Translate

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Pistas gerais de leitura para estudo das obras menores



Obviamente uma ajuda imprescindível será ter diante uma boa cronologia da santa, para partir de uma ideia básica do contexto no que se escreve cada carta: idade e momento do seu processo espiritual, residência e atividade principal, obras literárias que tem entre mãos (se as houver) … Mas passemos às pistas propriamente ditas:
Que diz Teresa de si mesma? Fixamo-nos no que diz explicitamente e também no que se pode captar de forma implícita: características da sua personalidade que vão aparecendo.
1.      Que diz do contexto e da realidade? Identificamos temas, preocupações, decisões, critérios, conselhos…
Que diz de Deus, da vida espiritual? Também de forma explícita ou de forma implícita.
Claro é sempre importante reparar nas dúvidas e dificuldades ou nas questões que nos tenham surpreendido positivamente, para as retomar e aprofundar, consultar, comentar, partilhar…

2.      Evidentemente, se se tem atenção a estas pistas e, sobretudo, se se for tomando notas precisas, o trabalho deste curso dará lugar a um índice de grandes temas teresianos: relações familiares e afetivas, questões económicas e organizativas, critérios de discernimento vocacional, chaves de acompanhamento espiritual… Naturalmente, e como vem sendo habitual em todos estes anos de preparação para o V Centenário do Nascimento de Santa Teresa, confiamos em que o trabalho pessoal (com cada ficha) culmine e se enriqueça com encontros e reflexões em comum.


3.      Primeiras impressões

Em geral: Que pensais que vos pode trazer a leitura e o trabalho sobre as cartas?
Um exercício de imaginação: se não conhecesses nada de Teresa de Jesus, e se o primeiro contacto com ela fosse através destas cartas que acabas de trabalhar, como descreverias esta mulher? Que dirias dela?


Para refletir, orar… depois da leitura dos textos

4.      Cita-se só com a data da carta, salvo se houver outras com a mesma data no epistolário teresiano; casos em que se acrescenta o destinatário. Os números depois das datas e entre parêntesis indicam os parágrafos concretos da carta a que nos referimos, segunda a edição do Monte Carmelo (se levam uma letra unida: a = em cima, m = meio, e f = fim do parágrafo) de que estão tiradas as 40 selecionadas para este curso pela Comissão do Centenário.


5.      As questões que se colocam nesta secção, como em anos anteriores, não pretendem esgotar a reflexão nem a açambarcar, mas sugerir possibilidades, de modo a que cada pessoa ou grupo utilize só as que lhe sejam úteis. Como se recordará de outros cursos, em cada número se convida a reparar no tema ou paradoxo proposto (se se está de acordo, justificá-lo…), rever a própria vida e a da comunidade e contexto (tem-se em conta, como o aplicar ou concretizar…), orá-lo pessoalmente (agradecer, suplicar, interceder, contemplar…) e em grupo… Portanto, não repetiremos estas pistas ao final de cada número; baste para isso este recordatório inicial.


6.       Algo pouco surpreendente e que salta à vista – pelas datas e destinatários das suas cartas em geral e pelo conteúdo das primeiras que lemos em particular – é a vinculação destas à sua tarefa como fundadora. No entanto, sim que resulta surpreendente e deve dar que pensar, rezar, partilhar… a muita relação com a sua família biológica, sobretudo se recordamos as restrições com respeito a isso que ela mesma decide (cf. CV 8-9, Const. V 6-7, etc.). Atenção pois, nestas primeiras cartas, à intensidade afetiva com os seus familiares e incluso as preocupações e implicações económicas com eles.



7.       Entre as primeiras expressões que pudemos ler, algumas parecem muito ‘providencialistas’, por exemplo, acerca da oportunidade de certas esmolas [23.12.1561 (1f.3m)] ou a oração de intercessão e o valor das relíquias e certos sacrifícios [23.12.1561 (12.13m), 17.1.1570 (14f.17)]. No entanto e ao mesmo tempo, encontramos Teresa muito ativa e astuta: 23.12.1561 (3m.4.15f: grande ‘indireta’ ao seu irmão!), ao rei D. Filipe II 19.7.1575…


8.      Outro desses paradoxos do Senhor: a santa sabe-se inspirada divinamente como fundadora e formadora (escritora): 23.12.1561 (2a), a D. Teotónio 22.7.1579 (1). Mas só depois de o contrastar e muito com letrados: 23.12.1561 (2a), 17.1.1570 (11m), maio 1575. E nós: cremos possível o primeiro? Usamos o segundo?


9.      As primeiras notícias que encontramos acerca da finalidade da sua fundação incluem a oração, mas parecem destacar mais o rigor físico [23.12.1561 (2m)]. Que pensar então da atenção que dá ao cuidado com a saúde? “Enfim, ainda que pobre e pequena [a casa-convento], mas com lindas vistas e campo” [23.12.1561 (3f)], cf. E ainda: 23.12.1561 (3f), 17.1.1570 (4), 4.2.1572 (1), a Mª de S. José 16.6.1581

10.   A propósito de saúde, em 17.1.1570 (4) encontramos uma clara confirmação da experiência que canta no poema-lema do Centenário Vuestra soy, para Vos nací / ¿qué mandáis hacer de mí?: “Dadme muerte, dadme vida / dad salud o enfermedad / honra o deshonra me dad (…) que a todo digo que sí / ¿qué mandáis hacer de mí?”


11.   Já sabemos que a inspiração divina do projeto teresiano não exclui, mas exige os seus cuidados organizativos (cf. acima as citações finais da questão 2), sobretudo, segundo estas primeiras cartas lidas, os de tipo económico: 17.1.1570 (5.11-12.18f). Portanto, parece que viver pobre, austeramente, é oposto a improvisar; requere um constante discernimento, como por exemplo no caso de receber candidatas com dote ou sem ele: 17.1.1570 (17-18).


12.   Interessantes critérios vocacionais se podem extrair dos seus comentários sobre a sua prima Ana Cepeda e, ainda que bastante menos, sobre a sua sobrinha Magdalena de Guzmán: 17.1.1570 (9.10f)


13.  Também desde estes começos fica indicada já a finalidade evangelizadora e missionária da sua reforma: 17.1.1570 (13).


14.  No que diz respeito à vida espiritual, as suas cartas ao seu irmão Lorenzo vão-nos ensinar muito e, de facto, terão uma ficha própria. De momento fica claro que, ainda que haja uma possível alusão a fenómenos extraordinários [23.12.1561 (2a)], Deus, ordinariamente, atua através de mediações normais, sobretudo pessoas: o seu irmão Lorenzo a quem não se cansa de agradecer as esmolas a si e a tantos; ela própria (já notámos nas suas inspirações e cuidados organizativos); Guiomar de Ulloa (ibid. 3a); António Morán (ibid. 6) … Portanto, a vida espiritual tem a ver com essa generosidade com os próprios bens e energias, e não é compatível com uma forma ‘instalada’ de viver conforme aos critérios e costumes do “mundo”: 23.12.1561 (5), 17.1.1570 (1.13).


15.  A vida espiritual não é questão de técnicas ou estratégias: la santa aponta, ainda que nestas cartas muito de passagem, a uma relação interpessoal (servir a alguém) e, sobretudo, destaca o seu carácter dinâmico, de processo, uma luta constante, que pede ir crescendo “cada dia pelo menos um pouquinho”: 23.12.1561 (5). Também destaca que esta relação e processo tem de ser cuidado e educado desde crianças: 17.1.1570 (8).


16.  Nesta forma de tratar e animar a vida espiritual, há um evidente protagonismo do que o céu significa (cf. “a verdade de quando menina”: Vida 3,5 e a ficha correspondente): 23.12.1561 (5), 17.1.1570 (6). Sem que isso contradiga a importância do compromisso com a terra; mais ainda, quanto mais graças e autoridade se tem, maior tem de ser este compromisso como mostra o seu próprio caso (cf. Acima questões 1, 2, 6 e 9) ou as suas ‘exortações’ ao rei [19.7.1575 (4f)] e a D. Teotónio [22.7.1579 (6)].

17.   Nestas primeiras cartas é óbvio que sobressaem duas grandes paixões e preocupações: as suas famílias, a biológica e a religiosa. Não obstante também diz aqui “esses índios não me custam pouco” [17.1.1570 (13)], e além disso encontramos uma apaixonada carta dedicada a mediar a paz entre Espanha e Portugal, a paz entre os cristãos [a D. Teotónio 22.7.1579 (3-7)].

18.   Ainda que talvez nem todos tenhamos fácil acesso à carta ‘complementar’ de setembro de 1568, merece a pena notar como nela, junto ao carácter carinhoso e cheio de detalhes da santa (de sobra provado no resto das cartas lidas), se põe de manifesto e ela mesma o confessa o seu carácter forte: “eu que sou a própria ocasião, que me aborreci com ele [João da Cruz] às vezes.” (2) Conheces casos em que a santidade e este tipo de carácter estejam unidos? Parece-te possível? Como se explica? …


DO BLOG teresadejesus.carmelitas.pt/

Nenhum comentário:

Postar um comentário