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segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mensagem final dos religiosos e religiosas de Vida Monástica e Contemplativa reunidos em Aparecida



Por ocasião do Encontro Nacional da Vida Monástica e Contemplativa que aconteceu de 16 a 19 de junho próximo passado, os religiosos e religiosas deixaram uma mensagem à Igreja e à sociedade.
Mensagem Final do Encontro Nacional da Vida Monástica e Contemplativa     
(Aparecida (SP), 16-19 de junho de 2012)                                                      
  “Identidade, Mística e Missão”                                                                                      
Nossa pátria é o céu (Fl 3,20)
 
  1. Reunidos em Aparecida, lugar privilegiado da manifestação da fé do povo brasileiro, e onde se pode sentir mais de perto a maternidade carinhosa de Maria, por iniciativa da Conferência dos Religiosos do Brasil e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com o incentivo e aprovação da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, acolhidos calorosamente pela Igreja Local, expressamos nossa alegria e gratidão por esta oportunidade de comunhão e convívio fraterno, reflexão e partilha de experiências, oração e celebração, que nos foram proporcionados. Vemos em tudo isto a solicitude da Igreja para com nossas famílias religiosas.
  2. Com o tema “identidade, mística e missão” e o lema “nossa pátria é o céu” (Fl 3,20), procuramos aprofundar a compreensão de que somos consagrados para responder ao olhar de amor do Senhor por todos nós: “não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16). Somos gratos pelo chamado para a vida monástica e contemplativa, partilhado também por leigos que vivenciam nosso carisma na realidade secular. Reconhecemos que nossa fidelidade a Jesus exige sempre e de novo decisão e empenho, dimensões que marcam o povo de Deus que caminha na história, buscando corresponder à vida de cidadãos do céu (cf. Fl 3,20).
  3. Empenhamo-nos por aprofundar a compreensão de nossa vocação particular na Igreja, nossa identidade, mística e missão; o sentido de pertença e fidelidade criativa à Tradição de nossas famílias religiosas, a conservação do próprio patrimônio espiritual, a comunhão como possibilidade de experiência real do amor vivido e sua celebração diária na liturgia; a dimensão comunitária da experiência de fé, a corresponsabilidade no que diz respeito ao “único necessário” (Lc 10,42), cientes de que “nossa pátria é o céu” (Fl 3,20). Desejamos conservar, alimentar e aprofundar o amor, a fidelidade e a devoção filial à Igreja, ao sucessor de Pedro, em comunhão com a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Possamos, com a graça de Deus, receber a força de tornar visível pelo amor fraterno, a unidade da comunhão trinitária que nos abraça e abençoa. Reconhecemos humildemente a presença entre nós de atitudes contrárias às exigências do seguimento radical de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Fl 3, 18-19). Mas também temos a certeza de que Deus escolhe instrumentos frágeis para testemunhar no mundo seu amor (cf. 1Cor 1, 27-28), e acreditamos que Sua misericórdia é grande (1Pd 1,3).
  4. Somos desafiados no cotidiano pelas consequências da mudança de época em que nos encontramos. Isso faz com que os critérios de compreensão, os valores mais profundos, a partir dos quais se afirmam identidades e se estabelecem ações e relações entrem em crise. Sentimos tal realidade influenciando e desafiando nossa forma de vida. Desejamos, portanto, que nosso testemunho discreto e simples de amor vivido em todas as suas manifestações, possa ser resposta oferecida por nossas comunidades religiosas ao mundo. Em especial, com a Igreja, através da participação em seu mistério pascal e da ascese e da solicitude orante pela humanidade, suas necessidades e intenções, acolhendo as angústias e dores, as alegrias e esperanças dos homens e mulheres de nosso tempo.
  5. Confiamos na força do amor (cf. Ct 8,6). Por isso, “com os olhos fixos em Jesus” (Hb 12,1), vislumbramos um futuro mais harmonioso nas relações entre hierarquia e carisma, dimensões constitutivas da Igreja. Incentivamos uma pedagogia de mútua apreciação, desde os seminários e casas de formação, até a criação de espaços de autêntico diálogo e mútua colaboração.
  6. Renovamos nosso compromisso em testemunhar alegremente no silêncio da vida a força da fidelidade a nossos carismas. Por isso, entre expressões antigas e novas de vida monástica e contemplativa, assumimos o desafio de dar continuidade à experiência da gratuidade do amor e da comunhão entre nós e nossas famílias religiosas, vivida nestes dias em Aparecida. Propomo-nos favorecer e fomentar o caminho aqui iniciado, sob as bênçãos da Senhora Aparecida, pois, reconhecemos que da Igreja recebemos a fé e a consagração; e nela, com gratidão e alegria, nos consagramos ao Senhor sem reserva, característica dos adoradores que o Pai procura.

A EXPERIÊNCIA PESSOAL DA FÉ EM TERESA E APARECIDA



(Maria Neila Sousa Costa – Encarregada da Formação
da Comunidade Rainha do Carmelo, ocds – Fortaleza-CE)

“Louvemos a Deus pelo dom maravilhoso da vida e por aqueles que a honram e dignificam ao colocá-la a serviço dos demais.”
(Doc. de Aparecida nº 106)

I - A BOA NOVA DA VIDA

Todos que verdadeiramente desejam ser discípulos missionários de Jesus devem perguntar como Tomé: “Como vamos saber o caminho?” (João 14, 5).
Jesus nos responde com uma proposta provocadora: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (João 14, 6). Ele é o verdadeiro caminho para o Pai, que tanto amou ao mundo que lhe deu seu Filho único, para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna. (Cf. João 3, 16). Esta é a vida eterna: “Que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo teu enviado” (João 17, 3).

– A fé em Jesus como Filho de Deus Pai é a porta de entrada para a Vida. (Cf. João 10, 9). Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, prova do amor de Deus aos homens. Sua vida é uma entrega radical de si mesmo a favor de todos, consumada definitivamente em sua morte e ressurreição.

– Como discípulos de Jesus, reconhecemos que Ele é o primeiro e maior evangelizador enviado por Deus. (Cf. Lucas 4, 43-44). E ao mesmo tempo o Evangelho de Deus. (Cf. Romanos 1, 3). Acreditamos e anunciamos o “Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. (Cf. Marcos 1, 1).

– Como filhos obedientes à voz do Pai, queremos escutar Jesus – Único Mestre. (Cf. Mateus 23, 8).

– Como seus discípulos, sabemos que suas Palavras são Espírito e Vida. (Cf. João 6, 63-68). Com a alegria da fé, somos missionários para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo.
“Bendigamos a Deus pelo dom da FÉ
que nos permite viver em aliança com Ele
 até o momento de compartilhar a Vida Eterna”
(Doc. de Aparecida nº 104)

“Bendigamos ao Pai porque, mesmo entre dificuldades e incertezas, todo homem aberto sinceramente à verdade e ao bem comum pode chegar a descobrir, na lei natural escrita em seu coração (Cf. Romanos 2, 14-15) o valor sagrado da VIDA humana desde seu início até seu fim natural, e afirmar o direito de cada ser humano de ver respeitado este seu bem primário.” (Doc. de Aparecida nº 108).

2.1 – Diante de uma vida sem sentido, Jesus nos revela a Vida íntima de Deus em seu mistério mais elevado, a comunhão trinitária. É tal o amor de Deus, que faz do homem, peregrino neste mundo, sua morada: “Viremos a ele e viveremos nele”. (Cf. João 14, 23).

2.2 – Frente ao desespero de um mundo sem Deus, que só vê na morte o final definitivo da existência, Jesus nos oferece a Ressurreição e a Vida Eterna na qual Deus será tudo em todos. (Cf. Coríntios 15, 28).

2.3 – Diante da idolatria dos bens terrenos, Jesus apresenta a Vida em Deus como valor supremo: “De que vale alguém ganhar o mundo e perder a própria vida?” (Marcos 8, 36). É próprio do discípulo de Jesus gastar a vida como sal da terra e luz do mundo.

2.4 – Mediante o individualismo, Jesus convoca a viver e caminhar juntos. A vida cristã só se aprofunda e se desenvolve na comunhão fraterna. Jesus nos diz: “Um é o seu Mestre, e todos vocês são irmãos.” (Mateus 23, 8).

2.5 – Santa Teresa de Jesus, no Caminho de Perfeição, Capítulo 4, nos fala da Caridade Fraterna: “Amai-vos muito umas às outras, é de suma importância, porque entre os que se amam não há coisa difícil de suportar que não se releve com facilidade. Se no mundo este mandamento fosse cumprido como deveria ser, muito contribuiria para se observarem os demais.” Na obra sobre as Fundações Santa Madre Teresa ressalta a importância do “recreio” para favorecer a fraternidade quando faz questão que São João da Cruz conheça bem o modo de viver das monjas.

“Entre os que se amam não há coisa difícil de suportar
 que não se releve com facilidade”
(Santa Teresa de Jesus)

II - A Vocação dos Discípulos Missionários
à Santidade

Chamados ao seguimento de Jesus Cristo.
Deus Pai sai de si para nos chamar a participar de sua Vida e de sua Glória. Mediante Israel, povo que fez seu, Deus nos revela seu projeto de vida. Cada vez que Israel procurou Deus e necessitou dele, sobretudo nas desgraças, teve singular experiência de comunhão com Ele, que o fazia partícipe de sua Verdade, sua Vida e sua Santidade.

– Nestes últimos tempos, Ele nos falou por meio de seu Filho Jesus (Cf. Hebreus 1, 1ss) com quem chega a plenitude dos tempos (Cf. Gálatas 4, 4) Deus, que é Santo e nos ama, nos chama por meio de Jesus a sermos santos (Cf. Efésios 1, 4-5).

O chamado que Jesus Mestre faz, implica uma grande novidade.

2.1 – Na antiguidade, os mestres convidavam seus discípulos a se vincular com algo transcendente e os mestres da Lei propunham a adesão à Lei de Moisés.

2.2 – Jesus convida a nos encontrar com Ele e a que nos vinculemos estreitamente a Ele, porque é a Fonte da Vida (Cf. João 15, 1-5) e só Ele tem palavras de vida eterna (Cf. João 6, 68).

2.3 – Há duas coisas bem originais no relacionamento com Jesus:
Por um lado, não foram eles que escolheram seu mestre, foi Cristo quem os escolheu.
E por outro lado, eles não foram convocados “para algo” (purificar-se, aprender a Lei...), mas “para alguém”, escolhidos para se vincularem intimamente à Pessoa dele (Cf. Marcos 1, 17; 2, 14).

Jesus os escolheu para que “estivessem com Ele e enviá-los a pregar” (Cf. Marcos 3, 4) para que o seguissem com a finalidade de “ser dele” e fazer parte “dos seus” e participar da sua missão. Com a parábola da videira e dos ramos (João 15, 1-8), Jesus revela o tipo de vínculo que ele oferece e que espera dos seus.

2.4 – Jesus quer que seu discípulo se vincule a ele como “amigo” e como “irmão”.
O Amigo:
ingressa em sua vida;
escuta Jesus;
conhece o Pai e faz fluir a vida de Jesus Cristo na própria existência.
O Irmão:
participa da vida do Ressuscitado, Filho do Pai celeste, porque Jesus e seu discípulo compartilham a mesma vida que procede do Pai. Jesus, por natureza, o discípulo por participação.

Santa Teresa de Jesus, nossa mãe, deseja formar amigos fortes de Deus.
Para ela a verdadeira oração é um trato de amizade com Deus: “A meu ver, oração não é outra coisa senão tratar intimamente com aquele que sabemos que nos ama.” (Vida, 8, 5).

3.1 – De acordo com as nossas Constituições a nossa Ordem Carmelita, frades, monjas e seculares:
formamos uma só família;
com os mesmos bens espirituais;
com a mesma vocação à santidade;
com a mesma missão apostólica.

3.2 – Ainda segundo as nossas Constituições:
os membros da Ordem Secular dos Carmelitas Descalços são fiéis da Igreja chamados a viver “em obséquio de Jesus Cristo” através da “amizade com quem sabemos que nos ama”.

3.3 – O compromisso da “Promessa” de viver o espírito das Bem-Aventuranças:
nas Bem-Aventuranças se encontra um plano de vida e um modo de entrar em relação com o mundo, com os familiares, com os vizinhos e companheiros de trabalho e com os amigos.
ao prometer viver as Bem-Aventuranças na vida cotidiana, tratam de dar testemunho de vida evangélica como membros da Igreja e da Ordem e, por este testemunho, convidam o mundo a seguir Cristo: Caminho, Verdade e Vida. (João 14, 6).

Conforme o Doc. de Aparecida, nº 133, Jesus faz dos discípulos seus familiares porque:
compartilha com eles a mesma vida que procede do Pai;
lhes pede, como discípulos, uma união íntima com Ele, obediência à Palavra do Pai, para produzirem frutos de amor em abundância.

Como discípulos e missionários, somos chamados:
a intensificar nossa resposta de fé e anunciar que Cristo redimiu todos os pecados e males da humanidade.

A resposta a seu chamado exige entrar na dinâmica do Bom Samaritano que nos dá o imperativo de:
nos fazer próximos, especialmente de quem sofre;
gerar uma sociedade sem excluídos seguindo a prática de Jesus:
- que come com os publicanos e pecadores; (Lucas 5, 29-32)
- que acolhe os pequenos e as crianças; (Marcos 10, 13-16)
- que cura os leprosos; (Marcos 1, 40-45)
- que perdoa e liberta a mulher pecadora; (Lucas 7, 36-49); (João 8, 1-11)
- que fala com a Samaritana. (João 4, 1-26)

Parecidos com o Mestre.

7.1 – A admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam:
uma resposta consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo;
uma adesão a toda a sua pessoa ao saber que Cristo o chama pelo nome. (Cf. João 10, 3).

7.2 – É um “sim” que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, “Caminho, Verdade e Vida”. (João 14, 6).

7.3 – É uma resposta de amor a quem o amou primeiro “até o extremo” (João 13, 1). A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: “Eu te seguirei por onde quer que vás.” (Lucas 9, 57). Para ficar verdadeiramente parecido com o Mestre, é necessário assumir a centralidade do Mandamento do Amor: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei.” (João 15, 12). Este amor, com a medida de Jesus, com total dom de si, além de ser o diferencial de cada cristão, não pode deixar de ser a característica de sua Igreja, comunidade discípula de Cristo, cujo testemunho de caridade fraterna será o primeiro e principal anúncio: “Nisso conhecerão todos que sois os meus discípulos.” (João 13, 35).

Enviados a anunciar o Evangelho do Reino da Vida.

8.1 – Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, com palavras e ações e com sua morte e ressurreição, inaugura no meio de nós o Reino de Vida do Pai, que alcançará sua plenitude lá onde não haverá mais “nem morte, nem luto, nem pranto, nem dor.” (Apocalipse 21, 4).

8.2 – Durante sua vida e com sua morte na cruz Jesus permanece fiel ao seu Pai e à sua vontade. (Cf. Lucas 22, 42).

8.3 – Durante o ministério de Jesus, os seus discípulos não foram capazes de compreender que o sentido de sua vida selava o sentido de sua morte. Muito menos compreender que, segundo o desígnio do Pai, a morte do Filho era fonte de vida fecunda para todos. (Cf. João 12, 23-24).

8.4 – O mistério Pascal de Jesus é o ato de obediência e amor ao Pai e de entrega por todos seus irmãos.

8.5 – Ao chamar os seus para que o sigam, Jesus lhes dá uma missão muito precisa:
anunciar o Evangelho do Reino a todas as nações; (Cf. Mateus 28, 19 e Lucas 24, 46-48).
todo discípulo é missionário, pois Jesus o faz partícipe de sua missão, ao mesmo tempo que o vincula como amigo e irmão;
dessa maneira, como Jesus é testemunha do mistério do Pai, assim os discípulos são testemunhas da morte e ressurreição do Senhor.
cumprir essa missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã. Quando o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só ele salva. (Cf. Atos 4, 12).

“Quando o discípulo está apaixonado por Cristo,
não pode deixar de anunciar ao mundo que ele salva”

III – O Caminho de Formação
 dos Discípulos Missionários
(Doc. de Aparecida nº 240)

O encontro com Jesus Cristo.
Uma autêntica proposta de encontro com Jesus Cristo deve estabelecer-se sobre o sólido fundamento da Trindade-Amor. A experiência batismal é o ponto de início de toda espiritualidade cristã que se funda na Trindade.

– O acontecimento de Cristo é, portanto, o início desse sujeito novo que surge na história e a quem chamamos discípulo:
não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma idéia;
começamos a ser cristão através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva.

Em Santa Madre Teresa de Jesus esse encontro ou esta união com Cristo é fundamental quando nas suas obras nos mostra a sua experiência pessoal e amorosa com “aquele que sabemos que nos ama”, e isso passa pela oração.

Lugares de encontro com Jesus Cristo.
O encontro com Cristo, graças à ação invisível do Espírito Santo, realiza-se na fé recebida e vivida na Igreja. O Papa Bento XVI nos fala: “A Igreja é nossa casa! Esta é nossa casa! Na Igreja Católica temos tudo que é bom, tudo que é motivo de segurança e de consolo! Quem aceita a Cristo: Caminho, Verdade e Vida, em sua totalidade, tem garantida a paz e a felicidade nesta e na outra vida.” (V.Doc.Apar.246).

2.1 – Encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida na Igreja. O Papa Bento XVI faz a todos nós um convite: “Ao iniciar a nova etapa que a Igreja Missionária da América Latina e do Caribe se dispõe a empreender, a partir desta V Conferência em Aparecida, é condição indispensável o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus, por isso, é necessário educar o povo na leitura e na meditação da Palavra.” (...) “É preciso fundamentar nosso compromisso missionário e toda a nossa vida na rocha da Palavra de Deus.” (grifamos. Doc. de Aparecida nº 247).

Para nós carmelitas este convite do Papa vem de encontro ao que já somos chamados através de nossas Constituições quando nos diz que devemos ser diligentes na meditação da Lei do Senhor.
A Regra de Santo Alberto é a expressão original da espiritualidade do Carmelo. Foi escrita para leigos que se reuniram no Monte Carmelo para viver uma vida dedicada à meditação da Palavra de Deus, debaixo da proteção da Virgem Maria. De acordo com o número 35 das nossas Constituições, temos que: “A identidade carmelitana é confirmada por meio da formação na Escritura e na Lectio Divina, na importância da liturgia da Igreja, especialmente da Eucaristia e da Liturgia das Horas e na Espiritualidade do Carmelo, sua história, as obras dos santos da Ordem e a formação na oração e meditação.” (grifamos).

Entre as muitas formas de se aproximar da Sagrada Escritura existe uma privilegiada à qual todos somos convidados: a Lectio Divina ou exercício de leitura orante da Sagrada Escritura. Essa leitura bem praticada conduz ao encontro com Jesus-Mestre.
Com seus quatro momentos: leitura + meditação + oração + contemplação, a leitura orante favorece o encontro pessoal com Jesus Cristo.

2.2 – Encontramos Jesus ainda:
na Sagrada Liturgia;
na Eucaristia (lugar privilegiado);
no Sacramento da Reconciliação;
na oração pessoal e comunitária;
na comunidade e no amor fraterno.

O Doc. de Aparecida nº 255, nos diz que: “A oração pessoal e comunitária é o lugar onde o discípulo, alimentado pela Palavra e pela Eucaristia, cultiva uma relação profunda de amizade com Jesus Cristo e procura assumir a vontade do Pai. A oração diária é sinal do primado da graça no caminho do discípulo missionário.”
Diante de tudo isso, constatamos ainda mais a importância que Santa Madre Teresa de Jesus dá a oração e nos pede que não a abandonemos, conforme Caminho de Perfeição, nos Capítulos 23, 24 e 25.

Maria, discípula e missionária.

3.1 – A máxima realização da existência cristã como um viver trinitário de “filhos no Filho” nos é dada na Virgem Maria que, através de sua fé (Cf. Lucas 1, 45) e obediência à vontade de Deus (Cf. Lucas 1, 38), assim como por sua constante meditação da Palavra E das Ações de Jesus (Cf. Lucas 2, 19. 51) é a discípula mais perfeita do Senhor.

3.2 – Maria, que “conservava todas estas recordações e as meditava no coração” (Lucas 2, 19; 2, 51) ensina-nos o primado da escuta da Palavra na vida do discípulo missionário. O Magnificat está inteiramente tecido pelos fios da Sagrada Escritura. Assim revela-se que nela a Palavra de Deus se encontra de verdade em sua casa, de onde sai e entra com naturalidade:
ela fala e pensa com a Palavra de Deus;
a Palavra de Deus se faz a sua palavra e sua palavra nasce da Palavra de Deus;
seus pensamentos estão em sintonia com os pensamentos de Deus e seu querer é um querer junto de Deus;
estando intimamente penetrada da Palavra de Deus, ela pôde chegar a ser a Mãe da Palavra encarnada.

Essa familiaridade com o mistério de Jesus é facilitada pela reza do Rosário, onde: “O povo cristão aprende com Maria a contemplar a beleza do rosto de Cristo e experimentar a profundidade de seu amor.” (Doc. Aparecida nº 271).

Segundo nossas Constituições, temos que:
“Os Carmelitas Seculares, junto com os Frades e as Monjas, são filhos e filhas da ORDEM DE NOSSA SENHORA DO MONTE CARMELO E DE SANTA TERESA DE JESUS.” (Cap. I, nº 1).
“Os membros da Ordem Secular dos Carmelitas Descalços são fiéis da Igreja chamados a viver “em obséquio de Jesus Cristo” através “da amizade com quem sabemos que nos ama”, servindo à Igreja. Debaixo da proteção de Nossa Senhora do Monte Carmelo, segundo a inspiração de Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz e da Tradição do Profeta Elias, que buscam aprofundar o compromisso cristão recebido no batismo.” (Cap. I, nº 3).

A Virgem Maria se faz presente de maneira especial, sobretudo como Modelo de Fidelidade na escuta do Senhor e em atitude de Serviço a ele e aos demais.
Maria é aquela que conservava e meditava em seu coração a vida e as ações de seu Filho, dando exemplo de contemplação.

O papel da oração na espiritualidade Teresiana.

4.1 – A oração para Santa Teresa é fundamental. É ponto de partida. É a base de toda espiritualidade. De acordo com o Livro da Vida, no Capítulo 8, temos:
“Quisera ter licença para dizer as muitas vezes que nesse tempo faltei a Deus, por não está amparada à forte coluna da oração.”
“Vejo a grande misericórdia que o Senhor me fez dando-me ânimo para a oração, enquanto eu lidava com o mundo.”
“É certo que estamos sempre diante de Deus, mas, para os que tratam de oração, é de outra maneira.”
“Entenda o grande bem que Deus faz a uma alma dispondo-a a ter oração com vontade, mesmo não estando totalmente bem disposta.”
“Se perseverar na oração, apesar de pecados, tentações e quedas de mil maneiras que o demônio lhe ocasione, tenho por certo que finalmente o Senhor a conduzirá ao porto da salvação, como ao que agora, parece, me conduziu.”
“Quem começou a se entregar à oração, não a deixe, por mais pecados que faça. Com ela terá meios de se recuperar, ao passo que sem ela será muito mais difícil.”
“A quem ainda não começou, rogo, por amor do Senhor, que não se prive de tanto bem.”
“Se perseverar neste santo exercício, espere tudo na misericórdia de Deus, sabendo que ninguém o tomou por amigo sem ser amplamente recompensado.”
“A meu ver, a oração não é outra coisa senão tratar intimamente com aquele que sabemos que nos ama, e estar muitas vezes conversando a sós com ele.”
“Se a oração faz tanto bem e é tão necessária aos que não servem a Deus e até o ofendem, ninguém pode objetar maior dano que o de não a ter. se assim é, digo: por que hão de deixá-la os que servem a Deus e querem servi-lo?”
“Só digo que a oração foi a porta para os favores tão grandes que Sua Majestade me tem feito. Fechada esta porta, não sei como poderá conceder esses favores.”
“Depois que comecei a ter oração, quase nunca me cansava de falar ou ouvir falar de Deus.”

4.2 – Em seu livro “Castelo Interior”, no Capítulo 1, Santa Teresa assim nos fala:
“Uma pessoa muito douta dizia-me, há pouco tempo, que as almas sem oração são semelhantes a um corpo entrevado ou paralítico.”
“Pelo que entendo, a porta para entrar neste castelo é a oração, a meditação.”

“Ao meu ver,
a oração não é outra coisa senão tratar intimamente
 com aquele que sabemos que nos ama,
 e estar muitas vezes conversando com ele.”
(Santa Teresa de Jesus)


Louvado seja
Nosso Senhor Jesus Cristo! 

“Enraizados em Cristo... (Cl 2,7), anunciem suas misericórdias (Mc 5,19)


 O broto nascido cresce e expande suas raízes


Irmã Maria José da Santa Face, OCD – 
Carmelo de Camaragibe/Recife

            Somos todos convidados a sermos “perfeitos como o Pai celeste é perfeito”. E o caminho para chegar a perfeição é seguir Jesus Cristo. Ele é o verdadeiro modelo. Só enraizados em Cristo o broto cresce, expande suas raízes e dá frutos. É assim que vemos nossa Ordem. A montanha do Carmelo era povoada por profetas corajosos que sabiam caminhar nas noites da Fé. A seus exemplos foram se agregando outros com essa mesma Fé e sentindo o desejo de subir e permanecer na montanha em adoração. Até hoje na faltam almas generosas que querem seguir este caminho da busca e de união com Deus, seguindo e sendo os semeadores da Palavra de Deus. Assim, estamos vendo o Carmelo brotando, enraizando, crescendo e dando frutos dentro do Povo de Deus.
            Eu nunca tinha procurado conhecer a Ordem Secular, por isso não lhe dava tanta importância nem lhe valorizava. Quis Deus colocar-me junto a este pequeno grupo para viver com eles todas as dificuldades que passaram em todos os sentidos, Procurando orientação para começar tudo de acordo com a Ordem. As visitas dos frades e de membros da Ordem Secular sempre deixavam esperança. Para o tempo que freqüentam já era para ter membros com as promessas definitivas. O que vejo é seus esforços, dedicação, entusiasmo, interesse pela formação e, principalmente, a perseverança e freqüência nas reuniões. Tudo isso é de quem deseja conhecer e viver enraizados em Cristo, crescendo e amadurecendo. Confio que darão muitos frutos.
            Quando Gustavo, cheio de otimismo e alegria disse-me que o Congresso seria aqui, conhecendo a situação do grupo, por serem poucos e quase todos trabalharem, e em geral com dificuldades financeiras, não fui de acordo. Achava cedo para enfrentarem esta responsabilidade. Como vale o ditado de que a união faz a força, venceram as dificuldades com Fé, confiança em Deus e otimismo.
            Hoje sinto-me feliz de ver que a Ordem Secular está crescendo, não só em quantidade, no desejo de santidade, procurando aprofundar a espiritualidade dos nossos fundadores.
            O Beato João Paulo II, no encerramento do 4º Centenário da morte de Santa Teresa, convidou os Carmelitas a pôr seu carisma a serviço da Igreja.
            Sabemos que o Carmelo tem a missão de não deixar morrer a chama da intimidade com Deus, mesmo nos momentos difíceis de deserto e solidão, ou quando a lâmpada do Senhor não parece brilhar. O Carmelo continua a recordar que o Senhor da história caminha e permanece conosco nos envolvendo na sua luz e no diálogo amoroso com Ele nos tornando ramos vivos e férteis que produzem frutos. Aos que acreditam no amor de Deus, Ele dá a certeza de que o caminho do amor está aberto a todos e não é inútil o esforço para formar e viver em fraternidade que se torna universal.
            É por isso que estamos aqui reunidos para responder ao chamado para sermos santos cada um no seu estado de vida.
            Pedimos ao Senhor e a Nª Mãe Ssma. do Carmo que este Congresso aumente no coração de cada um este desejo: Ser santo!



sábado, 23 de junho de 2012

-MARIA E A MISSÃO-


ANA STELA, OCDS

IX Congresso Provincial Norte-Nordeste.
TEMA: “O broto nascido cresce e expande suas raízes”.
LEMA: “Enraizados em Cristo... (Cl 2,7), anunciem suas misericórdias (Mc 5,19).
        Como brotos nascidos a partir da vontade livre de Deus que nos amou por primeiro, nesse amor crescemos e nos expandimos. Esse amor é Deus que se fez um de nós na pessoa de Jesus Cristo. “Ele nos escolheu em Cristo antes da criação do mundo para que sejamos santos e sem defeito diante dele, no amor” (Ef 1,4). Portanto, em Cristo o Pai deseja que todo o ser humano crie raízes e a partir da experiência com seu Filho nos tornemos seus discípulos.
          “A todos nos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva"(243)¹. Essas palavras do Papa Bento XVI nos enche de alegria e ânimo, pois, nos reporta à experiência de nossa Santa Madre Teresa que nos ensina nos seus escritos, principalmente, no livro da Vida, que foi o seu encontro PESSOAL com Cristo que a fez outra cristã e carmelita. Para nós cristãos, filhos de Teresa, carmelitas, ver que uma pessoa tão próxima de nós como é nossa Santa Madre teve uma experiência pessoal com Cristo e nos diz ser mister esse encontro pessoal  para  dar novo rumo e verdadeiro sentido à nossa vida espiritual, faz brotar em nós esse sentimento de determinação, de escolha por Cristo.
Também na Carta Apostólica “Porta da Fé” o Papa Bento nos anima a usar esse dom que é a FÉ, a testemunhar com coragem no mundo esse Cristo que nos encanta: “Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite  perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim.”7
A admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo, uma adesão a toda a sua pessoa ao saber que Cristo o chama pelo nome (cf. Jo 10,3). É um "sim" que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6). É uma resposta de amor a quem o amou primeiro "até o extremo" (cf. Jo 13,1). A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: "Eu te seguirei por onde quer que vás" (Lc 9,57).¹
 É na pessoa de Jesus que encontramos o Caminho, Verdade e Vida para chegarmos ao Pai. E na pessoa de Maria encontramos o modelo perfeito que nos guia na caminhada para Cristo.
A Santíssima Virgem é o meio de que Nosso Senhor se serviu para vir a nós; e é o meio de que nos devemos servir para ir a Ele ².
        Escolhendo o Cristo como nosso Caminho e volvendo nosso olhar para Maria, nela encontramos as dimensões de FILHA, MÃE E SERVA que nos ajudarão a encontrarmos as motivações necessárias para empreendermos o nosso caminho de discípulos e missionários de seu Filho, Jesus.
        MARIA FILHA:
        O Espírito Santo preparou Maria com sua graça. Convinha que fosse “cheia de graça” a mãe daquele em quem “habita corporalmente a Plenitude da Divindade” (Cl 2,9). Por pura graça, ela foi concebida sem pecado como a mais humilde das criaturas, a mais capaz de acolher o Dom inefável do Todo-Poderoso.
        Deus enviou seu Filho, mas para formar-lhe um corpo quis a livre cooperação de uma criatura. Por isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galileia, “uma Virgem desposada com um homem chamado José, da casa de Davi, e o nome da Virgem era Maria” (Lc 1,26-27)”. 6
        O dogma da Imaculada Conceição proclamado em 1854 nos mostra que Maria foi redimida desde a concepção:
        A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original. 6
        Maria cheia de graça, preservada da mancha do pecado reconhece o dom de Deus em si e por isso, cheia de humildade exclama: “... Porque Ele olhou prá humildade de sua serva, doravante todas as gerações hão de me chamar Bendita”.
        MARIA MÃE DO REDENTOR:
        “Pois a Virgem Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo de Deus no coração e no corpo e trouxe ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor”4.
        Maria é a "cheia de graça", porque a Encarnação do Verbo, a união hipostática do Filho de Deus com a natureza humana, se realiza e se consuma precisamente nela.³
        A saudação e o nome "cheia de graça" no contexto do anúncio do Anjo, referem-se em primeiro lugar à eleição de Maria como Mãe do Filho de Deus. Todavia, a plenitude de graça indica ao mesmo tempo toda a profusão de dons sobrenaturais com que Maria é beneficiada em relação com o fato de ter sido escolhida e destinada para ser Mãe de Cristo.³
        A Sagrada Escritura no livro do Gênesis nos revela que Maria quando do pecado de nossos primeiros pais, já era esperada como o canal por onde a graça de Deus chegaria aos homens, livrando-os da escravidão do pecado.
 “Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação pela qual o advento de Cristo neste mundo é lentamente preparado. Aqui se manifesta com maior nitidez a figura da mulher, Mãe do Redentor. Ela é profeticamente esboçada na promessa dada aos primeiros pais caídos no pecado, quando se fala da vitória Sobre a serpente (cf Gn 3,15). De modo semelhante é esta Virgem que conceberá e dará à luz um filho cujo nome será Emanuel (Is 7,14; cf Miq 5,2-3; Mt 1,22-23)”4.
        No Ofício das Leituras, na Liturgia das Horas encontramos esta homilia de S. João Crisóstomo que reflete de forma magnífica a tríade Cristo com sua morte, Maria e a Cruz como meios para a salvação dos homens:
        “Viste que vitória admirável? Viste os magníficos prodígios da cruz? Posso dizer-te alguma coisa ainda mais admirável? Ouve o modo como se deu a vitória e então ficarás sumamente maravilhado. Cristo venceu o diabo valendo-se dos mesmos meios com que este tinha vencido: e, tomando as mesmas armas que ele tinha usado, derrotou-o. Ouve como fez.
        A virgem, o lenho e a morte foram os sinais de nossa derrota. A virgem era Eva, pois ainda não conhecera homem; o lenho era a árvore; a morte, o castigo de Adão. E eis que de novo a virgem, o lenho e a morte, que foram sinais da nossa derrota, se tornaram sinais de nossa vitória. Com efeito, em vez de Eva está Maria; em vez da árvore da ciência do bem e do mal, o lenho da cruz; em vez de Adão, a morte de Cristo.5
                Maria fazendo-se serva do Senhor se torna Mãe de Deus, Mãe do redentor. O sim de Maria e o sim de Jesus ao vir ao mundo:
        A palavra de Deus vivo, anunciada pelo Anjo a Maria, referia-se a ela própria: "Eis que conceberás e darás à luz um filho" (Lc 1, 31). Acolhendo este anúncio, Maria devia tornar-se a "Mãe do Senhor" e realizar-se-ia nela o mistério divino da Encarnação: "O Pai das misericórdias quis que a aceitação por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a Encarnação". E Maria dá esse consenso, depois de ter ouvido todas as palavras do mensageiro. Diz: "Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 38). Este fiat de Maria - "faça-se em mim" - decidiu, da parte humana, do cumprimento do mistério divino. Existe uma consonância plena com as palavras do Filho que, segundo a Carta aos Hebreus, ao vir a este mundo, diz ao Pai: "Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-me um corpo... Eis que venho... para fazer, ó Deus, a tua vontade" (Hebr 10, 5-7). O mistério da Encarnação realizou-se quando Maria pronunciou o seu "fiat": "Faça-se em mim segundo a tua palavra", tornando possível, pelo que a ela competia no desígnio divino, a aceitação do oferecimento do seu Filho.³
MARIA SERVA:       
 Na Anunciação a missão de Mãe e Serva em Maria se encontram de forma perfeita. É mister para ela que na fé conceba Jesus, como nos escreve Santo Agostinho e verbalize a sua aceitação se colocando humildemente diante de Deus que, então, se encarna em seu seio. Apesar de não compreender a dimensão do seu “SIM” que a levará a participar do sofrimento do servo sofredor de que fala Isaías, Maria aceita com determinação e age como diz: “EIS AQUI A SERVA DO SENHOR”.
 “Quis, porém o Pai das misericórdias que a encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que assim como a mulher contribuiu para a morte, a mulher também contribuísse para a vida”.4
        Os padres antigos afirmam: “O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade, a Virgem Maria desligou pela fé. Comparando Maria com Eva, chamam-na mãe dos viventes e com freqüência afirmam: Veio a morte por Eva e a vida por Maria.” 6
        Maria nos mostra na sua experiência de Mãe de Jesus e em cada etapa da vida do Filho o seu testemunho de serva do Senhor. Desde a Anunciação até o Gólgota  e depois em Pentecostes está lá a Mãe e a serva unida a Cristo. E muito nos ensina...
A união com Cristo assim se manifesta quando:
 Maria levantando-se com pressa para visitar Isabel, é saudada como bem-aventurada por causa de sua fé na salvação prometida e o precursor exultou no seio da mãe (cf Lc 1,41-45).
  A Mãe  de Deus mostrou cheia de alegria aos pastores e magos Seu Filho primogênito.
Depois de oferecido o óbulo dos pobres, apresentou-O no templo ao Senhor, ouviu a Simeão prenunciando simultaneamente que o Filho seria um futuro sinal de contradição e uma espada perpassaria a alma da mãe, para se revelassem os pensamentos de muitos corações. (cf Lc 2, 34-35).
O menino Jesus se perde seus pais o procuram com dor, encontram-no no templo ocupado nas coisas que eram de seu Pai; e não entenderam a palavra do Filho. Mas, sua Mãe conservava tudo isto em seu coração para meditar. (Lc 2, 41-45).

Lá no começo da vida pública de Jesus, quando para as núpcias em Caná da Galiléia, movida de misericórdia, conseguiu por sua intercessão o início dos sinais de Jesus, o Messias.
No decurso da pregação de seu filho ela recebeu as palavras pelas quais, exaltando o Reino acima de raças e vínculos de carne e sangue, Ele proclamou bem-aventurados os que ouvem e guardam a Palavra de Deus, tal como ela mesma fielmente o fazia
Manteve fielmente sua união com o Filho até a cruz, onde esteve não sem desígnio. Veementemente sofreu junto com seu Unigênito. Pelo próprio Cristo Jesus moribundo na cruz foi dada como Mãe ao discípulo com estas palavras: “Mulher, eis aí teu Filho. As palavras que Jesus pronuncia do alto da Cruz significam que a maternidade da sua Genetriz tem uma "nova" continuação na Igreja e mediante a Igreja, simbolizada e representada por São João. ³
Os apóstolos antes do dia de Pentecostes “perseverando unanimemente em oração com as mulheres e Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos d’Ele, e outrossim Maria implorando com suas preces o dom do Espírito, o qual já na Anunciação a havia coberto com sua sombra. Finalmente, a Imaculada Virgem preservada imune de toda mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste.4

 MARIA E A IGREJA: A IGREJA NA IMITAÇÃO DE MARIA

        Maria em sua materna missão a favor dos homens não diminui a única mediação entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo; mas ostenta a sua potência e até favorece esta união.4
        A Bem-aventurada Virgem está também intimamente relacionada com a Igreja. No mistério da Igreja ela ocupa um lugar eminente e singular como modelo de virgem e de mãe.4
        Por certo a Igreja, contemplando-lhe a arcana santidade, imitando-lhe a caridade e cumprindo fielmente a vontade do Pai, mediante a palavra de Deus recebida na fé torna-se também ela mãe. Pois, pela pregação e pelo batismo ela gera para a vida nova e imortal os filhos concebidos do espírito santo e nascidos de Deus. Ela é também Virgem que íntegra e puramente guarda a palavra dada ao Esposo. Imitando a Mãe do seu senhor, pela virtude do Espírito Santo conserva virginalmente uma fé íntegra, uma sólida esperança e uma sincera caridade.4
        Maria nos dá exemplo de como devemos ser igreja que convida à conversão, testemunha na vivência dos sacramentos a fé no Cristo que morreu e ressuscitou. Mais, atentos aos sinais dos tempos e urgência de evangelizar nos dispomos a observar onde está faltando o vinho de vida eterna no mundo e convidar a encher as talhas da alma de água nova; para ao toque de Cristo restaurar a vida humana.
IMPORTANTe: Saibam os fiéis que a verdadeira devoção não consiste num estéril e transitório afeto, nem numa certa vã credulidade, mas procede da fé verdadeira pela qual somos levados a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, excitados a um amor filial para com nossa mãe e à imitação das suas virtudes.4
 A ação da Igreja no mundo é como que um prolongamento da solicitude de Maria: aquele amor operoso de que a Virgem Santíssima dá mostras, realmente, em Nazaré, em casa de Isabel, em Caná e sobre o Gólgota, todos estes, momentos "salvíficos" de vasto alcance eclesial, encontra a sua continuidade na preocupação materna da Igreja para que todos os homens cheguem ao conhecimento da verdade (cf.1Tm 2,4), nos seus cuidados para com os humildes, os pobres e os fracos, e na sua aplicação constante em favor da paz e da concórdia social, no seu prodigalizar-se, enfim, para que todos os homens tenham parte na Salvação que a morte de Cristo lhes mereceu.8
        A Igreja manifesta através do culto à Virgem Maria  na Liturgia a sua admiração e o desejo de imitar suas virtudes na sua missão de sacramento de salvação. Assim, em todos os tempos ela tem se voltado à Maria, como exemplo à Nossa Senhora do Carmo, procurando levar seus filhos a celebrar os louvores de Cristo, contemplando sua serva que nos oferece o escapulário como meio de salvação através do serviço.  Liturgia é um culto que exige um modo de proceder na vida coerente, nela se implora poderem os féis traduzir o culto à Virgem Maria, num amor bem concreto e sofrido pela Igreja, como admiravelmente propõe, a oração após a comunhão da festa de 15 de setembro: "...que, recordando as dores de Nossa Senhora, completemos em nós, para o bem da Igreja, o que falta à paixão do Cristo".8
        A Igreja contemplando Maria vê:
        Com grata surpresa, que Maria de Nazaré, apesar de absolutamente abandonada à vontade do Senhor, longe de ser uma mulher passivamente submissa ou de uma religiosidade alienante, foi, sim, uma mulher que não duvidou em armar que Deus é vingador dos humildes e dos oprimidos e derruba dos seus tronos os poderosos do mundo (cf. Lc 1,5153); e reconhecerá em Maria, que é "a primeira entre os humildes e os pobres do Senhor" (LG 55), uma mulher forte, que conheceu de perto a pobreza e o sofrimento, a fuga e o exílio (cf. Mt 2,13-23), situações, estas, que não podem escapar à atenção de quem quiser secundar, com Espírito evangélico, as energias libertadoras do homem e da sociedade; e não lhe aparecerá Maria, ainda, como uma mãe ciosamente voltada só para o próprio Filho divino, mas sim como aquela Mulher que, com a sua ação, favoreceu a fé da comunidade apostólica, em Cristo (cf. Jo 2,1-12), e cuja função materna se dilatou, vindo a assumir no Calvário dimensões universais.8
        " Maria está presente, portanto, no mistério da Igreja como modelo. Mas o mistério da Igreja consiste também em gerar os homens para uma vida nova e imortal: é a sua maternidade no Espírito Santo. E nisto, Maria não é só modelo e figura da Igreja; mas é muito mais do que isso. Com efeito, "ela coopera com amor de mãe para a regeneração e formação" dos filhos e filhas da mãe Igreja. A maternidade da Igreja realiza-se não só segundo o modelo e a figura da Mãe de Deus, mas também com a sua "cooperação".³
         "Rogo-te, sim, rogo-te, Virgem Santa, que eu obtenha Jesus daquele Espírito, do qual tu mesma gerastes Jesus! Que a minha alma receba Jesus por esse mesmo Espírito, por quem a tua carne concebeu Jesus! (...) Que eu ame Jesus naquele mesmo Espírito, no qual tu o adoras como Senhor e o contemplas como Filho!"8
CARMELITAS E MARIA:
        A dimensão mariana da vida de um discípulo de Cristo exprime-se, de modo especial, precisamente mediante essa entrega filial em relação à Mãe de Cristo.³
        Fixamos o olhar em Maria e reconhecemos nela a imagem perfeita da discípula missionária. Maria é a grande missionária, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionários. ¹
        Eis, para nós carmelitas seculares os testemunhos de nossos santos:
        SANTA TERESA DE JESUS:
 Pareçamo-nos, filhas minhas, nalguma coisa com a grande humildade da Virgem Sacratíssima, cujo hábito trazemos, pois é confusão chamarmo-nos freiras suas; que, por muito que nos pareça que nos humilhamos, ficamos bem longe de ser filhas de tal Mãe e esposas de tal Esposo. (C13,3)
    Já que não posso deixar de ser a que tenho sido, não tenho outro remédio, senão acolher-me a ela e confiar nos méritos de Seu Filho e da Virgem, Sua Mãe, cujo hábito indignamente trago, e vós trazeis também. Louvai-O, minhas filhas, pois verdadeiramente o sois desta Senhora; e assim não tendes de vos afrontar que eu seja ruim, pois tendes tão boa Mãe. Imitai-A e considerai qual deve ser a grandeza desta Senhora, e o bem de a ter por Padroeira. (3M1)
       
SÃO JOÃO DA CRUZ:
 Quem ama discretamente, não cuida de pedir o que deseja ou lhe falta; basta-lhe mostrar sua necessidade para que o amado faça o que for servido. Assim procedeu a bendita Virgem com o amado Filho nas bodas de Caná; não lhe pediu diretamente o vinho, mas disse apenas: “não tem vinho” (Jo 2,3). (CII,8)
EDITH STEIN:
 Cada mulher seja uma cópia da Mãe de Deus, seja uma esposa de Cristo, seja uma apóstola do Coração Divino. Todas, então, corresponderão plenamente à sua vocação feminina, independentemente das circunstâncias e das atividades exteriores nas quais realizam as tarefas desenvolvidas”.
 Que possamos voltar o olhar à Mãe de Deus, Maria, nas bodas de Caná. O seu olhar silencioso e perscrutador observa tudo e repara onde falta alguma coisa. E antes que alguém perceba e ocorra algum embaraço, ela já prestou a sua ajuda. Encontra meios e modos, dá as indicações necessárias, e isso tudo em silêncio, sem deixar perceber nada”.
SANTA TERESINHA:

Sobre a sua dificuldade na recitação do terço:
Quando estou sozinha a recitação do terço custa-me  muito mais, do que a aplicação de um instrumento de penitência... Percebo que o rezo tão mal! Por mais que queira meditar os mistérios do rosário, não consigo concentrar o espírito... Andei muito tempo profundamente aflita... Tão grande é o meu amor à Santíssima Virgem, que deveria ter facilidade em recitar. Agora, aflijo-me menos. Penso que sendo minha Mãe, a Rainha dos Céus verá minha boa vontade, e com ela se contentará. HA 318

BEATA JOSEFA NAVAL GIRBÉS:
Josefa aprendeu a amar à Virgem Maria, desde menina. “Maria, minha Mãe, ensina-me a ser fiel e a agradar a Deus”. “Virgem Maria, minha Mãe, faz-me pura, casta, boa e santa”. Acuda-nos a Santíssima Virgem, para que nos ensine e nos ajude a sermos fiéis a Deus”.
Recomendava às jovens: “Sede limpas, asseadas no modo de vestir, sede muito honestas como a Virgem
Como Carmelita Secular, Josefa tinha uma especial devoção à Santíssima Virgem do Carmo, como tal, em repetidas ocasiões pediu a suas discípulas que, à sua morte, a vestissem com o hábito do Carmo, desejo que se cumpriu fielmente. Esta filiação Mariana a soube transmitir às suas alunas; bastem-nos estes testemunhos: em uma das casas de Algemesi se conserva um grande quadro da Virgem do Carmo, bordado em ouro e seda pela senhora Vicenta Morán através da direção da “Senhora Pêpa”, como era conhecida Josefa em sua terra natal no ano em que morreu nossa Beata.
ELISABETE DA TRINDADE:

        Parece-me que a atitude da Santíssima Virgem durante os meses decorridos entre a Anunciação e a Natividade é o modelo das almas interiores, das criaturas escolhidas por Deus para viverem “dentro”, no fundo do abismo insondável. Com que paz, com que recolhimento Maria se entregava à todas as ocupações! Como as ações mais banais eram por ela divinizadas! Porque em tudo a Virgem continuava a ser a adoradora do dom de Deus! Isto não a impedia de entregar-se às obras exteriores quando a caridade exigia. (Como Encontrar o Céu na Terra 39).
NÓS, SECULARES:
        A máxima realização da existência cristã como um viver trinitário de "filhos no Filho" nos é dada na Virgem Maria que, através de sua fé (cf. Lc 1,45) e obediência à vontade de Deus (cf. Lc 1,38), assim como por sua constante meditação da Palavra e das ações de Jesus (cf. Lc 2,19.51), é a discípula mais perfeita do Senhor.¹
Ela, que "conservava todas estas recordações e as meditava no coração" (Lc 2,19; cf. 2,51), ensina-nos o primado da escuta da Palavra na vida do discípulo e missionário. O Magnificat "está inteiramente tecido pelos fios da Sagrada Escritura, os fios tomados da Palavra de Deus. Assim, revela-se que nela a Palavra de Deus se encontra de verdade em sua casa, de onde sai e entra com naturalidade. Ela fala e pensa com a Palavra de Deus; a Palavra de Deus se faz a sua palavra e sua palavra nasce da Palavra de Deus. Além disso, assim se revela que seus pensamentos estão em sintonia com os pensamentos de Deus, que seu querer é um querer junto com Deus. Estando intimamente penetrada pela Palavra de Deus, ela pôde chegar a ser mãe da Palavra encarnada".¹
        Pertencemos a uma Ordem eminentemente Mariana. Nos formamos na escola de Maria que usa como instrumento de educação o “escapulário”, que é mais do que um sinal de proteção e predileção de Maria pela nossa ordem; deve ser para nós instrumento de trabalho a serviço de Jesus Cristo. É de fato um avental, e como tal, é usado para trabalhar. Por isso, podemos também ouvir as mesmas palavras do profeta Ageu 2, 4: “ Ó Zorobabel, tem ânimo, diz o Senhor. Coragem, Josué filho de Josedec, sumo sacerdote! Coragem todos vós habitantes da terra, diz o Senhor. Mãos à obra! Eu estou convosco – diz o Senhor dos Exércitos.”
          A Virgem Maria se faz presente de maneira especial, sobretudo como modelo de fidelidade na escuta do Senhor e em sua atitude de serviço a Ele e aos demais. Maria é aquela que conservava e meditava em seu coração a vida e as ações de seu Filho [6] , danto exemplo de contemplação. Ela foi quem aconselhou, nas bodas de Caná, que fizessem o que o Senhor lhes dissera [7] . Maria é exemplo de serviço apostólico. E foi ela, outra vez, quem esperou a vinda do Espírito Santo, perseverando em oração com os apóstolos [8] , testemunhando a oração de intercessão. Ela é Mãe da Ordem. O carmelita secular goza de sua especial proteção e cultiva uma sincera devoção mariana. 10

Maria é para o Secular um modelo de entrega total ao Reino de Deus. Ela nos ensina a escutar a Palavra de Deus na Escritura e na vida, a crer nela em todas as circunstâncias para viver suas exigências. E isto, sem entender muitas coisas; guardando tudo no coração (Lucas 2, 19.50-51) até que chega a luz, com uma oração contemplativa.10

        Maria é também ideal inspiração para o Secular. Ela vive junto às necessidades dos irmãos, preocupando-se com elas (Lucas 1,39-45; João 2,1-12; Atos 1,14). Ela, “a imagem mais perfeita da liberdade e da libertação da humanidade e do cosmos” [29] , ajuda a compreender o sentido da missão. Ela, Mãe e Irmã.10
        Por isso o Secular se empenhará em conhecer cada dia mais a pessoa de Maria através da leitura do Evangelho, para comunicar aos demais a autêntica piedade mariana, que leva à imitação de suas virtudes.10
        No rito de admissão à Ordem Secular dos Carmelitas Descalços o candidato no momento que é revestido com escapulário pelo sacerdote, ouve: “Recebe este escapulário, hábito da ordem do Carmo. Usa-o dignamente imitando a Virgem Maria no serviço de Jesus Cristo.” E na conclusão do rito o celebrante faz a seguinte oração: “Venha em nossa ajuda, Senhor, a poderosa intercessão da bem-aventurada Virgem Maria, Mãe e Rainha do Carmelo, para que, guiados por seus exemplos e protegidos pelo seu auxílio, cheguemos ao verdadeiro monte da salvação, Jesus Cristo Nosso senhor.”
        Vemos que o mais importante sentimento que devemos ter para com Maria, Mãe e rainha do Carmelo é o vivo desejo de imitar suas virtudes e alcançar sua proteção porque nos confiamos a ela como nossa mãe enquanto educadora e protetora, e irmã na condição de exemplo de serviço a Jesus Cristo.    
        Meditação, quem melhor que Maria pode nos ensinar a observar a realidade ao nosso redor e em espírito de oração contemplar a ação de Deus que age mesmo de forma incompreensível para nós!
        A meta será conseguir a integração da experiência de Deus com a experiência da vida: ser contemplativos na oração e no cumprimento da própria missão. 10
        Intimamente unida à ação do Espírito Santo, está a ação da Virgem Maria. Mãe de Cristo e nossa Mãe, ela está envolvida com a vida espiritual de cada um, mas, especialmente com a daquele que é chamado à vida no Carmelo. Sob sua proteção, evidenciada no Carmelo pelo escapulário, todos os que estão em formação na Ordem são protegidos e formados espiritualmente. 11
        Que melhor educadora poderemos ter, a não ser aquela que ensinou os primeiros passos a Jesus, como não nos ensinará a caminhar também no caminho de seu Filho. Aquela que ensinou Jesus a balbuciar as primeiras palavras, como não nos ensinará a falar a linguagem do Amor.   
Os Carmelitas Seculares vêem Maria como modelo de sua vida no Carmelo ajudam na Igreja a manter um amor maduro e uma devoção autêntica a Maria com toda a perfeição possível usam o escapulário como expressão externa da proteção maternal de Maria, de nossa dedicação a seu serviço e como um incentivo para viver a virtude teologal da esperança veneram a Maria diariamente mediante um ato de piedade e comemoram seus mistérios especialmente na liturgia.11
 Todos os outros aspectos da vida e devoção mariana também podem estar presentes, por exemplo, o escapulário, ou o rosário. Estes são, no entanto, secundários a respeito da devoção mariana. Maria é nosso modelo de oração e de meditação. Este interesse em aprender a meditar ou a ter inclinação para a meditação é uma característica fundamental de qualquer OCDS. Isto é, talvez, a o mais fundamental. 11
                Segundo as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011 – 2015, a Igreja é chamada em nossos dias: reconhecer-se em estado permanente de missão.
                As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com retidão. Elas são luzes de esperança. E quem mais do que Maria poderia ser para nós estrela de esperança? Ela que, pelo seu « sim », abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo.
                Por isso, a Ela nos dirigimos: Santa Maria, Vós pertencíeis àquelas almas humildes e grandes de Israel que, como Simeão, esperavam « a consolação de Israel » (Lc 2,25) e, como Ana, aguardavam a « libertação de Jerusalém » (Lc 2,38). Vós vivíeis em íntimo contacto com as Sagradas Escrituras de Israel, que falavam da esperança, da promessa feita a Abraão e à sua descendência (cf. Lc 1,55). Quando, cheia de santa alegria, atravessastes apressadamente os montes da Judeia para encontrar a vossa parente Isabel, tornastes-Vos a imagem da futura Igreja, que no seu seio, leva a esperança do mundo através dos montes da história. Vós estivestes no meio da comunidade dos crentes, que, nos dias após a Ascensão, rezavam unanimemente pedindo o dom do Espírito Santo (cf. Act 1,14) e o receberam no dia de Pentecostes. O « reino » de Jesus era diferente daquele que os homens tinham podido imaginar. Este « reino » iniciava naquela hora e nunca mais teria fim. Assim, Vós permaneceis no meio dos discípulos como a sua Mãe, como Mãe da esperança. Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o seu reino! Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!
        Maria é para nós, modelo orante porque nos leva a meditar dia e noite a Palavra do Senhor. E nos é dada como modelo oferente  porque se fez presa de Deus quando exclamou: “Eis aqui a Serva do Senhor!” E a partir daí nunca mais separou-se de Jesus, seu Filho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Documento de Aparecida
Santo Agostinho, Sermões.
Joannes Paulus pp. Redemptoris Mater
 Constituição Dogmática “Lumem Gentium.”
Homilia de São João Crisóstomo. Ofício das Leituras – Comum de Nossa Senhora - Liturgia das Horas.
CIC – 722.
7.Carta Apostólica sob forma de motu proprio Porta Fidei do Sumo Pontífice Bento XVI .
     8. Exortação Apostólica  Marialis Cultus,  do santo padre
     paulo vi.
     9.ocdsprovinciasaojose.blogspot.com.br
    10.Constituições OCDS.
    11 Ratio Institutionis da Ordem Secular dos Carmelitas Descalços.  
    12. Carta Encíclica Spe Salvi do Sumo Pontífice Bento XVI.