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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

POESIAS


I

Aspirações à Vida Eterna1


Vivo sem em mim viver,

E tão alta vida espero,

Que morro de não morrer.

Já fora de mim vivi

Desde que morro de amor;

Porque vivo no Senhor,

Que me escolheu para Si.

O coração lhe rendi,

E nele quis escrever

Que morro de não morrer.

Esta divina prisão

De amor, em que sempre vivo,

Faz a Deus ser meu cativo,

E livre meu coração;

E causa em mim tal paixão

Deus prisioneiro em mim ver,

Que morro de não morrer.

Ai! como é larga esta vida

E duros estes desterros!

Este cárcere, estes ferros

Em que a alma vive metida!…

Só de esperar a saída

Me faz tanto padecer,

Que morro de não morrer.

Ai! como a existência é amarga

Sem o gozo do Senhor!

Se é doce o divino amor,

Não o é a espera tão larga:

Tire-me Deus esta carga

Tão pesada de sofrer,

Que morro de não morrer.

Só vivo pela confiança

De que um dia hei de morrer;

Morrendo, o eterno viver

Tem, por seguro, a esperança.

Ó morte que a vida alcança,

Não tardes em me atender,

Que morro de não morrer.

Olha que o amor é bem forte!

Vida, não sejas molesta;

Vê: para ganhar-te resta

Só perder-te: — feliz sorte!

Venha já tão doce morte;

Venha sem mais se deter,

Que morro de não morrer.

Lá no Céu, definitiva,

É que a vida é verdadeira;

Durante esta, passageira,

Não a goza a alma cativa.

Morte, não sejas esquiva;

Mata-me, para eu viver,

Que morro de não morrer.

Ó vida, que posso eu dar

A meu Deus, que vive em mim,

A não ser perder-te, a fim

De o poder melhor gozar?

Morrendo o quero alcançar,

E não tenho outro querer;

Que morro de não morrer.

Se ausente de meu Deus ando*,

Que vida há de ser a minha

Senão morte, a mais mesquinha,

Que mais me vai torturando?

Tenho pena de mim, quando

Me vejo em tanto sofrer,

Que morro de não morrer.

Já de alívio não carece

O peixe em saindo da água,

Pois tem fim toda outra mágoa

Quando a morte se padece.

Pior que morrer parece

Meu lastimoso viver,

Que morro de não morrer.

Se me começo a aliviar

Ao ver-te no Sacramento,

Vem-me logo o sentimento

De não te poder gozar.

Tudo aumenta o meu penar,

Por tão pouco assim te ver,

Que morro de não morrer.

Quando me alegro, Senhor,

Pela esperança de ver-te,

Penso que posso perder-te,

E se dobra a minha dor:

E vivo em tanto pavor,

Sem na espera esmorecer,

Que morro de não morrer.

Oh! tira-me desta morte,

E dá-me, Deus meu, a vida;

Não me tenhas impedida

Por este laço tão forte.

Morro por ver-te, de sorte

Que sem ti não sei viver,

E morro de não morrer.

Choro a minha morte já;

E lamento a minha vida,

Enquanto presa e detida

Por meus pecados está.

Ó meu Deus, quando será

Que eu possa mesmo dizer

Que morro de não morrer?


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II

Nas Mãos de Deus

Sou vossa, sois o meu Fim:

Que mandais fazer de mim?

Soberana Majestade

E Sabedoria Eterna,

Caridade a mim tão terna,

Deus uno, suma Bondade,

Olhai que a minha ruindade,

Toda amor, vos canta assim:

Que mandais fazer de mim?

Vossa sou, pois me criastes,

Vossa, porque me remistes,

Vossa, porque me atraístes

E porque me suportastes;

Vossa, porque me esperastes

E me salvastes, por fim:

Que mandais fazer de mim?

Que mandais, pois, bom Senhor,

Que faça tão vil criado?

Qual o ofício que haveis dado

A este escravo pecador?

Amor doce, doce Amor,

Vede-me aqui, fraca e ruim:

Que mandais fazer de mim?

Eis aqui meu coração:

Deponho-o na vossa palma;

Minhas entranhas, minha alma,

Meu corpo, vida e afeição.

Doce Esposo e Redenção,

A vós entregar-me vim:

Que mandais fazer de mim?

Morte dai-me, dai-me vida;

Saúde ou moléstia dai-me;

Honra ou desonra mandai-me;

Dai-me paz ou guerra e lida.

Seja eu fraca ou destemida,

A tudo direi que sim:

Que mandais fazer de mim?

Dai-me riqueza ou pobreza,

Exaltação ou labéu;

Dai-me alegria ou tristeza,

Dai-me inferno ou dai-me céu;

Doce vida, sol sem véu,

Pois me rendi toda, enfim:

Que mandais fazer de mim?

Se quereis, dai-me oração;

Se não, dai-me soledade;

Abundância e devoção,

Ou míngua e esterilidade.

Soberana Majestade,

A paz só encontro assim:

Que mandais fazer de mim?

Dai-me, pois, sabedoria,

Ou, por amor, ignorância;

Anos dai-me de abundância,

Ou de fome e carestia;

Dai-me treva ou claro dia,

Vicissitudes sem fim:

Que mandais fazer de mim?

Se me quereis descansando,

Por amor o quero estar;

Se me mandais trabalhar,

Morrer quero trabalhando.

Dizei: onde? como? e quando?

Dizei, doce Amor, por fim:

Que mandais fazer de mim?

Dai-me Calvário ou Tabor;

Deserto ou terra abundante;

Seja eu como Jó na dor,

Ou João sobre o peito amante;

Seja vinha luxuriante

Ou, se quereis, vinha ruim:

Que mandais fazer de mim?

Ou José encarcerado,

Ou José Senhor do Egito;

Ou David sofrendo, aflito,

Ou David já sublimado;

Ou Jonas ao mar lançado,

Ou Jonas salvo, por fim.

Que mandais fazer de mim?

Já calada, já falando,

Traga frutos ou não traga,

Veja eu na Lei minha chaga,

Ou goze Evangelho brando;

Quer fruindo, quer penando,

Sede a minha vida, enfim!

Que mandais fazer de mim?

Pois sou vossa, e Vós meu Fim:

Que mandais fazer de mim?

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III

Sobre aquelas Palavras: “Dilectus meus mihi”1

Entreguei-me toda, e assim

Os corações se hão trocado:

Meu Amado é para mim,

E eu sou para meu Amado.

Quando o doce Caçador

Me atingiu com sua seta,

Nos meigos braços do Amor

Minh’alma aninhou-se, quieta.

E a vida em outra, seleta,

Totalmente se há trocado:

Meu Amado é para mim,

E eu sou para meu Amado.

Era aquela seta eleita

Ervada em sucos de amor,

E minha alma ficou feita

Uma com o seu Criador.

Já não quero eu outro amor,

Que a Deus me tenho entregado:

Meu Amado é para mim,

E eu sou para meu Amado.

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IV

Colóquio Amoroso

Deus meu, se o amor que me tendes

É como o amor que vos tenho,

Dizei: por que me detenho?

Ou Vós, por que vos detendes?

— Alma, que queres de mim?

— Deus meu, não mais do que ver-vos.

— E tu temes? Como assim?

— O que mais temo é perder-vos.

Uma alma em Deus escondida,

Que mais tem que desejar?

Senão sempre amar e amar,

E, no amor toda incendida,

Tornar-vos de novo a amar?

Oh! dai-me, Deus meu, carinho!

Oh! dai-me amor abrasado,

E eu farei um doce ninho

Onde for de vosso agrado.

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V

Feliz o que Ama a Deus

Ditoso o coração enamorado

Que só em Deus coloca o pensamento;

Por Ele renuncia a todo o criado,

Nele acha glória, paz, contentamento.

Vive até de si mesmo descuidado,

Pois no seu Deus traz todo o seu intento.

E assim transpõe sereno e jubiloso

As ondas deste mar tempestuoso.

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VI

Ante a Formosura de Deus

Formosura que excedeis

A todas as formosuras,

Sem ferir, que dor fazeis!

E sem magoar desfazeis

O amor pelas criaturas!

Ó Laço que assim juntais

Dois seres tão diferentes,

Por que é que vos desatais

Se, atado, em gozos trocais

As dores as mais pungentes?

Ao que não tem ser, juntais

Com quem é Ser por essência;

Sem acabar, acabais;

Sem ter o que amar, amais;

E nos ergueis da indigência.

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VII

Ais do Desterro

Sem Ti como é triste,

Meu Deus, o viver!

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

Ai! como na terra

Longa é a nossa estrada!

É duro desterro,

Penosa morada;

Leva-me daqui,

Senhor de meu ser!

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

Ai! mundo tão triste

Em que me perdi!

Pois a alma não vive

Se longe de ti.

Meu doce Tesouro,

Que amargo sofrer!

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

Ó morte benigna

Põe termo a meus males!

Só tu, com teus golpes

Tão doces, nos vales.

Que ventura, ó Amado,

Contigo viver!

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

O amor que é mundano

Se apega a esta vida;

Mas o amor divino

À outra nos convida.

Sem Ti, Deus eterno,

Quem pode viver?

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

A vida terrena

É engano bem triste;

Vida verdadeira

Só no Céu existe.

Deus meu, lá, contigo,

Oh! dá-me viver!

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

Quem é que ante a morte,

Deus meu, teme, aflito,

Se alcança por ela

Um gozo infinito?

Oh! sim o de amar-te

Sem mais te perder!

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

Ai! minha alma geme

Tristissimamente…

Quem de seu Amado

Pode estar ausente?

Acabe depressa

Tão duro sofrer!

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

O peixe colhido

No anzol fraudulento

Encontra na morte

O fim do tormento.

Ai! gemo e definho,

Bem meu, sem te ver,

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

Em vão te procuro,

Pois nunca te vejo;

Jamais alivias,

Senhor, meu desejo.

Ah! isto me inflama

E obriga a gemer:

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

Ai! quando a meu peito

Vens na Eucaristia,

Deus meu, logo temo

Perder-te algum dia;

Tal pena me aflige

E impele a dizer:

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

Põe termo a estas penas,

Senhor, e retira

Do exílio esta serva

Que por Ti suspira.

Quebrados meus ferros,

Feliz irei ser.

Com ânsias de ver-te,

Desejo morrer!

Mas justo é que eu sofra

Por tantas ofensas,

E expie meus erros

E culpas imensas.

Ai! logre meu pranto

Fazer-te entender

Que em ânsias te ver-te,

Desejo morrer!

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VIII

Buscando a Deus

Alma, buscar-te-ás em Mim,

E a Mim buscar-me-ás em ti.

De tal sorte pôde o amor,

Alma, em mim te retratar,

Que nenhum sábio pintor

Soubera com tal primor

Tua imagem estampar.

Foste por amor criada,

Bonita e formosa, e assim

Em meu coração pintada,

Se te perderes, amada,

Alma, buscar-te-ás em Mim.

Porque sei que te acharás

Em meu peito retratada,

Tão ao vivo debuxada,

Que, em te olhando, folgarás

Vendo-te tão bem pintada.

E se acaso não souberes

Em que lugar me escondi,

Não busques aqui e ali,

Mas, se me encontrar quiseres,

A Mim, buscar-me-ás em ti.

Sim, porque és meu aposento,

És minha casa e morada;

E assim chamo, no momento

Em que de teu pensamento

Encontro a porta cerrada.

Busca-me em ti, não por fora…

Para me achares ali,

Chama-me, que, a qualquer hora,

A ti virei sem demora,

E a Mim buscar-me-ás em ti.

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IX

Eficácia da Paciência

Nada te turbe,

Nada te espante,

Pois tudo passa

Só Deus não muda.

Tudo a paciência

Por fim alcança.

Quem a Deus tenha,

Nada lhe falta,

Pois só Deus basta.

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X

Para a Pátria

Vamos para o Céu tão belo,

Monjas do Carmelo!

Vamos mui mortificadas,

Humildes e desprezadas,

Sem no gozo pôr o anelo,

Monjas do Carmelo!

Eia! ao voto de obediência,

Jamais haja resistência,

Que é nosso fim, nosso anelo,

Monjas do Carmelo!

A pobreza é a estrada real

Que o Imperador celestial

Trilhou com todo o desvelo,

Monjas do Carmelo!

Nunca nos deixa de amar

Nosso Deus, nem de chamar.

Sigamos o seu apelo,

Monjas do Carmelo!

De amor está se abrasando

O que nasceu tiritando,

— Homem e Deus, num só elo —,

Monjas do Carmelo!

Vamo-nos enriquecer

Onde jamais há de haver

Pobreza ou qualquer flagelo,

Monjas do Carmelo!

Do Pai Elias no bando,

Vamo-nos contrariando,

Com sua força e seu zelo,

Monjas do Carmelo!

Duplo espírito busquemos

Como Eliseu, e neguemos

Nosso querer, com desvelo,

Monjas do Carmelo!

XI

Ao Nascimento de Jesus1

Ó pastores que velais,

A guardar vosso rebanho,

Eis que vos nasce um Cordeiro,

Filho de Deus soberano.

Vem pobre, vem desprezado,

Tratai logo de o guardar,

Porque o lobo o há de levar

Sem que o tenhamos gozado.

— Gil, dá-me aquele cajado,

Vou tê-lo nas mãos todo o ano,

Não se nos leve o Cordeiro:

Não vês que é Deus Soberano?

Sinto-me todo aturdido

De gozo e pena. E pergunto:

— Se é Deus o que hoje é nascido,

Como pode ser defunto?

É que é homem e Deus, junto;

Governa o destino humano;

Olha que o nosso Cordeiro

Filho é de Deus Soberano.

Não sei para que é que o pedem,

Pois lhe dão depois tal guerra.

— Olha, Gil, melhor será

Que se torne à sua terra…

Mas se todo o bem encerra,

E apaga o pecado humano,

Já que é nascido, padeça

Este Deus tão soberano.

Pouco te dói sua pena!

Tanto é certo que esquecemos

O que os outros por nós sofrem,

Se proveito recebemos!

Não vês que um dia o teremos

Pastor do gênero humano?

Contudo é coisa tremenda

Que morra Deus Soberano.

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XII

Ao Nascimento de Jesus

Hoje nos vem redimir

Um Zagal, nosso parente,

Gil, que é Deus Onipotente.

— Por isso nos há tirado

Da prisão de Satanás;

Mas é parente de Brás

E de Menga e de Vicente:

Porque é Deus Onipotente!

— Pois se é Deus, como é vendido

E morre crucificado?

— Não vês que mata o pecado,

Padecendo, Ele, inocente?

Gil, é Deus Onipotente!

Palavra! que o vi nascido;

E a Mãe é linda Zagala.

— Pois se é Deus, como há querido

Estar com tão pobre gente?

— Não vês que Ele é Onipotente?

Deixa-te dessas perguntas,

Tratemos já de o servir.

E pois à morte quer ir,

Morramos também, Vicente,

Pois é Deus Onipotente.

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XIII

Para a Natividade

Já Deus nos há dado

O amor: assim, pois,

Não há que temer,

Morramos os dois.

Seu Único Filho

O Pai nos envia:

Nasce hoje na lapa,

Da Virgem Maria.

O homem — que alegria!

É Deus: assim pois,

Não há que temer,

Morramos os dois.

— Olha bem, Vicente:

Que amor! e que brio!

Vem Deus, inocente,

A padecer frio;

Deixa o senhorio

Que tem; assim, pois,

Não há que temer,

Morramos os dois.

— Mas como, Pascoal,

Tem tanta franqueza,

Que veste saial,

Deixando riqueza?

Mais quer à pobreza!

Sigamo-lo pois:

Se já vem feito homem,

Morramos os dois.

Mas qual sua paga

Por tanta grandeza?

— Só grandes açoites

Com muita crueza.

— Que imensa tristeza

Teremos depois!

Ah! se isto é verdade,

Morramos os dois.

— Mas como se atrevem,

Sendo Onipotente?

— Será morto um dia

Por perversa gente.

— Se assim é, Vicente,

Furtemo-lo pois:

— Não vês que o deseja?

Morramos os dois!

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XIV

Ao Nascimento do Menino Jesus

Galego, quem chama aí fora?

— São Anjos, à luz da aurora.

— Grande rumor ouço ao longe

Que parece cantilena,

— Vamos ver, Brás, — que amanhece —

A Zagala tão serena.

— Galego, quem chama aí fora?

— São Anjos, à luz da aurora.

Será do alcaide parenta?

Ou quem é esta donzela?

— É filha do Eterno Padre

E reluz como uma estrela.

Galego, quem chama aí fora?

— São Anjos, à luz da aurora.

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XV

À Cincuncisão

Ele está sangrando,

Dominguinhos, eh!

E eu não sei por quê…

— Por que — te pergunto —

Deram tal castigo

A Deus inocente,

Se é tão nosso amigo?

— Quis ter-me consigo,

Eu não sei por quê…

Quis amar-me muito,

Dominguinhos, eh!

Mas logo em nascendo

Tem suplício tal?

— Sim, que está morrendo

Por dar fim ao mal.

Que grande Zagal

Será ele! crê!

Dominguinhos, eh!

Não vês que o coitado

É Infante inocente?

— Assim mo hão contado

Brasinho e Vicente.

Não amá-lo a gente

É vileza até!

Dominguinhos, eh!

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XVI

Outra à Circuncisão

Este Infante vem chorando;

Olha-o, Gil, que está chamando.

Veio do Céu a esta terra

Para acabar nossa guerra;

Já deu começo à peleja,

Seu sangue está derramando;

Olha-o, Gil, que está chamando.

Pois tem amor tão ardente,

Não é muito estar chorando.

Já tem brio, que é valente,

Pois um dia há de ter mando;

Olha-o, Gil, que está chamando.

Caro nos há de custar.

Pois cedo está começando

A seu sangue derramar;

Justo é ficarmos chorando!

Olha-o, Gil, que está chamando.

Antes não tivesse vindo!

Ficasse do Pai no seio!

Mas não vês, Gil, que, se veio,

É como leão bramando?

Olha-o, Gil, que está chamando.

— Pascoal, que queres comigo,

Que tanto grito estás dando?

— Que ames a esse teu amigo

Que por ti vês tiritando.

Olha-o, Gil, que está chamando.

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XVII

Na Festividade dos Santos Reis

Pois a nova estrela

É já chegada,

Aos Santos Reis siga

Minha manada.

Vamos, todos justos,

Ver nosso Messias,

Que cumpridas vemos,

Hoje, as profecias.

Pois, em nossos dias,

A estrela é chegada,

Aos Santos Reis siga

Minha manada.

Levemos presentes

De grande valor,

Pois chegam os Magos

Com tanto fervor.

Exulte de amor

Nossa grande Amada!

Aos Santos Reis siga

Minha manada.

Para ver que é Deus

Este infante, não

Procures, Vicente,

Nenhuma razão.

Dá-lhe o coração,

E a alma enamorada.

E aos Santos Reis siga

Minha manada.

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XVIII

À Cruz

Gostosa quietação da minha vida,

Sê bem-vinda, cruz querida.

Ó bandeira que amparaste

O fraco e o fizeste forte!

Ó vida da nossa morte,

Quão bem a ressuscitaste!

O Leão de Judá domaste,

Pois por ti perdeu a vida.

Sê bem-vinda, cruz querida.

Quem não te ama vive atado

E da liberdade alheio;

Quem te abraça sem receio

Não toma caminho errado.

Oh! ditoso o teu reinado,

Onde o mal não tem cabida!

Sê bem-vinda, cruz querida.

Do cativeiro do inferno,

Ó cruz, foste a liberdade;

Aos males da humanidade

Deste o remédio mais terno.

Deu-nos, por ti, Deus Eterno

Alegria sem medida.

Sê bem-vinda, cruz querida.

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XIX

O Caminho da Cruz

O consolo está, e a vida,

Só na cruz;

E ao Céu é a única senda

Que conduz.

Está na cruz o Senhor

De céus e terra,

E o gozar de muita paz

Em plena guerra.

Todos os males desterra

Do mundo, a cruz.

E ao Céu é a única senda

Que conduz.

Da cruz é que diz a Esposa

A seu Querido,

Que é a palmeira preciosa

Aonde há subido;

Cujo fruto lhe há sabido

Ao seu Jesus.

E ao Céu é a única senda

Que conduz.

A santa Cruz é oliveira

Mui preciosa,

Seu óleo nos unge e inunda

De luz radiosa;

Ó minh’alma, pressurosa,

Abraça a cruz:

Pois ao Céu é a única senda

Que conduz.

É o madeiro verdejante

E desejado

Da Esposa, que à sua sombra

Se há sentado,

A gozar de seu Amado,

O Rei Jesus.

Pois ao Céu é a única senda

Que conduz.

A alma que a Deus totalmente

Está rendida,

Bem deveras deste mundo

Já desprendida,

Árvore de gozo e vida

É a santa Cruz,

E ao Céu é o doce caminho

Que conduz.

Desde que na Cruz foi posto

O Salvador,

Só na cruz se encontra glória,

Honra e louvor;

Vida e consolo na dor

Dá-nos a cruz,

E ao Céu é a estrada segura

Que conduz.

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XX

Abraçadas à Cruz

Vamos para o Céu tão belo,

Monjas do Carmelo.

Abracemos bem a Cruz

E sigamos a Jesus,

Que é nosso caminho e luz,

Fartura do nosso anelo,

Monjas do Carmelo.

Sereis livres de cuidados,

Desconsolo e mil enfados,

Se os três votos professados

Observardes com desvelo,

Monjas do Carmelo.

O voto da obediência,

Ainda que de alta ciência,

Só o quebra a resistência:

Aparte Deus tal flagelo,

Monjas do Carmelo!

A castidade guardai,

E só a Deus desejai;

E nele vos encerrai,

Sem do mundo ouvir o apelo,

Monjas do Carmelo.

Nosso voto de pobreza,

Se guardado com pureza,

Está cheio de riqueza

E nos abre o Céu tão belo,

Monjas do Carmelo.

Fazendo assim, venceremos

Tudo, e enfim descansaremos

No Criador, que, em seus extremos,

Fez a terra e o Céu tão belo,

Monjas do Carmelo.

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XXI

A Santo André

Se quem ama sofre alegre,

E acha tal gozo na dor,

Que será ver-te, Senhor?

Que será quando nós virmos

A suprema Majestade,

Se André a Cruz avistando

Sente tal felicidade?

Oh! que não pode em verdade

Faltar deleite na dor!

Que será ver-te, Senhor?

O amor, quando já crescido,

Não pode ocioso ficar;

Nem o forte sem lutar;

Por amor de seu Querido.

Deus, de seu amor vencido,

Sempre o fará vencedor.

Que será ver-te, Senhor?

— Se todos temem a morte,

Como te é doce o morrer?

— É que vou para viver

De outra mais subida sorte.

Morrendo, ó meu Deus, tão forte

Ao fraco deste vigor.

Que será ver-te, Senhor?

Ó Cruz, madeiro precioso,

De sublime majestade,

Pois jazendo na humildade,

Tomaste a Deus por esposo!

Sem merecer tanto gozo,

Venho a ti, cheio de amor

Ao ver-te, ó Cruz do Senhor!

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XXII

A Santo Hilarião

Venceu hoje um cavaleiro

Ao mundo e seus valedores.

Voltai! voltai! pecadores!1

Sigamos este guerreiro.

Busquemos a soledade,

E não queiramos morrer

Até ganhar o viver.

Em tão subida pobreza.

Oh! como é grande a destreza

Do nosso audaz cavaleiro!

Voltai! voltai! pecadores!

Sigamos este guerreiro.

Com armas de penitência

Soube a Lúcifer vencer;

Combateu pela paciência

E já não tem que temer.

Todos podemos vencer,

Seguindo este cavaleiro.

Voltai! voltai! pecadores!

Sigamos este guerreiro.

Não encontrou protetores,

Abraçou-se à santa Cruz.

Sempre nela achamos luz,

Pois foi dada aos pecadores.

Oh! que ditosos amores

Teve o nosso cavaleiro!

Voltai! voltai! pecadores!

Sigamos este guerreiro.

Coroa e eterna memória,

Gozo sem fim mereceu.

Acabou-se o que sofreu…

Já reina em sublime glória.

Oh! venturosa a vitória

De nosso forte guerreiro!

Voltai! voltai! pecadores,

Ao caminho verdadeiro.

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XXIII

A Santa Catarina Mártir

Ó grande amadora

Do Eterno Senhor,

Dai-nos, clara estrela,

Amparo e fervor.

Desde tenra idade

Tomastes Esposo.

Vosso amor tamanho

Não vos deu repouso.

A vós não se chegue

O que, em vez da Cruz,

Ama a vida e teme

Morrer por Jesus.

Olhai, ó covardes,

A santa donzela:

Não faz caso do ouro,

Nem de ser tão bela.

Na luta vê-se ela

Da perseguição;

Mas nas dores mostra

Grande coração.

Mais pena lhe dava

Viver sem o Esposo,

E, assim, nos tormentos

Achava repouso.

Tudo lhe era gozo,

Quisera morrer;

Pois já nesta vida

Não pode viver.

Nós que pretendemos

Gozar de seu gozo,

Nunca nos cansemos

A buscar repouso.

Oh! engano enganoso!

Que falta de amor!

Querer só regalos

Sem pena e sem dor!…

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XXIV

À Tomada de Hábito da Irmã Jerônima da Encarnação

Quem do vale da amargura,

Aqui vos trouxe, donzela?

Meu Deus e minha ventura.

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XXV2

À Tomada de Véu da Irmã Isabel dos Anjos

Irmã, para que veleis

Sois velada, e nesse véu

Em jogo está vosso Céu:

Assim, não vos descuideis.

Diz este véu tão gracioso

Que estejais sempre de vela,

Vigilante sentinela,

Aguardando vosso Esposo,

Que, como ladrão famoso,

Virá quando não penseis…

Assim, não vos descuideis.

Vem, mas ninguém sabe a que hora…

Se na vigília primeira,

Na segunda ou na terceira.

Todo cristão isto ignora.

Velai, Irmã, desde agora:

Não roubem o que trazeis…

Assim, não vos descuideis.

Vossa candeia empunhando,

Bem acesa e espevitada,

Velai, pois estais velada,

Os rins cingindo e apertando.

Não vos fiqueis dormitando,

Porque muito arriscareis…

Assim, não vos descuideis.

Tende óleo na almotolia,

Trabalhando e merecendo,

Para a lâmpada ir provendo,

Que não morra de vazia.

Se nisto fordes vadia,

Às bodas não entrareis.

Assim, não vos descuideis.

Não tereis óleo emprestado,

E, se o fordes a comprar,

Poder-vos-eis retardar;

E, uma vez o Esposo entrado,

Havendo a porta cerrado,

Não abre, embora clameis…

Assim, não vos descuideis.

Tende contínuo cuidado

De cumprir, com alma forte,

Até o instante da morte,

O que hoje haveis professado;

Porque, tendo assim velado,

Com vosso Esposo entrareis:

Assim, não vos descuideis.

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XXVI

À Profissão de Isabel dos Anjos

Seja meu gozo no pranto;

Sobressalto, meu repouso;

Meu sossego, doloroso;

Minha ventura, quebranto.

Nas borrascas, meu amor;

Meu regalo, o ser ferida;

Na morte encontre eu a vida;

Nos desprezos, meu favor;

Meus tesouros, na pobreza;

Meu triunfo, em pelejar;

Meu descanso, em trabalhar;

Meu consolo, na tristeza;

Na escuridão, minha luz;

Meu trono, em posto mesquinho;

O atalho de meu caminho,

Minha glória seja a cruz.

Seja-me honra o abatimento;

Minha palma, o padecer;

Nas mínguas, o meu crescer;

Nas perdas, o meu aumento;

Na fome, a minha fartura;

A esperança, no temor;

Meus regalos, no pavor;

E meus gostos, na amargura;

No olvido, minha memória;

Meu trono na humilhação;

No opróbrio, minha opinião;

Na afronta, minha vitória;

Minha coroa, a humildade;

As penas, minha afeição;

Um cantinho, meu quinhão;

Meu apreço, a soledade;

Em Cristo, a minha confiança,

E d’Ele só meu sustento;

Seu langor seja-me alento;

Gozo, sua semelhança.

Nisto encontro fortaleza,

Encontro tranqüilidade;

Prova de minha verdade,

Penhor de minha firmeza.

XXVII

A uma Professa1

Oh! que zagala ditosa

De hoje um Zagal desposar

Que reina e que há de reinar!

— Venturosa a sua sorte,

Pois mereceu tal Esposo!

Eu, Gil, me sinto medroso,

Nem a ousarei mais olhar!

Pois tal Esposo há tomado,

Que reina e que há de reinar.

— Que lhe deu ela por dote,

Para viver a seu lado?

— Um coração abrasado.

— Só isso? É pouco pagar:

Que é Zagal muito formoso,

Que reina e que há de reinar!

— Mais daria se tivera…

— Rapaz, não sejas mesquinho!

Dá-lhe o nosso cabazinho

Para o seu gosto tirar,

Porque hoje há tomado Esposo

Que reina e que há de reinar!

— Já vimos o que deu ela,

E o Zagal como a prendou?

— Com seu sangue a resgatou…

— Que precioso cabedal!

E que zagala ditosa,

Que contenta a este Zagal!

— Pois deu tão grande tesouro,

Muito a deve ter amado…

— Não vês que roupa e calçado

E tudo mais lhe há de dar?

Olha que é já seu Esposo,

Que reina e que há de reinar!

— Para este nosso rebanho

Bem será que hoje a tomemos,

E, alegres, a festejemos

Para seu amor ganhar,

Pois tomou tão grande Esposo,

Que sem fim há de reinar.

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XXVIII

Para uma Profissão

Oh! que bem tão sem segundo!

Oh! casamento sagrado!

O Rei dos Céus e da terra

Quis ser hoje o desposado!

Oh! que venturosa sorte

Vos estava aparelhada!

Deus que vos quis por amada

Vos ganhou com sua morte!

Em servi-lo sede forte,

Porquanto o haveis professado.

Sim, que o Rei dos Céus e da terra

É já vosso desposado.

Ricas jóias vos dará

O Rei do Céu, vosso Esposo,

E também consolo e gozo

Que ninguém vos tirará.

Em vossa alma infundirá

Um espírito humilhado.

É Rei, bem o poderá,

Pois quer ser hoje o esposado.

Dar-vos-á este Senhor

Um amor tão santo e puro,

Que podereis, asseguro,

Perder ao mundo o temor;

E ainda mais ao tentador,

Porque ficou maniatado;

Que o Rei do Céu e da terra

Hoje foi o desposado.

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XXIX

Para uma Profissão

Vós todas que militais

Sob este pendão de guerra,

Ah! não durmais, ah! não durmais,

Porquanto não há paz na terra.

Nosso Deus, capitão forte,

Por nós se quis imolar.

Comecemo-lo a imitar,

Pois lhe demos nós a morte.

Oh! que venturosa sorte

Se lhe seguiu desta guerra!

Ah! não durmais, ah! não durmais,

Pois vai faltando Deus na terra.

Com grande contentamento

Prestou-se a morrer na cruz,

Para dar a todos luz

Com seu atroz sofrimento.

Oh! glorioso vencimento!

Afortunada esta guerra!

Ah! não durmais, ah! não durmais,

Pois vai faltando Deus na terra.

Não haja, entre nós, covarde!

Aventuremos a vida:

Não há quem melhor a guarde

Que o que a deu por já perdida.

Jesus comanda a investida,

E prêmio será da guerra;

Ah! não durmais, ah! não durmais,

Porquanto não há paz na terra.

Correi, corramos ligeiras

A morrer por Cristo, todas:

E nas celestiais bodas

Estaremos prazenteiras.

Sigamos estas bandeiras:

Cristo vai na frente à guerra!

Longe o temor! Ah! não durmais

Porquanto não há paz na terra.

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XXX

Para uma Profissão

Pois que nosso Esposo

Nos quer em prisão,

Oh! que bela vida

A da Religião!

Oh! que ricas bodas

Ordenou Jesus!

Quer-nos a nós todas,

E dá-nos a luz.

Sigamos a Cruz,

E com perfeição!

Oh! que bela vida

A da Religião!

Este é o nosso estado

Por Deus escolhido,

Com que do pecado

Nos há defendido.

Tem-nos prometido

Dar consolação

Se nos alegrarmos

Em nossa prisão.

Na suprema glória

Dar-nos-á grandezas

E eternas riquezas,

Em troca da escória

Mundana e ilusória,

Que é só perdição.

Oh! que bela vida

A da Religião!

Grande liberdade

Este cativeiro!

Viver prazenteiro

Para a eternidade!

Dou-lhe de verdade

Todo o coração.

Oh! que bela vida

A da Religião!

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XXXI

Contra um Flagelo Impertinente

Pois nos dais vestido novo,

Rei celestial,

Livrai da praga importuna

Este saial.

A Santa: Filhas, pois tomais a Cruz,

Tende valor,

E a Jesus que é vossa luz

Pedi favor.

Será vosso defensor

Em transe tal.

Todas: Livrai da praga importuna

Este saial.

A Santa: Inquieta este mal, durante

Nossa oração,

Ao ânimo vacilante

Na devoção.

Mas em Deus o coração

Mantende igual.

Todas: Livrai da praga importuna

Este saial.

A Santa: Pois por Deus morrer viestes,
Não desmaieis;

E tal praga em vossas vestes

Não temereis.

Remédio em Deus achareis

A tanto mal.

Todas: Pois nos dais vestido novo

Rei celestial,

Livrai da praga importuna

Este saial.

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Saudades de Deus

Vejam-te meus olhos,

Doce e bom Senhor;

Vejam-te meus olhos,

E morra eu de amor.

Olhe quem quiser,

Rosas e jasmins:

Que eu, com a tua vista,

Verei mil jardins.

Flor de serafins,

Jesus Nazareno,

Vejam-te meus olhos,

E morra eu sereno.

Sem tal companhia

Vejo-me cativo.

Sem ti, vida minha,

É morte o que eu vivo.

Este meu desterro

Quando terá fim?

Vejam-te meus olhos

E morra eu, enfim.

Prazeres não quero,

— Meu Jesus ausente:

Que tudo é suplício

A quem tanto o sente.

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