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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Pequeno esquema do itinerário da oração segundo a escola carmelitana


O caminho para Deus na tradição cristã é comumente representado pela subida de uma montanha, muito trabalhosa no início e tão entusiasmante na chegada. A nossa Ordem, por isso, tomou de um monte o próprio nome

    Primeira etapa

Orar: viver uma relação de amizade com Aquele que sabemos que nos ama

             Queremos repreender o nosso caminho de oração pessoal como “um encontro de amizade, um frequente entreter-se na solidão com Aquele de quem sabemos ser amados”, dizia Santa Teresa. No sulco da tradição carmelitana, o nosso método de oração consiste em fazer tudo para ter presente dentro de nós Jesus, nosso Bem e Senhor.

            Se meditamos uma cena da Sua vida, buscamos representá-la na alma... Por exemplo, pensamos em Jesus no horto das Oliveiras, fazemos companhia a Ele, pensamos no Seu suor e nas aflições que sofreu, recolhemos aquele Seu precioso suor de sangue para espargí-lo sobre toda a Igreja.

            Permaneçamos com Ele o quanto podemos, sem deixar-se desencorajar pelas inevitáveis distrações...

 Segunda etapa

Orar: entrar em nós mesmos e deixar orar o Espírito Santo em nós.

                                              A nossa vida, o sabemos, não se esgota em um conjunto de fatos exteriores: somos chamados à interioridade. O nosso corpo forma um todo com a nossa alma, feita à imagem e semelhança de Deus, transformada em sua morada pelo Batismo e capaz de entrar em diálogo com Ele: o mesmo diálogo do pai e do Filho no Espírito Santo. Todo o nosso ser é aberto a Deus, e, no entanto, não pensamos nisso. Os nossos dias são carregados de preocupações materiais; ficamos com muita facilidade à superfície dos acontecimentos, de nós mesmos, das relações com os outros e não colhermos a alma de tudo. É necessário entrar em nós mesmos, descobrir aquela realidade mais profunda de nós, realidde que trazemos dentro sem dela termos consciência: não para uma estéril introspecção, mas para colocarmonos em contato com Aquele que está presente, nos ama e nos atrai a si. Mas as premissas da amizade com deus não se colocam sem luta: é preciso viver em graça e ter a consciência pura do pecado, animar-se com ardentes desejos e grande confiança, decidir-se a dedicar um tempo fixo à oração.

 Terceira etapa

Orar: tender à meta sem deter-se

             Ao iniciar o caminho da oração se deve tomar uma decisão forte e resoluta de não deterse jamais, nem de abandoná-la. Aconteça o que acontecer, devemos tender à meta. É muito importante vigilar sempre a nós mesmos, até ser tão decididos a ponto de perder tudo, antes que ofender o Senhor. Antes de iniciar um caminho é uma boa coisa saber onde este caminho nos conduz. Para que orar? Qual a finalidade de consagrar um tempo a ela, tempo que poderia ser precioso para o serviço do próximo? Tudo depende do posto que reservamos a Jesus na nossa vida. Qual é a qualidade da nossa relação com Ele? Orar é comunicar-se com Cristo. A oração é a nossa resposta ao amor dAquele que sabemos, na fé, que nos ama. Para São Paulo o coração da vida cristã está em conhecer Cristo.

 Quarta etapa

Colocar Cristo ao centro da nossa vida

             Já entendemos que para o orante, como para o cristão, Cristo deve ser o centro da vida. Os primeiros passos no caminho da oração devem ser fatos, sem dúvida, para aprender e enamorar-se de Cristo, mas uma vez apaixonados, será necessário aprofundar a nossa relação com Ele, conservá-la e salvaguardar este amor. Devemos exercitar-nos em contínuos atos de amor para com Ele, a fim de enamorar-nos sempre mais pela sua humanidade; devemos entrar em Cristo, para poder assimilar os seus pensamentos, os seus afetos, os seus desejos e torná-los nossos.

            O meu encontro com Jesus pode iniciar com um longo olhar: um olhar Seu sobre mim, e meu sobre Ele. Não pode subsistir uma mínima sobra entre nós dois: a nossa relação deve ser totalmente aberta e luminosa. É o único modo para amar e deixar-se amar.

 Quinta etapa

Compreender que Jesus me amou e entregou-se por mim

             Se Cristo é nosso amigo, tudo o que diz respeito a Ele deve interessar-nos, começando pela sua vida e pelas suas palavras que os evangelhos nos transmitiram. Ao início da nossa oração, então, depois de um longo olhar sobre Ele, façamos a Ele companhia e abramos o Evangelho. Aí encontraremos Jesus vivente através um episódio da sua vida. Saboreamos as suas palavras, observamos os seus comportamentos, para poder imité-lo nos nossos gestos e nas nossas situações quotidianas. Esta imagem de Jesus, que “me amou e se entregou por mim” (Gal.2,20) deve me acompanhar por toda a vida. Com esta oração de simples olhar nos preparamos à oração de recolhimento.

            A finalidade da oração, de fato, não é a de deixar-se submergir por bons sentimentos ou comprazer-se de uma bela oração: se entra em oração para permitir a Deus de comunicar-nos o seu amor.

 Sexta etapa

Orar: fazer silêncio para entrar em colóquio com o Hóspede Divino 

            Aprendemos que a alma deve fazer-se presente ao Senhor no silêncio do amor. A oração é justamente isto: estar na escuta de um apelo interior. E para escutar é preciso fazer silêncio.

            Trata-se antes de mais nada de uma interiorização progressiva, depois de uma tomada de contato com o Hóspede interior. O esforço de interiorização deve iniciar já antes do primeiro momento de oração, porque a oração deve levar-nos a um estilo de vida particular, ou seja, deve ajudar a sintonizar toda a nossa vida em Deus. Alguns praticam o recolhimento como se tivesse um fim em si mesmo. Estes buscam sem saber um bem estar psicológico, fruto do silêncio interior e da harmonia que se cria neles. Mas o recolhimento tem uma outra finalidade: a de um autêntico encontro com o Hóspede Divino que mora no nosso coração desde o dia do nosso Batismo. A oração é um Pequeno esquema do itinerário da oração segundo a escola carmelitana

Sétima etapa

Um Outro me atrai desde dentro e me prende 

            Nos encontramos agora em uma etapa importante do nosso caminho de oração. Ao início do caminho de oração, esforcei-me por orar, claro, atraída pelo Senhor. Meditei em Sua companhia, conversei com Ele, fiquei perto dEle com um olhar simples, em uma atenção amorosa, impondo o silêncio às minhas faculdades. O Senhor, graças a uma longa frequentação, tornou-se para mim um amigo, um irmão, um pai, alguém com quem tenho intimidade. Todo isto aconteceu na fé: fé que em certos momentos talvez foi obscura, mas que em outros momentos foi preenchida da certeza íntima de estar com Ele, de estar nEle. A oração criou laços muito fortes entre Deus e eu. Neste momento, com ou sem consolação sensível, uma felicidade muito profunda me acompanha. Sei de ser amado por Deus: Ele me fez descobrir o caminho que conduz a Ele. Se permaneço fiel a este amor recíproco, com certeza Deus me introduzirá em uma oração mais profunda. Nesta oração, com efeito, não sou mais eu que me esforço por estar atenta a Deus, mas é Ele mesmo que se impõe, quem bate à minha porta. Basta que eu lhe abra, eEle toma posse de toda a minha casa. Desaparece a minha dificuldade de impor silêncio às minhas faculdades, porque Ele mesmo se preocupa de torná-las silenciosas. Operou-se em mim uma mudança radical: até agora era eu que ia em busca da oração, enquanto agora experimento que a oração me é dada sem que eu saiba de onde vem. Antes, buscava recolher-me, agora, deixo que seja um Outro a fazê-lo por mim: um Outro me atrai dentro e me prende.

 Oitava etapa

Orar: perceber a passagem do Senhor

             Este recolhimento que se prova é acompanhado de uma paz profunda. Santa Teresa e São João da Cruz falam aqui da paz como percepção e sinal da passagem do Senhor. “A intervenção de Deus na alma produz um efeito de paz” e “Deus fala ao coração nesta solidão em suma paz e tranquilidade, enquanto a alma escuta o que Deus lhe fala”. Chegados a esta etapa, estamos já no sobrenatural, e por nós mesmos não poderíamos jamais chegar, não obstante toda possível diligênia. A alma entra finalmente na paz, ou melhor dizendo, nela o Senhor a introduz com a Sua divina presença: então, “todas as potências repousam”.

            A atitude fundamental que está à base de toda a oração, mas em particular deste estado de contemplação, é antes de tudo uma profunda disponibilidade à obra de Deus em mim: é preciso que acolha em todo o meu ser o dom do Amor divino. Tal dom é um conhecimento amoroso de Deus através de um contato pleno de amor, um toque divino que me doa um conhecimento de Deus por vias da experiência. Deus me toca: eu vivo de Deus; esta consciência é o fruto de um encontro de amor. Nests momentos privilegiados cria-se um contato direto, presença a Presença. Se Deus é amor, talvez não devemos nos surpreender se nos testemunha às vezes o Seu amor com um toque divino. O Cântico dos Cânticos se abre com este grito da esposa: “Beija-me com os beijos da sua boca!”; Elias sentiu a passagem de Deus sobre o Horeb numa brisa suave. Trata-se de imagens que exprimem muito bem a passagem do Senhor e a manifestação toda particular do seu amor.

 Nona etapa

Orar: não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim

             Esta oração à qual chegamos requer de nossa parte uma generosidade sem reservas, uma vontade de doar-nos totalmente a Deus e de perder-nos completamente nEle. Estamos na oração de união: um novo portal é ultrapassado e o contato com Deus se muda em profundidade. A união com Deus gera consequências, e a primeira é certamente aquela de transformar-nos nEle. À diferença das condições precedentes, aqui não vivemos mais por nós mesmos, mas por Deus somente e pelo seu Reino. Santa Teresa descreve a oração de união como uma festa. “É o amor que nos une ao amor”. A união de amor cria sempre uma alegria profunda, às vezes também a nível psico-físico e afetivo. Em outros casos, porém, a graça desta oração se mantém mais interior, enquanto a vida desenvolve-se na calma da cotidianidade. O que é essencial na união é o sim total que nós damos a Deus em resposta ao Seu apelo. Pensemos na conversão de São Paulo, em resposta ao apelo direto de Deus; pensemos na reviravolta interior dos Apóstolos depois da Ressurreição: foi naquele momento que eles transformaram-se verdadeiramente em disípulos de Jesus. A partir deste sim radical e efetivo nós pertencemos a Deus. O nosso único desejo, agora, é o de dar-lhe alegria. Isto não significa que não conheceremos mais a fragilidade, mas que possuimos uma bússula interior que faz com que nossa vontade seja orientada sem hesitação em direção a Deus.

            Deus neste ponto é o tudo da nossa vida; não nos pede mais que uma coisa: deixá-lo viver e agir em nós. Aqui e agora não há nada mais de sensacional, nada de extraordinário: a vida passa em uma grande simplicidade e em uma paz profunda. O divino é natural! O Esposo conduziu a alma no deserto para falar-lhe ao seu coração e revelar-lhe os segredos do seu amor: a união de amor está consumada. 

(Do site: http://www.carmelitanescalzeparma.it)

Um comentário:

  1. nada melhor nessa vida do que ficar a sós com Deus. Se apenas deseja isolar, nada se encontra, embora Jesus esteja conosco.
    Um mergulho nos braços do Pai Altíssimo.

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