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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

MARIA EM SÃO JOÃO DA CRUZ





Fr. Alzinir 


O tempo do Advento é por si um tempo litúrgico de espera vigilante e de alegria. Nele recordamos a espera de Jesus no Natal e a sua vinda definitiva no fim dos tempos. Os personagens bíblicos do profeta Isaías, João batista e da Virgem Maria são os que nos guiam na espera do Messias. Mas é sobretudo a Virgem Maria quem nos serve de modelo para uma acolhida fecunda e operante da Palavra de Deus, particularmente com as festas da Imaculada Conceição e de N. Senhora de Guadalupe.
No Carmelo Teresiano a festa de são João da Cruz recorre neste tempo. Por isso, vamos procurar percorrer as principais passagens de seus escritos onde ele faz menção a Nossa Senhora.
Nos Romances Trinitários e cristológicos à Virgem Maria é pedido o consentimento por meio do Anjo Gabriel para a obra da Encarnação do Filho de Deus por obra do espírito Santo. No final do 8º Romance sobre a Encarnação, conclui o santo:

“E o que então só tinha Pai,
já Mãe também teria,
embora não como outra
que de varão concebia,
porque das entranhas dela
sua carne recebia;
 pelo qual Filho de Deus
e do Homem se dizia”. (Romance 8º sobre a Encarnação)

A seguir, no 9º Romance, S. João da Cruz segue cantando em chave esponsalícia o evento do nascimento de Jesus. Maria é chamada de “bendita Mãe”. Ela deita o Menino Jesus no presépio entre os animais, em meio aos cantos festivos dos anjos e do “assombro” de Maria diante do Mistério da “troca” que presencia.

“Deus, porém, no presépio
ali chorava e gemia;
eram jóias que a esposa
ao desposório trazia;
e a Mãe se assombrava
da troca que ali se via:
o pranto do homem em Deus
e no homem a alegria;
coisas que num e no noutro
tão diferente ser soía.” (Romance 9º  do nascimento)


Em outra quadrinha chamada “Natalina”, composta para a noite do Natal, o santo organiza uma procissão com a imagem da Virgem em um andor e parando de frente da porta do quarto de cada religioso,  canta e lhe pede hospedagem:

“Do Verbo divino
A Virgem grávida
Segue de caminho:
Pede-vos pousada”



Um segundo elemento da mariologia sanjoanista é a docilidade de Maria ao Espírito Santo. A união da pessoa com Deus se dá sempre através da ação do Espírito Santo. Ele diviniza a pessoa e a torna cada vez mais semelhante a Jesus. No estado de perfeição, é o Espírito que move sua inteligência, vontade e memória para cumprir em tudo as obras que são conformes à vontade de Deus ou de acordo com os seus mandamentos. E como exemplo coloca  Maria, dizendo que
“as súplicas dessas almas são sempre eficazes. Tais foram as da gloriosíssima Virgem Nossa Senhora, elevada desde o princípio a este sublime estado; jamais teve impressa na alma forma de alguma criatura, nem se moveu por ela; mas sempre agiu sob a moção do Espírito Santo”. (3 Subida Do Monte Carmelo, 2,10).

O relacionamento do Espírito Santo com Maria se deu de maneira especial na Anunciação, onde por virtude do mesmo Espírito Santo, concebeu o Filho de Deus. Ele utiliza o termo “obumbração”, que significa receber a sombra de alguém, isto é, ser revestido por uma especial virtude ou atributo de Deus para uma missão. Escreve o Santo:

“Efetivamente, quando a sombra de uma pessoa vem cobrir alguma outra, é sinal de que está perto para favorecer e amparar a esta última. Eis a razão pela qual o arcanjo Gabriel usou deste termo para comunicar à Virgem Maria a grande mercê da conceição do Filho de Deus, dizendo: "O Espírito Santo virá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te fará sombra" (Lc 1,35) (Chama de amor viva  3,12).

Um outro tema importante da Mariologia de João da Cruz é o da intercessão de Maria.     Para a pessoa que ama e confia em Deus, fazer-Lhe notar uma necessidade e esperar confiantemente é o que convém. E apresenta como modelo disso a Virgem nas Bodas de Caná.
“Quem ama discretamente, não cuida de pedir o que deseja ou lhe falta: basta-lhe mostrar sua necessidade para que o Amado faça o que for servido. Assim procedeu a bendita Virgem com o Amado Filho nas bodas de Caná; não lhe pediu diretamente o vinho, mas disse apenas: “Não têm vinho” (Jo 2,3) (Cântico Espiritual 2,8).



Importante é o seu pensamento sobre  a devoção a Maria através das imagens ou de lugares de peregrinação (3 Subida 36,1.2; 42,5). O que importa para Deus é a fé e a pureza de coração de quem reza. A imagem em si mesma ou o seu valor artístico ou econômico não são importantes. O que se deve fazer é passar da imagem à pessoa que nela está representada. Escreve ele:
“ Muito haveria que escrever sobre a pouca inteligência de muitas pessoas a propósito de imagens... confiam mais em uma imagem que  em outra, na persuasão de serem mais ouvidas por Deus por aquela que por esta, embora ambas representem a mesma realidade, como, por exemplo, duas de Jesus Cristo, ou duas de Nossa Senhora. Isto acontece porque põem a sua  afeição na figura exterior... Deus só olha a fé e pureza de coração daquele que ora....
Se tivesses, pois, a mesma devoção e fé em Nossa Senhora, diante de uma como de outra imagem, .. receberiam as mesmas graças, e ainda sem imagem alguma...”

Enfim, concluamos esta breve  resenha de textos de São João da Cruz sobre a Mãe de Jesus com este bonito e profundo  trecho da sua  Oração da alma enamorada (Ditos 26).
“Os céus meus são e minha é a terra; minhas são as criaturas, os justos são meus e meus os pecadores; os anjos são meus e a Mãe de Deus e todas as coisas são minhas; e o próprio Deus é meu e para mim, porque Cristo é meu e todo para mim”.



           




Textos tirados das Obras Completas de S. João da Cruz, ed. Vozes.


Decide entrar no Carmelo de Medina. Fora uma escolha plenamente li-vre e pessoal, uma opção não retratada. Poderia ter entrado nos Jesuítas, que bem conhecia; ou ficar como capelão no hospital, como deseja o seu protetor e aconselhavam as necessidades da família. Algo concreto procura quando vai ao Carmelo contra as circunstâncias. Os motivos mais discer-níveis são dois: ânsias de solidão e vida contemplativa, devoção à Santíssima Virgem[1]. Trá-los na alma desde pequenino.

SÃO JOÃO DA CRUZ:
 Quem ama discretamente, não cuida de pedir o que deseja ou lhe falta; basta-lhe mostrar sua necessidade para que o amado faça o que for servido. Assim procedeu a bendita Virgem com o amado Filho nas bodas de Caná; não lhe pediu diretamente o vinho, mas disse apenas: “não tem vinho” (Jo 2,3). (CII,8)




[1]
      Efrén, São Juan de la Cruz, pág.s 159-163.

São João da Cruz e Virgem Maria




Nos Romances Trinitários e cristológicos à Virgem Maria é pedido o consentimento por meio do Anjo Gabriel para a obra da Encarnação do Filho de Deus por obra do espírito Santo. No final do 8º Romance sobre a Encarnação, conclui o santo:

“E o que então só tinha Pai,
já Mãe também teria,
embora não como outra
que de varão concebia,
porque das entranhas dela
sua carne recebia;
 pelo qual Filho de Deus
e do Homem se dizia”. (Romance 8º sobre a Encarnação)

A seguir, no 9º Romance, S. João da Cruz segue cantando em chave esponsalícia o evento do nascimento de Jesus. Maria é chamada de “bendita Mãe”. Ela deita o Menino Jesus no presépio entre os animais, em meio aos cantos festivos dos anjos e do “assombro” de Maria diante do Mistério da “troca” que presencia.

“Deus, porém, no presépio
ali chorava e gemia;
eram jóias que a esposa
ao desposório trazia;
e a Mãe se assombrava
da troca que ali se via:
o pranto do homem em Deus
e no homem a alegria;
coisas que num e no noutro
tão diferente ser soía.” (Romance 9º  do nascimento)


Em outra quadrinha chamada “Natalina”, composta para a noite do Natal, o santo organiza uma procissão com a imagem da Virgem em um andor e parando de frente da porta do quarto de cada religioso,  canta e lhe pede hospedagem:

“Do Verbo divino
A Virgem grávida
Segue de caminho:
Pede-vos pousada”


Um segundo elemento da mariologia sanjoanista é a docilidade de Maria ao Espírito Santo. A união da pessoa com Deus se dá sempre através da ação do Espírito Santo. Ele diviniza a pessoa e a torna cada vez mais semelhante a Jesus. No estado de perfeição, é o Espírito que move sua inteligência, vontade e memória para cumprir em tudo as obras que são conformes à vontade de Deus ou de acordo com os seus mandamentos. E como exemplo coloca  Maria, dizendo que
“as súplicas dessas almas são sempre eficazes. Tais foram as da gloriosíssima Virgem Nossa Senhora, elevada desde o princípio a este sublime estado; jamais teve impressa na alma forma de alguma criatura, nem se moveu por ela; mas sempre agiu sob a moção do Espírito Santo”. (3 Subida Do Monte Carmelo, 2,10).

O relacionamento do Espírito Santo com Maria se deu de maneira especial na Anunciação, onde por virtude do mesmo Espírito Santo, concebeu o Filho de Deus. Ele utiliza o termo “obumbração”, que significa receber a sombra de alguém, isto é, ser revestido por uma especial virtude ou atributo de Deus para uma missão. Escreve o Santo:

“Efetivamente, quando a sombra de uma pessoa vem cobrir alguma outra, é sinal de que está perto para favorecer e amparar a esta última. Eis a razão pela qual o arcanjo Gabriel usou deste termo para comunicar à Virgem Maria a grande mercê da conceição do Filho de Deus, dizendo: "O Espírito Santo virá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te fará sombra" (Lc 1,35) (Chama de amor viva  3,12).

Um outro tema importante da Mariologia de João da Cruz é o da intercessão de Maria.    Para a pessoa que ama e confia em Deus, fazer-Lhe notar uma necessidade e esperar confiantemente é o que convém. E apresenta como modelo disso a Virgem nas Bodas de Caná.
“Quem ama discretamente, não cuida de pedir o que deseja ou lhe falta: basta-lhe mostrar sua necessidade para que o Amado faça o que for servido. Assim procedeu a bendita Virgem com o Amado Filho nas bodas de Caná; não lhe pediu diretamente o vinho, mas disse apenas: “Não têm vinho” (Jo 2,3) (Cântico Espiritual 2,8).


Importante é o seu pensamento sobre  a devoção a Maria através das imagens ou de lugares de peregrinação (3 Subida 36,1.2; 42,5). O que importa para Deus é a fé e a pureza de coração de quem reza. A imagem em si mesma ou o seu valor artístico ou econômico não são importantes. O que se deve fazer é passar da imagem à pessoa que nela está representada. Escreve ele:
“ Muito haveria que escrever sobre a pouca inteligência de muitas pessoas a propósito de imagens... confiam mais em uma imagem que  em outra, na persuasão de serem mais ouvidas por Deus por aquela que por esta, embora ambas representem a mesma realidade, como, por exemplo, duas de Jesus Cristo, ou duas de Nossa Senhora. Isto acontece porque põem a sua  afeição na figura exterior... Deus só olha a fé e pureza de coração daquele que ora....
Se tivesses, pois, a mesma devoção e fé em Nossa Senhora, diante de uma como de outra imagem, .. receberiam as mesmas graças, e ainda sem imagem alguma...”

Enfim, concluamos esta breve  resenha de textos de São João da Cruz sobre a Mãe de Jesus com este bonito e profundo  trecho da sua  Oração da alma enamorada (Ditos 26).
“Os céus meus são e minha é a terra; minhas são as criaturas, os justos são meus e meus os pecadores; os anjos são meus e a Mãe de Deus e todas as coisas são minhas; e o próprio Deus é meu e para mim, porque Cristo é meu e todo para mim”.



Fr. Alzinir.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

São João da Cruz


João de Yepes nasceu em Fontiveros, perto de Ávila, Espanha. Seu pai, Gonçalo de Yepes, sendo de nobre família, a tudo renunciou para casar Catarina Álvares, uma pobre órfã. João de Yepes nasceu, num lar pobre, mas de muito amor, a sua pobreza depressa se transformou em miséria com a morte do pai. A partir de então, Catarina, peregrinando de terra em terra, de feira em feira, acabou por se fixar em Medina del Campo onde João foi recolhido num orfanato.
Certo homem rico e conceituado fixou-se nas qualidades de João, dando-lhe possibilidades de estudar, ao mesmo tempo que o empregou no hospital de Medina. Dez anos foi o tempo que o jovem João de Yepes passou a tratar de doentes, vítimas de doenças incuráveis, sobretudo a sífilis que era terrivelmente mortal, aqui João conheceu as histórias mais inverosímeis do mundo e as dores mais atrozes dos homens.
Na sua juventude foi cobiçado por diversas Ordens Religiosas, e pelo seu benfeitor que pensava nele como capelão do hospital, depois de ordenado sacerdote. Aos 21 anos de idade, sem dizer nada a ninguém, João dirigiu-se ao Convento dos Carmelitas onde tomou o hábito e onde nesse dia recebeu o nome de Frei João de S. Matias.
Para João, a escolha da Ordem do Carmo era plenamente justificada: sendo o Carmo a Ordem de Maria e tendo João de Yepes tanto amor à Virgem Nossa Senhora e tendo-o ela livrado de alguns perigos na sua meninice, escolheu servi-la e assim agradecer-lhe.
Estudou em Salamanca e cantou Missa em Medina del Campo. Foi aqui que no ano de 1567 conheceu a Madre Teresa de Jesus, que ficou prendada com as suas qualidades e santidade o convida para primeiro Carmelita Descalço e fundador de entre os frades do novo estilo de vida que ela mesma havia iniciado entre as freiras.
No Verão de 1568, vestindo já o primeiro hábito de Carmelita Descalço, feito precisamente pela Madre Teresa de Jesus, dirigiu-se a Duruelo onde, durante todo o Verão, foi preparando e transformando uma velha e pobre casa no primeiro convento da nova família do Carmo. No dia 28 de Novembro desse ano, primeiro Domingo do Advento, chegaram Frei António de Jesus e Frei José de Cristo que deram oficialmente início à nossa Ordem. A partir deste dia, Frei João de S. Matias passou a chamar-se Frei João da Cruz.
Quando S. Teresa de Jesus foi nomeada priora do convento da Encarnação, em Ávila, pediu a S. João da Cruz que se dirigisse para esta cidade como confessor das freiras deste convento. Aqui permaneceu o nosso Santo durante cinco anos. As pessoas tinham-no por Santo, respeitando-o e amando-o como tal. Foi tentado por uma nobre e formosa mulher de quem nunca revelou o nome. Nesta cidade Frei João pintou o seu célebre desenho de Cristo na Cruz, onde o famoso pintor Dali se inspirou para a sua célebre pintura de Cristo morto sobre o mundo à qual intitulou «Cristo de S. João da Cruz». Frei João da Cruz realizou em Ávila, verdadeiros prodígios, o que levou os abulenses a terem por ele verdadeira admiração e profundo respeito.
Os Carmelitas Calçados de Ávila é que não estavam nada contentes com a boa fama e o apreço que o povo tinha por Frei João da Cruz e pelos frades da nova família de Carmelitas, chamada dos Descalços, por ele fundada. Decidiram, por fim, pôr cobro à situação. E a melhor forma que encontraram foi a de prender a alma do Carmo Descalço, Frei João da Cruz. Assim o pensaram e assim o fizeram uma noite, saltaram silenciosamente o muro da casa onde vivia, arrombaram as portas e prenderam Frei João. Levaram-no em segredo para o convento de Toledo. Ninguém teve tempo para reagir, tudo foi feito em grande sigilo e com tanta rapidez e discrição que ninguém pôde intervir. S. Teresa escreveu ao rei Filipe II, mas como ninguém sabia de nada, Frei João continuara na prisão. Os Calçados tentaram fazer por todos os meios, lícitos e ilícitos, que Frei João abandonasse a obra começada. Torturas físicas e psicológicas, belas ofertas, de poder e de riqueza, até mesmo uma cruz de ouro cravejada de pedras preciosas!
Ao que Frei João respondeu: «Quem procura seguir a Cristo pobre, não precisa de jóias nem de ouro».
Durante nove meses, de Dezembro a Agosto, Frei João permaneceu no cárcere, onde quase morrendo de frio no Inverno, quase asfixiado de calor no Verão, para comer davam-lhe pão, água e algumas sardinhas. Martirizaram o seu corpo com duras disciplinas. Durante mais de meio ano não lhe permitiram mudar ou lavar o hábito. O cárcere consiste num cubículo tão minúsculo que até mesmo Frei João, sendo pequeno de corpo, mal cabia. A 15 de Agosto Frei João pede que lhe deixem celebrar Missa por ser a Festa de Nossa Senhora. Indelicada e brutalmente o Prior recusa o pedido. É então que Frei João da Cruz aproveitando a liberdade que o novo carcereiro concede, Frei João de S. Maria, decide fugir, antes, porém, oferece ao seu carcereiro uma cruz de madeira feita por si, pedindo-lhe perdão de todos os trabalhos que lhe causou. Numa noite de Agosto, correndo os maiores perigos, desconhecendo em absoluto a cidade de Toledo e sem a ajuda de ninguém, muito debilitado fisicamente, no limite das suas forças, tão magro que as apodrecidas tiras de roupa de que se serviu para saltar da janela não rebentaram e assim conseguirá fugir da prisão! Acolheu-se no convento das Carmelitas Descalças que se assustaram e se alvoroçam ao vê-lo, pois mais parecia um morto do que um vivo! Preparam-lhe umas peras assadas com canela!
Finalmente seguro! Os Calçados procuram-no, batem às portas do Convento das Descalças mas não encontram Frei João aí bem escondido, toda a tarde as Carmelitas conversaram com o Santo, escutando enlevadas os poemas que tinha escrito na prisão. Entretanto, as Carmelitas pedem ajuda ao administrador do Hospital que levaram Frei João para sua casa, que ficava mesmo ao lado do convento onde tinha estado preso, tudo foi feito durante dois meses para o restabelecer.
Em Outubro de 1578 Frei João deixou Toledo e dirigiu-se a Almodôvar onde esteve reunido o Capítulo de Lisboa. Aqui, pela primeira vez, contemplou, S. João da Cruz o mar, que o encantou e atraiu profundamente. Quantos o conheceram em Lisboa ficaram encantados e lhe chamavam Santo.
No mês de Junho de 1591, o Capítulo de Madrid deixou-o sem qualquer cargo na Ordem. Frei João desafiou o Geral da Ordem, Frei Nicolau Doria, que discordando dele e chamando-lhe à atenção sobre algumas situações menos claras do seu governo. Eis que paga a factura da sua ousadia singular. Ainda há mais por onde passar e que sofrer. Frei Diogo Evangelista, noutros tempos repreendido pelo Santo, resolve vingar-se dele e difama-o.
Depois do Capítulo Frei João partiu para o convento de La Peñuela. No seu interior leva a secreta tarefa de acabar o quanto antes os seus escritos. Na realidade para aí se desloca aguardando que o chamem para embarcar no barco que o levará de Sevilha para as missões do México. É que Frei João se oferecera para ir como missionário para o México.
Chegou a La Peñuela e prontamente se dedicou aos seus escritos. Mas uma perna se lhe inflamou a tal ponto que a febre se recusou deixá-lo. Era a cruz preparada para o final do caminho que o devia conduzir, não ao México, mas, como ele próprio disse «a outras Índias melhores e mais ricas de tesouros eternos». De La Peñuela levam-no para Úbeda. O carinho e a alegria com que em Úbeda foi recebido pelos frades da comunidade e pelos leigos que conheciam o Santo era indescritível. O único que destoou foi Frei Francisco Crisóstomo, o prior, que aproveitava todas as ocasiões para o fazer sofrer, vingando-se, assim, de Frei João que noutros tempos o tinha repreendido.
A doença agravou-se. Foram cheios de dores atrozes os últimos dias de Frei João. Depois de uma operação dolorosíssima comentou: «Cortem quanto for preciso, em boa hora e a vontade do meu Senhor Jesus Cristo se faça».
No dia 7 de Dezembro soube que morreria a 14, por ser Sábado, dia de Nossa Senhora. Durante o dia 13 perguntou insistentemente as horas, dizendo que nesse dia lhe tinha mandado Deus ir cantar Matinas ao Céu. Antes da meia noite, querem os irmãos rezar-lhe as orações dos agonizantes, mas Frei João diz que não faz falta e pede que lhe leiam o Cântico dos Cânticos. Aos primeiros versículos Frei João comenta: «ó que preciosas margaridas tem o céu!» À meia noite, ouvindo o sino exclama: «Vou cantar Matinas para o Céu» e adormeceu dizendo: «Nas Tuas mãos Senhor entrego o meu espírito».
Era o dia 14 de Dezembro de 1591, Sábado. Uma voz correndo pela cidade foi gritando que tinha morrido o frade Santo do Carmo. O povo, apesar ser de noite e dura a tempestade, acorre e força os frades a abrirem as portas do convento para venerarem os restos mortais daquele homem a quem todos chamavam Santo.

Oração da alma enamorada

Senhor Deus, amado meu!
Se ainda Te recordas dos meus pecados,
para não fazeres o que ando pedindo,
faz neles, Deus meu, a tua vontade,
pois é o que mais quero,
e exerce neles a tua bondade e misericórdia
e serás neles conhecido.
E, se esperas por obras minhas,
para, por meio delas, me concederes o que te rogo,
dá-as Tu, e opera-as Tu por mim,
assim como as penas que quiseres aceitar
e faça-se.
Mas se pelas minhas obras não esperas,
porque esperas, clementíssimo Senhor meu?
Porque tardas?
Porque, se, enfim,
há-de ser graça e misericórdia
o que em teu Filho te peço,
toma a minha insignificância,
pois a queres,
e dá-me este bem,
pois que Tu também o queres.
Quem se poderá libertar dos modos
e termos baixos
se não o levantas Tu a Ti em pureza de amor,
Deus meu?
Como se levantará a Ti o homem
gerado e criado em baixezas,
se não o levantas Tu, Senhor,
com a mão com que o fizeste?
Não me tirarás, Deus meu,
o que uma vez me deste
em teu único Filho Jesus Cristo,
em quem me deste tudo quanto quero.
Por isso folgarei pois não tardarás,
se eu espero.
Com que dilações esperas,
pois, se desde já podes amar a Deus
em teu coração?

Meus são os céus e minha é a terra;
minhas são as gentes,
os justos são meus, e meus os pecadores;
os anjos são meus
e a Mãe de Deus
e todas as coisas são minhas;
e o mesmo Deus é meu e para mim,
porque Cristo é meu e todo para mim.
Que pedes pois e buscas, alma minha?
Tudo isto é teu e tudo para ti.
Não te rebaixes
nem repares nas migalhas
que caem da mesa de teu Pai.
Sai para fora de ti e gloria-te da tua glória,
esconde-te nela e goza,
e alcançarás as petições do teu coração.

Ditos de Luz I, 25-27

S. João da Cruz in As mais belas páginas de S. João da Cruz p. 176,177

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Santa Teresa e a missão do Leigo a partir de Aparecida






Moises da Cruz, OCDS


O tema que eles nos proporam foi “Santa Teresa e a missão do Leigo a partir de Aparecida”. Nós sabemos que os nossos bispos da América Latina e Caribe se reúnem com frequência para analisar, rezar e proporem à caminhada na Igreja tanto no Brasil que faz parte da América Latina como também o Caribe.
É importante que nós tomemos consciência do momento histórico que nós estamos vivendo e esse documento de Aparecida não deveria simplesmente ser visto como mais um documento... nós necessitamos fazer com que ele se concretize nas nossas realidades de comunidade, nos nossos Institutos, nas nossas Congregações, na nossa Ordem.
 O documento de Aparecida é o acontecimento da reunião da V Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe (CELAM) em Aparecida (SP), maio de 2007.

A BASE DA MISSÃO

E como missão nós temos uma base, e me perguntei, como vamos encontrar Santa Teresa que está completando 500, anos num documento que foi elaborado em 2007? Deus nos inspirou a lermos o documento numa perspectiva carmelitana. E para minha surpresa o primeiro o que primeiro encontrei como base para a missão foi o encontro pessoal com Jesus e dai já manifesta toda a grandeza do carisma Teresiano. Todos nós deveríamos ter uma profunda experiência com Jesus Cristo, é isto que motiva o Carmelo é isto que motiva a nossa atividade enquanto Igreja, é essa alegria do encontro com Jesus e é um Jesus Ressuscitado que nos diz no documento de Aparecida no número de 29: Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria. “(DA 29)

Quando o Documento de Aparecida fala que a base da missão é o conhecimento da pessoa de Jesus Cristo e assim estamos nos lembrando de todas as outras conferencias anteriores que é a Pessoa de Jesus que nos convida, que nós precisamos ter uma experiência pessoal como disse o frei Javier, dessa experiência antropológica na constituição de ser pessoa. Esta é a riqueza do Carmelo nós nos encontramos com a pessoa de Jesus Cristo. E se nós estamos aqui mais de seiscentas pessoas de todo Brasil e até de fora do Brasil. E se acontece isto,  porque uma mulher há quinhentos anos teve uma verdadeira experiência com a pessoa de Jesus Cristo. E ela nos toca como filhos todas as vezes que lemos seus escritos, e Santa Teresa parece que fala diretamente para mim. Fala diretamente para você. E o processo das leituras dos livros nos faz também um processo pedagógico.
Santa Teresa não guarda a experiência de Jesus para si. Cada vez mais e diretamente fala as suas irmãs primeiro, mas que todos nós tenhamos essa experiência com Jesus Cristo. Quando eu li isso do Documento de Aparecida me veio claramente que nós enquanto carmelitas temos uma responsabilidade e missão na nossa Igreja no Brasil. Nas nossas dioceses particulares, nas nossas paroquias, nas nossas comunidades, nas nossas famílias de levarmos um Jesus vivo e ressuscitado não uma ideia, não uma filosofia, mas alguém que teve uma experiência forte profunda com Jesus é esse o nosso carisma. E é essa a nossa base da nossa missão e isso é aquilo que move nosso coração a alegria: “Neste encontro, queremos expressar a alegria de sermos discípulos do Senhor e de termos sido enviados com o tesouro do Evangelho. Ser cristão não é uma carga, mas um dom: Deus Pai nos abençoou em Jesus Cristo seu Filho, Salvador do mundo.” (DA 28)

Ser cristão não é uma carga, ser carmelita não é uma carga, ser monja não é uma carga viver a vida comunitária não pode ser visto como uma carga é a experiência com o ressuscitado que ilumina nossas comunidades. Se nós vamos para um mosteiro e lá santa madre dizia que as monjas são como pombal que vão viver em obsequio de Jesus Cristo. Se eu faço minhas promessas definitivas para viver em obsequio à Jesus Cristo isso não deveria ser visto como uma carga como um peso, mas é alegria de contemplar a graça de Jesus Cristo vivo e ressuscitado. Nós sabemos que a vida comunitária é um desafio, mas é justamente nesse desafio que jesus se manifesta que nós seremos moldados, que nós seremos voltados para a graça. Ser cristão não é uma carga, é um dom ser carmelita, é uma vocação e aqui quando tratamos de carmelita são os diversos carismas de diversos institutos de diversas formas porque quando estamos todos aqui reunidos é porque nós temos uma identidade carmelitana.
E isso não é uma intenção nossa, mas deus pai nos abençoou em seu filho Jesus salvador do mundo o Carmelo visto como vocação nós somos convidado somos chamados a vivenciarmos este carisma, está identidade. A alegria do discípulo!          E aqui há uma coisa importantíssima, tanto que chegam para os nossos mosteiros, conventos e comunidades quando nós recebemos irmãos que são detentores do carisma, mas também são influenciados são marcados pela sociedade individualista, por uma mentalidade contemporânea, de um subjetivismo, de uma visão deturpada do que é uma verdadeira experiência mística, de uma visão equivocada do que é uma verdadeira fraternidade, de uma experiência com Deus, fora de um intimismo, nossos irmãos chegam as nossas comunidades marcados por esta sociedade. Marcados pelo hedonismo, pela busca de satisfação até mesmo espiritual. Se deus não me dar prazer na oração, se Deus não me satisfaz interiormente eu já começo a duvidar se aqui é minha vocação.
O Documento de Aparecida nos diz:
“A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus.”
Nós somos marcados pelo Ressuscitado e acreditamos na ressurreição, em meio há vários tipos de violência e de ódio, se queremos ser verdadeiros filhos de Santa Teresa devemos entender que a experiência do Carmelo nos leva ao anuncio da Boa Nova. Não tem como nós sermos carmelitas sem evangelizar, não tem como nós termos uma verdadeira experiência, por que foi justamente daquele encontro que marcou meu coração, que marcou seu coração. E por isso nós falamos de Jesus e por isso que nós tentamos viver como Jesus viveu.
É a Boa Nova do Carmelo é a Boa Nova do Evangelho é a possibilidade de como Santa Teresa viveu, por que o Espírito Santo é o mesmo. Nós também podemos ter uma profunda experiência com Santa Teresa, profunda experiência com a Pessoa de Jesus Cristo e ai transformar nossa vida. Não num perfeccionismo, mas sabedores e marcados por nossos pecados também somos marcados pela misericórdia de Deus.
As vezes as pessoas tentam se aproximar do Carmelo, das nossas comunidades, mas se sentem profundamente pecadoras, não se sentem dignas de viverem o carisma carmelitano. É no Carmelo que nós encontramos a misericórdia de Deus é o nosso porto seguro, o porto seguro desde toda eternidade Deus quis marcar com o dom do Carmelo, com o carisma carmelitano, com o carisma teresiano. Uma vez marcados pelo amor de Deus, tocados pela misericórdia de Deus a nossa vida se transforma. O meu irmão não é mais aquele que me impede de viver o Evangelho, a vida comunitária se torna leve, porque eu fui marcado pelo amor de Deus.
E assim, parte uma admiração de Jesus a experiência que o carmelita tem de Jesus é uma experiência pessoal, não intimista, mas pessoal. Deus, Ele fala para você, Deus, Ele chama você, Deus, Ele olha para você: “admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente”. Nós não deveríamos chegar ao Carmelo ou permanecer no Carmelo inconscientes da nossa responsabilidade enquanto carisma, enquanto Igreja, porque existe um mundo lá fora que pedem para que os carmelitas manifeste este amor de Deus, os locutórios estão cheios que pedem para que Jesus seja amado, os meus votos e os meus compromissos de pobreza, castidade e obediência eles precisam ser vividos na liberdade.
Tanto São João Paulo II como Bento VXI diziam “Deus não tira nada”. Deus. Ele não tirou sua liberdade quando você veio para o Carmelo e assumiu os votos ou os compromissos de pobreza, castidade e obediência. Ele plenifica a pessoa humana. Na verdade Jesus é o único capaz de plenificar a pessoa humana “consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo,” Este intimo do coração do discípulo não é um sentimento de sensibilidade, o sentimento do coração é uma certeza, aquela certeza de que por mais que eu passe pela aridez, por mais que eu passe por dificuldade no meu carisma, na vivencia com os meus irmãos, mas é a certeza de que ali é meu lugar “uma adesão a toda a sua pessoa ao saber que Cristo o chama pelo nome (cf. Jo 10,3)”
Nós não podemos aderir a uma parte de Jesus, nós não podemos aderir a uma parte do Carmelo, o Carmelo é um todo, o Carmelo é integral, ele completa a minha vida. Por que só posso ficar com a partezinha que eu gosto? Com leituras, infantis, melosas da espiritualidade carmelitana, mas quando nós somos provados pela noite passiva aqui não é meu lugar, quando eu sou provado pela noite ativa eu não mais me identifico com o Carmelo. Quando nós já deveríamos saber pelos escritos de Santa Teresa. Quando Jesus nos permite passar pela noite ativa e pela noite passiva Ele quer nos desposas espiritualmente.
Deus, Ele carece do nosso sim, de uma adesão profunda é um chamado pessoal, infelizmente pensamos que nossas comunidades laicais, que nossas comunidades OCDS podem se comportar como um clube de pessoas que gostam do Carmelo, como um clube de pessoas de boa vontade, como um clube de pessoas que se reúnem de quinze em quinze ou uma vez por mês, para desfrutar do bem estar espiritual carmelitano. É preciso que nós tomemos consciência que é um chamado de Deus para uma adesão à vontade de Deus cantamos várias “Vossa sou pra vós nasci que mandas fazer de mim?” E for para morrer eu quero morrer. No momento passa o seu irmão que você tem dificuldade, ai dizemos no nosso intimo “esta pessoa não senhor, aqui não é o lugar dele”. Nós precisamos ter muito cuidado por que as vezes nós em nossa função de formador, tomo minha indisposição pessoal e taxo logo que a pessoa não tem vocação. Quando na verdade é você formador que deveria crescer humanamente. Porque o diferente nem sempre nos agrada, devemos contemplar a riqueza, a vivacidade do carisma carmelitano, os irmãos da antiga observância que muitas vezes é mau visto por nós, seculares somos mais carmelitanos. O diferente não me empobrece, o diferente é uma riqueza para o carisma, o diferente é uma riqueza para a vivência do carisma na Igreja, o diferente de carismas e o diferente na minha comunidade.
É um “sim” que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6).” Este sim deve ser visto como santa Teresa fala da determinada determinação é um sim que compromete radicalmente a liberdade do discípulo. Eu preciso dizer para vocês que eu estou aqui por obediência eu fiz as minhas promessas eu prometi pobreza, castidade e obediência, mas que liberta meu interior liberta minha experiência carmelita para entregar-me inteiramente a Jesus com todas as minhas capacidades e com todos os meus pecados é essa experiência precisa ser reacendida em cada coração carmelitano. Frei Sciadini que tem cinquenta anos de Carmelo.  É esse sim radical que precisamos  viver a cada dia.
A liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho Verdade e Vida. Não dá para sermos carmelitas presos num intimismo. A fraternidade é um dos tripés da minha vivencia carmelitana, Não existe carmelita isolado, não existe carmelita que passa seis meses sem aparecer na reunião da comunidade, mas está todo domingo com o escapulário. O que vai me formar como carmelita também é a vivência fraterna.
É uma resposta de amor a quem o amou primeiro “até o extremo” (cf. Jo 13,1). A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: “Eu te seguirei por onde quer que vás” (Lc 9,57). (DA 136)

Porque nós nos perdemos em tão poucas coisas: o irmão que não me deu bom dia; a formadora que não mandou um email pra mim; eu fiz uma cirurgia, mas ninguém me ligou, a madre não me liberou, o irmão não me arranjou o dinheiro.
Se nós percebemos que o rosto de santa Teresa para cima, voltado para coisas de Deus, voltados para coisas do alto. Isso não quer dizer que tenhamos uma realidade de indiferença na vida comunitária. Pelo contrário eu preciso ser assíduo a reunião, eu preciso manifestar meu amor fraterno, eu preciso ligar, eu preciso visitar, eu preciso conhecer, porque senão nossa vida fraterna fica uma coisa de verniz. Como você conhece o seu irmão se você não sabe o que ele gosta? As vezes nem sabemos o sobrenome do nosso irmão de comunidade, as vezes seu irmão passa por necessidade econômica você não sabe e a gente viver a vida fraterna.
Nas minhas aulas eu digo que existe a felicidade do self, é o tipo de felicidade do homem contemporâneo está todo mundo feliz nas fotos, retiro, promessas, lazer, mas no dia a dia você conhece seu irmão você sabe onde ele mora? Você sabe as dificuldades que ele passa? Vocês que moram nos mosteiros conhecem o sobrenome das irmãs de vocês? Vocês conhecem o histórico vocacional delas?  Há uma partilha da verdade? As vezes aquele amor primeiro que Deus nunca deixou nos amar vira puro status.
Estive recentemente em um mosteiro e fiz questão de perguntar a cada uma delas qual sentimento brotou no seu coração quando a madre disse que você poderia entrar no Carmelo. E uma que estava de cadeiras de roda o sorriso se abriu e eu disse para mim mesmo: é isso aí, é essa alegria que contagia é isso que as pessoas vão chegar e vão dizer vejam como eles se amam. É a alegria do primeiro encontro. Nós carmelitas do Brasil precisamos voltar ao primeiro amor, ao encontro pessoal e verdadeiro com a pessoa de Jesus Cristo. A nos deixarmos tocrR pela graça da misericórdia independente do nosso pecado. Deus é maior do que os nossos pecados a graça do Carmelo é maior que nossa mesquinhes, do que a nossa pobreza, do que a nossa falta de caridade com o irmão. “A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: “Eu te seguirei por onde quer que vás” (Lc 9,57). (DA 136)

Nós temos consciência disso? Deus pode fazer como santa Teresa do menino Jesus dizia: Ele pode me fazer uma vassoura, varre coloca num canto, faz de uma bola joga pra cá joga pra lá, isso no concreto do dia a dia, nas humilhações. O Papa Bento XVI falava que o novo martírio para o século XXI é a ridicularização da fé. As pessoas com quem você trabalha, você que é  carmelita secular, sabem que você é do Carmelo? Quando existem temas polêmicos você se posiciona a favor da Igreja? “Eu te seguirei por onde queres que vás”... essa é a base da missão do leigo carmelita, essa experiência pessoal com Deus. Essa consciência de uma entrega total da nossa existência. Mas não fica só nisso.

DESAFIOS DA MISSÃO


O documento de Aparecida também nos leva a vermos os desafios da missão. Ser missionário não é fácil. Ser cristão não é fácil, ser católico não é fácil. Saibamos  de uma coisa se nossa vida carmelitana está fáci,l tenhamos certeza que não estamos vivendo a vida carmelitana.  E infelizmente nós usamos nossa laicidade como desculpa para nós não vivermos o nosso estatuto. Nós devemos rezar a liturgia das horas as laudas e vésperas e se possível completas. Ai hoje eu não posso rezar não, ah, mas eu sou leigo as irmãs tem tempo dá para elas rezarem, os frades tem tempo dá para eles rezarem. Bendito você quando entrou no Carmelo deveria ter lido o estatuto a gente não pode usar nossa condição laical para não vivencia de nossa radicalidade do Carmelo.
No documento de Aparecida 100c os bispos falam diretamente para nós leigos do Brasil da América latina e Caribe “c) Percebemos uma evangelização com pouco ardor e sem novos métodos e expressões, uma ênfase no ritualismo sem o conveniente caminho de formação, descuidando outras tarefas pastorais.” (DA 100 c)
As vezes a gente cria estrutura, cria tradições nas nossas comunidades que impedem o novo acontecer a comunidade vai envelhecendo a comunidade não tem mais irmãos novos, mas você não mudou... como é que nós vamos atrair jovens que pensam de forma diferente se você não muda? O que foi que você enquanto formador fez para que  atraiam outras pessoas? Cadê a alegria do Evangelho que contagia? Porque nossas comunidades não contagiam as nossas paróquias? Porque que nossas comunidades não contagiam nossas dioceses? Porque que elas não atraem? Será que esse Jesus Ressuscitado está verdadeiramente vivenciado em nossas comunidades? Não estou dizendo que nossas comunidades tenham que ser de quantidade, isso é outra coisa o que gostaria que percebêssemos é nossa vivencia enquanto fraternidade é a nossa vivencia enquanto espiritualidade carmelitana.
Porque se nós queremos viver sobre o obsequio de Jesus Cristo, os primeiros cristãos eles atraiam pela vivência. Nós precisamos nos questionar nas nossas comunidades nas nossas fraternidades. “De igual forma, preocupa-nos uma espiritualidade individualista. [...] em certas ocasiões, uma compreensão limitada do caráter secular que constitui a identidade própria e específica dos fiéis leigos.” (DA 100 c)  É isso que os bispos percebem com desafio para a missão.
Eu tenho percebido ultimamente uma tentativa de não se trata sobre a questão da mística é aquilo que está arraigado no nosso carisma, todo carmelita deve ser místico, é a nossa raiz é o que nós temos de espiritualidade é a vivência mística do carisma o que nos falta é entendermos o que de fato é mística, não é levitações, nem visões. A experiência mística me abre para o outro, a experiência mística abre nosso coração para vermos o novo acontecer, a experiência mística atrai, onde Santa Teresa passava ela atraia as pessoas viam algo de interessante nela, queriam estar com ela queriam beber do Deus que ela tinha. Talvez você seja o único que tenha a oportunidade de falar de Deus para aquelas pessoas que estão a sua volta e que várias vezes negligenciamos, por medo, por timidez, o que vão dizer de mim? Não quero ser taxado de radical.
A secularidade é preciso que seja entendida, nós vivemos a nossa secularidade na realidade do nosso carisma, não há desejo de viver uma realidade que é dada aos frades e as monjas, deve haver uma identificação com o meu carisma secular, os bispos assim, apontam onde é nosso campo de ação “Também é importante recordar que o campo específico da atividade evangelizadora leiga é o complexo mundo do trabalho, da cultura, das ciências e das artes, da política, dos meios de comunicação e da economia, assim como as esferas da família, da educação, da vida profissional, sobretudo nos contextos onde a Igreja se faz presente somente por eles” (DA 174)
A Igreja reconhece que nós temos uma responsabilidade que monja nem frade faz, e se nós não fizermos não terá Igreja ali vejamos o tamanho da nossa responsabilidade. O campo de ação está dado a Igreja convoca o Carmelo para trabalhar santa Teresa dizia “Obras quer o Senhor”. A meu ver nos falta o entendimento quando dizemos que nosso carisma é a oração e é verdade!  Só que o carisma não lhe prende para não agir, muito pelo contrário, um trabalho que não é baseado na oração não tem fruto. E é justamente por que nosso carisma é a oração que nós precisamos atuar nessas áreas. Nosso país está do jeito que está porque deixamos de lado o Evangelho, deixamos de lado o mundo da política “não aqui é Carmelo não pode se falar em política não misture as coisas”. Não estamos falando de partidarismo, mas é uma consciência de Igreja por é lá na política onde se faz leis injustas e que nós por não termos consciência permitimos e depois sofremos as conseqüências.


 O Carmelo em ESTADO DE MISSÃO


Os bispo da America Latina e Caribe convoca toda a Igreja, e se nós somos Igreja, nós precisamos vivenciar esta realidade, precisamos assumir esse desafio de colocarmos o Carmelo em estado de missão.
Hoje, toda a Igreja na América Latina e no Caribe querem colocar-se em estado de missão. A evangelização do Continente, dizia-nos o papa João Paulo II, não pode realizar-se hoje sem a colaboração dos fiéis leigos. Hão de ser parte ativa e criativa na elaboração e execução de projetos pastorais a favor da comunidade.”
Nós precisamos criar formar criativas para que o amor de Deus toque as pessoas. Nós não podemos nos fechar em nossas comunidadezinhas, e as vezes elas não estão bem justamente porque nos fechamos a elas e nelas. É essa experiência do amor que contagia que me leva para a missão eu quero que outras pessoas façam a experiência com Jesus Cristo como a que nós tivemos. Quero que outras pessoas vivam em obsequio à Jesus Cristo como ele que nos deu essa vocação.
“Isso exige, da parte dos pastores, maior abertura de mentalidade para que entendam e acolham o “ser” e o “fazer” do leigo na Igreja, que por seu batismo e sua confirmação é discípulo e missionário de Jesus Cristo.”
E é importante percebemos que o estado de missão não é simplesmente fazer coisinhas isoladas, mas é um entendimento de estado de missão eu vou para minha reunião por que eu sou missionário, eu vivo a liturgia das horas por que eu sou missionário, eu vou para o meu trabalho por que eu sou missionário, mas eu também vou fazer missão por que eu sou missionário eu vou para Ad gentes por eu sou missionário os leigos também precisam participar das missões, a OCDS da Espanha quanto de Portugal já vivem essa dimensão missionária e infelizmente nós justificamos de não partimos em missão por que nós somos seculares, as monjas podem ir fazer fundação na Conchichina por que elas entregaram a vida delas, os frades tem obediência ao provincial podem ser mandados pra China, mas nós seculares não podemos porque nós somos seculares.
Gostaria de convidá-lo a imaginar Santa Teresa na sua frente, imagina que nesse fórum que celebramos os 500 anos do seu nascimento, que possamos olhar nos olhos de Santa Teresa e deixarmos que ela aqueça nosso coração, deixar que ela como mãe como mestra no caminho de oração nos oriente de como, qual a melhor forma de vivenciarmos o nosso carisma. Nós sabemos que a mãe é aquela que gera equilíbrio, harmonia que santa Teresa como Mãe como fundadora ela possa aquecer o nosso coração para que possamos caminhar de bem a melhor. Num real obsequio do Senhor, que nós posamos exalar o real perfume do Carmelo nos diversos carismas, nos diversos Institutos. Que Fórum seja um divisor de águas para nós, que ele nos impulsione para a missão, que ele rejuvenesça a nossa vocação. Que o Espírito que sobrou sobre Teresa para fazer várias fundações infunde em nosso coração à graça da missão carmelitana.
Viva Santa Teresa!
Viva o Carmelo!

Viva os 500 de Santa Teresa!