Dom Adelar
Baruffi
Bispo de
Cruz Alta
“A Igreja
não pode dispensar o pulmão da oração” (EG 262), nos disse o Papa Francisco.
Ela é o meio privilegiado do encontro cotidiano com Deus, conosco mesmos e com
a comunidade de fé. No entanto, é preciso dispor-se, através de algumas
atitudes.
A primeira
atitude que facilita a oração é o recolhimento. Recolher a vida com toda a sua
complexidade, recolhê-la, em especial diante de Deus. Estar presente e atento a
tudo o que estou vivendo. A dificuldade é a distração. Se viver distraído e
ausente a maior parte do dia, se não tenho consciência de mim mesmo
habitualmente em cada atividade, se não me centro no que estou fazendo no
decorrer do dia, o normal é que tampouco o faça no momento de oração. Oramos
como vivemos e vivemos como oramos. Tomar consciência do corpo, dos sentimentos
e da mente, com todos os pensamentos, reflexões, recordações e fantasias que
aparecem e desaparecem. Exercitar a atenção central: a capacidade de ver e
perceber tudo com uma luz interior. Invocar o Espírito Santo, que conduz o
encontro com Deus. Quanto mais eu exercitar o recolhimento, tanto mais centrado
estarei em cada momento.
A segunda
atitude é exercitar o silêncio exterior e interior. Há ruídos exteriores e
interiores. Não nos concentramos quando estamos em um ambiente ruidoso. O mesmo
acontece quando temos um barulho dentro de nós mesmos: nervosismo, tensão,
preocupações, angústia, agressividade, estresse... Este ruído emocional nos
bloqueia e nos incapacita para estar, para estar simplesmente em atenção
amorosa a Deus. É preciso criar espaços e tempos de silêncio: criar um clima
silencioso, sereno, pacificador. Uma pessoa barulhenta o será em tudo: na vida
e na oração. E uma pessoa silenciosa o será em tudo: na oração e na vida. O
silêncio interior é absolutamente imprescindível para viver uma experiência de
oração. Um silêncio interior que nos abra ao diálogo com Deus. Assim se
expressava Henri Nouwen: “Senhor Jesus! As palavras que dirigiste a teu Pai
brotaram do teu silêncio. Introduze-me neste silêncio, para que assim fale em
teu nome e minhas palavras deem fruto. É tão difícil permanecer em silêncio,
silêncio de palavras, mas também silêncio do coração... Há tantas coisas que
falam dentro de mim... Sempre pareço estar enredado em debates interiores
comigo mesmo, com meus amigos, com meus inimigos, com meus defensores, com meus
adversários, com meus colegas e com meus rivais. Porém, este debate interior
põe às claras quanto longe está de ti meu coração.” (Escritos Essenciales,
Santander: Editorial Sal Terrae, 1999, p.95). Normalmente, a vida de uma pessoa
ruidosa é superficial. A vida de uma pessoa silenciosa tende a ser mais
profunda, integrada, positiva, unificada, repleta de harmonia, de paz e de
plenitude.
A terceira
atitude é a abertura para escutar e dialogar. A oração é sempre um diálogo, um
encontro. Não é um monólogo, nem uma mera introspecção. É um encontro, uma saída
de si, para dar espaço para acolher a Deus, que continuamente sai de si para
nos encontrar, para nos falar. A abertura é fruto da consciência de si e do
silêncio. Uma pessoa encerrada em seu próprio cárcere de tensões e angústias é
incapaz de ver e perceber, de escutar e acolher o outro tal como é. Atitude de
escuta que espera o Senhor. “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sm 3,10),
disse Samuel. Escutar é uma atitude radical e essencial do homem que deseja
viver aberto e acolhedor dos outros e a Deus. Escutar na oração, escutar a
Deus, é, portanto, uma atitude permanente, que devo manter sempre, tal como são
permanentes a comunicação e a manifestação de Deus.
A quarta
atitude é a entrega de si. É uma entrega mútua em liberdade, em que eu acolho o
dom infinito de sua presença e de seu amor e respondo livremente, em plena
disponibilidade de amor obediente. Deus não dá coisas, ele se dá a si mesmo
numa entrega total, infinita e eterna porque nos ama. Diante de Deus, portanto,
só tem sentido a entrega e disponibilidade, o abandono confiante. “Faça-se em
mim, segundo a tua Palavra.” (Lc 1, 38). Então, nessa experiência de amor,
entrega-se, como barro modelável nas mãos de Deus.
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