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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Santa Teresa: conselheira dos hesitantes

Santa Teresa: conselheira dos hesitantes

ImageSanta Teresa de Ávila, cuja festa é a 15 de Outubro, foi a primeira mulher a ser nomeada Doutora da Igreja. Ela passou a fazer parte do conjunto louvável dos teólogos estudiosos ainda que nos seus escritos, ela seguisse sempre em frente sem se preocupar com as maiúsculas e os parágrafos. Padres mais letrados poriam a pontuação.

A sua família vivia bem, ainda que recentemente, com uma frágil ligação a patentes de nobreza que eles tinham comprado. O avô paterno de Teresa era judeu. Poderíamos considerar a sua educação deficiente, no entanto era a apropriada para a filha de pais prósperos na Espanha do século XVI. A sua prosa é tão viva que talvez possamos estar agradecidos por ela não ter sido formada nos sistemas filosóficos do seu tempo.

A profundidade e a percepção dos tratados espirituais de Teresa influenciaram quase todos os escritos posteriores sobre oração e misticismo na tradição cristã ocidental. Este é um facto que teria espantado a tão prática fundadora da Reforma dos Carmelitas Descalços. Certamente isto lhe seria agradável. Ela escreveu como falou, dando conselhos, considerando as objecções ao que ela estava a dizer, motivando um maior progresso na oração, ainda que ela reflectisse, com pena, sobre a sua anterior falta de generosidade no serviço de Deus.

Chamamos a Teresa uma mística exaltada, mas ela provavelmente preferia apresentar-se como padroeira daqueles que hesitam em dar-se a si próprios completamente a Deus. No princípio, sendo já freira, ela teve de fazer uma escolha difícil entre um convite para a união com Deus e aquelas tentações seculares oferecidas pela cena social de Ávila. Parentes e amigos traziam-lhe todas as bisbilhotices do momento, para discussão no ambiente distendido do locutório do convento. Teresa era uma mulher que hesitava. Ela diz-nos na sua Vida: “por mais de dezoito anos, sofri esta batalha entre a amizade de Deus e a amizade com o mundo”.

A sua era uma luta entre o chamamento de Cristo e o fascínio dos objectivos centrados em si. Abandonando-se à mediocridade, ela conheceu a persistente tentação experimentada por aqueles que desejam não só Deus mas também muitas outras coisas ao lado. Eles dizem: vamos adiar esta decisão de ser cristão com todo o coração. Nós não seremos grandes pecadores, mas também não trabalharemos com afinco para ser santos. Teresa escreveu: “Todas as coisas de Deus me alegravam; todas as do mundo me atavam”.

Hoje vivemos numa cultura em que a liberdade é um valor fundamental. As janelas abriram-se para permitir uma maior liberdade, mas trouxeram mais do que o sol brilhante e o ar puro. Ninguém quer abraçar o rígido “sair do mundo” de décadas anteriores. O prazer legítimo e objectivos valiosos do mundo são parte da nossa vida cristã. Mas o que é que acontece quando a satisfação se transforma em indulgência? Pode o chamamento ao que é cálido e à intimidade levar a um mergulho em águas que afoguem o nosso sentido moral?

Teresa lutou com estes temas como alguém, que seja sério acerca da vida humana em plenitude, o deve fazer. Ela dá-nos uma descrição viva dos seus esforços frustrados para cortar com as relações que a prendiam, atando-a a uma luta fraca pela santidade. Lendo as suas palavras damo-nos conta da vacilação que não vai a lado nenhum mas que só anda à roda. O seu entendimento deste processo pode ser tão valioso como as suas explicações das altas experiências religiosas.

Por fim, foi tomada a sua decisão de andar firmemente numa direcção: para Deus. A cansativa caminhada em ziguezague – uns poucos passos para um lado, uns poucos passos para outro lado – foi deixada para trás. Uma nova energia emergiu com o colapso das defesas que lhe sugavam a energia da sua vontade. Ela viu a sua libertação como o trabalho da graça. Ela cantou uma canção de libertação: “Contei tudo isto devagar para que se possa ver a misericórdia de Deus”. Uma freira de há quatro séculos atrás, dá-nos uma descrição da conversão, não o deixar sérios pecados, mas de, toda a maneira, uma conversão.

Quando está a reflectir no movimento decisivo de tomar a sua vida de modo responsável, ela sublinha dois factores importantes que a apoiam no processo: a oração, que ela vê como amizade com Deus, e a amizade humana. Ela escreve no Caminho de Perfeição: “Um bom modo de ter Deus é falar com os seus amigos, porque sempre se ganha muito com isto”. Nós encontramos confiança e esperança do apoio dos outros que também querem seguir a Cristo. Num mundo frequentemente hostil, estes são os companheiros de caminho que afirmam a nossa escolha de Deus. Quando o caminho é difícil de caminhar, eles estão ao nosso lado para elevarem os nossos espíritos lentos, para ajudar a reacender as cinzas da chama de amor quando elas se estão quase a apagar. Eles afirmam o nosso valor quando perdemos a confiança em nós.

Nós somos membros de Cristo e não caminhamos sós numa confiança pessoal isolada. N’Ele, nós fazemos parte de uma comunidade onde nós somos conscientes das necessidades dos outros e sabemos que eles, por seu lado, são sensíveis às nossas. Os dons únicos de cada um não são para o enriquecimento próprio, mas para a partilha. E nessa partilha esses dons nunca diminuem mas aumentam. A amizade humana é uma força de fortaleza e apoio para avançar espiritualmente.

Teresa avisa-nos: “Eu aconselharia aqueles que praticam a oração a procurar a amizade e a associação com outras pessoas que têm o mesmo interesse”. Ela urge que “uma pessoa que começa verdadeiramente a amar e a servir a Deus fale com alguns outros acerca das suas alegrias e dificuldades”.

A grande mística espanhola deixou-nos páginas que revelam alguém com grande vontade de nos ajudar na vida do dia-a-dia e das escolhas humanas. Ela não nos fala de uma altura distante com frases exaltadas. O seu é um vocabulário terra a terra. Foi dito que ela escreve no palavreado do mercado espanhol. O mercado é uma imagem boa, porque Teresa tem coisas a vender. Ela vem ao nosso encontro, puxa-nos pela manga da camisa. Ela não quer que nos vamos embora até que ela nos mostre alguns dos tesouros que enriqueceram a sua própria vida. E a sua mensagem é persuasiva. Nós também podemos esperar receber tudo o que lhe foi dado a ela.

Ela pega-nos na mão e diz no Caminho, “Para que possas andar neste caminho da oração de modo a que não te desvies, vamos lá a ver como é que a caminhada deve começar”. Ela diz-nos que necessitamos de determinação, mas se nós “não fazemos mais do que dar um passo, o passo conterá em si tanta força” que nós seguiremos em frente e será “muito bem pago”.

Famosa pelas suas explicações sobre os estágios do desenvolvimento da oração, a Madre (como é conhecida em Espanha) quer passar tempo connosco nos primeiros estágios do desejo de Deus e ainda mais. Paralisados como podemos estar na lama da nossa própria ambivalência, Teresa vem até nós com a consoladora segurança de que ela esteve lá e descobriu como sair.


Ir. Margaret Dorgan, DCM