o Senhor»? (...) Por certo, com razão o chamaremos bem-aventurado, pois, se não volta atrás (…), leva caminho seguro na sua salvação” (n. 1).
Neste quadro de luzes e sombras das Terceiras Moradas, o lado luminoso está plasmado nesta personagem do salmo 111: “Bem-aventurado o que teme o Senhor”. Bem-aventurado, enquanto se mantém no temor do Senhor.
Na linguagem bíblica, temor do Senhor, não é medo de Deus. Significa respeito e consciência amorosa do seu papel de Deus: teme o Senhor quem “ama de coração os seus mandamentos” (v. 2).
E prossegue o salmo apresentando este “varão ditoso”:
- “Em sua casa haverá abundância e riqueza” (v. 3);
- “O seu coração está firme no Senhor” (v. 7);
- “O seu coração é inabalável, nada teme” (v. 8);
- “Reparte com largueza pelos pobres, a sua generosidade permanece para sempre” (v. 9);
- “Os desejos dos ímpios saem frustrados” (v. 10).

Os traços fundamentais retidos pela Santa Madre nesse tipo bíblico são a segurança e a bem-aventurança. No Castelo, as Terceiras Moradas são um seguro de vida só se o morador delas deposita toda a sua confiança em Deus. Uma tarefa desta etapa espiritual é educar-se para uma ilimitada confiança n’Ele. Só a ilimitada confiança n’Ele poderá salvar-nos da instabilidade e insegurança permanente de nós próprios. Na realidade, o refúgio seguro não é o meu próprio Castelo; só Deus é garantia de segurança para a minha insegurança e os meus medos.

O segundo tipo bíblico é o reverso da medalha. Já não é uma imagem ideal como a do salmo, mas um jovem de carne e osso, muito parecido com a Teresa dos seus trinta anos. Na cena evangélica, narrada por São Mateus, esse jovem vem à procura de Jesus com alma generosa. Fez tudo bem desde a sua juventude. O que é pena é que tenha feito tudo, menos o que lhe propôs Jesus. E o jovem retira-se entristecido (Mt 19,16-22).

Sem dúvida que Teresa se revê nesta personagem do Evangelho. Este jovem, tão depressa generoso como tacanho, é a imagem viva dos trinta anos da Santa Madre, quando ela oferecia ao Senhor a jóia da sua vontade (o seu amor íntegro), e outras vezes lha retirava, quando o Senhor estendia a mão para a tomar. Já no Caminho de Perfeição tinha recordado esse gesto e tinha-o narrado assim: “Não são zombarias estas que se façam a Quem tantas fizeram por nossa causa; (…) Dêmos-Lhe a jóia de uma vez para sempre, pois tantas tentámos em Lha dar; (…) Somos repentinamente generosos, e depois tão tacanhos, que, em parte, mais valera que nos tivéssemos detido em dar” (C 32, 8).

O morador das Terceiras Moradas deve rever-se no jovem do Evangelho e empenhar-se na complexa tarefa da generosidade, para com Deus e com os Irmãos. Não só oferecer e oferecer-se (“Vossa sou, para Vós nasci, que mandais fazer de mim?”), mas recuperar-se da humilhação do fracasso e das incoerências da própria generosidade juvenil. Sobretudo, deve esforçar-se em algo mais difícil: aceitar que Deus tome a iniciativa, para além dos seus projectos de generosidade. Mesmo quando a acção d’Ele me apanhe de surpresa na minha vida; quando há intromissão dos outros no que é meu; ou nos acontecimentos que se atravessam à frente do meu programa espiritual; ou ainda quando Ele expressamente me ultrapassa e desfaz os meus esquemas, como ao jovem do Evangelho.

O terceiro tipo bíblico é o Apóstolo Tomé: “Morramos com Ele”. É uma personagem que se mostra cheia de arrojo e valentia, decisão de seguir o Senhor nos perigos e dificuldades, mas que vacilará no momento da morte e ressurreição do Senhor.

O quarto tipo bíblico é, como já referimos, David e Salomão. São dois exemplos de pessoas muito dadas a Deus e favorecidas por Ele mas que desfaleceram na perseverança do bem. Diz a Santa Madre: “Duma coisa vos aviso: que nem por ser tal e ter tão boa Mãe, estais seguras, que muito santo era David, e já vedes o que foi Salomão; nem façais caso do encerramento e penitência em que viveis, nem vos assegureis por tratardes sempre com Deus e exercitar-vos na oração tão continuamente e estardes tão retiradas das coisas do mundo e tê-las, a vosso parecer, aborrecidas” (n. 4).

Etapa de imaturidade espiritual?

Se formos à raiz da palavra grega, em Mateus, este apelida o jovem de adolescente (“neaniskos”): “Ao ouvir Jesus, o adolescente saiu entristecido, porque possuía uma grande fortuna” (19,22).
Na realidade a etapa que a Santa Madre descreve nas Terceiras Moradas corresponde a uma espécie de “adolescência do espírito”, com os típicos traços dessa etapa da vida 

humana
 . Estes aspectos vai desenvolvê-los a Santa Madre, analisando-os e caracterizando-os melhor, no capítulo seguinte. Neste capítulo primeiro cingir-se-á a oferecer os traços principais e a preparar o leitor para tomar consciência de que vai passar por esta zona da sua vida espiritual.

Como poderíamos caracterizar esta adolescência do espírito?

- Adolescência do espírito é, podemos dizer, esse gesto de arrojo e generosidade primária, como a do Apóstolo Tomé na subida a Jerusalém: “Vamos e morramos com Ele” (Jo 11,16), mas logo se converte em obstinação e resistência diante de Jesus morto e ressuscitado.

- Adolescência do espírito é uma atitude de segurança fictícia, minada pela realidade de uma insegurança de fundo, diante das dificuldades que necessariamente hão-de sobrevir no caminho.

- Adolescência do espírito é a arrogância mal dissimulada, a fé secreta em si mesmo, a convicção de que na vida do espírito – como na profissional – a iniciativa vem de nós próprios, e que Deus e o Seu amor colaboram como alguém de segunda. Daí que estes tais “não podem levar à paciência que se lhes cerre a porta para não entrar aonde está o nosso Rei, por cujos vassalos se têm e o são” (n. 6).

E a Santa Madre conclui o capítulo com uma oração: “Que poderemos fazer por um Deus tão generoso, que morreu por nós e nos criou e nos dá o ser, que não nos tenhamos por venturosos em que se vá descontando alguma coisa do que Lhe devemos pelo que Ele nos tem servido (…)? (n. 8). E conclui com uma petição final: “Prova-nos, Tu, Senhor, que sabes a verdade, para que nos conheçamos” (n. 9).

Precisamente esta última invocação insinua o tema que irá desenvolver no Capítulo seguinte. É necessário que o Senhor – que sabe as nossas verdades – nos submeta à prova do amor. Passar esta prova do amor marcará a passagem de fronteira para as Quartas Moradas.

Retiro Carmelitano-eliano



Proposta de retiro feita, a pedido dos superiores carmelitas da América Latina, por Frei Carlos Mesters, DomVital Vilderink, Frei Romualdo Borges de Macedo, Ir. Marlene Frinhani e Ir. Dazir Campos.

I- CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES


1. Antes de ser carmelitana, a vida deve ser 
humana
.

* O retiro deve levar a entender melhor e em maior profundidade o sentido da vida humana e deve levar a pessoa a ser mais humana.

* No início do retiro deve haver uma dinâmica pela qual se fica sabendo qual a compreensão que cada um tem da Vida Humana.

* A vocação carmelitana responde ao mais profundo do “humanum” dimensão constitutivo do ser humano, é a sua dimensão fundamental.

2. As pré-compreensões: ter bem claro a visão de espiritualidade que está na base do retiro

* A visão linear evolutiva (cosmos, anthropos, logos) de Theilhard de Chardin

* A visão tradicional (egresso de Deus, regresso para Deus) que está na base da teologia tradicional e de grande parte da própria Bíblia

* A visão da busca do Centro (“busca-te em mim, busca-me em ti” Teresa d’Ávila) que é mais de acordo com a tradição carmelitana e que será a visão de base na orientação do retiro.

* O arco do retiro é construído em cima da visão da busca de Deus como Centro

* É importante que isto seja claro para o orientador ou orientadora do retiro.

* De vez em quando, ao longo do retiro, esta visão deve ser explicitada, para evitar que se misturem as visões na cabeça das pessoas.


II-O OBJETIVO ESPECÍFICO DE UM RETIRO CARMELITANO

Sabendo aonde se quer chegar, determina-se o ponto de partida e o ponto de chegada do retiro, elaboram-se o itinerário espiritual a ser percorrido e os passos a serem dados. Tendo claro o objetivo, será possível determinar também a dinâmica apropriada, a divisão dos assuntos, o jeito de fazer a oração e as celebrações e a maneira de organizar os dias.

No encontro dos Superiores e Superioras maiores Carmelitas da América Latina, realizado no mês de setembro de 2002 no Rio de Janeiro, foi pedido que o retiro tivesse o seguinte objetivo. A vivência do Evangelho nas comunidades eclesiais de base leva as pessoas a terem uma visão crítica da realidade e faz nascer nelas um compromisso sério com a transformação tanto da própria vida pessoal como da vida comunitária e da vida social. A experiência mostrou que, para uma pessoa poder manter-se firme neste processo de conversão, de mudança e de transformação tanto pessoal como social, é importante ela ter motivações claras e profundas (1) para poder vencer o desânimo, (2) para poder discernir entre as ideologias que muitas vezes tentam camuflar a realidade, (3) para poder agüentar as noites escuras da fé, (4) para poder olhar para alem do fenômeno da secularização; (5) para poder enxergar o sentido da sua vida para além dos limites de tempo e espaço da sua própria vida pessoal, ou seja, para além do seu próprio nascimento e morte.

Com outras palavras, é importante e necessário ter uma espiritualidade profunda, nascida da experiência concreta pessoal e comunitária de Deus e não apenas fruto de raciocínio ou de leituras. O objetivo do retiro é para ajudar as pessoas a iniciar ou a aprofundar dentro de si e do seu próprio centro de vida esta espiritualidade de resistência e de compromisso.

O retiro carmelitano terá que ser uma experiência concreta e prática do lema do profeta Elias: “Vivo é o Senhor em cuja presença estou”, e da atitude de Maria: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”. Ou seja, deve provocar nos participantes uma abertura cada vez maior para a presença de Deus e para a ação da sua Palavra no “centro” de nós mesmos. Este abrir-se para a Palavra de Deus e esta vivência da presença de Deus possuem dentro de si uma dinâmica própria que leva a pessoa a percorrer um itinerário espiritual em busca de Deus e do seu próprio centro. O retiro terá que ser a vivência deste itinerário.

O objetivo de um retiro carmelitano terá que ser: viver mais intensa e mais conscientemente aquilo que a espiritualidade carmelitana propõe como ideal de vida e que é o ideal de todo cristão: “Viver em obséquio de Jesus Cristo”. Para que um retiro possa alcançar este objetivo é necessário que ele tenha uma dinâmica própria, tirada da Regra e da Tradição da Família Carmelitana. Trata-se de aprofundar a maneira carmelitana de “viver em obséquio de Jesus Cristo”. Tudo deve ser organizado e orientado em vista do objetivo geral: configurar-se a Jesus.

Um retiro não é um curso. Um retiro não tem como objetivo ensinar ou fazer saber algo. Mas sim fazer experimentar algo. Geralmente, nós vivemos imersos no anonimato da massa, do grupo, do nós. Raramente, o nosso eu acorda e se destaca. É importante que isto aconteça durante o retiro. Só fica você frente Àquele que o chamou. É como um holofote que passa por cima da multidão dos carmelitas de toda a história e ele pára e destaca você. De repente, você se descobre como chamado ou chamada por Deus.

Três palavras ajudam a sintetizar o objetivo do retiro, de qualquer retiro: 1. Transfiguração. O retiro deve tornar transparente (transfigurar) o dia-a-dia da nossa vida como carmelitas. A experiência do retiro deve purificar o olhar e revelar uma nova dimensão desta vida. O retiro deve levar a olhar o presente com outros olhos.

2. Re-apropriação. O que foi vivido pelos carmelitas desde 1207 não é terra de ninguém nem herança sem dono. Tem dono! Somos nós! Somos desafiados a dar um destino real a esta herança! Faz olhar o passado com olhos de quem se sente responsável pela herança do Carmelo.

3. Identificação. Redescobrir aquilo que devemos ser como carmelitas e reassumi-lo como nossa Missão e nosso ideal de vida. Faz olhar o futuro com olhos de quem se sente responsável para que esta herança seja colocada realmente a serviço do Povo de Deus.

III-O ITINERÁRIO A SER PERCORRIDO DURANTE O RETIRO CARMELITANO

O itinerário é um só, o mesmo para todos e todas: Seguir Jesus. Mas há muitas maneiras de se percorrer um itinerário. Há muitas escolas de espiritualidade. No retiro carmelitano procura-se percorrer este itinerário segundo a maneira que é própria e característica da espiritualidade carmelitana.

O esboço deste itinerário aparece na Regra, na vida dos santos e santas do Carmelo, nos escritos dos autores espirituais carmelitanos e na tradição das práticas espirituais da Família Carmelitana. Aparece sobretudo na vida do profeta Elias e de Maria, cujo testemunho e exemplo inspiraram a espiritualidade carmelitana desde o seu começo.

1. O itinerário espiritual segundo a tradição carmelitana

O retiro inaciano está baseado na descrição que Santo Inácio fez da sua experiência de trinta dias na gruta de Manresa. Nestes trinta dias, ele percorreu um caminho, cujos frutos até hoje colhemos nos inúmeros retiros inacianos. A Bíblia descreve o itinerário do profeta Elias, caracterizado sobretudo na experiência dos quarenta dias no deserto. O profeta percorreu um caminho, cujos frutos até hoje colhemos na espiritualidade carmelitana. Este itinerário espiritual de Elias foi retomado num dos livros mais antigos da espiritualidade carmelitana, a “Instituição dos Primeiros Monges”. O autor usou o esquema bíblico da vida do profeta para descrever o itinerário espiritual vivido no Carmelo. De maneira sugestiva e simbólica ele apresenta a pessoa do profeta Elias como aquele que viveu por primeiro o ideal de vida da família carmelitana. O retiro carmelitano consiste em refazer o itinerário percorrido pelo profeta Elias. A “Instituição dos Primeiros Monges” começa a descrição do ideal da vida carmelitana com esta frase com que a Bíblia inicia a descrição da caminhada do profeta Elias:

“Sai daqui, vai para o oriente, esconde-te na torrente de Carit, no outro lado do Jordão. Beberás da torrente.Ordenei aos corvos que te levem pão” (1 Rs 17,3-4).

Na tradição do Carmelo, Maria é irmã, mãe e mestra. É modelo de quem caminha na fé, modelo da comunidade. Ela acompanha o irmão e a irmã carmelita e os ajuda a imitá-la na vivência da Palavra. Maria não é um meio para alcançar o fim. Ela acompanha do começo ao fim e mostra o ideal. O itinerário vem do profeta Elias, mas quem inspira e anima é Maria.

2. As três etapas do itinerário espiritual segundo a tradição carmelitana

Os autores espirituais do Carmelo descrevem as etapas deste itinerário em direção a Deus e ao centro da alma. É deles que colhemos o esquema para as três etapas a serem percorridas durante o retiro.


1ª ETAPA: Via da Purificação

"Servir a Deus de coração puro e consciência serena”

O objetivo da 1ª Etapa: Purificação do coração sedento e inquieto. O ponto de partida: 1Reis 17,1-6:

Elias se apresenta ao Rei como aquele que vive sempre na presença de Deus. Confronto com o Rei e com Deus. Em seguida, ele deixa tudo para trás e inicia a sua caminhada em direção a Deus indo para Karit do outro lado do Jordão, onde será alimentado por Deus.

Assuntos específicos

Ver a situação de onde se parte para fazer a caminhada

Fazer a memória da caminhada feita para chegar até hoje

Peregrino do Absoluto: a busca de Deus, a busca do centro

Combater os falsos profetas dentro e fora de nós e o poder da oração


2º ETAPA: Via da descoberta da luz no meio da escuridão da caminhada. “Revestir a armadura de Deus”. O objetivo da 2ª Etapa: Descobrir a luz dentro da noite escura. Ponto de partida: 1Reis 19,1-18 e Lucas 9,28-36:

Elias fica com medo e foge. A animado pelo anjo caminha até a Montanha de Deus, onde entra na gruta. O anúncio da paixão e morte causa crise nos discípulos. A transfiguração de Jesus com Moisés e Elias e a convivência iluminadora com Jesus acontece para ajuda-los a superar a crise.

Assuntos específicos

Analisar de perto a crise de Elias como espelho da nossa crise

A crise leva a uma nova experiência de Deus

Jesus como os primeiros cristãos o viram

A reconciliação e a reintegração que surge da fé em Jesus

3º ETAPA: Via do reencontro transformador. “A justiça é cultivada pela prática do silêncio”

O objetivo da 3ª Etapa: Reintegração ao redor do Centro. O ponto de partida: 2Reis 2,1-18 e 1Reis 21,1-29

Arrebatado num carro de fogo Elias sobe ao céu e deixa o seu manto para Eliseu que continua a ação profética de Elias. Elias sempre foi o homem do Espírito, pronto a anunciar a Palavra, como fica claro no caso da vinha de Nabot. Depois do reencontro com Deus no Horeb, Elias reencontra-se consigo e com sua missão profética.

Assuntos específicos

Aberto para Deus, Elias não opõe resistência à ação do Espírito

Jesus na Cruz: máxima união com o Pai, máxima revelação da Trindade

A história da vinha de Nabot. A profecia que nasce do silêncio

Síntese do retiro feito: rever os marcos da caminhada

IV- Aprofundando os três elementos básicos do retiro carmelitano

* O ponto de partida:

O ponto de partida é bem humano: de um lado, a grandeza e a força do profeta Elias em derrubar as pretensões do sistema do rei Acab com sua ideologia e ídolos falsos e, de outro lado, as suas limitações e falhas, sua fragilidade e falta de visão.

* As etapas da caminhada:

Durante as três etapas do percurso do retiro devem ser vistos e meditados os vários aspectos que marcaram a caminhada do profeta Elias: a sua abertura para a palavra e para o espírito que o ajudavam a superar as falhas e limitações; sua qualidade como profeta como conseqüência da abertura para a Palavra e para o Espírito; sua vida em permanente conflito, conseqüência da atitude profética, e sua maneira de viver o conflito, espiritualidade do conflito; sua vida na presença de Deus, sua mística, sua vida de oração, como ça para agüentar a vida que levava; os critérios que o animavam na sua busca de Deus e que, no momento decisivo, se mostravam insuficientes.

* O ponto de chegada:

O ponto de chegada é o reencontro com Deus que nasce a partir da desintegração de tudo que Elias pensava sobre Deus e que o leva a ver e viver a vida de um jeito totalmente novo e a reencontrar o sentido da sua missão.

V- Especificando mais as etapas a serem percorridas durante o retiro

O ponto de partida: orientar-se, situar-se

O ponto de partida é a luz no horizonte que orienta os passos desde o primeiro momento. É o ideal apontado pelo autor da “Instituição dos Primeiros Monjes”. Ele indica o rumo que o carmelita seguir e onde deve querer chegar: “Sai daqui, vai para o oriente e esconde-te na torrente de Carit, no outro lado do Jordão. Beberás da torrente. Ordenei aos corvos que te levem pão” (1Rs 17,3-4). Logo no início deve ficar bem claro o seguinte: 1. Aonde se quer chegar na vivência carmelitana do Evangelho: viver na presença de Deus para poder chegar ao “centro”. 2. Qual o instrumento que temos: a oração e a Lectio Divina. 3. E quais os modelos que nos acompanham neste itinerário carmelitano para Deus: Elias e Maria.

O ponto de partida é também o lugar onde estão os nossos pés, isto é, a situação existencial de onde se parte em direção ao ideal. E aqui tomamos como modelo os quarenta dias da caminhada do profeta Elias. O seu ponto de partida era o desânimo, o medo, a perda de sentido da vida, o cansaço da luta, a fuga, a deserção, a vontade de morrer. Fugindo da Rainha Jezabel, Elias só pensa em comer, beber e dormir. Deitado debaixo do junípero, ele é a imagem do ser humano limitado, fraco, derrotado, que perdeu o rumo na vida e necessita refazer-se como pessoa para poder continuar a viver. Ele já tinha realizado grandes coisas na vida. Já era profeta havia tempo. Já tinha tido experiências de Javé, o Deus de Israel. Deus já o acolhera e o levara a esconder-se na torrente de Carit, na torrente da Caridade. Mas os acontecimentos, tanto pessoais, como sociais e políticos, influíram nele, derrubaram as suas convicções e revelaram fraquezas que ele não conhecia. Era a hora de uma nova conversão.

Primeiro passo: o itinerário penoso e fecundo pelo deserto

O primeiro passo é a intervenção do anjo que manda levantar e caminhar: “Elias, levanta e come! Ainda te resta um longo caminho!” Anteriormente, a mesma palavra de Deus tinha dito: “Sai daqui, vai para o oriente!” Naquela ocasião, ele teve que deixar a terra, atravessar o Jordão e deixar tudo para trás. Agora, novamente, ele é convidado pelas circunstâncias da vida a deixar tudo, a caminhar, a renunciar, a esquecer e esvaziar-se para Deus, “Vacare Deo”. É a via purgativa do homem exterior, a via da purificação, do confronto e da revisão. Orientada pelo anjo e sustentada pela comida da oração, a pessoa decide levantar-se e inicia a Subida do Monte Carmelo. Vence o medo da noite e começa a caminhada em direção ao Monte Horeb, a Montanha de Deus. É ao mesmo tempo a caminhada em direção a si mesmo, para dentro do seu próprio interior, para encontrar a Deus na raiz do seu próprio ser, onde existe a . É ainda a caminhada em direção ao irmão e à irmã, pois Deus só se encontra é no próximo, na fraternidade: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, estarei no meio”.

Nesta longa caminhada pelo deserto não há nada que possa distrair. Tudo é seco, sem vida. O que sustenta e guia o caminhante é a luz escura que lhe vem do ponto de chegada, lá da Montanha de Deus. A caminhada é como os 40 anos que o povo passou no deserto: é o tempo necessário para refazer a história, refazer a pessoa desintegrada, reencontrar a vida, reencontrar-se a si mesmo, beber do próprio poço e redescobrir a luz da presença da Deus na escuridão da noite, perceber algo da presença de Deus no centro mais profundo de si mesmo. São os 40 dias que Jesus passou no deserto preparando-se para a sua missão e enfrentando a tentação do demônio com a luz da Palavra de Deus. São os 40 anos da longa gestação da Regra do Carmo no bojo da história do grupo fundador da Família Carmelitana, de 1207 quando Alberto redigiu a forma de vida, até 1247, quando o Papa Inocêncio aprovou a Regra do Carmo. Ao longo deste penoso e fecundo caminhar, o caminhante se sustenta pela oração, que lhe dá força.

Segundo passo: a experiência de Deus na Montanha Horeb

Elias se esconde na gruta. Na primeira chamada, ele se escondera na torrente Carit, na caridade. Era o amor que o sustentava, e o sustenta novamente. Sem a força do amor não seria capaz de agüentar tanta dureza. Apesar da escuridão, a via é iluminativa; é a descoberta da luz no meio da escuridão da caminhada. Pois, na medida em que se tem a coragem de caminhar na noite, descobrem-se luzes novas, diferentes. É a Brisa Leveque revela a nova presença de Deus, diferente dos sinais antigos da tempestade, do raio e do terremoto. O caminhante vai meditando sobre a vida e sobre o passado. Vai descobrindo os caminhos de Deus. Vai se enchendo de zelo pela causa do Senhor.

É no Monte Horeb que Deus se revela de maneira nova. Elias consegue sair da gruta em que se escondia. Descobre que não é ele quem defende a Deus, mas é Deus quem o defende! Redescobre a presença gratuita e exigente de Deus em sua vida. Como na primeira vez, ele 
bebe
 novamente da torrente. Como no primeiro êxodo, ele recebe alimento no deserto e experimenta a doçura da presença de Deus. Os olhos se abrem e ele descobre que Deus está mais presente do que ele imaginava. Ele não é o único a lutar pela causa de Deus! Há mais de 7000 pessoas que continuam fiéis a Deus!

Terceiro passo: redescoberta da Missão e retomar o caminho

Como fruto desta longa caminhada o coração do caminhante se unifica e se torna a morada de Deus. O coração está indiviso e puro, ele chegou no seu centro, a consciência está em paz. “Coração puro e consciência serena”. Nesta Noite Escura ele sai sem ser notado, tendo como luz a escuridão que ilumina mais que o sol do meio dia. E ele canta o amor de noivado. É a via unitiva do reencontro transformador. A chama o penetra de tal maneira que madeira e fogo são uma coisa só. “Ó noite que guiaste mais que a alvorada! Amada no amado transformada!”

O ponto de chegada

O ponto de chegada do itinerário espiritual ou fruto desta longa caminhada é a nova descoberta da missão, é a contemplação que percebe Deus em todas as coisas da vida, da natureza, da história. É a transfiguração ou a transparência das coisas da vida presente. É a re-apropriação das coisas do passado. É a identificação com a missão que faz olhar para o futuro.

Elias alcança a maturidade e pode gerar outros filhos. Como um pai de família, ele deixa a dupla herança, o duplo espírito, para o filho mais velho, que vai continuar a missão. O retiro é a continuação desta missão. Com Maria no dia da ascensão, permanecemos unidos em oração para que também para nós venha o Espírito de Deus, o Espírito de Jesus, invadir nossa vida e empurrar-nos com ânimo redobrado em direção a Deus, aos irmãos e a nós mesmos. Pois Deus só se encontra é no próximo, na fraternidade: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, estarei no meio”.

Maria como estrela guia na caminhada

Na espiritualidade carmelitana, Maria, a mãe de Jesus e irmã dos carmelitas, é presença constante e discreta em todos os momentos e etapas desta longa caminhada de Elias. Assim como ela foi presença na vida de Jesus, deve ser presença na nossa vida. Eis alguns aspectos desta sua presença:

* Maria como discreta e sofrida presença na vida de Jesus (Marcos)

* Maria e a sua companhia tal como transparece na genealogia (Mateus)

* Maria como modelo da comunidade que se alimenta na Palavra (Lucas)

* Maria como símbolo da vida (AT), aberta para o novo (NT) (João)

* Maria como imagem dos que lutam pela vitória da vida (Apocalipse)

* Maria que tem consciência crítica da realidade (Magnificat)

VI- Especificando mais as etapas a serem percorridas durante o retiro

Para que, durante o retiro, se possa percorrer este itinerário com suas etapas e alcançar o ponto de chegada, alguns elementos básicos não poderão faltar nas meditações a serem feitas para os “retirantes”. São como que postes que sustentam o fio da caminhada. Poderão haver outros possíveis assuntos opcionais, mas estes básicos não poderão faltar. São os seguintes:

1. A busca de Deus

A busca de Deus como aspiração básica da vida humana e como disposição sincera de quem vai fazer o retiro; busca de Deus que se reflete na busca da justiça, da fraternidade e da paz

2. Deus é Jesus

Quem quer buscar Deus deve buscá-lo em Jesus, deve viver em obsequio de Jesus Cristo, pois Jesus é a revelação de Deus para nós.

3. O caminho até Deus

O caminho da busca passa pelo deserto com suas crises e noites escuras, enfrentadas pela oração: o deserto de Elias, a noite escura de Maria ao pé da Cruz,

4. O lugar do encontro com Deus

O lugar do encontro com Deus e com Jesus se realiza é no próximo e na comunidade: sem vida fraterna comunitária não é possível viver plenamente a fé em Jesus.

5. A redescoberta da missão

A busca de Deus se expressa e se concretiza na missão redescoberta de serviço, de profecia, de contemplação no concreto da vida.

VII-Esquema de um retiro carmelitano de seis dias


1ª ETAPA.

“Servir a Deus de coração puro e consciência serena”. Via da Purificação


O objetivo da 1ª Etapa: Purificação do coração sedento e inquieto

1. A atração do chamado provoca a busca

2. O desejo de ir em busca de Deus leva a deixar para trás o que não serve para a caminhada


1º DIA: O PONTO DE PARTIDA:

1Reis 17,1: Elias se apresenta ao Rei como aquele que vive sempre na presença de Deus. Confronto com o Rei e com Deus.

1ª Meditação.

Ver a situação de onde se parte para fazer a caminhada

Fazer com que a pessoa se dê conta onde estão os seus pés em dois níveis importantes da sua vida: 1) O nível do engajamento familiar e social; 2) O nível do relacionamento com Deus: qual a imagem que se faz de Deus e como a fé em Deus influi na sua vida. A pessoa ver como estes dois níveis se entrelaçam entre si ou se existe uma dicotomia entre os dois.

2ª Meditação.

Fazer a memória da caminhada feita para chegar até hoje

Fazer com que a pessoa faça uma retrospectiva da sua própria vida e procure ver onde e como a fé em Deus o marcou. Lembrar que os primeiros carmelitas “viviam em obséquio de Jesus Cristo” e procuravam ser contemplativos, porque experimentaram em algum momento da sua vida que foram contemplados por Deus. Cada um verificar como e quando se sentiu contemplado. Para ajuda podem servir os textos de 2Tim 1,3-5; 3,14-17; e Fil 3,4-14.


2º DIA: A ARRANCADA INICIAL:

1Reis 17,2-6: Elias deixa tudo para trás e inicia a sua caminhada em direção a Deus indo para Karit do outro lado do Jordão, onde será alimentado por Deus.

1ª Meditação.

Peregrino do Absoluto: a busca de Deus, a busca do centro

Aproveitar do comentário da “Institutio” deste texto de 1Reis 17,2-6 para ajudar a perceber a necessidade da renúncia para se poder iniciar a caminhada, mas renúncia que nasce do desejo imenso de estar com Deus que atrai e chama e como sendo renunciar por renunciar ou por serem as criaturas coisas más. A busca do Centro é o eixo do retiro e o centro da caminhada. Mostrar a partir do itinerário de Elias que a caminhada provocada em nós pela palavra que chama continua sempre, sem descanso.

2ª Meditação.

Combater os falsos profetas dentro e fora de nós e o poder da oração

A partir de 1Reis 18, mostrar que a caminhada em direção ao Centro , em direção a Deus, implica em luta contra as falsas imagens de Deus que vamos descobrindo tanto fora de nós, na sociedade, como dentro de nós mesmos, nas nossas atitudes e aspirações. Neste mesmo texto transparece a importância da oração tanto para fazer descer o fogo do céu como para fazer descer a chuva. Acentuar a presença de Maria no comentário que os Carmelitas fazem da nuvenzinha que traz a chuva benfazeja.


2º ETAPA. “Revestir a armadura de Deus”. Via da descoberta da luz


O objetivo da 2ª Etapa: Descobrir a luz dentro da noite escura

1. Desde o primeiro momento da caminhada em direção a Deus, a luz de Deus já está presente e faz sentir a sua presença em forma de escuridão. Faz descobrir que as idéias que tínhamos sobre Deus não são Deus. Aí escurece tudo.

2. O objetivo desta segunda etapa é experimentar as noites na vida e, aos poucos, ir descobrindo que existe luz dentro dessa noite, luz mais forte que aquela com que nos orientávamos anteriormente.

3. A Regra do Carmo fala da necessidade de revestir a armadura de Deus que consiste no controle dos sentimentos e dos pensamentos e no exercício da fé, esperança e a caridade. A única arma ofensiva é a espada da Palavra de Deus.


3º DIA: A ENTRADA NA ESCURIDÃO DA GRUTA

1Reis 19,1-10: Elias fica com medo e foge. A animado pelo anjo caminha até a Montanha de Deus, onde entra na gruta.

1ª Meditação.

Analisar de perto a crise de Elias como espelho da nossa crise

Ver em que consistia a crise de Elias: medo, fuga, desânimo, vontade de comer, beber e dormir, falta de visão das coisas, visão deficiente de Deus. Ver também as noites escuras dos santos e santas carmelitas: João da Cruz, Edith Stein, Tito Brandsma, Teresinha, Teresa de Ávila, e tantos outros. Analisar de perto alguns aspectos das noites que hoje acontecem no dia a dia da vida das pessoas. Fazer perceber que nesta escuridão existe a luz de Deus.

2ª Meditação.

A crise leva a uma nova experiência de Deus

Analisar de perto o texto de 1 Reis 19,11-14, onde se descreve como Elias teve a experiência do Absoluto que é totalmente diferente de todas as imagens e idéias que possamso ter de Deus. Deus se faz presente na Brisa Leve, isto é, na ausência de todas as vozes. Rasga-se o véu que impedia o encontro. Introduzir aqui a experiência que Jesus tem do Pai. Deixar perceber que no fim deste terceiro dia e no começo do quarto dia estamos atingindo o ponto alto da caminhada do retiro.


4º DIA: A CONVIVÊNCIA ILUMINADORA COM JESUS

Lucas 9,28-36: O anúncio da paixão e morte causa crise nos discípulos. A transfiguração de Jesus com Moisés e Elias acontece para ajuda-los a superar a crise

1ª Meditação.

Jesus como os primeiros cristãos o viram

Em Jesus, Deus se faz presente de maneira nova. Na convivência com Jesus esta nova experi6encia de Deus se irradia e se concretiza numa nova maneira e conviver. Jesus usa toda uma pedagogia para ajudar os discípulos e as discípulas a fazer a conversão, a tirar de dentro de si a imagem antiga de Deus e revestir-se da imagem nova. Os três títulos mais antigos de Jesus, conservados pelos primeiros cristãos mostram como eles viram a revelação de Deus em Jesus e qual o caminho Jesus abriu para eles poderem voltar para Deus, para o Centro: Filho do Homem, Servidor e Redentor.

2ª Meditação.

A reconciliação e a reintegração que surge da fé em Jesus

O efeito imediato da nova experiência de Deus tal como nos foi revelada por Jesus é o novo tipo de relacionamento entre as pessoas. Surge a fraternidade como sinal profético da nova experiência de Deus e como fruto da reconciliação. Se Deus é Pai e Mãe, nós devemos ser irmão e irmã uns dos outros. Daí nasce a necessidade de acolher os outros como irmão e irmã, de perdoar não sete vezes como Pedro queria, mas setenta vezes sete.


3º ETAPA. “A justiça é cultivada pela prática do silêncio”. Via do reencontro transformador


O objetivo da 3ª Etapa: Reintegração ao redor do Centro

1. Depois que iniciou a caminhada, deixou para trás o que não servia para o encontro com Deus, depois de ter passado pela noite escura e de ter descoberta dentro dela a nova luz da presença de Deus, a pessoa se reencontra com o Centro, com Deus.

2. O reencontro com Deus, com o centro, tem um efeito integrador e transformador na pessoa que faz essa experiência. Ela se reencontra consigo, com os outros, com o cosmo, com a realidade que a envolve, com a natureza, com a própria missão.


5º DIA: AGUARDAR COM MARIA A DESCIDA DO ESPÍRITO

2Reis 2,1-18: Arrebatado num carro de fogo Elias sobe ao céu e deixa o seu manto para Eliseu que continua a ação profética de Elias

1ª Meditação.

Aberto para Deus, Elias não opõe resistência à ação do Espírito

Desde o início, o Espírito tem franca entrada na vida de Elias. Ele era conhecido como o homem aberto para a ação imprevisível do Espírito. Superada a crise que o levou até o Monte Horeb, Elias se torna mais transparente para o encontro transformador com Deus, simbolizado no arrebatamento num carro de fogo para o céu. Ele vai e deixa o seu duplo espírito com Eliseu que deve continuar a missão profética. O mesmo acontece com Jesus que deixa o seu Espírito para nós. Unidos entre si com Maria, os discípulos aguardam a vinda do Espírito Santo.

2ª Meditação.

Jesus na Cruz: máxima união com o Pai, máxima revelação da Trindade

Morrendo na Cruz, Jesus grita: “Eli! Eli! Por que me abandonaste?” Assim ele morre. A paixão de Jesus na Cruz é a máxima revelação da trindade e é também a máxima união de Jesus com o Pai. Jesus e o Pai: o Pai é a grande realidade na vida de Jesus. Pela sua obediência Jesus se tornou a revelação do Pai e a manifestação do Reino. Maria, ao pé da Cruz, em total silêncio, acompanha Jesus nesta missão. A máxima união do discipulado: Seguir, Servir, Subir


6º DIA: A REDESCOBERTA DA MISSÃO PROFÉTICA

1Reis 21,1-29: A vinha de Nabot. Depois do reencontro com Deus no Horeb, Elias reencontra-se consigo e com sua missão profética.

1ª Meditação.

A história da vinha de Nabot. A profecia que nasce do silêncio

Elias reencontrou-se consigo e com a sua missão. Houve o confronto entre o Rei e Nabot. O rei transgride a lei e o projeto de Deus. Nabot procura ser fiel ao projeto de Deus para o povo.Por causa da sua fidelidade ele é eliminado pela infidelidade do rei e da rainha. Neste momento, a profecia desperta em Elias e ele se coloca do lado da causa da Nabot, contra o Rei e a Rainha. No fim do retiro cada um deve procurar reordenar sua vida ao redor do Centro redescoberto: sua vida pessoal, sua vida familiar e profissional, sua vida como membro da comunidade e como cidadão.

2ª Meditação

Síntese do retiro feito: rever os marcos da caminhada

Nesta meditação final, convém retomar todo o caminho percorrido desde a véspera do retiro, para que os retirantes possam chegar a fazer uma síntese pessoal que os ajudará na caminhada pela vida.

VIII- Os meios os recursos para alcançar o objetivo do retiro carmelitano

1. O motor que empurra a percorrer o itinerário é a oração

A Regra do Carmo recomenda, por bem oito vezes, que o carmelita, a carmelita, medite e ore a Palavra de Deus, tanto sozinho na cela, como em comunidade. Ela pede que a Palavra habite abundantemente na boca e no coração, a ponto de produzir pensamentos santos e de envolver a pessoa em tudo que faz. Tudo deve ser feito na Palavra de Deus. Onde a Palavra de Deus é acolhida, ela produz como resposta a oração que orienta e sustenta no itinerário em direção a Deus. Quando uma pessoa decide responder ao apelo da Palavra de Deus, ela inicia uma longa caminhada sem retorno. Na mesma medida em que ela vai em busca de Deus, este mesmo Deus já se faz presente na vida dela. O efeito da chegada de Deus é a escuridão. A pessoa faz a experiência do deserto, do esvaziar-se. É o caminho da Subida do Monte Carmelo e da Noite Escura. A luz escura da contemplação! Aquilo que empurra e sustenta neste itinerário para Deus é a oração, nascida da fé de que Deus é maior que a escuridão, ou melhor, de que a escuridão é luminosa.

Os autores espirituais do Carmelo descrevem este itinerário espiritual e esclarecem suas etapas, para que a pessoa que nele se inicia não se perca. Explicam como você cresce na oração e como a oração vai se modificando e se aprofundando na mesma medida em que você vai se adentrando neste caminho em direção a Deus.

Por tudo isso, o retiro terá que ser, antes de tudo, uma experiência concreta de oração, uma oficina onde se aprende a rezar, onde você se apropria de um método de oração, o método carmelitano. O método de oração próprio do Carmelo é simples e atrevido: tende diretamente à intimidade com Deus. Quando no Carmelo se fala em perfeição, entende-se a união da alma com Deus. Para alcançar este estado de união com Deus é preciso caminhar na presença de Deus. O retiro terá que ser um tempo em que se dê uma grande atenção à prática da oração de tal modo que leve você a viver continuamente na presença de Deus. Numa palavra, o retiro deve ser uma aprendizagem da oração nas suas várias formas, em que é praticada no Carmelo: leitura orante da Palavra de Deus, oração aspirativa, oração comunitária, etc.

2. Especificando e completando os recursos a serem usados

1. Leitura Orante da Bíblia

A Leitura Orante da Bíblia deve ser a espinha dorsal do retiro, pois é nela que a Regra do Carmo mais insiste. Deve haver uma orientação bem concreta em dois sentidos: no método de como fazer e nos textos bíblicos a serem usados. O assunto dos textos deve estar em consonância com os assuntos da caminhada a ser percorrida durante o retiro.

2. Oração aspirativa

A oração aspirativa caracteriza a oração na espiritualidade carmelitana, pois ela nasce da consciência da presença de Deus e quer conduzir a uma intimidade sempre maior, para saborear a gratuidade da sua presença amiga. Ela deve receber uma atenção especial e a sua prática deve ser um outro eixo importante do retiro. Deve haver momentos especiais para a aprendizagem e a prática desta oração.

3. Oração comunitária

A oração comunitária deve receber uma atenção especial cada dia, pois a Regra do Carmo pede com insistência que se faça oração em comum e que se reúna diariamente no oratório para a celebração da Eucaristia. Será o momento em que se vive a partilha, se experimenta a fraternidade e se exerce a escuta e o diálogo no encontro com o irmão e a irmã.

4. Silêncio

A Regra fala do silêncio como um dos meios para realizar o ideal do Carmelo. O silêncio abre para a relação com o outro. O retiro deve ser marcado pela prática do silêncio como exercício que ajuda a praticar a oração, a recolher a mente, a dilatar o coração, a ter a atenção voltada para Deus, a ter uma atitude de escuta, a ter um olhar benevolente de contemplação. Silêncio de escuta, Silêncio profético, Silêncio Orante, etc.

5. Direção espiritual

O retiro deve ser uma oportunidade para experimentar a importância da direção espiritual e da partilha. No caminho em direção a Deus e ao irmão/irmã é importante ter um guia. Cada participante deve ter alguém que, durante o retiro, o ajude e o oriente a se situar na sua caminhada em direção a Deus. Deve haver momentos de orientação espiritual.

IX- Atitudes, Textos, Dinâmicas, Esclarecimentos

Para que um rio alcance o mar, é necessário cavar um leito. Para que o retiro carmelitano alcance o objetivo proposto, é necessário que se crie um ambiente. O leito por onde corre o retiro não consiste em dar muitas conferências e longas meditações sobre o caminho, mas sim em colocar as pessoas no caminho, pedir que nele andem e dar algumas breves orientações de como andar. Elas mesmas vão ter que percorrer e experimentar as etapas do itinerário em direção a Deus. Para que isto aconteça seguem algumas dicas práticas:

* Sobre a atitude do orientador ou da orientadora do retiro

1.Na maneira de ler e interpretar os textos da Bíblia

* Os textos bíblicos não são meros instrumentos ou provas, mas são como espelhos, onde a pessoa se reconhece e re-conhece a sua própria vida, caminhada e luta.

* São como arquétipos, onde se enxerga o que somos e devemos ser e que lembra o que diz Milton de Nascimento: “Certos canções caem tão bem dentro de mim que perguntar carece por que não fui eu que fiz?”

* Vale a pena lembrar o que disse João Cassiano a respeito da leitura dos Salmos: “Instruídos por aquilo que nós mesmos sentimos, já não percebemos o texto como algo que só ouvimos, mas sim como algo que experimentamos e tocamos com nossas mãos; n\ao como uma história estranha e inaudita, mas como algo que damos à luz desde o mais profundo do nosso coração, como se fossem sentimentos que formam parte do nosso ser. repitamo-lo: não é a leitura que nos faz penetrar no sentido das palavras, mas sim a própria experiência nossa adquirida anteriormente na vida de cada dia” (Collationes X, 11). A vida ilumina o texto, o texto ilumina a vida.

2.Ter uma constante preocupação com relação a estes três assuntos:

* Deve ter sempre presente a visão de espiritualidade da “Busca do Centro” como sendo o critério básico de referência.

* Deve ter uma preocupação constante em usar uma linguagem de acordo com a sensibilidade das pessoas que participam do retiro.

* Deve ter presente na fala, nos olhos, nos pés e na reflexão da realidade concreta do povo com que hoje convivemos e ao qual procuramos servir como testemunhas da Boa Nova de Deus.

* Dinâmicas para todos os dias

1. Abertura do dia com um texto do profeta Elias

2. Marcar o ambiente com alguma imagem de Elias

3. Prática da Oração aspirativa

4. Ter algum momento de partilha (dentro do contexto do retiro)

5. Informar: “Como foi?” para ter momento de explicitação

6. Canto de mantras

7. Síntese pessoal à noite (se possível, por escrito)

8. Silêncio durante todo o tempo do retiro


* Textos para cada etapa

Esta parte deverá ser feita ainda.


* Esclarecimentos a serem dados oportunamente

Além das duas meditações diárias haverá a possibilidade de uma conferência por dia com a finalidade de explicar e esclarecer certos assuntos importantes para o andamento do retiro. Eis uma lista de alguns destes assuntos que poderia merecer uma conferência de meia hora:

1. Explicar em que consiste exatamente a visão de espiritualidade do Centro, para que as pessoas possam perceber o fio da meada durante os dias do retiro.

2. Explicar em que consiste exatamente a ”Oração Aspirativa” como coisa própria e característica da espiritualidade carmelitana, e como fazer o exercício da Presença de Deus.

3. Explicar brevemente como fazer a Lectio Divina e qual a mística que deve animar a Leitura Orante da Palavra de Deus e como fazer os quatro passos que a

4. Explicar qual a atitude cristã frente à Bíblia

X-Dinâmicas específicas para um retiro carmelitano

1. Cada dia:

1. indicar textos bíblicos para a Lectio Divina

2. indicar alguns salmos para a oração pessoal

3. apresentar perguntas-chave para assimilar o assunto do dia e perceber o seu alcance para a vida

4. em dois momentos oferecer aos participantes assunto para a reflexão durante o dia

5. oferecer exemplos do santo ou da santa que praticou o assunto e que pode ser padroeiro do dia

6. ter a possibilidade de oração pessoal e de viver a experiência do vazio, do deserto

7. ter oração em comum em dois pontos fixos: de manhã e à noite, com eucaristia

8. ter algum momento de partilha e de convivência fraterna.

2. Apresentação e seqüência dos assuntos

Não deve ser aula sobre os assuntos a serem meditados, mas sim uma seqüência dinâmica entre os vários assuntos. Não só falar e meditar sobre as coisas, mas também praticá-las e fazê-las acontecer. No fundo, o que importa, não é que se fale sobre os assuntos, mas sim que a realidade indicada pelo assunto possa ser vivenciada pelos participantes, mesmo sem que se fale sobre ela.

3. A participação de todos

Ter uma equipe para ajudar na dinâmica, pois é difícil para um só fazer tudo. Cada participante deve sentir-se responsável para ajudar a criar um ambiente de silêncio, de solidão, de deserto, de fraternidade, de oração.

4. Proposta de horário

7:00 Lectio Divina

7:30 Café

8:00 Louvor da Manhã

9:00 Meditação

10:00 Início do vazio do deserto

o vazio do deserto

17:00 Meditação

18:00 Jantar

19:30 Louvor da Tarde com Eucaristia

21:00 Lectio

5. Explicação da dinâmica do horário

Durante o dia, há dois momentos fortes de Lectio Divina, de oração em comum e de meditação. Na parte da manhã das 7:00 às 10:00 horas e na parte da tarde das 17:00 às 21:00. São como os dois ganchos que sustentam a rede do dia, em cujo centro está o silêncio, o vazio do deserto a ser preenchido por Deus. Os dois ganchos sustentam a gente na hora da crise e ajudam a agüentar o vazio e a dureza do deserto. O vazio do deserto deve ser preenchido por aquilo que é a tarefa básica do carmelita, da carmelita: “meditar dia e noite na lei do Senhor e vigiar em orações”.

XI-Esquema de assuntos para algumas das meditações básicas

Caso o retiro tiver maior número de dias e for necessário abordar e meditar outros assuntos relacionados com o itinerário básico do retiro carmelitano, oferecemos aqui um esquema para algumas das meditações:

1. A Busca de Deus: “Sai daqui e vai para o outro lado do Jordão, Carit!”

2. A Busca de Deus em Jesus: “Ninguém vem ao Pai, senão por mim!”

3. O lugar do encontro com Deus é o próximo: “Era eu!” A fraternidade

4. O Caminho a percorrer: o deserto, as crises e as oportunidades

5. O meio que assegura a travessia: a Oração

6. A Missão redescoberta ao pé do Sinai

7. O Silêncio profético e o significado do trabalho

8. A Leitura Orante da Bíblia, a Atitude correta diante da Palavra de Deus

9. O Carmelo, a hospedaria de Deus:a opção pelos pobres

10. Deus

11. Maria, a estrela guia

12. A esperança é a última que se desfaz

13. Oração aspirativa

14. A caminhada do Profeta Elias

15. Vocação na Bíblia

16. Jesus formador

17. O novo caminho que Jesus abriu para o Pai

18. A Oração na vida de Jesus


XII-Pensamentos Finais

Retiro é:

Re-visão: ver de novo a Deus!

Re-colhimento: colher de novo os frutos da justiça!

Re-flexão: dobrar-se de novo diante da grandeza e ternura de Deus!

Re-forço: forçar de novo a entrada para dentro de si!

Re-conhecimento: conhecer de novo a presença de Deus na vida!

Re-ação: agir de novo a partir do novo começo!

Re-cordação: fazer passar de novo pelo coração toda a vida do povo sofrido!

Re-união: unir de novo a comunidade!

Re-creio: criar de novo a vida como Deus sonhou!

Re-feiçãofazer de novo o percurso da vida

Re-torno voltar de novo às

Re-tiro: tirar de novo água da !


Jesus

re-tirou-se para o deserto, onde foi tentado pelo satanás.

re-tirou-se para o outro lado do lago, onde procurou descansar, mas não deu.

re-tirou-se para o Monte, onde na glória encontrou a cruz.

re-tirou-se para o Horto das Oliveiras, onde entrou em agonia.

re-tirou-se deste mundo para o Pai, como gesto supremo de amor.