Nossa
Senhora está presente nos momentos mais decisivos da vida de Teresa. Já desde
os primeiros balbuceios da sua infância é influenciada pela oração cadenciada
do terço.
Com
a idade de seis ou sete anos a mãe tinha o cuidado “em fazer-nos rezar e sermos
devotos de Nossa Senhora e de alguns Santos”. Teresa continua a contar-nos que
desde muito jovem “Procurava solidão para rezar as minhas devoções que eram
muitas, em especial o Rosário, do qual a minha mãe era muito devota e assim nos
fazia sê-lo”.
Quando Teresa perde sua mãe, que seria entre os treze e quatorze anos de idade, vai-se encomendar a Nossa Senhora. É ela a narrar: “Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui-me, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a Ela, e, enfim, tornou-me a Si”.
Por amor e devoção a Nossa Senhora, Teresa entra no Carmelo da Encarnação de Ávila. Neste mosteiro, como em todos os outros, a presença de Maria é uma constante. A tomada de hábito marcou-a profundamente. Tomava o hábito de Nossa Senhora. Para ela, Nossa Senhora do Carmo é como a encarnação do estilo de vida e do espírito da Ordem. A partir da sua experiência mística a presença de Maria torna-se constante e integrante de muitas graças místicas.
São muitas as graças místicas que Teresa recebe ao longo da sua existência e que têm como objecto e conteúdo Nossa Senhora. Algumas são muito significativas para a sua vida e obra de fundadora. Recordo a que ela narra no Livro da Vida, capítulo 33. É uma espécie de vestidura que Maria faz a Teresa anunciando-lhe o facto de a partir deste momento ser mãe de uma nova família religiosa: o Novo Carmelo. Jesus une sua Mãe a este seu plano. Era no dia de Nossa Senhora da Assunção. Participava na Eucaristia na Capela do Santo Cristo do Convento de S. Domingos e veio-lhe um arroubamento tão grande que ficou fora de si. “Parecia-me, estando assim, que me via vestir uma roupa de muita brancura e claridade. A princípio não via quem ma vestia; depois vi a Nossa Senhora a meu lado direito e a meu Pai S. José à esquerda, que me vestiam aquela roupa. Deu-se-me a entender que já estava limpa de meus pecados. Acabada de vestir e eu com grandíssimo deleite e glória, logo me pareceu Nossa Senhora pegar-me nas mãos. Disse-me que Lhe dava muito gosto sendo devota do glorioso S. José; que tivesse por certo que, o que eu pretendia do mosteiro, se havia de fazer e nele se serviria muito o Senhor e a eles ambos; que não temesse que nisto houvesse jamais quebra, embora a obediência que dava não fosse a meu gosto, porque Eles nos guardariam e já Seu Filho nos tinha prometido andar connosco. Para sinal de que isto se cumpriria dava-me aquela jóia.
Pareceu-me então que me tinha deitado ao pescoço um colar de ouro muito formoso e preso a ele uma cruz de muito valor. Este ouro e pedras são tão diferentes das de cá, que não têm comparação”.
Santa Teresa teve outra graça mística mariana em que ela experimenta a glorificação de Nossa Senhora: “Em dia da Assunção da Rainha dos Anjos e Senhora nossa, quis o Senhor fazer-me esta mercê: num arroubamento representou-se-me a Sua subida ao Céu e a alegria e solenidade com que foi recebida e o lugar onde está. Dizer como foi isto, eu não saberia. Foi grandíssimo o deleite que o meu espírito teve de ver tanta glória. Causou isto em mim grandes efeitos e tirei de proveito ficar com mais e maiores desejos de passar grandes trabalhos e de servir a esta Senhora, pois tanto mereceu” (V 39, 26).
Noutra visão, Teresa compreendeu como o Senhor agracearia as suas irmãs de S. José de Ávila, ao colocá-las sob a protecção de Maria: “Estando todas no coro em oração depois de Completas, vi Nossa Senhora, com grandíssima glória, revestida dum manto branco e, debaixo dele, parecia amparar-nos a todas. Entendi quão alto grau de glória daria o Senhor às desta casa” (V 36, 24).
Apesar de serem muitas as graças místicas marianas experienciadas por Teresa de Jesus, há um parelelismo muito marcado entre a experiência que ela tem de Cristo e de Maria. Depois de tantos trabalhos e sofrimentos passados nas suas fundações Teresa alegra-se com as suas irmãs: “Nós alegramo-nos de podermos em algo servir a Nossa Mãe, Senhora e Padroeira” (F 29, 23). Jesus e Maria são duas criaturas sempre unidas na vida de Teresa e dos seus Carmelos: “Pouco a pouco se vão fazendo outras coisas para honra e glória desta gloriosa Virgem e de Seu Filho. Seja Ele para sempre louvado, ámen, ámen!” (F 29, 28).
P. Jeremias Carlos Vechina, OCD
Quando Teresa perde sua mãe, que seria entre os treze e quatorze anos de idade, vai-se encomendar a Nossa Senhora. É ela a narrar: “Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui-me, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a Ela, e, enfim, tornou-me a Si”.
Por amor e devoção a Nossa Senhora, Teresa entra no Carmelo da Encarnação de Ávila. Neste mosteiro, como em todos os outros, a presença de Maria é uma constante. A tomada de hábito marcou-a profundamente. Tomava o hábito de Nossa Senhora. Para ela, Nossa Senhora do Carmo é como a encarnação do estilo de vida e do espírito da Ordem. A partir da sua experiência mística a presença de Maria torna-se constante e integrante de muitas graças místicas.
São muitas as graças místicas que Teresa recebe ao longo da sua existência e que têm como objecto e conteúdo Nossa Senhora. Algumas são muito significativas para a sua vida e obra de fundadora. Recordo a que ela narra no Livro da Vida, capítulo 33. É uma espécie de vestidura que Maria faz a Teresa anunciando-lhe o facto de a partir deste momento ser mãe de uma nova família religiosa: o Novo Carmelo. Jesus une sua Mãe a este seu plano. Era no dia de Nossa Senhora da Assunção. Participava na Eucaristia na Capela do Santo Cristo do Convento de S. Domingos e veio-lhe um arroubamento tão grande que ficou fora de si. “Parecia-me, estando assim, que me via vestir uma roupa de muita brancura e claridade. A princípio não via quem ma vestia; depois vi a Nossa Senhora a meu lado direito e a meu Pai S. José à esquerda, que me vestiam aquela roupa. Deu-se-me a entender que já estava limpa de meus pecados. Acabada de vestir e eu com grandíssimo deleite e glória, logo me pareceu Nossa Senhora pegar-me nas mãos. Disse-me que Lhe dava muito gosto sendo devota do glorioso S. José; que tivesse por certo que, o que eu pretendia do mosteiro, se havia de fazer e nele se serviria muito o Senhor e a eles ambos; que não temesse que nisto houvesse jamais quebra, embora a obediência que dava não fosse a meu gosto, porque Eles nos guardariam e já Seu Filho nos tinha prometido andar connosco. Para sinal de que isto se cumpriria dava-me aquela jóia.
Pareceu-me então que me tinha deitado ao pescoço um colar de ouro muito formoso e preso a ele uma cruz de muito valor. Este ouro e pedras são tão diferentes das de cá, que não têm comparação”.
Santa Teresa teve outra graça mística mariana em que ela experimenta a glorificação de Nossa Senhora: “Em dia da Assunção da Rainha dos Anjos e Senhora nossa, quis o Senhor fazer-me esta mercê: num arroubamento representou-se-me a Sua subida ao Céu e a alegria e solenidade com que foi recebida e o lugar onde está. Dizer como foi isto, eu não saberia. Foi grandíssimo o deleite que o meu espírito teve de ver tanta glória. Causou isto em mim grandes efeitos e tirei de proveito ficar com mais e maiores desejos de passar grandes trabalhos e de servir a esta Senhora, pois tanto mereceu” (V 39, 26).
Noutra visão, Teresa compreendeu como o Senhor agracearia as suas irmãs de S. José de Ávila, ao colocá-las sob a protecção de Maria: “Estando todas no coro em oração depois de Completas, vi Nossa Senhora, com grandíssima glória, revestida dum manto branco e, debaixo dele, parecia amparar-nos a todas. Entendi quão alto grau de glória daria o Senhor às desta casa” (V 36, 24).
Apesar de serem muitas as graças místicas marianas experienciadas por Teresa de Jesus, há um parelelismo muito marcado entre a experiência que ela tem de Cristo e de Maria. Depois de tantos trabalhos e sofrimentos passados nas suas fundações Teresa alegra-se com as suas irmãs: “Nós alegramo-nos de podermos em algo servir a Nossa Mãe, Senhora e Padroeira” (F 29, 23). Jesus e Maria são duas criaturas sempre unidas na vida de Teresa e dos seus Carmelos: “Pouco a pouco se vão fazendo outras coisas para honra e glória desta gloriosa Virgem e de Seu Filho. Seja Ele para sempre louvado, ámen, ámen!” (F 29, 28).
P. Jeremias Carlos Vechina, OCD
MARIA
SANTÍSSIMA
Não
é um tema que tenha sido suficientemente estudado na Santa. A partir dos anos
20 deste século se investigou um pouco mais. Acaso porque outros temas tiveram
mais ressonância em sua vida, experiência e doutrina. Mas o certo é que a
Virgem Maria está presente nos momentos mais influentes da vida pessoal, de
fundadora e de escritora de Teresa de Ahumada, já desde o lar paterno.
Farei
especial relevo na presença mariana carmelitana. Para Teresa de Jesus, Maria é
algo assim como a presença materna no espírito e na forma de entender a Cristo,
a Igreja e as fundações que ela irá fazendo a partir do ano de 1562, como o
meio de ajudar a Igreja no cumprimento de sua finalidade. Daí que seja
interessante, e necessário, expor tal presença mariana e carmelitana pelas
conotações que tem em seu modo de entender a presença de Maria em sua vida
pessoal, como fundadora-renovadora de um espírito-estilo de vida antigo e
clássico, e como escritora que terá uma influência enorme na espiritualidade
posterior na família do Carmelo e de toda a Igreja.
A
Santa faz um desdobramento enorme de formas e nomes para expressar a realidade
de Maria Santíssima, tal e como ela a entende e a vive.
De
todos os títulos e modos marianos, o que mais usa santa Teresa de Jesus é
SENHORA (umas 66 vezes). Depois é o VIRGEM (umas 40 vezes). Logo, que é o
título mais importante para a Santa, vem o de MÃE (umas 25 vezes). Em lugares
mais secundários estão os títulos de PATRONA (8 vezes), Rainha dos anjos (3
vezes), Rainha do céu (1 vez), Intercessora (2 vezes), Imperatriz (1 vez) e
Priora (1 vez). O título do Carmo e Monte Carmelo usa-o com uma relativa
freqüência; contabilizamos umas cinco vezes, unido também à “Regra” da Ordem.
Em algumas ocasiões faz igualmente alusão à Ordem do Carmo ou à Virgem do Carmo
sem mencionar o nome concreto, falando simplesmente da Ordem da Virgem ou da
Ordem de Nossa Senhora ou das “filhas da Virgem, cujo hábito trazemos”.
Considero
texto essencial, e quase resumo de todo o marianismo teresiano, M 3,1,3: “E
vós, que o trazeis também, louvai-O, pois verdadeiramente sois filhas dessa
Senhora. Assim, não tendes de vos perturbar por eu ser ruim, já que possuís tão
boa Mãe. Imitai-A e considerai a imensa grandeza dessa Senhora, bem como a
vantagem de tê-la por padroeira”.
1.
Presença de Maria em sua vida
A
alma profundamente mariana de santa Teresa de Jesus se forja progressivamente,
já desde os primeiros balbucios da infância no lar familiar. Ela mesma nos diz
como na idade dos seis anos sua mãe tinha um cuidado especial de que fosse
devota da Virgem: “Isto [que seu pai fora afeiçoado a ler livros espirituais],
ao lado do cuidado de minha mãe em fazer-nos rezar e ter devoção por Nossa
Senhora e por alguns santos, começou a despertar-me com a idade de, ao que me
parece, seis ou sete anos” (V 1,1).
Desde
muito menina procurava a solidão para praticar suas devoções preferidas:
“Procurava a solidão para rezar as minhas devoções, que eram muitas, em
especial o rosário, de que a minha mãe era muito devota, e, assim, nos fazia
sê-lo” (V 1,6).
Seguirá
a Santa nos dizendo como quando morreu sua mãe, Dª Beatriz, deu-se conta do que
havia perdido, e acorreu à Virgem da Caridade, na ermida de São Lázaro, para
suplicar-lhe que fosse ela sua mãe: “Recordo-me de que, quando minha mãe
morreu, eu tinha doze anos, ou um pouco menos. Quando comecei a perceber o que
havia perdido, ia aflita a uma imagem de Nossa Senhora e suplicava-lhe, com
muitas lágrimas, que fosse ela a minha mãe” (V 1,7). Geralmente se admite que
Teresa de Ahumada tinha então a idade de treze para quatorze anos.
Este
acontecimento, singelo em si, mas muito emotivo e evocador na realidade para
Santa, vemos como o entende que a Virgem, boa Mãe e eficaz intercessora, lha
resgatou para ela: “Parece-me que, embora o fizesse com simplicidade, isso me
tem valido; porque reconhecidamente tenho encontrado essa Virgem soberana
sempre que me encomendo a ela e, enfim, voltou a atrair-me a si” (V 1,7). Pode
referir-se a sua conversão e a sua vocação de carmelita, ou a uma das duas.
Desde
muito pequena Teresa de Ahumada entra em comunhão com o fato mariano, que fará
com que se manifeste ao longo de toda a sua vida espiritual e igualmente de
fundadora: presença e confiança constantes.
Tudo
isto irá aumentando em sua juventude e se acrescentará com sua entrada no
Carmelo. Aos vinte anos Teresa entra no convento da Encarnação de Ávila. Ali,
como todo o Carmelo, a presença de Maria é total: liturgia, quadros, títulos,
devoções, festas. Especialmente o hábito do Carmo marcou Teresa. A pessoa de
Maria do Carmo é como a personalização e a encarnação do estilo e do espírito
de toda a Ordem.
E
efetivamente, ela conserva o que viveu em sua casa; concretamente sua devoção
ao rosário e a devoção à Virgem em sua Assunção ao céu, data na qual ficou
aparentemente morta durante três dias, como ela mesma nos relata em V 5,9.
A
partir de suas experiências místicas, a presença de Maria se acentua, pois será
parte integrante de muitas dessas graças místicas, inclusive extraordinárias,
como se verá mais adiante.
2.
Experiência mística de Maria em Teresa de Jesus
Da
vida, em seu discorrer quotidiano e humano, passou a ver a presença de Maria em
sua vida espiritual, na oração e na doutrina da Santa.
Dentro
da abundância de graças místicas, que Teresa de Jesus recebe ao longo de sua
vida espiritual, as que têm Maria por objeto e conteúdo são muitas, e algumas
significativas para sua vida e sua obra de fundadora.
A
Virgem entra em cena com uma graça mística pessoal que tem dois objetivos: por
uma parte, é o dom de uma pureza total de seus pecados e, por outra, uma
espécie de vestição que a Senhora faz a Teresa, anunciando-lhe o fato de ser desde
agora mãe de uma Nova Família Religiosa: O Novo Carmelo. Narra-o assim a Santa:
“Enquanto me encontrava naquele estado [em grande arroubamento], tive a
impressão de que me cobriam com uma roupa de grande brancura e esplendor. No
início, eu não via quem o fazia, tendo percebido depois Nossa Senhora do meu
lado direito e meu pai São José do esquerdo adornando-me com aquelas vestes.
Eles me deram a entender que eu estava purificada dos meus pecados. Depois que
acabaram de me vestir, estando eu com enorme deleite e glória, tive a impressão
de que Nossa Senhora tomava-me as mãos, dizendo-me que lhe dava muito
contentamento ver-me servir ao glorioso São José e que eu estivesse certa de
que o mosteiro se faria de acordo com o meu desejo, sendo o Senhor e eles dois
muito bem servidos ali. Eu não devia temer que nisso viesse a haver quebra,
embora a obediência não fosse bem do meu gosto, porque eles nos guardariam, e o
seu Filho já nos prometera andar ao nosso lado. Como sinal de verdade, ela me
dava uma jóia” (V 33,14).
Certamente
que aos planos de Jesus se une a ajuda e a presença de Maria. O Novo Carmelo de
Teresa de Jesus será também obra da Virgem Maria.
No
número 15 deste mesmo capítulo do Livro da Vida, a Santa completa a descrição
desta visão com os seguintes detalhes de grande beleza: “Era grandíssima a
beleza que vi em Nossa Senhora, embora não tenha podido observar nenhum traço
particular seu, mas o conjunto do rosto, estando ela vestida de branco, com
enorme resplendor, não do tipo que deslumbra, mas algo suave. Não vi o glorioso
São José tão claro, mas percebi a sua presença, como nas visões de que falei,
em que não se vêem imagens. Nossa Senhora me pareceu muito jovem”.
A
vestição mariana tivera como um sinal precioso e valioso um colar de ouro,
deixado pela Bem Aventurada Virgem Maria ao pescoço: “Tive a impressão de que
ela me punha no pescoço um colar de ouro muito formoso do qual pendia uma cruz
de muito valor” (V 33,14).
Não
me detenho a relatar os muitos fenômenos místicos e as muitas experiências
místicas que a Santa tem em torno de Maria, a Mãe de Deus. São vivências e
experiências muito profundas de Maria que têm suas repercussões a nível de vida
espiritual e pessoal de Teresa de Jesus, de sua tarefa de escritora e de sua
obra de fundadora.
Não é
difícil comprovar como se dá um certo paralelismo entre a experiência teresiana
crística e mariana. Como sucede com o resto de todas as demais experiências
místicas teresianas. Todas têm um objetivo comum, que é a glória de Deus, a
santificação da agraciada e o ajudar a Santa a servir incondicionalmente a
Igreja, pois ela está consciente de que servindo a Igreja, mediante a oração, o
sacrifício e demais realidades da vida do Novo Carmelo, está servindo a Maria,
a quem pertence a mesma Igreja e o Carmelo concretamente.
Por
isso poderá dizer a Santa fundadora, já no final de seus muitos trabalhos,
dificuldades e problemas gerados pelas fundações: “...ficamos alegres por poder
servir em algo à Nossa Mãe, Senhora e Padroeira” (F 29,23). “...e, aos poucos,
vão-se fazendo coisas em honra e glória desta gloriosa Virgem e do Seu Filho.
Seja Ele para sempre louvado, amém, amém!” (F 29,28).
Também
seus escritos querem ser honra, glória e serviço a Deus e a Mãe de Deus,
Patrona e Senhora do Carmelo. Assim confessa a Santa sua atitude ao preparar o Caminho
de Perfeição para a edição, segundo o manuscrito de Toledo: “Se algo houver bom
seja para a glória e honra de Deus e serviço de sua sacratíssima Mãe, Patrona e
Senhora nossa, cujo hábito eu tenho, ainda que muito indigna dele”.
3.
Doutrina mariana, nascida de sua experiência
Em
santa Teresa de Jesus nunca se pode falar de doutrina senão a partir de sua
própria experiência. Ela sempre foi no ser antes doutrinada, experienciar e
vivenciar, para depois poder assim, de alguma maneira, ensinar ou doutrinar.
As
fontes de sua doutrina mariana foram, com certeza, a pregação, a leitura, o
confessionário e, sobretudo, a oração, fonte de sua experiência, juntamente com
a liturgia, que sempre celebrou com devoção e gozo, em particular as festas da
Virgem, em algumas das quais recebeu muitas graças místicas relativas à vida e
mistérios de Maria.
Os
pontos nos quais incido um pouco são:
Maria,
Mãe de Deus...
É o
título de Maria que mais devoção, admiração e veneração causa na alma de Teresa
de Jesus. A consideração de Maria e a contemplação de Deus, Pai e Senhor, passa
pela encarnação e pela Humanidade de Cristo. A Maria se considera sempre muito
unida a Humanidade de Cristo na vida cotidiana, e até nas alturas da maior
contemplação; são caminho seguro para a união de amor com Deus. Os textos
tradicionais de V 22 e M 6,7 dão boa razão de tudo isto.
Maria
no mistério de Cristo: vida e pregação
Teresa
de Jesus contempla toda a vida de Maria de Nazaré unida a Cristo, seu Filho, na
vida oculta de Nazaré e na vida pública pelas aldeias e cidades da Palestina.
Ela é a Mãe do Filho de Deus, Jesus de Nazaré, que compartilha tudo o que Ele
faz e que goza, sofre e fracassa ou triunfa com Ele. São duas vidas paralelas,
de alguma maneira. Sendo distintas, estão unidas pelo amor e a entrega a Deus e
pelo amor e o serviço aos homens.
Maria
no mistério da Igreja
A
Santa está segura de que Maria é parte integrante e importante da Igreja, a
qual ela quer ajudar em sua evangelização e na tarefa de levar até os confins
da terra o Evangelho, a salvação. Servir a Igreja, amar a Igreja, defender a
Igreja com a oração e com as missões, é servir a Maria, amar a Maria e defender
a Maria. Como prestar tudo isto a Maria é prestá-lo a Igreja, pois são Novos
Carmelos - “pombaizinhos” de Maria - para servir e ajudar a Igreja em sua
evangelização.
Maria,
modelo e mãe da vida espiritual
Maria
é modelo em tudo: na vida da graça e de virtudes; de oração e de vida cristã.
Mas é também mãe de toda a vida espiritual.
Tudo
parte de Maria como modelo do seguimento a Cristo. Em Maria a Santa encontra o
modelo do seguimento de Cristo para ela e para suas filhas, assim como em Maria
ela encontra a dignidade de ser mulher e de ser cristã (cf CE 4,1) onde diz
assim: “Nem Vos aborrecestes, Senhor, quando andáveis no mundo, com as
mulheres; sempre as favorecestes com muita piedade, e achastes nelas tanto amor
e mais fé que nos homens, pois estava vossa sacratíssima Mãe em cujos méritos
merecemos - e por ter seu hábito - o que desmerecemos por nossas culpas”.
Teresa
faz ressaltar como Maria seguiu a Cristo até a cruz, e plena de fortaleza: “O
que devia passar a gloriosa Virgem ao pé da Cruz!” (C 26,8). A Santa descreve a
atitude de Maria ao pé da cruz assim: “Sua Mãe e Senhora nossa quando esta
estava ao pé da cruz, e sem dormir, mas padecendo em sua santíssima alma,
morrendo dura morte” (Conc 3,11).
Deste
seguimento de Jesus até ao final nasce o ser modelo de oração e virtudes
cristãs.
O
Carmelo é uma estirpe de contemplativos: este foi nosso princípio e desta casta
viemos, daqueles santos Padres nossos do Monte Carmelo (cf M 5,1,2). Na Virgem
do “Fiat” o cristão há de encontrar o modelo de entrega a Deus e a sua
contemplação (cf M 5,1.2.3).
Maria
é igualmente modelo de todas as virtudes cristãs. Não podia ser menos, pois
Teresa de Jesus vê em Maria a mulher engrandecida pelo Senhor e, ao mesmo
tempo, a mulher próxima e entregue ao serviço do homem na cristandade. Por isso
a Santa contempla nela especialmente duas classes de virtudes: Por uma parte
duas das três virtudes teologais, como são a fé e a caridade e, por outra, duas
virtudes morais: a humildade e a pobreza.
“Sua
Mãe Sacratíssima, porque Ela estava firme na fé e sabia que Ele era Deus e
homem....” (M 6,7,14). Maria Santíssima se apoiou sempre e em tudo na fé, desde
a Encarnação até a Ressurreição.
Não
foi menos grande a prática na caridade. A Santa está convencida da força e
essencialidade da caridade quando afirma: “E entendi, estando descuidada disso:
que não era boa mortificação. Qual era melhor: a pobreza ou a caridade. Que o
melhor era o amor, que eu não deixasse tudo aquilo que me despertasse para ele”
(R 30). “E creio que, se fosse respeitado no mundo como deve, este mandamento
favoreceria muito a guarda dos outros” (C 4,5).
Na
Vida Cristã sempre haverá um motivo mariano para viver o amor de uns para com
os outros: “Assim, pois, minhas filhas, todas o são da Virgem, e irmãs entre
si, procurem amar-se muito umas às outras, e façam de conta que nada aconteceu”
(cta 312,5 – 13 de janeiro de 1580, às Carmelitas Descalças de Sevilha).
Duas
virtudes morais muito características na Virgem, são a humildade e a pobreza,
que até no Magnificat exalta Maria (cf CE 19,3).
Humilde
é Maria no nascimento de Jesus (cf C 16,2) e por isso haverá sempre que
imitá-la (cf C 13). Humilde é Maria na Apresentação de Jesus no Templo (cf C
31,2). Maria é também humilde porque sabe perguntar. Por isso é mais sábia que
ninguém (cf Conc 6,7).
Desde
o ponto de vista da presença materna de Maria na vida da Santa, duas são suas
dimensões mais freqüentes: sua intercessão e a Virgem Dolorosa ou do sofrimento.
Maria
é a que intercede constantemente diante de Deus pelos homens, particularmente
pelos pecadores. Pode-se ver, entre outros, os seguintes textos: V 1,7; 5,1 e
6; F Prol., 5; 10,2; 10,5; 16,5; 23,4; M 1,2,12; CE 4,2...
Quanto
as dores (e os gozos) de Maria, pode-se ver os seguintes textos: V 6,8; R 15,1;
36,1; 58; M 6,7,6; cta 9,9 – 27 de maio de 1568, a Dª Luisa de la Cerda.
A
devoção, o amor e o fato de querer inculcar a devoção a Maria em todos os
cristãos, mas especialmente em suas filhas e em todo o Carmelo, estão plasmados
em definitivo, no interesse por fazer um comentário a Ave Maria, como fez ao
Pai Nosso. Ela no-lo confessa com estas palavras: “Também pensei dizer-vos algo
de como haveis de rezar a Ave Maria” (CE 73,2). Um propósito que não pode
cumprir por suas muitas ocupações, e que teria sido uma boa síntese de toda a
sua experiência Mariana, de sua doutrina e de seu marianismo inclusive
(mariologia), de alguma maneira elaborados e doutrinalmente organizados.
4.
Advocação especial do Carmo ou do Monte Carmelo
A
devoção à Virgem do Carmo ou do Monte Carmelo, juntamente com um amor
incansável e um labor sem tréguas por sua expansão e renovação, se respira por
todos os poros do corpo da Santa e pelos resquícios mais inverossímeis de seu
espírito.
O
amor a Virgem é desde o seio materno, e no lar familiar se alimenta
constantemente. Todo ele se incrementará fortemente com seu ingresso aos vinte
anos no Carmelo, que tem uma tradição mariana muito viva.
A
tudo isto há que se acrescentar sua própria experiência pessoal, seja
espiritual seja fundacional. O Carmelo é propriedade da Virgem; propriedade
esta afirmada de diversas maneiras; o Carmelo é a Ordem da Virgem Nossa
Senhora.
Um
dos propósitos de sua primeira fundação (a de São José de Ávila) era honrar o
hábito da Virgem: “Vi então realizada, de acordo com os meus desejos, uma obra
que eu sabia ser para o serviço do Senhor e para a honra do hábito de sua
gloriosa Mãe” (V 36,6).
Efetivamente,
o Senhor lhe agradece numa ocasião o que está fazendo por sua Mãe: “Quando
fazia oração na igreja antes de entrar no mosteiro e estando quase em arroubo,
vi Cristo que, com grande amor, me recebia e punha em mim uma coroa,
agradecendo-me pelo que eu fizera pela Sua Mãe” (V 36,24).
Ela
sempre se sentiu pessoalmente e a toda a Ordem, protegida e amparada pela capa
ou o manto da Virgem do Carmo. Tudo isso era para santa Teresa sinal do alto
grau de glória que o Senhor daria a seus conventos: “De outra vez, quando
estavam todas no coro em oração depois das Completas, vi Nossa Senhora cercada
de glória com um manto branco, debaixo do qual parecia amparar todas nós.
Percebi o elevado grau de glória que o Senhor daria às religiosas desta casa”
(V 36,24).
Curiosamente
a Santa fala sempre de capa, de manto ou de hábito da Virgem do Carmo ou de
Nossa Senhora do Monte Carmelo, mas nem uma única vez fala do Escapulário do
Carmo como sinal de proteção ou de amparo da Virgem. Somente em duas ocasiões
fala nas Constituições das medidas materiais que há de ter o escapulário, peça
que forma parte de tudo o que é o hábito carmelitano. Pode-se ver Constituições
4,2 e 17,10. provavelmente à Santa interessava mais a pessoa mesma da Virgem na
Ordem que os privilégios ou formas externas de sua presença, significadas por
uma peça concreta do hábito, quando, na realidade, o sinal mais completo e
totalizante de consagração, de entrega e de permanência na Ordem de Nossa
Senhora do Monte Carmelo é todo o hábito em si, considerado em sua totalidade.
Como
conseqüência da presença e de todo o amor de Maria a Família do Carmelo, Teresa
de Jesus propõe algumas atitudes concretas de resposta filial:
1º)
Servir à Senhora, Mãe, Rainha e Patrona da Ordem.
2º)
Amor a Virgem e a sua Ordem.
3º)
Guardar a Regra de Nossa Senhora e Imperatriz com toda a perfeição que se
começou.
4º)
Louvor e gratidão a Senhora e Patrona e Mãe, cujo hábito trazemos e da qual
somos filhas, pelas novas casas -“pombaizinhos da Virgem”- que se vão fundando,
para sua glória e honra.
5º)
Gozo e júbilo de filhas por ser tão queridas e amadas pela Mãe que é do Senhor
e Intercessora nossa.
6º)
Teresa de Jesus acolhe a bondade de Maria como se acolhe a misericórdia de
Deus: “Valha-me a misericórdia de Deus, em Quem sempre confiei por intermédio
do Seu Filho Sacratíssimo e da Virgem Nossa Senhora, cujo hábito, pela bondade
do Senhor, trago” (F 28,35).
5.
Conclusões
1ª A
devoção e o amor a Maria, a Virgem, em santa Teresa de Jesus, são profundamente
filiais, arraigados na tradição familiar e na devoção do povo, que se
incrementam e se personalizam na vida do Carmelo e que têm traços pessoais e da
própria experiência.
2ª
Os títulos que a Santa usa na maneira de entender as relações espirituais com a
Virgem Maria são muitos e de crivo diverso. Porém sempre correspondem às
convicções, atitudes e desejos profundos que aninham na inteligência, no
coração e no zelo evangelizador de santa Teresa de Jesus.
3ª O
verdadeiro caminho da descoberta de Maria Virgem na vida da Santa é a oração e
a experiência mística, acompanhadas da imitação da oração recolhida de Maria e
de suas virtudes mais destacadas no Evangelho.
4ª
Santa Teresa de Jesus não faz - e seria uma ousadia em seu tempo intentá-lo -
nenhum tratado de Mariologia. Está claro que a Santa fala muitas vezes de Maria
em seus escritos e que em sua vida tem presença preponderante e influente.
5ª
Nela não há conceitos mariológicos, mas vivência e experiência marianas.
Poder-se-ia falar melhor, pois, de marianismo teresiano que de Mariologia
teresiana.
6ª
Seu testemunho mariano é essencialmente experiencial e vivencial.
7ª A
experiência e vivência são parte da vida espiritual. Por conseguinte são fontes
de ensino que se transmite, como é o caso de santa Teresa de Jesus.
8ª A
experiência teresiana de Maria vai fundamentalmente unida a sua experiência
trinitária e crística. Dá-se um certo paralelismo nesse campo concreto
experiencial teresiano.
9ª A
Santa vê, ama e venera a Maria particularmente como Mãe, Virgem e Senhora. em
segundo lugar como Rainha, Patrona, Intercessora, Imperatriz.
10ª
A Ordem do Carmo é a Ordem de Nossa Senhora, da Virgem.
11ª
Santa Teresa propõe com freqüência a Virgem como modelo de união com Deus, de
oração e como mestra de todas as virtudes, entre elas da fé, a caridade, a
humildade e a pobreza.
12ª
Maria está presente em toda a vida da Santa: desde de sua infância, passando
por sua juventude, até chegar a sua morte, tanto na vida espiritual como em sua
tarefa de fundadora, ademais de sua tarefa de escritora e formadora.
13ª
O tema de Maria em santa Teresa de Jesus não suscitou demasiado entusiasmo.
Dentro da investigação mariana na Santa os temas mais estudados foram sua
devoção e amor a Maria e sua experiência mística de Maria.
Bibliografia
- Eloy Ordás, Mariología de Santa Teresa de Jesús, Lérida 1923; A. de Castro
Albarrán, Mariología de Santa Teresa de Jesús, Lérida 1934; Archange de la R.
del du carmel, La Mariologie de Sainte Therésè, Etudes Carmelitaines 9 (1934)
VIII-62; Otílio del Niño Jesus, Espíritu mariano de Santa Teresa de Jesús,
MteCarm. 42(1941) 154-165; 247-266; Ildefonso de la Imaculada, Principios
marianos de la Reforma Teresiana: Un precedente de la escuela francesa del
siglo XVI, Ephemerides Mariologicae 31 (1981) 35-50; Miguel Boyero, L Virgen
Maria en la espiritualidad de Santa Teresa de Jesús, Roma 1977; Pedro Maria
Valpusta, La Virgen Maria en Santa Teresa de Jesús, MteCarm. 89 (1981) 183-208;
Emmanuel Renault, Vie et pensée mariales de Ste. Therésè d’Avila, Saint-Sever/Adour,
15 Août 1988, 23 pp.; Joseph de Sainte Marie, La Vierge du Mont-Carmel. Mystère
et prophétie, Editions P. Lethielleux, Paris 1985, pp. 291-341: Annex 1: L’experiénce
et la doctrine mariales de Sainte Therésè de Jésus.
Mauricio
Martín del Blanco
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