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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A pedagogia da oração

A pedagogia da oração

Por Tomaz Alvares, ocd

Como mestra de oração, Teresa teve ocasião muito diversas de exercer seu magistério. Ensinou e introduziu na oração a seu próprio pai, dom Alonso. Em seu mosteiro da Encarnação, iniciou na oração a elevado número de amigas que eram suas admiradoras: "É tão grande o aproveitamento de sua alma nestas coisas..., que mais de 40 monjas tratam em sua casa (mosteiro) de grande recolhimento", testemunha um de seus teólogos assessores (BMV 2,131). Em seu epistolário há cartas de iniciação na oração a seu irmão Lourenço, recém chegado da Américo. No Livro da Vida se entabula constantemente diálogo com !cinco que no momento nos amamos em Cristo" (16,7) e que eram um pequeno grupo de oração formado em torno da autora. Formam parte dele ao menos dois dominicanos, Garcia de Toledo e Pedro Ibáñez, que chegarão a elevados graus de oração, sobretudo o segundo.

Entretanto o grupo de oração em que mais plenamente ela exercitou seu magistério foram as jovens reunidas em seu primeiro Carmelo de São José. Não mais de meia dezena em um princípio. Ao todo doze, ao finalizar o primeiro quinquênio de aprendizagem (F1,1). Característica peculiar delas era o não constituir um grupo ocasional e heterogêneo como os cinco mencionados em Vida. Formavam uma comunidade orante. Mais ainda, comunidade contemplativa, cuja tarefa principal era a oração. Uma autêntica "escola de oração". Para ela escrete Teresa seu manual de pedagogia da oração: o Caminho de Perfeição. Dele recolheremos as idéias básicas da Santa:

a) Antes de tudo, se ora na Igreja e para toda a humanidade inteira. Postulado válido para aquele grupo de contemplativas e para todo aprendiz de oração. A oração criostã não é uma pequena prática confinada no restrito espaço do orante. Passa a ser alento e pulsão do mundo inteiro.

.b) A oração se educa a partir da vida. Requer empenho prévio ou simultâneo no cultivo das virtudes evangélicas. Teresa seleciona três fundamentais: o amor aos irmãos, desapego das coisas, humildade. Porque a amizade com Deus que é a oração, não é viável sem a amizade com os irmãos; não é possível sem liberdade de espírito, e sem disponibilidade à ação de Deus sobre alguém mesmo.

c) Acrescentará todavia dois postulados: "sede da água viva", ou seja, tensão dos desejos; e determinada determinação; não ceder às dificuldades que, certamente, sobrevirão.

d) A melhor partitura de oração é o Pai-Nosso. Nele se aprende e se sintoniza com a oração de Jesus. Aprende-se a interiorizar a própria oração à semelhança da sua.

e) Assim chega o livro ao núcleo central da pedagogia de Teresa, interiorizar a oração à base de uma singela técnica de recolhimento. Expô-la-á nos capítulos 26-29 à base de dois lemas: recolher-se é centrar a atenção em Cristo Senhor dentro de si mesmo. Para isso, o momento melhor é a oração eucarística no ato da comunhão (cc. 33-35).

f) O recolhimento será a melhor disposição para a oração contemplativa de quietude e de união (cc. 31,32).

Ao mesmo tempo em que Teresa expõe esse singelo itinerário pedagógico, introduz em seu ensinamento da oração um elemento novo, de grande importância. Ela se atém ao lema: não falar de oração sem fazê-la. Por isso mesmo, dentro do livro, faz realmente oração diante dos leitores. Desde o primeiro capítulo do Caminho, estes podem constatar por vista de olhos como Teresa ora. Assistem a seu diálogo com o Senhor. Sentem-se envolver nesta pausa de elevação vertical. Comprovam como no livo a vida e a oração se fundem: como vão alternando as palavras de diálogo com o leitor e as dirigidas ao Senhor. Sem solução de continuidade entre umas e outras. Teresa ora pelas necessidades da Igreja. Pelas profanações da eucaristia. Pelo mundo em guerra. Pelas responsáveis de tudo isso. Às vezes suplica, outras vezes invoca ou bendiz ou impreca. Em todo caso, esforça-se para envolver as leitorsas em sua ascensão orante.É o melhor registro da pedagogia de Teresa. Quem lê o livro não só recebe instruções e pautas para o caminho, e não somente sabe como ela ora, mas se sente solidário de sua oração e motivado por ela.

O último recurso magesterial de Teresa consiste em passar da pedagogia à mistagogia da oração.


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