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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

CARTA Ao Padre Jerónimo Graciano, em Sevilha Toledo, 5 de Outubro de 1576






Última Carta
03//02//2014
O P. Graciano é um homem completo a meus olhos e, para nós, melhor [superior] do que poderíamos pedir a Deus (12.5.1575: 2)
Ao Padre Jerónimo Graciano, em Sevilha
Toledo, 5 de Outubro de 1576
Até agora, não tínhamos podido publicar nenhuma das cartas que a Santa dirige ao seu querido Padre Graciano, 30 anos mais novo do que ela - que tinha 60 quando o conheceu - mas era o superior que sonhava para a sua reforma. Como a maioria das melhores cartas que lhe dirige são parte da colecção que temos estado a trabalhar (cf. Recursos: Fichas...), não aparecerão nesta secção, escrita ao terminar o importante capítulo provincial dos Descalços em Almodôvar. Escasseiam as mensagens de Andaluzia, o seu centro de atenção pelas tarefas e perigos de Graciano ali. Na sua celazinha toledana, apartada como uma ermida e muito alegre, a Santa lê a Bíblia, ora e escreve mais do que cartas: as «Fundações» e «essas bagatelas». 

Obrigada a enviar a carta pelo correio de Madrid, tem de escrever em «código», não fácil de interpretar.

1. A graça do Espírito Santo seja com V. Paternidade, meu pai. Ao não ter chegado a carta que V. Paternidade enviou através da Corte, como não estaria eu - pois já se passou um dia depois [da festa] de São Francisco e não veio o frei António (1) - sem saber se V. Paternidade tinha chegado bem, até que não vi a sua carta!
2. Bendito seja Deus, pois está bem, e Paulo (2) também, e com sossego interior.
Na verdade, parece coisa sobrenatural, pois tem melhorado tão inteiramente. Tudo parece ser preciso a esta nossa natureza, já que fazem tanto para nos humilharem e termos conhecimento de semelhantes coisas. De minha parte, eu pedia muitíssimo ao Senhor esta bonança, por me parecer que já lhe bastavam os trabalhos que tem; diga-lho V. Paternidade da minha parte (3).
3. Presentemente, encontro-me sem nenhum [trabalho]; não sei onde isto vai parar, porque me deram uma cela apartada como uma ermida e muito alegre, e tenho saúde, e longe de parentes, embora ainda me encontrem aqui para as cartas; só tenho a preocupação do que vai por lá (4), tanto que me dá pena. Confesso a V. Paternidade que, para estar a meu gosto, acertou bem em deixar-me aqui e, mesmo nesta pena que digo sentir, me encontro mais firme do que costumo.
4.Ontem à noite, estava a ler a história de Moisés (5) e os trabalhos que aquele rei lhe dava e a todo o reino, com aquelas pragas, e como nunca lhe tocaram a ele; que até me espanta e me alegra ver que, quando o Senhor quer, não há ninguém poderoso que possa fazer mal. Gostei de ver aquilo do Mar Vermelho, lembrando-me de quanto menos é o que pedimos. Gostava de ver aquele santo naquelas contendas por mandato de Deus. Alegrava-me de ver o meu Eliseu (6); oferecia-o de novo a Deus. Lembrava-me das mercês que me fez e o disse dele José (7). Ainda se há-de ver mais para honra e glória de Deus. Desfazia-me por me ver em mil perigos pelo seu serviço. Nisto e noutras coisas semelhantes se passa a vida, e também escrevi essas bagatelas que aí verá (8).
5. Vou começar agora o das Fundações (9), pois disse-me José que será de proveito de muitas almas. Se Deus me ajudar, acho que sim; embora sem mo dizer, eu já tinha decidido fazê-lo, por mo ter mandado V. Paternidade. Fiquei muito contente de que desse tão longa conta no Cabido (10). Não sei como não sentem afronta do que escreveram em contrário. É muito bom que se vão indo de sua vontade os que talvez se fossem sem ela (11). Parece-me que Nosso Senhor vai dispondo os negócios. Praza a Sua Majestade que se acabem para Sua glória e de proveito dessas almas. Muito bem fará V. Paternidade de mandar o que haja a fazer, desde o seu mosteiro (12), e não terão que ver se vai ao coro ou não; digo-lhe eu que todas as coisas se farão melhor. Por aqui não faltam orações, que são melhores armas do que as que usam esses padres.
6. Por via do correio maior (13), escrevi longamente a V. Paternidade, e até saber se as recebe, não escrevi mais por esse meio, mas por Madrid. Sobre o negócio de David (14), eu penso que ele há-de enganar o padre Esperança (15) como costuma, porque já estão juntos e o irmão dele abalou; embora esteja muito pelo meio frei Boaventura (16), que, como já sabem do negócio entre eles (que foi muita sorte, Deus me perdoe, que quisera que voltasse ao seu primeiro chamamento), temo que não há-de fazer senão embaraçar. Não tenho sabido mais desde então até hoje.
De Vossa Paternidade, filha e serva
Teresa de Jesus



NOTAS
(1) António de Jesus, Prior de Los Remédios (Sevilha) e capitular de Almodôvar.
(2) O Padre Graciano, a quem depois chamará Eliseu.
(3) Jogo de palavras em código: Graciano di-lo-á ao próprio Graciano.
(4) A visita de Graciano a Andaluzia, que também incluía os Calçados, e supunha não só trabalhos e complicações, como também perigo de vida.
(5) Ex 7-11. Compare-se com a visão profética da Santa: Relação 37.
(6) O próprio Graciano.
(7) Dito de José, escreveu a Santa. José é o Senhor.
(8) «Essas bagatelas»: aludem talvez ao escrito teresiano. «Modo de visitar os conventos».
(9) Retomar a redacção do libro das Fundações. Concluiu a sua tarefa no mês seguinte (14.11.1576; F 27,23). Tinha-lho ordenado Graciano pelo mês de Julho, tal como o escreve a seu irmão Lourenço (24.7.1576: 6).
(10) No capítulo.
(11) Alude aos religiosos que abandonam a Ordem antes de ser expulsos dela.
(12) Desde Los Remedies, convento dos Descalços de Sevilha.
(13) António de Figueredo (de Toledo).
(14) A Santa escreveu uns traços enigmáticos (===) antes do nome de David. Trata-se do código de uma personagem difícil de identificar. Talvez frei Baltasar Neto.
(15) Pseudónimo também difícil de identificar.
(16) Diogo de Boaventura, visitador dos Franciscanos.




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