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domingo, 31 de janeiro de 2010

CARTA 396.

A D. PEDRO DE CASTRO Y NERO, EM AVILA

AVILA, 19 DE NOVEMBRO DE 1581

O LIVRO DAS MISERICÓRDIAS DE DEUS

UMA CONFERÉNCIA ESPIRITUAL COM D. PEDRO PARA ABRR-LHE A ALMA.

DÁ-LHE SEUS ESCRITOS PARA QUE OS LEIA E DÉ SUA OPINIÃO.

LOUVA AS “GALAS” DO ESTILO DE D. PEDRO

Jesus esteja com vossa mercê. O favor que vossa mercê me fez com sua carta de tal maneira me enterneceu, que dei primeiro graças a Nosso Senhor com um Te Deum laudainus, antes de as dar a vossa mercê, porque me pareceu recebê-la das mãos de que me vieram tantas outras. Agora beijo as de vossa mercê infinitas vezes, e quisera fazê-lo mais que por palavras. Que coisa é a misericórdia de Deus! Minhas maldades fizeram bem a vossa mercê; e tem razão, vendo-me fora do inferno que há tanto tempo tenho merecido. Assim é que intitulei esse livro “Das Misericórdias de Deus”.

Seja Ele para sempre louvado, que estava eu longe de pensar nesta graça que agora recebi; e contudo sentia-me perturbada a cada palavra mais forte. Não quisera dizer-lhe mais, por escrito. Suplico a vossa mercê venha ver-me amanhã, véspera da Apresentação, e porei diante dos olhos de vossa mercê uma alma que se desviou muitas vezes, a fim de que faça vossa mercê nela tudo o que julgar conveniente para torná-la agradável a Deus. Espero em Sua Majestade dar-me-á graça para obedecer-lhe toda a minha vida. Não pretendo, se houver de ausentar-me, recuperar a liberdade, nem a quero porque desejar isto seria coisa nova para mim; portanto, não é possível que me deixe de vir grande bem por seu meio, se vossa mercê de seu lado não me desamparar, e sei que não há de fazê-lo. Guardarei este seu bilhete comopenhor deste ajuste, embora tenha outro maior’.

O que suplico a vossa mercê, por amor de Nosso Senhor, é que sempre tenha presente quem eu sou, a fim de não fazer caso das mercês que recebo de Deus a não ser para considerar-me pior, pois, correspondendo tão mal a elas, está claro que o receber é ficar mais endividada. Vingue antes vossa mercê em mim a honra deste Senhor, já que Sua Majestade não quer castigar- me a não ser com mercês, o que é não pequeno castigo para quem se conhece.

Em acabando vossa mercê de ler esses papéis, dar-lhe-ei outros. Se os vir, não é possível deixar de aborrecer a quem deveria ser tão diferente do que sou. Penso que darão gosto a vossa mercê. Dê-lhe Nosso Senhor de Si, como Lhe suplico. Amém.

Nada perdeu vossa mercê para comigo pelo estilo com que escreve; tencionava até falar a vossa mercê nas suas galas: tudo aproveita para Deus, quando a raiz é a vontade de servi-lo. Seja por tudo bendito, amém, que há muito não sinto tão grande contentamento quanto nesta noite. Pelo título beijo a vossa mercê muitas vezes as mãos; mas é muito grande para mim.

TERESA DE JESUS

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