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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Escola de Santidade


Carmelo: Escola de Santidade

P. Rafael María López-Melús, carmelita

O ilustre cardeal Mercier, arcebispo de Malinas, ao regressar de Roma, onde participara da canonização de Santa Joana d’Arc, parou no convento carmelita de Dijon. Quando lhe mostraram, na sala capitular, um quadro da Beata Elisabeth da Trindade, o prelado perguntou:

“Quanto tempo ela viveu no Carmelo”?

“Cinco anos, Eminência”, respondeu-lhe a Madre Priora.

O cardeal, sorrindo, comentou: “Aqui se fazem santas muito rapidamente”.
Quem são os Santos?
“As únicas personagens de utilidade pública”.

“O mundo prosseguirá existindo graças à oração dos Santos”.

"Jesus Cristo promove a existência dos Santos para aumentar em nós a graça, para assim contribuir para a nossa santificação”.

“O maior benefício dos Santos é sua própria vida, que nos estimula a imitar seus exemplos”.
Todos somos chamados à santidade
Jesus Cristo disse: “Sede santos como o Pai celestial é santo” (Mt 5,48).

“Sede misericordiosos como o Pai do Céu é misericordioso" (Lc. 6,36).

E São Paulo: "Esta é a vontade de Deus: vossa santificação” (1 Tes 4,3; Ef 1,4).

O Concílio Vaticano II lembrou-nos que “somos todos chamados à santidade” (L. G. cap. 5).

É fácil ser santo?

Sim e não.

Um Santo é um homem ou uma mulher que levaram o Evangelho a sério. Isto não é fácil.

O Santo não nasce pronto. Ele se faz santo. A santidade é um caminho longo, que pede muita perseverança. Não consiste em fazer “coisas extraordinárias”, mas em fazer coisas ordinárias “extraordinariamente bem feitas”, como disse o papa Bento XV ao cardeal que tentava travar a beatificação da futura Santa Teresinha do Menino Jesus.

Na obra “El Divino Impaciente”, Pemán afirmou belamente: “A santidade é fazer simplesmente o que temos a fazer”.

A Igreja tem como uma de suas quatro notas constitutivas a santidade. Logo, é absolutamente necessário, que na Igreja de todos os tempos abundem os santos.

Hoje, mais do que nunca, a Igreja e o mundo precisam de almas santas.
O Carmelo, em seus quase oito séculos de existência, foi sempre escola de santidade
“Quantos santos no céu usam nosso hábito! Temos a esperança de nos fazermos, com a graça de Deus, semelhantes a eles”. (Sta. Teresa, Fund. 29,33).

A respeito de Teresinha González Quevedo, carmelita morta em 1950, afirmou sua amiga Carmen Aguado: "Sempre disse que se tornara carmelita para ser santa”.

O Carmelo deu à Igreja um acervo riquísimo de doutrina espiritual, mas seria insignificante esta sublime doutrina carmelitana, se não fosse confirmada pela santidade de sua vida, isto é, de seus filhos.

Nos finais do século XV, um beneditino muito sábio, o célebre humanista abade Juan Tritemio (+1516), escreveu uma pequena obra louvando o Carmelo, dirigida à juventude carmelitana como aos detratores da Ordem, movido pela nobre intenção de tornar conhecidas a quantidade e qualidade de homens ilustres que o Carmelo deu à Igreja. O autor queria incentivar os jovens carmelitas a imitar seus confrades. Era dirigida também aos detratores da Ordem para que se calassem ao saberem que o Carmelo é escola de ciência e virtude.

No livrinho havia esta afirmação hiperbólica: “Se há alguém capaz de contar as estrelas do firmamento, também será capaz de contar os santos do Carmelo”.

Esta afirmação não parecerá tão exagerada se tivermos presente que , não só os religiosos, monjas e religiosas dos diversos ramos carmelitanos são membros do Carmelo, mas também a enorme quantidade de leigos da Terceira Ordem vivem de seu espírito e vestem o escapulário.
A grande doutora Santa Teresa afirma: mais santo será “quem com mais mortificação, humildade e consciência limpa serve a Nossa Senhor”(Moradas VI, 8). No livro “Fundações diz: "Para mim a santidade não se encontra nas revelações e visões” (4,8). Em uma de suas Cartas: "O caminho das coisas extraordinárias não é o caminho de maior santidade” (233,9). E ainda: “Nosso afã não é possuir muitos mosteiros, mas sim que sejam santas aquelas que neles estiverem”.(Carta, 424, 6)

Dois meses antes de sua morte, Santa Teresinha do Menino Jesus nos transmitirá uma clara e dilacerante lição, ao nos dizer: “ (A santidade) Não está nesta ou naquela prática, mas consiste numa disposição do coração, que nos faz humildes e pequeninos nos braços de Deus, conscientes de nossa fraqueza, e audaciosamente confiantes em sua bondade de Pai”.

Este pequeno caminho espiritual de simplicidade e de confiança sem limites na bondade do Pai Celestial, viveram-no os santos do Carmelo.

Exortação à santidade

Para sermos santos abraçamos a vocação carmelita. Os papas se referiram repetidas vezes ao Carmelo como Escola de Santidade. Lembramos apenas três frases de Pio XII:

No dia 23.9.1951: "Nós, com o afeto de nosso amor paternal, elevamos nossas mãos à excelsa Patrona a Virgem do Monte Carmelo e aos numerosos e grandes santos que este Instituto produz, recomendando-lhes vossas pessoas e vossos empreendimentos”.

No dia 16.7.1952, depois de citar vários santos carmelitas:

"A esta escolha conjunta (dos santos do Carmelo) há que acrescentar outros quase inumeráveis exemplos, que, se não brilham externamente com tanto fulgor, sem dúvida podem ser propostos como merecedores de imitação... e confiamos que às coroas de santidade cujo fulgor tanto brilham ao longo tempo, serão multiplicadas por novas flores e novos frutos, que testemunham, a cada dia, a potente virtude de vosso Instituto; para chegar a isto, sirva-vos de guia e mediadora de graças celestiais a Santíssima Virgem Maria sob a invocação do Carmelo”.

No Ano Santo do Escapulário, 1950-1951, diante de muitos milhares de religiosos e seculares carmelitas: "Nós vos exortamos a caminhar sempre avante de uma maneira digna à vossa vocação, seguindo os passos dos grandes santos que o Carmelo tem dado à Igreja”. (6.8.1950).
Santificando os outros

O Carmelo não se contenta em produzir almas santas, mas trabalha para que também outros o sejam, através de sua oração, sacrifício e apostolado. Os grandes santos e escritores do Carmelo contribuem enormemente através de suas vidas e suas maravilhosas obras, para embelezar e aumentar esta nota de santidade eclesial.

Contribui sobretudo por meio deste “Canal de graças” que é o santo Escapulário do Carmo.

Concluímos esta reflexão recordando que "se somos filhos dos santos e esperamos viver sua mesma vida” (Tb 2,18), somos obrigados a cumprir o conselho que nos dá o célebre beato carmelita Batista Mantuano (+1516): "Estes varões do Carmelo nos foram dados como modelos para que os imitemos, e, conhecedores de suas obras, acordemos de nossa letargia”.

Com outras palavras o mesmo dizia nossa Santa Madre Teresa: "Deixar de conformar nossa vida à vida de nossos Santos Pais é a maior mágoa que podemos causar-lhes”. (Fund. 14,5)

São Paulo nos recorda: “Deus nos chamou a uma vocação santa, não por nossos méritos, mas por causa de Jesus Cristo” (Tim 1, 9).

Vale citar aqui a oração da “coleta” da Missa da Festa de Todos os Santos Carmelitas, que celebramos no dia 14 de novembro de cada ano:

"... Concedei-nos propício que, por seus exemplos e méritos, vivendo somente para vós, na contínua meditação de vossa Lei e perfeita abnegação, possamos chegar, juntamente com eles, à felicidade da vida eterna. Amém”.

Ou seja: “Que possamos ser santos como eles o foram”.


Tradução livre do espanhol, sem as devidas licenças.

COMO REGAR O JARDIM DA ALMA



COMO REGAR O JARDIM DA ALMA

Parece-me que li ou ouvi esta comparação ‑ como tenho memória ruim, não sei onde nem por quê; mas, para o meu objetivo aqui, basta-me citá-la. Quem principia deve ter especial cuidado, como quem fosse plantar um jardim, para deleite do Senhor, em terra muito improdutiva, com muitas ervas daninhas. Sua Majestade arranca as ervas daninhas e planta as boas. Façamos de conta que isso já aconteceu quando uma alma decide dedicar-se à oração e começa a se exercitar nela. Com a ajuda de Deus, temos de procurar, como bons jardineiros, que essas plantas cresçam, tendo o cuidado de regá-las para que não se percam e venham a dar flores, cujo perfume agradável delicie esse nosso Senhor, para que Ele venha a se deleitar muitas vezes em nosso jardim e a gozar entre essas virtudes.

Vejamos agora a maneira de regar, para sabermos o que fazer e o quanto isso nos há de custar; verificar se o lucro é maior do que o esforço e o tempo que o trabalho levará.

Parece-me que é possível regar de quatro maneiras:

Ø tirando a água de um poço, o que nos parece grande trabalho;

Ø tirá-la com nora e alcatruzes movidos por um torno; assim o fiz algumas vezes:

dá menos trabalho que a outra e produz mais água;

Ø trazê-la de um rio ou arroio; rega-se muito melhor, a terra fica bem molhada, não é preciso regar com tanta freqüência e o jardineiro faz menos esforço;

Ø contar com chuvas freqüentes; neste caso, o Senhor rega, sem nenhum trabalho nosso, sendo esta maneira incomparavelmente melhor do que as outras.

(Vida 11,6-7)

RECOLHIMENTO

Agora, apliquemos à oração essas quatro maneiras de regar, com as quais haveremos de conservar o jardim, que, sem ser irrigado, perecerá. Com esta comparação acredito poder explicar algo dos quatro graus de oração em que o Senhor, pela sua bondade, pôs algumas vezes a minha alma. Queira a Sua bondade que eu o diga de um modo que traga proveito a uma das pessoas que me mandaram escrever, porque o Senhor, em quatro meses, a fez avançar mais do que eu consegui em dezessete anos. Essa pessoa se dispôs melhor do que eu e, assim, rega sem trabalho seu vergel com essas quatro águas, embora a última só lhe venha gota a gota; mas, a prosseguir assim, logo estará mergulhada nela, com a ajuda do Senhor, e gostarei que ria se lhe parecer disparatada a minha forma de dizer.

Pode-se dizer dos que começam a ter oração que apanham a água do poço, o que é muito trabalhoso, como eu disse, porque eles têm de cansar-se para recolher os sentidos, algo que, como não estão acostumados a concentrar-se, requer muito esforço. É preciso que eles vão se habituando a não se incomodar com o que vêem ou ouvem, fazendo-o efetivamente nas horas de oração, ficando em solidão e afastados para pensar em sua vida passada. Na verdade, todos devem fazer isso com freqüência, tanto iniciantes como os que estão avançados, pensando mais ou menos nisso, como depois direi. No princípio, os iniciantes ainda sofrem, por julgarem que não se arrependem dos pecados, embora o seu arrependimento seja sincero, pois estão de fato determinados a servir a Deus. Eles devem procurar pensar na vida de Cristo e, nisso, cansa-se a mente.

Até aqui podemos chegar sozinhos, claro que com o favor de Deus, pois, como se sabe, sem Ele, não podemos ter um único bom pensamento. Isso é começar a tirar água do poço, e queira Deus que este não esteja seco. Pelo menos fazemos a nossa parte, indo apanhar água e fazendo o que podemos para regar as flores. E é o bom Deus que, por motivos que Ele conhece talvez para grande proveito nosso ‑, quer que o poço esteja seco, devendo nós fazer como o bom jardineiro, que, sem água, mantém as flores e faz crescer as virtudes. Chamo de "água" aqui as lágrimas e, à falta delas, a ternura e o sentimento interior de devoção.

(Vida 11, 8-9)

TRABALHANDO PARA O SENHOR

E o que fará aqui quem vir que, em muitos dias, só há secura, desgosto, dissabor e tão má vontade para ir tirar a água? Se não se recordasse de que serve e agrada ao Senhor do jardim e se não receasse perder todo o serviço já feito, além do que espera ganhar com o grande trabalho que é lançar muitas vezes o balde ao poço e tirá-lo sem água, abandonaria tudo? Muitas vezes, nem conseguirá levantar os braços, nem poderá ter um bom pensamento, porque esse trabalho com o intelecto, entenda-se, é tirar água do poço.

Como eu dizia, que fará aqui o jardineiro? Alegrar-se, consolar-se e considerar uma enorme graça trabalhar no jardim de tão grande Imperador. Sabendo que contenta ao Senhor com aquilo, e que a sua intenção não há de ser senão contentar a Ele, louve-O muito, pois o Senhor nele confia, por ver que, sem nada receber, a alma cuida muito do seu trabalho; que o jardineiro o ajude a carregar a cruz e pense que o Senhor nela viveu por toda a vida; que não procure seu reino aqui na terra e nunca abandone a oração. E se determine, mesmo que essa secura dure a vida inteira, a não deixar que Cristo caia com a cruz, pois virá o momento em que toda a sua recompensa lhe será dada de uma vez. Não tenha medo de que o seu trabalho se perca, pois ele serve a bom patrão, que o está olhando. Não se incomode com os maus pensamentos; pense que o demônio também os representava a São Jerônimo no deserto.

Esses trabalhos têm seu valor, eu o sei, pois os fiz durante muitos anos (quando eu tirava uma gota de água desse poço bendito, pensava que Deus me concedia uma graça), sendo necessário, para vencê-los, mais coragem do que para muitos outros trabalhos do mundo. Mas vi com clareza que Deus não deixa de dar grande recompensa, ainda nesta vida; pois é certo que, em uma hora na qual o Senhor me permite rejubilar-me nele, considero pagas todas as angústias por que, para perseverar na oração, passei.

Creio que o Senhor deseja dar, muitas vezes no principio e outras no final, esses tormentos e muitas outras tentações que aparecem, para testar os que o amam e saber se poderão beber o cálice e ajudá-Lo a levar a cruz, antes de lhes oferecer grandes tesouros. E é para o nosso bem que Sua Majestade deseja levar-nos dessa maneira para que compreendamos quão pouco somos; porque as graças que depois vêm têm tamanha dignidade que Ele, antes de dá-las, deseja que, pela experiência, percebamos antes a nossa insignificância, a fim de que não aconteça conosco o que sucedeu a Lúcifer.

(Vida 11, 10-11)

AMAR É SERVIR

Que fazeis Vós, Senhor meu, que não seja para maior bem da alma que já sabeis ser Vossa e que se põe em Vosso poder para seguir-Vos por onde fordes, até a morte na cruz, determinada a ajudar-Vos a carregá-la e a não Vos deixar sozinho com ela?

Quem vir em si essa determinação... de modo algum deve temer. Não tem razão para afligir-se quem se dedica às coisas do espírito. Estando já no nível tão alto que é o do desejo de ficar a sós com Deus e de renunciar aos passatempos do mundo, a alma fez a maior parte. Louvai por isso Sua Majestade e confiai em Sua bondade, pois Ele nunca faltou aos seus amigos. Fechai os olhos da mente para não pensardes: por que Ele dá devoção a alguém em poucos dias e a nega a mim em tantos anos? Acreditemos que é tudo para o nosso bem maior. Guie Sua Majestade por onde quiser. Já não somos nossos, mas Seus. Ele já nos favorece bastante ao nos dar disposição para cavar no Seu jardim e estar aos pés do seu Senhor, que por certo está conosco. Se Ele deseja que essas plantas e flores cresçam, para uns jardineiros com a água que tiram do poço e, para outros, sem ela, que importância tem isso para mim? Fazei Vós, Senhor, o que quiserdes. Que eu não Vos ofenda e que não se percam as virtudes, se alguma já me destes só por Vossa bondade. Desejo padecer, Senhor, pois Vós padecestes. Faça-se em mim, de todas as maneiras, a Vossa vontade, e não permitais que uma coisa tão valiosa quanto o Vosso amor seja dada a quem só Vos serve em busca de consolações.

Deve-se acentuar ‑ e o digo por experiência ‑ que a alma que, nessa trilha da oração mental, começa a caminhar com determinação e consegue de si mesma não fazer muito caso, nem consolar-se ou desconsolar-se muito por faltarem ou não esses gostos e essa ternura, ou por lhos dar o Senhor, já venceu boa parte do caminho; e que não tenha medo de recuar, por mais que tropece, já que começou o edifício com firmes alicerces. Sim, pois o amor de Deus não está em ter lágrimas nem em ter esses gostos e essa ternura, que em geral desejamos e com os quais nos consolamos, mas em servir com justiça, força de ânimo e humildade. Isso me parece mais receber do que dar alguma coisa.

(Vida 11, 12-13)

LIBERDADE E DETERMINAÇÃO

Para mulherzinhas como eu, fracas e pouco constantes, creio que convém, como Deus agora o faz comigo: conduzir-me com regalos, para que eu possa sofrer algumas dificuldades que Sua Majestade desejou que eu tivesse. Mas, para servos de Deus, homens de valor, instruídos, inteligentes, desgosta-me ouvi-los se queixarem tanto de que Deus não lhes dá devoção; não digo que não a aceitem, se Deus a der, tendo-a em alta conta, porque, nesse caso, Sua Majestade sabe que isso lhes convém, mas que, quando não a tiverem, que não se aflijam, entendendo que ela não lhes é necessária, já que Sua Majestade não a dá, e sigam seu caminho. Acreditem que é uma imperfeição. Eu o vi e experimentei. Acreditem que é imperfeição e falta de liberdade de espírito; é mostrar fraqueza para qualquer empreendimento.

Não falo isso tanto para os que começam (embora eu o acentue tanto porque é muito importante para eles começar com essa liberdade e determinação), mas para outros, pois haverá muitos, e há realmente, que começaram e nunca acabam de acabar; e creio que isso se deve em grande parte ao fato de eles não abraçarem a cruz desde o inicio, razão por que ficam aflitos, julgando que nada fazem. Não conseguem suportar que o intelecto deixe de atuar, não percebendo que, então, a vontade aumenta e se fortalece.

Temos de pensar que o Senhor não olha coisas que, embora nos pareçam faltas, não o são. Sua Majestade já conhece a nossa miséria e baixeza natural melhor do que nós mesmos, sabendo que essas almas desejam sempre pensar nele e amá-Lo; o que Ele quer é essa determinação, não servindo essa outra aflição senão para inquietar a alma. Quem está incapacitado de obter frutos durante uma hora assim o estará por quatro. Porque muitíssimas vezes (tenho enorme experiência nisso, e sei que é verdade, porque o examinei com cuidado e disso tratei com pessoas espirituais) tudo vem da indisposição corporal; somos tão miseráveis que essa pobre alma está aprisionada aos males do corpo; e as mudanças do tempo e variações dos humores muitas vezes fazem com que, sem culpa, ela não possa fazer o que quer, padecendo de todas as maneiras. Nesses momentos, quanto mais a quisermos forçar, tanto pior e mais duro será o mal; nesse caso, é preciso ter discrição para ver quando se deve fazer o quê, para não atormentar a pobre. Que elas percebam que estão doentes e mudem a hora da oração, o que amiúde durará alguns dias. Suportem como puderem esse desterro, pois é grande a desventura da alma amante de Deus ao ver que passa por essa desolação, sem poder fazer o que quer, por ter um hóspede tão ruim quanto o corpo.

Eu disse "ter discrição" porque às vezes o demônio age. Assim, é bom que não se deixe sempre a oração quando se está muito distraído e perturbado no intelecto, nem se atormente sempre a alma, obrigando-a a fazer o que não pode.

Há outras ocupações além de obras de caridade e de leitura, mesmo que por vezes nem isso seja possível. Sirva-se então ao corpo por amor a Deus, para que ele, em muitas outras ocasiões, sirva à alma; dedique-se o tempo a conversas virtuosas ou a passeios pelo campo, segundo o conselho do confessor. Em tudo, vale muito a experiência, que nos dá a entender o que nos convém e nos faz ver que em tudo servimos a Deus. Suave é o seu jugo, e muito vale a pena não arrastar a alma, como se diz, mas levá-la com suavidade para seu aproveitamento.

Assim, repito ‑ e mesmo que não pare de fazê-lo, ainda não o terei enfatizado o bastante ‑ que importa muito que não nos atormentemos nem nos aflijamos com essas securas, com a inquietude e com a distração nos pensamentos. Quem quiser obter liberdade de espírito e não ficar sempre atribulado deve começar por não se espantar com a cruz; se o fizer, verá que o Senhor também ajuda a levá-la, e viverá contente e tirando proveito de tudo. É natural, pois se o poço está seco, nós não podemos enchê-lo de água; é verdade que não podemos nos descuidar, para que, quando houver água, a tiremos ‑ porque, nesse caso, Deus deseja por meio dela multiplicar as virtudes.

(Vida 11,14-17)

EM COMPANHIA DO SENHOR

0 que pretendi dar a entender no capítulo anterior ‑ embora tenha enveredado por outras coisas que me pareciam muito necessárias ‑ foi o ponto até o qual podemos chegar por nós mesmos e a maneira como, nessa primeira devoção, podemos valer-nos dos nossos próprios recursos. Porque, ao pensarmos detalhadamente no que o Senhor passou por nós, alcançamos a compaixão, encontrando sabor nesse sofrimento e nas lágrimas que dele vêm; pensar na glória que esperamos, no amor que o Senhor teve por nós e em Sua ressurreição nos dá um prazer que não é de todo espiritual nem dos sentidos, mas é um prazer virtuoso e um pesar muito meritório. Assim são todas as coisas que causam devoção quando o entendimento está envolvido, muito embora, se Deus não a desse, não se poderia merecê-la nem ganhá-la. É muito bom que uma alma que só chegou até aqui graças ao Senhor não procure ir além por si ‑ e muito se atente para isso ‑, para que não obtenha, em vez de lucro, prejuízo.

Neste estado, ela pode fazer muito para se determinar a servir bastante a Deus e despertar o amor, assim como para ajudar a crescer as virtudes, como o diz um livro chamado Arte de servir a Deus, que é muito bom e apropriado para os que estão nesse estado em que a mente age. A pessoa pode imaginar que está diante de Cristo e acostumar-se a enamorar-se da Sua sagrada Humanidade, tendo-O sempre consigo, falando com Ele, pedindo-lhe auxílio em suas necessidades, queixando-se dos seus sofrimentos, alegrando-se com Ele em seus contentamentos e nunca esquecendo-se Dele por nenhum motivo, e sem procurar orações prontas, preferindo palavras que exprimam seus desejos e necessidades.

É excelente maneira de progredir, e com rapidez. E adianto que quem trabalhar para ter consigo essa preciosa companhia, aproveitando muito dela e adquirindo um verdadeiro amor por esse Senhor a quem tanto devemos, terá grande beneficio.

(Vida 12,1-2)

É AÇÃO DE DEUS

Para isso, não façamos caso de não ter devoção sensível ‑ como eu disse ‑, mas agradeçamos ao Senhor, que nos permite estar desejosos de contentá-Lo, embora as nossas obras sejam fracas. Esse modo de trazer Cristo conosco é útil em todos os estados, sendo um meio seguríssimo para tirar proveito do primeiro e breve chegar ao segundo grau de oração, bem como, nos últimos graus, para ficarmos livres dos perigos que o demônio pode pôr.

Pois isso é o que podemos fazer. Quem quiser passar daqui e levantar o espírito a sentir gostos, que não lhe são dados, perde, a meu ver, tudo. Os gostos são sobrenaturais e, perdido o entendimento, a alma fica desamparada e com muita aridez. E como esse edifício tem a sua fundação na humildade, quanto mais próximos de Deus estivermos, tanto maior deverá ser essa virtude, pois, se assim não for, tudo perderemos. E parece algum tipo de soberba querermos ir além disso, visto que Deus já faz em demasia, pelo que somos, ao permitir que nos aproximemos dele.

Não se entenda com isso que não é bom elevar o pensamento a coisas superiores do céu e de Deus, às grandezas que lá há e à sabedoria divina; porque, embora eu nunca o tenha conseguido (porque não tinha capacidade como disse e me achava tão ruim que, mesmo para pensar em coisas da terra, precisava que Deus me fizesse a graça de entender esta verdade, por não ser isso pouco atrevimento, para não falar em pensar em coisas do céu), outras pessoas tirarão proveito disso, especialmente se forem instruídas, pois a instrução é, a meu ver, um grande tesouro para esse exercício, se for acompanhada da humildade. Ultimamente, tenho percebido que alguns estudiosos, que há pouco começaram, tiveram um grande proveito; isso me faz desejar ansiosamente que muitos deles sejam espirituais, como adiante direi.

Quando digo "não se elevem sem que Deus os eleve", uso linguagem espiritual; quem tiver alguma experiência vai me entender, pois, se não o entender, não sei dizer com outras palavras. Na teologia mística, de que comecei a falar o intelecto deixa de agir porque Deus o suspende, como depois explicarei se souber e se Ele me conceder para isso o seu favor. Tentar ou presumir suspendê-lo por nós mesmos, deixar de agir com ele, é o que considero inconveniente, porque assim ficaremos bobos e frios, e não conseguiremos nem uma coisa nem outra. Quando o Senhor o suspende e o faz parar, Ele mesmo lhe dá com que se ocupar e se impressionar, de maneira tal que, no espaço de um credo, podemos compreender, sem raciocinar, mais do que, em muitos anos, com os nossos próprios esforços terrenos. É um disparate querermos conter as faculdades da alma e pensar em aquietá-las.

E repito, ainda que não se entenda: isso não é de grande humildade. Embora não haja culpa, haverá danos, pois será trabalho perdido, e a alma vai ficar um tanto desgostosa, como se estivesse prestes a dar um salto e se sentisse segura por trás, parecendo empregar a força sem conseguir o seu intento. Quem quiser comprová-lo verá o pouco ganho que vai ter, e, neste, a pequena falta de humildade de que falei. Porque numa coisa essa virtude é excelente: o que é feito com o seu apoio nunca deixa desgosto na alma.

Creio que expliquei bem, mas talvez só esteja claro para mim. Que o Senhor abra os olhos dos que isto lerem dando-lhes experiência, que, por pouca que seja, logo os fará entender.

(Vida 12,3-5)

CUIDADO COM ILUSÕES

Por vários anos li muitas coisas e nada entendi; depois, apesar do que Deus me dava, eu não sabia dizer uma palavra que exprimisse essa situação, o que não me custou poucos sofrimentos. Quando deseja, Sua Majestade ensina tudo num momento, e de uma maneira que me espanta.

Para dizer a verdade, mesmo falando com muitas pessoas espirituais que queriam me explicar o que o Senhor me dava, para que eu o soubesse dizer, é certo que a minha rudeza era tanta que eu nada aproveitava; ou, talvez, o Senhor, que sempre foi o meu mestre (seja por tudo bendito, pois bastante confusão me causa poder dizer isto com verdade), tenha querido que nesse aspecto eu não tivesse de agradecer a ninguém; sem que eu quisesse nem pedisse (que nisso não fui nada curiosa ‑ porque teria sido virtude sê-lo ‑, sendo-o apenas em outras vaidades), Deus me deu num momento a graça de entender com toda a clareza e de saber exprimi-lo, de tal modo que os meus confessores se espantavam, e eu mais do que eles, porque conhecia mais a minha rudeza. Foi há pouco que recebi essa graça; e o que o Senhor não me ensinou, eu não o procuro, a não ser o que tem que ver com minha consciência.

Tomo a avisar que é muito importante "não elevar o espírito se o próprio Senhor não o eleva" ‑ o que isso significa logo se entende. Isso é especialmente ruim para mulheres, em quem o demônio poderá causar alguma ilusão; embora eu tenha certeza de que o Senhor não consente que se prejudique quem, com humildade, procura chegar a Ele, fazendo com que, pelo contrário, obtenha mais proveito e lucro daquilo com que o inimigo julgou provocar prejuízo.

Como esse caminho é o mais usado pelos iniciantes, sendo muito importantes os avisos que dei, estendi-me tanto. Há livros em que isso estará escrito melhor, eu confesso, e foi com grande confusão e vergonha que o escrevi, se bem que sem ter tanta quanto deveria ter.

Bendito seja por tudo o Senhor, que deseja e consente que uma pessoa como eu fale de Suas coisas, tão elevadas e sublimes.

(Vida 12, 6-7)

PARA MAIOR APROFUNDAMENTO DO TEMA VEJA “OBRAS COMPLETAS DE SANTA TERESA DE JESUS”, Edições Loyola, 1995, páginas 76 a 140

sábado, 9 de abril de 2011

VIA SACRA COM SANTA TERESA DE ÁVILA - (CARMELITAS DESCALÇAS DE BRÉSCIA)


VIA SACRA COM SANTA TERESA DE ÁVILA
CARMELITAS DESCALÇAS DE BRÉSCIA
EDIÇÕES MENSAGEIRO - PÁDUA
Tradução: Ir. Ines (Carmelo de Jundiaí)


APRESENTAÇÃO

Muitas vezes sentimo-nos incapazes de meditar, de rezar, de contemplar os acontecimentos da vida de Jesus. Com esta Via Sacra queremos pedir a ajuda de uma grande santa e mística: Teresa de Ávila (1515-1582). Será ela a acompanhar-nos na meditação da paixão do Senhor.
Para cada estação são colocadas, além da Palavra de Deus, algumas frases tomadas de suas obras, às vezes palavras a ela dirigidas pelo Senhor, outras exortações às suas monjas. Trata-se de palavras escritas há muitos anos, mas que cada um poderá facilmente aplicar, hoje, na sua situação atual.
Como conclusão de cada estação se propõe ma estrofe do Estava a Mão dolorosa.
Este subsidio poderá ser usado para a prece pessoal ou para a celebração comunitária da Via Sacra.

INÍCIO

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

“Já sabes o desposório que há entre ti e Mim e, havendo isso, o que Eu tenho é teu, e assim te dou todos os sofrimentos e dores que passei; com isso, podes pedir a Meu Pai como se fossem coisas próprias tuas’. (R 51)

‘Pensando no Senhor, na sua vida e paixão, recorda-se de Seu mansíssimo e formoso rosto. Isso consola muitíssimo, dando-nos o mesmo gosto que teríamos se víssemos uma pessoa que nos faz muitíssimo bem – principalmente se não a conhecêssemos’.
(6 M 9, 14.)

1ª Estação
JESUS É CONDENADO À MORTE

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo.

“O governador respondeu-lhes: “Qual dos dois quereis que vos solte?’ Disseram: ‘Barrabás’, Pilatos perguntou: ‘Que farei de Jesus, que chamam de Cristo?’ Todos responderam: ‘Seja crucificado!’ Tornou a dizer-lhes: ‘Mas que mal ele fez?’ Eles, porém, gritaram com mais veemência: ’Seja crucificado!’”
(Mt 27, 21-23)

“Põe os olhos em mim, pobre e depreciado”.
(R 8)

‘Com tão bom amigo presente, com tão bom capitão, que se ofereceu para sofrer em primeiro lugar, tudo se pode suportar’
(V 22, 6)

‘De pé a Mãe dolorosa,
Junto da cruz, lacrimosa,
Via Jesus que pendia’.

2ªEstação
JESUS CARREGA A CRUZ

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“E ele saiu, carregando a sua cruz, e chegou ao chamado ‘Lugar da Caveira’ – em hebraico chamado Gólgota”.
(Jô 19, 17)

“Pensas, filha que p merecimento está no gozar? Ele não está senão em trabalhar, em padecer, em amar”.
(R 36)

‘Toma a tua cruz e segue-me
Apegai-vos à cruz que vosso Esposo tomou sobrem Si e entendei que ela deve ser a vossa tarefa. Aquela que mais puder padecer, que padeça mais por ele e será a mais feliz’.
(2 M 7)

‘No coração traspassado
Sente o gládio enterrado
De uma cruel profecia’.

3ª Estação
JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

‘E no entanto, eram as nossas enfermidades que ele levava sobre si, as nossas dores que ele carregava’
(Is 53, 4)

“O filhos dos homens, até quando sereis duros de coração?”
(V 39, 24)

‘Ó Senhor do mundo, verdadeiro Esposo meu, como vos reduzistes a este estado? Se assim é, Senhor, que tudo isso quereis passar por mim, o que é isso que eu passo por vós? Marchemos juntos, Senhor, por onde fordes, terei de ir, por onde passardes terei de passar’..
(C 26, 6)

‘Mãe entre todas bendita,
Do Filho único aflita
A imensa dor assistia. ’

4ª Estação
JESUS ENCONTRA SUA MÃE

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Simeão abençoou e disse a Maria, a Mãe: ’Eis que este menino foi colocado para queda e para o soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição – e a ti, uma espada traspassará tua alma!”
(Lc 2, 34-35)

“Vê a minha vida toda cheia de padecimento”.
(R 36)

‘Vimos sempre que aqueles que acompanharam
Cristo Nosso Senhor mais de perto foram os que mais padeceram. Vejamos os sofrimentos de sua gloriosa Mãe, bem como de seus santos apóstolos
Se amamos muito seremos capazes de sofrer muito’.
(7 M 4, 6; C 32, 7)

‘E suspirando chorava,
E da cruz não se afastava
Ao ver que o Filho morria,

5ª Estação
O CIRINEU AJUDA JESUS A LEVAR A CRUZ

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Enquanto o levavam, tomaram um certo Simão de Cirene, que vinha do campo, e impuseram-lhe a cruz para levá-la atrás de Jesus”.
(Lc 23, 26)

“Não é pouco o que faço por ti”.
(V 40, 1)

‘Senhor, em tudo estou entregue ao vosso querer, para seguir-vos por onde quer que fordes, até a morte de cruz, determinada a ajudar-vos a carregá-la e a não deixar-vos sozinho com ela’
(V 11)

‘Pobre Mãe tão desolada,
Ao vê-la assim traspassada,
Quem de dor não choraria?

6ª Estação
VERÔNICA ENXUGA O ROSTO DE JESUS

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“E ali foi transfigurado diante deles. O seu rosto resplandeceu como o sol e as suas vestes tornaram-se alvas como a luz”.
(Mt 17,2)

“Põe os olhos em mim, para que tudo o que fizeres seja conforme ao que eu fiz”.
(R 11)

‘Considero muitas vezes, ó meu Cristo, como são doces e cheios de encanto os olhos que mostrais à alma que vos ama e que quereis olhar com amor. Um só desses dulcissimos olhares, pousado sobre a alma que já tendes por vossa, basta, parece-me, para retribuir-lhe por muitos anos de serviço’.
(C ‘E’ 14, 1)

‘Quem na terra há que resista,
Se a Mãe assim se contrista
Ante uma tal agonia?’

7ª Estação
JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Mas ele foi trespassado por causa de nossas transgressões, esmagado em virtude de nas nossas iniqüidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz, caiu sobre ele, sim, por suas feridas fomos curados”.
(Is 53, 5)

“Como são poucos os que me amam verdadeiramente!”.
(V 40, 1)

‘Peço-vos somente que o olheis... Sabei filhas minhas, que este vosso Esposo jamais vos perde vista... não espera senão um olhar vosso.
Ele porá em vós os seus olhos formosos e piedosos, cheios de lágrimas, esquecendo-se de Suas dores para consolar as vossas. ’
(C 26, 3.5)

‘Para salvar sua gente,
Eis que seu Filho inocente
Suor e sangue vertiam’

8ª Estação
JESUS CONSOLA AS FILHAS DE JERUSALÉM

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Grande multidão do povo o seguia, como também mulheres que batiam no peito e se lamentavam por causa dele”.
(Lc 23, 27)

“Não sou Eu o teu Deus? Não vês quão mal sou tratado ali? Se Me amas, porque não te condóis de mim?”.
(R 27)

‘Não vamos ao menos chorar com as filhas de Jerusalém...
Somos ou não esposas de rei tão importante?Se o somos, que mulher honrada haverá que não participe, mesmo que por sua vontade não o queira, das desonras praticadas contra o seu esposo? Seja como for, da honra e da desonra participam um e outro. Pois é disparate partilhar do Seu reino e dele gozassem querer participar das desonras e sofrimentos’.
(V 27, 13; C 13, 2)

‘Na cruz, por seu Pai chamando,
Vai a cabeça inclinando,
Enquanto escurece o dia’.

9ª Estação
JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“O sopro de nossas narinas, o ungido de Javé, foi preso nas suas fossas”.
(Lam 4, 20)

“Crê, filha, que meu Pai dá maiores sofrimentos àqueles que mais ama, e que a estes responde o amor. Em que te posso demonstrá-lo mais do que ao querer para ti o que quis para mim?”.
(R 36)

‘Tropeçando, caindo com vosso Esposo, não vos afasteis da cruz nem a deixeis. Considerai muito o cansaço com que ele vai caminhando e quão maior é o Seu sofrimento diante do que padeceis, por grandes que queirais pintar. Saireis consoladas dele, pois vereis que são coisas de nada comparadas com o que sofreu o Senhor’.
(C 26, 7)

‘Faze, ó Mãe, fonte de amor,
Que eu sinta em mim tua dor
Para contigo chorar’.

10ª Estação
JESUS É DESPOJADO DE SUAS VESTES

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Jesus dizia: ‘Pai, perdoa-os: não sabem o que fazem’. Depois, repartindo suas vestes, sorteavam-nas”.
(Lc 23, 34)

“Grande coisa é seguir-Me liberto de tudo como Eu me puz na cruz”.
(R 64)

‘Contemplava Cristo na cruz, tão pobre e desnudo, eu lhe suplicava com lágrimas que fizesse as coisas de maneira que eu me visse tão pobre quanto ele’.
(V 35, 3)

‘Faze arde meu coração,
Partilhar sua paixão,
E teu Jesus consolar’.

11ª Estação
JESUS PREGADO NA CRUZ

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Eu, quando for elevado da terra atrairei todos a mim”.
(Jô 12, 32)

“Vê estas chagas, que nunca chegarão a este ponto as tuas dores”.
(R 36)

‘Ponde os olhos no Crucificado e tudo vos parecerá pouco.
Se Sua Majestade nos mostrou o Seu amor com tão espantosas obras e sofrimento, como querei contenta-lo só com palavras? Sabeis o que significa ser de fato espiritual? É fazer-se escravo de Deus, marcado com o Seu selo, o da cruz’.
(7 M 4, 8)

‘Em sangue as chagas me lavem
E no meu peito se gravem,
Para não mais se apagar’.

12ª Estação
JESUS MORRE NA CRUZ

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Era já mais ou menos a hora sexta quando houve trevas sobre a terra inteira até a hora nona, tendo desaparecido o sol. O véu do santuário rasgou-se ao meio, e Jesus deu um grande grito: ‘Pai, em tuas mãos, entrego o meu espírito’. Dizendo isto, expirou”.
(Lc 23, 44-46)

“Filha, Eu quero que o Meu sangue te seja de proveito, e que não tenhas medo de que a minha misericórdia te falte”.
(R 26)

‘Ó Senhor da minha alma e Bem meu, Jesus Cristo Crucificado! Não encontro outro meio para não cair a não ser apegar-me à cruz e confiar naquele que nela foi pregado. Jesus é o Amigo verdadeiro que nunca falta!’
(V 22, 3)

‘Que do Cristo eu traga a morte,
Sua paixão me conforte,
Sua cruz possa abraçar’

13ª Estação
JESUS DEPOSTO DA CRUZ

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Chegada a tarde, veio um homem rico de Arimatéia, chamado José, o qual também se tornara discípulo de Jesus. E dirigindo-se a Pilatos, pediu-lhe o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que lhe fosse entregue. José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo”.
(Mt 27, 57-59)

“Não penses, quando vês minha Mãe tendo-me nos braços, que Eu gozava daquelas consolações sem grave tormento”.
(R 36)

‘Filhas, busquemos nossa consolação em sofrer por amor daquele que tanto sofreu’.
(Vida)

‘Ó dá-me enquanto viver
Com Jesus Cristo sofrer,
Contigo sempre chorar’.

14ª Estação
JESUS COLOCADO NO SEPULCRO

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Em verdade, em verdade, vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto”,
(Jô 12, 24)

“Que temes? Que podes perder senão a vida, que tantas vezes me tens oferecido?”
(R 50)

‘Como já não busca seu contentamento, mas o de Deus, a esposa se compraz em imitar em algum ponto a dolorosíssima vida que Cristo viveu’.
(CAD 7, 8)

‘Quero ficar junto à cruz,
Velar contigo a Jesus,
E o teu pranto enxugar’

15ª Estação
JESUS RESSUSCITA

V. Nós vos adoramos, ó Cristo.
R Porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo

“Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor”
(Ap 5, 12)

“Aqui me vês, filha, pois sou Eu; mostra tuas mãos’, (parecendo-me que as tomava e as aproximava do seu lado. E disse): ’Olha as minhas chagas; Não estás sem Mim. A brevidade da vida passa”.
(R 15)

‘Se estais alegres, vede-O ressuscitado, pois o simples imaginar que Ele saiu do sepulcro vos alegrará. Com que esplendor, com que formosura, com que majestade, quão vitorioso, quão alegre! Como quem se saiu bem da batalha onde conquistou um reino tão importante, que Ele deseja dar-vos por inteiro, junto Consigo’
(C 26, 4)

‘Vindo, ó Jesus, minha hora
Por estas dores de agora
No céu mereça um lugar’.

CONCLUSÃO

“Não tenhas medo, filha, que alguém tenha poder para afastar-te de Mim. até agora não o tinhas merecido; doravante, defenderás Minha honra não só como Criador, como Rei e como teu Deus, mas como verdadeira esposa Minha: Minha honra é a tua, e a tua Minha”.
(R 35)

‘Somos participantes disso, agora passei a ver a coisa de outra maneira e vejo de modo muito diferente o que o Senhor padeceu – como coisa própria – o que me dá grande alívio’.
‘Não se deixe a Paixão e a Vida de Cristo que é de onde nos veio e vem todo bem’.
(R 51; V 13, 13).