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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Santa Teresa e a missão do Leigo a partir de Aparecida






Moises da Cruz, OCDS


O tema que eles nos proporam foi “Santa Teresa e a missão do Leigo a partir de Aparecida”. Nós sabemos que os nossos bispos da América Latina e Caribe se reúnem com frequência para analisar, rezar e proporem à caminhada na Igreja tanto no Brasil que faz parte da América Latina como também o Caribe.
É importante que nós tomemos consciência do momento histórico que nós estamos vivendo e esse documento de Aparecida não deveria simplesmente ser visto como mais um documento... nós necessitamos fazer com que ele se concretize nas nossas realidades de comunidade, nos nossos Institutos, nas nossas Congregações, na nossa Ordem.
 O documento de Aparecida é o acontecimento da reunião da V Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe (CELAM) em Aparecida (SP), maio de 2007.

A BASE DA MISSÃO

E como missão nós temos uma base, e me perguntei, como vamos encontrar Santa Teresa que está completando 500, anos num documento que foi elaborado em 2007? Deus nos inspirou a lermos o documento numa perspectiva carmelitana. E para minha surpresa o primeiro o que primeiro encontrei como base para a missão foi o encontro pessoal com Jesus e dai já manifesta toda a grandeza do carisma Teresiano. Todos nós deveríamos ter uma profunda experiência com Jesus Cristo, é isto que motiva o Carmelo é isto que motiva a nossa atividade enquanto Igreja, é essa alegria do encontro com Jesus e é um Jesus Ressuscitado que nos diz no documento de Aparecida no número de 29: Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria. “(DA 29)

Quando o Documento de Aparecida fala que a base da missão é o conhecimento da pessoa de Jesus Cristo e assim estamos nos lembrando de todas as outras conferencias anteriores que é a Pessoa de Jesus que nos convida, que nós precisamos ter uma experiência pessoal como disse o frei Javier, dessa experiência antropológica na constituição de ser pessoa. Esta é a riqueza do Carmelo nós nos encontramos com a pessoa de Jesus Cristo. E se nós estamos aqui mais de seiscentas pessoas de todo Brasil e até de fora do Brasil. E se acontece isto,  porque uma mulher há quinhentos anos teve uma verdadeira experiência com a pessoa de Jesus Cristo. E ela nos toca como filhos todas as vezes que lemos seus escritos, e Santa Teresa parece que fala diretamente para mim. Fala diretamente para você. E o processo das leituras dos livros nos faz também um processo pedagógico.
Santa Teresa não guarda a experiência de Jesus para si. Cada vez mais e diretamente fala as suas irmãs primeiro, mas que todos nós tenhamos essa experiência com Jesus Cristo. Quando eu li isso do Documento de Aparecida me veio claramente que nós enquanto carmelitas temos uma responsabilidade e missão na nossa Igreja no Brasil. Nas nossas dioceses particulares, nas nossas paroquias, nas nossas comunidades, nas nossas famílias de levarmos um Jesus vivo e ressuscitado não uma ideia, não uma filosofia, mas alguém que teve uma experiência forte profunda com Jesus é esse o nosso carisma. E é essa a nossa base da nossa missão e isso é aquilo que move nosso coração a alegria: “Neste encontro, queremos expressar a alegria de sermos discípulos do Senhor e de termos sido enviados com o tesouro do Evangelho. Ser cristão não é uma carga, mas um dom: Deus Pai nos abençoou em Jesus Cristo seu Filho, Salvador do mundo.” (DA 28)

Ser cristão não é uma carga, ser carmelita não é uma carga, ser monja não é uma carga viver a vida comunitária não pode ser visto como uma carga é a experiência com o ressuscitado que ilumina nossas comunidades. Se nós vamos para um mosteiro e lá santa madre dizia que as monjas são como pombal que vão viver em obsequio de Jesus Cristo. Se eu faço minhas promessas definitivas para viver em obsequio à Jesus Cristo isso não deveria ser visto como uma carga como um peso, mas é alegria de contemplar a graça de Jesus Cristo vivo e ressuscitado. Nós sabemos que a vida comunitária é um desafio, mas é justamente nesse desafio que jesus se manifesta que nós seremos moldados, que nós seremos voltados para a graça. Ser cristão não é uma carga, é um dom ser carmelita, é uma vocação e aqui quando tratamos de carmelita são os diversos carismas de diversos institutos de diversas formas porque quando estamos todos aqui reunidos é porque nós temos uma identidade carmelitana.
E isso não é uma intenção nossa, mas deus pai nos abençoou em seu filho Jesus salvador do mundo o Carmelo visto como vocação nós somos convidado somos chamados a vivenciarmos este carisma, está identidade. A alegria do discípulo!          E aqui há uma coisa importantíssima, tanto que chegam para os nossos mosteiros, conventos e comunidades quando nós recebemos irmãos que são detentores do carisma, mas também são influenciados são marcados pela sociedade individualista, por uma mentalidade contemporânea, de um subjetivismo, de uma visão deturpada do que é uma verdadeira experiência mística, de uma visão equivocada do que é uma verdadeira fraternidade, de uma experiência com Deus, fora de um intimismo, nossos irmãos chegam as nossas comunidades marcados por esta sociedade. Marcados pelo hedonismo, pela busca de satisfação até mesmo espiritual. Se deus não me dar prazer na oração, se Deus não me satisfaz interiormente eu já começo a duvidar se aqui é minha vocação.
O Documento de Aparecida nos diz:
“A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus.”
Nós somos marcados pelo Ressuscitado e acreditamos na ressurreição, em meio há vários tipos de violência e de ódio, se queremos ser verdadeiros filhos de Santa Teresa devemos entender que a experiência do Carmelo nos leva ao anuncio da Boa Nova. Não tem como nós sermos carmelitas sem evangelizar, não tem como nós termos uma verdadeira experiência, por que foi justamente daquele encontro que marcou meu coração, que marcou seu coração. E por isso nós falamos de Jesus e por isso que nós tentamos viver como Jesus viveu.
É a Boa Nova do Carmelo é a Boa Nova do Evangelho é a possibilidade de como Santa Teresa viveu, por que o Espírito Santo é o mesmo. Nós também podemos ter uma profunda experiência com Santa Teresa, profunda experiência com a Pessoa de Jesus Cristo e ai transformar nossa vida. Não num perfeccionismo, mas sabedores e marcados por nossos pecados também somos marcados pela misericórdia de Deus.
As vezes as pessoas tentam se aproximar do Carmelo, das nossas comunidades, mas se sentem profundamente pecadoras, não se sentem dignas de viverem o carisma carmelitano. É no Carmelo que nós encontramos a misericórdia de Deus é o nosso porto seguro, o porto seguro desde toda eternidade Deus quis marcar com o dom do Carmelo, com o carisma carmelitano, com o carisma teresiano. Uma vez marcados pelo amor de Deus, tocados pela misericórdia de Deus a nossa vida se transforma. O meu irmão não é mais aquele que me impede de viver o Evangelho, a vida comunitária se torna leve, porque eu fui marcado pelo amor de Deus.
E assim, parte uma admiração de Jesus a experiência que o carmelita tem de Jesus é uma experiência pessoal, não intimista, mas pessoal. Deus, Ele fala para você, Deus, Ele chama você, Deus, Ele olha para você: “admiração pela pessoa de Jesus, seu chamado e seu olhar de amor despertam uma resposta consciente”. Nós não deveríamos chegar ao Carmelo ou permanecer no Carmelo inconscientes da nossa responsabilidade enquanto carisma, enquanto Igreja, porque existe um mundo lá fora que pedem para que os carmelitas manifeste este amor de Deus, os locutórios estão cheios que pedem para que Jesus seja amado, os meus votos e os meus compromissos de pobreza, castidade e obediência eles precisam ser vividos na liberdade.
Tanto São João Paulo II como Bento VXI diziam “Deus não tira nada”. Deus. Ele não tirou sua liberdade quando você veio para o Carmelo e assumiu os votos ou os compromissos de pobreza, castidade e obediência. Ele plenifica a pessoa humana. Na verdade Jesus é o único capaz de plenificar a pessoa humana “consciente e livre desde o mais íntimo do coração do discípulo,” Este intimo do coração do discípulo não é um sentimento de sensibilidade, o sentimento do coração é uma certeza, aquela certeza de que por mais que eu passe pela aridez, por mais que eu passe por dificuldade no meu carisma, na vivencia com os meus irmãos, mas é a certeza de que ali é meu lugar “uma adesão a toda a sua pessoa ao saber que Cristo o chama pelo nome (cf. Jo 10,3)”
Nós não podemos aderir a uma parte de Jesus, nós não podemos aderir a uma parte do Carmelo, o Carmelo é um todo, o Carmelo é integral, ele completa a minha vida. Por que só posso ficar com a partezinha que eu gosto? Com leituras, infantis, melosas da espiritualidade carmelitana, mas quando nós somos provados pela noite passiva aqui não é meu lugar, quando eu sou provado pela noite ativa eu não mais me identifico com o Carmelo. Quando nós já deveríamos saber pelos escritos de Santa Teresa. Quando Jesus nos permite passar pela noite ativa e pela noite passiva Ele quer nos desposas espiritualmente.
Deus, Ele carece do nosso sim, de uma adesão profunda é um chamado pessoal, infelizmente pensamos que nossas comunidades laicais, que nossas comunidades OCDS podem se comportar como um clube de pessoas que gostam do Carmelo, como um clube de pessoas de boa vontade, como um clube de pessoas que se reúnem de quinze em quinze ou uma vez por mês, para desfrutar do bem estar espiritual carmelitano. É preciso que nós tomemos consciência que é um chamado de Deus para uma adesão à vontade de Deus cantamos várias “Vossa sou pra vós nasci que mandas fazer de mim?” E for para morrer eu quero morrer. No momento passa o seu irmão que você tem dificuldade, ai dizemos no nosso intimo “esta pessoa não senhor, aqui não é o lugar dele”. Nós precisamos ter muito cuidado por que as vezes nós em nossa função de formador, tomo minha indisposição pessoal e taxo logo que a pessoa não tem vocação. Quando na verdade é você formador que deveria crescer humanamente. Porque o diferente nem sempre nos agrada, devemos contemplar a riqueza, a vivacidade do carisma carmelitano, os irmãos da antiga observância que muitas vezes é mau visto por nós, seculares somos mais carmelitanos. O diferente não me empobrece, o diferente é uma riqueza para o carisma, o diferente é uma riqueza para a vivência do carisma na Igreja, o diferente de carismas e o diferente na minha comunidade.
É um “sim” que compromete radicalmente a liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14,6).” Este sim deve ser visto como santa Teresa fala da determinada determinação é um sim que compromete radicalmente a liberdade do discípulo. Eu preciso dizer para vocês que eu estou aqui por obediência eu fiz as minhas promessas eu prometi pobreza, castidade e obediência, mas que liberta meu interior liberta minha experiência carmelita para entregar-me inteiramente a Jesus com todas as minhas capacidades e com todos os meus pecados é essa experiência precisa ser reacendida em cada coração carmelitano. Frei Sciadini que tem cinquenta anos de Carmelo.  É esse sim radical que precisamos  viver a cada dia.
A liberdade do discípulo a se entregar a Jesus, Caminho Verdade e Vida. Não dá para sermos carmelitas presos num intimismo. A fraternidade é um dos tripés da minha vivencia carmelitana, Não existe carmelita isolado, não existe carmelita que passa seis meses sem aparecer na reunião da comunidade, mas está todo domingo com o escapulário. O que vai me formar como carmelita também é a vivência fraterna.
É uma resposta de amor a quem o amou primeiro “até o extremo” (cf. Jo 13,1). A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: “Eu te seguirei por onde quer que vás” (Lc 9,57). (DA 136)

Porque nós nos perdemos em tão poucas coisas: o irmão que não me deu bom dia; a formadora que não mandou um email pra mim; eu fiz uma cirurgia, mas ninguém me ligou, a madre não me liberou, o irmão não me arranjou o dinheiro.
Se nós percebemos que o rosto de santa Teresa para cima, voltado para coisas de Deus, voltados para coisas do alto. Isso não quer dizer que tenhamos uma realidade de indiferença na vida comunitária. Pelo contrário eu preciso ser assíduo a reunião, eu preciso manifestar meu amor fraterno, eu preciso ligar, eu preciso visitar, eu preciso conhecer, porque senão nossa vida fraterna fica uma coisa de verniz. Como você conhece o seu irmão se você não sabe o que ele gosta? As vezes nem sabemos o sobrenome do nosso irmão de comunidade, as vezes seu irmão passa por necessidade econômica você não sabe e a gente viver a vida fraterna.
Nas minhas aulas eu digo que existe a felicidade do self, é o tipo de felicidade do homem contemporâneo está todo mundo feliz nas fotos, retiro, promessas, lazer, mas no dia a dia você conhece seu irmão você sabe onde ele mora? Você sabe as dificuldades que ele passa? Vocês que moram nos mosteiros conhecem o sobrenome das irmãs de vocês? Vocês conhecem o histórico vocacional delas?  Há uma partilha da verdade? As vezes aquele amor primeiro que Deus nunca deixou nos amar vira puro status.
Estive recentemente em um mosteiro e fiz questão de perguntar a cada uma delas qual sentimento brotou no seu coração quando a madre disse que você poderia entrar no Carmelo. E uma que estava de cadeiras de roda o sorriso se abriu e eu disse para mim mesmo: é isso aí, é essa alegria que contagia é isso que as pessoas vão chegar e vão dizer vejam como eles se amam. É a alegria do primeiro encontro. Nós carmelitas do Brasil precisamos voltar ao primeiro amor, ao encontro pessoal e verdadeiro com a pessoa de Jesus Cristo. A nos deixarmos tocrR pela graça da misericórdia independente do nosso pecado. Deus é maior do que os nossos pecados a graça do Carmelo é maior que nossa mesquinhes, do que a nossa pobreza, do que a nossa falta de caridade com o irmão. “A resposta do discípulo amadurece neste amor de Jesus: “Eu te seguirei por onde quer que vás” (Lc 9,57). (DA 136)

Nós temos consciência disso? Deus pode fazer como santa Teresa do menino Jesus dizia: Ele pode me fazer uma vassoura, varre coloca num canto, faz de uma bola joga pra cá joga pra lá, isso no concreto do dia a dia, nas humilhações. O Papa Bento XVI falava que o novo martírio para o século XXI é a ridicularização da fé. As pessoas com quem você trabalha, você que é  carmelita secular, sabem que você é do Carmelo? Quando existem temas polêmicos você se posiciona a favor da Igreja? “Eu te seguirei por onde queres que vás”... essa é a base da missão do leigo carmelita, essa experiência pessoal com Deus. Essa consciência de uma entrega total da nossa existência. Mas não fica só nisso.

DESAFIOS DA MISSÃO


O documento de Aparecida também nos leva a vermos os desafios da missão. Ser missionário não é fácil. Ser cristão não é fácil, ser católico não é fácil. Saibamos  de uma coisa se nossa vida carmelitana está fáci,l tenhamos certeza que não estamos vivendo a vida carmelitana.  E infelizmente nós usamos nossa laicidade como desculpa para nós não vivermos o nosso estatuto. Nós devemos rezar a liturgia das horas as laudas e vésperas e se possível completas. Ai hoje eu não posso rezar não, ah, mas eu sou leigo as irmãs tem tempo dá para elas rezarem, os frades tem tempo dá para eles rezarem. Bendito você quando entrou no Carmelo deveria ter lido o estatuto a gente não pode usar nossa condição laical para não vivencia de nossa radicalidade do Carmelo.
No documento de Aparecida 100c os bispos falam diretamente para nós leigos do Brasil da América latina e Caribe “c) Percebemos uma evangelização com pouco ardor e sem novos métodos e expressões, uma ênfase no ritualismo sem o conveniente caminho de formação, descuidando outras tarefas pastorais.” (DA 100 c)
As vezes a gente cria estrutura, cria tradições nas nossas comunidades que impedem o novo acontecer a comunidade vai envelhecendo a comunidade não tem mais irmãos novos, mas você não mudou... como é que nós vamos atrair jovens que pensam de forma diferente se você não muda? O que foi que você enquanto formador fez para que  atraiam outras pessoas? Cadê a alegria do Evangelho que contagia? Porque nossas comunidades não contagiam as nossas paróquias? Porque que nossas comunidades não contagiam nossas dioceses? Porque que elas não atraem? Será que esse Jesus Ressuscitado está verdadeiramente vivenciado em nossas comunidades? Não estou dizendo que nossas comunidades tenham que ser de quantidade, isso é outra coisa o que gostaria que percebêssemos é nossa vivencia enquanto fraternidade é a nossa vivencia enquanto espiritualidade carmelitana.
Porque se nós queremos viver sobre o obsequio de Jesus Cristo, os primeiros cristãos eles atraiam pela vivência. Nós precisamos nos questionar nas nossas comunidades nas nossas fraternidades. “De igual forma, preocupa-nos uma espiritualidade individualista. [...] em certas ocasiões, uma compreensão limitada do caráter secular que constitui a identidade própria e específica dos fiéis leigos.” (DA 100 c)  É isso que os bispos percebem com desafio para a missão.
Eu tenho percebido ultimamente uma tentativa de não se trata sobre a questão da mística é aquilo que está arraigado no nosso carisma, todo carmelita deve ser místico, é a nossa raiz é o que nós temos de espiritualidade é a vivência mística do carisma o que nos falta é entendermos o que de fato é mística, não é levitações, nem visões. A experiência mística me abre para o outro, a experiência mística abre nosso coração para vermos o novo acontecer, a experiência mística atrai, onde Santa Teresa passava ela atraia as pessoas viam algo de interessante nela, queriam estar com ela queriam beber do Deus que ela tinha. Talvez você seja o único que tenha a oportunidade de falar de Deus para aquelas pessoas que estão a sua volta e que várias vezes negligenciamos, por medo, por timidez, o que vão dizer de mim? Não quero ser taxado de radical.
A secularidade é preciso que seja entendida, nós vivemos a nossa secularidade na realidade do nosso carisma, não há desejo de viver uma realidade que é dada aos frades e as monjas, deve haver uma identificação com o meu carisma secular, os bispos assim, apontam onde é nosso campo de ação “Também é importante recordar que o campo específico da atividade evangelizadora leiga é o complexo mundo do trabalho, da cultura, das ciências e das artes, da política, dos meios de comunicação e da economia, assim como as esferas da família, da educação, da vida profissional, sobretudo nos contextos onde a Igreja se faz presente somente por eles” (DA 174)
A Igreja reconhece que nós temos uma responsabilidade que monja nem frade faz, e se nós não fizermos não terá Igreja ali vejamos o tamanho da nossa responsabilidade. O campo de ação está dado a Igreja convoca o Carmelo para trabalhar santa Teresa dizia “Obras quer o Senhor”. A meu ver nos falta o entendimento quando dizemos que nosso carisma é a oração e é verdade!  Só que o carisma não lhe prende para não agir, muito pelo contrário, um trabalho que não é baseado na oração não tem fruto. E é justamente por que nosso carisma é a oração que nós precisamos atuar nessas áreas. Nosso país está do jeito que está porque deixamos de lado o Evangelho, deixamos de lado o mundo da política “não aqui é Carmelo não pode se falar em política não misture as coisas”. Não estamos falando de partidarismo, mas é uma consciência de Igreja por é lá na política onde se faz leis injustas e que nós por não termos consciência permitimos e depois sofremos as conseqüências.


 O Carmelo em ESTADO DE MISSÃO


Os bispo da America Latina e Caribe convoca toda a Igreja, e se nós somos Igreja, nós precisamos vivenciar esta realidade, precisamos assumir esse desafio de colocarmos o Carmelo em estado de missão.
Hoje, toda a Igreja na América Latina e no Caribe querem colocar-se em estado de missão. A evangelização do Continente, dizia-nos o papa João Paulo II, não pode realizar-se hoje sem a colaboração dos fiéis leigos. Hão de ser parte ativa e criativa na elaboração e execução de projetos pastorais a favor da comunidade.”
Nós precisamos criar formar criativas para que o amor de Deus toque as pessoas. Nós não podemos nos fechar em nossas comunidadezinhas, e as vezes elas não estão bem justamente porque nos fechamos a elas e nelas. É essa experiência do amor que contagia que me leva para a missão eu quero que outras pessoas façam a experiência com Jesus Cristo como a que nós tivemos. Quero que outras pessoas vivam em obsequio à Jesus Cristo como ele que nos deu essa vocação.
“Isso exige, da parte dos pastores, maior abertura de mentalidade para que entendam e acolham o “ser” e o “fazer” do leigo na Igreja, que por seu batismo e sua confirmação é discípulo e missionário de Jesus Cristo.”
E é importante percebemos que o estado de missão não é simplesmente fazer coisinhas isoladas, mas é um entendimento de estado de missão eu vou para minha reunião por que eu sou missionário, eu vivo a liturgia das horas por que eu sou missionário, eu vou para o meu trabalho por que eu sou missionário, mas eu também vou fazer missão por que eu sou missionário eu vou para Ad gentes por eu sou missionário os leigos também precisam participar das missões, a OCDS da Espanha quanto de Portugal já vivem essa dimensão missionária e infelizmente nós justificamos de não partimos em missão por que nós somos seculares, as monjas podem ir fazer fundação na Conchichina por que elas entregaram a vida delas, os frades tem obediência ao provincial podem ser mandados pra China, mas nós seculares não podemos porque nós somos seculares.
Gostaria de convidá-lo a imaginar Santa Teresa na sua frente, imagina que nesse fórum que celebramos os 500 anos do seu nascimento, que possamos olhar nos olhos de Santa Teresa e deixarmos que ela aqueça nosso coração, deixar que ela como mãe como mestra no caminho de oração nos oriente de como, qual a melhor forma de vivenciarmos o nosso carisma. Nós sabemos que a mãe é aquela que gera equilíbrio, harmonia que santa Teresa como Mãe como fundadora ela possa aquecer o nosso coração para que possamos caminhar de bem a melhor. Num real obsequio do Senhor, que nós posamos exalar o real perfume do Carmelo nos diversos carismas, nos diversos Institutos. Que Fórum seja um divisor de águas para nós, que ele nos impulsione para a missão, que ele rejuvenesça a nossa vocação. Que o Espírito que sobrou sobre Teresa para fazer várias fundações infunde em nosso coração à graça da missão carmelitana.
Viva Santa Teresa!
Viva o Carmelo!

Viva os 500 de Santa Teresa!

Carmelo secular, uma vocação específica na vida da Igreja




A  SERVIÇO DO PROJETO DE DEUS(conf.const.ocds n. IV)




Constituições ocds -IV-A SERVIÇO DO PROJETO DE DEUS
25. “Os fiéis leigos, precisamente por serem membros da Igreja, têm por vocação e por missão anunciar o evangelho: para essa obra foram habilitados e nela empenhados pelos sacramentos da iniciação cristã e pelos dons do Espírito Santo”[21]. A espiritualidade do Carmelo desperta no Secular o desejo de um compromisso apostólico maior, ao dar-se conta de tudo o que implica sua chamada à Ordem. Consciente da necessidade que tem o mundo do testemunho da presença de Deus[22], responde ao convite que a Igreja dirige a todas as associações de fiéis seguidores de Cristo, comprometendo-os com a sociedade humana por meio de uma participação ativa nas metas apostólicas de sua missão no marco do próprio carisma. Como fruto desta participação na evangelização o Secular compartilha um renovado gosto pela oração, a contemplação, a vida litúrgica e sacramental.
26. A vocação da Ordem Secular é verdadeiramente eclesial. A oração e o apostolado, quando são verdadeiros, são inseparáveis. A observação de Santa Teresa de que o propósito da oração é “o nascimento de boas obras”[23] recorda à Ordem Secular que as graças recebidas sempre devem ter um efeito em quem as recebe[24]. Individualmente ou como comunidade e sobretudo como membros da Igreja, a atividade apostólica é fruto da oração. Onde seja possível e em colaboração com os superiores religiosos e com a devida autorização dos encarregados, as comunidades participam do apostolado da Ordem.
27. Cada um procure ser uma testemunha viva da presença de Deus e se torne responsável pela necessidade de ajudar a Igreja de uma maneira concreta em sua missão evangelizadora. Por esta razão, cada um tem um apostolado, seja em colaboração com outros na comunidade, seja individualmente.
28. Em seu compromisso apostólico levará a riqueza de sua espiritualidade com os matizes que confere a todos os campos da evangelização: missões, paróquias, casas de oração, Institutos de espiritualidade, grupos de oração, pastoral da espiritualidade. Com seu aporte peculiar como leigos carmelitas, poderão oferecer ao Carmelo Teresiano impulsos renovados para “encontrar válidas indicações para novos dinamismos apostólicos”[25], com fidelidade criativa a sua missão na Igreja. As diferentes atividades apostólicas da Ordem Secular serão detalhadas e avaliadas nos Estatutos particulares para os diferentes ambientes geográficos[26].

O ponto de partida para esta colocação é responder às perguntas:

1- Quais são os princípios que se usa para discernir a vocação à Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares?
2- Quem é chamado a ser um Carmelita Secular e, como se  distingue entre os que são chamados e os que não são chamados?

Ser membro da Ordem é uma vocação, e uma vocação que precisa, para o bem de todos, ser claramente identificada. De outro modo, a Ordem – sejam os frades, ou as monjas, ou os seculares – se  desvia de seu caminho, confunde sua identidade.

Então, o que é que identifica uma pessoa com a vocação à Ordem Secular dos Carmelitas Teresianos?
A resposta é: O compromisso com a Ordem. Esse compromisso é precisamente o que distingue o Carmelita Secular de outras pessoas que tem muito interesse espiritual pela Santíssima Virgem, o escapulário, a oração. Os que têm vocação de carmelitas são aqueles que desejam FORMAR PARTE (formar =  formação) DA ORDEM.
(Sublinho de maneira especial e particular este jogo de palavras e Enfatizo “formar parte da Ordem” e  formar - formação.) Conforme nossas constituições n. 17
“ Os Carmelitas Seculares, em união com os Frades e as Monjas, são filhos e filhas da Ordem de Nossa Senhora do Monte Carmelo e de Santa Teresa de Jesus. Portanto, compartilham com os religiosos o mesmo carisma, vivendo-o cada um segundo seu próprio estado de vida. É uma só família com os mesmos bens espirituais, a mesma vocação à santidade (cf. Ef 1,4; 1Pd 1,15) e a mesma missão apostólica. Os Seculares trazem para a Ordem a riqueza própria de sua secularidade[2]”  (constituições  OCDS, cap. I)
Perceber a vocação
Ser carmelita não é privilégio; é uma responsabilidade”.
Conf. Constituições I,6-9
“7. A origem do Carmelo Descalço está na pessoa de Santa Teresa de Jesus. Ela viveu uma profunda fé na misericórdia de Deus[10], que a fortaleceu para perseverar[11] na oração, humildade, amor fraterno e amor pela Igreja, levando-a à graça do matrimônio espiritual. Sua abnegação evangélica, sua disposição ao serviço e sua constância na prática das virtudes são um guia cotidiano para viver a vida espiritual[12]. Seus ensinamentos sobre a oração e a vida espiritual são essenciais para a formação e a vida da Ordem Secular.
8. São João da Cruz foi o companheiro de Santa Teresa na formação do Carmelo Descalço. Ele inspira o Secular a ser vigilante na prática da fé, da esperança e do amor. Ele o guia através da noite escura à união com Deus. Nesta união com Deus, o Secular encontra a verdadeira liberdade dos filhos de Deus[13].
9. Levando em conta as origens do Carmelo e o carisma teresiano, os elementos primordiais da vocação dos leigos carmelitas teresianos podem ser assim sintetizados:
·         viver em obséquio de Jesus Cristo, apoiando-se na imitação e no patrocínio da Santíssima Virgem, cuja forma de vida constitui, para o Carmelo, um modelo de configuração com Cristo;
·         buscar a “misteriosa união com Deus” pelo caminho da contemplação e da atividade apostólica, indissoluvelmente irmanadas, a serviço da Igreja;
·         dar uma importância particular à oração que, alimentada com a escuta da Palavra de Deus e a liturgia, possa conduzir ao trato de amizade com Deus, não só quando se ora, mas também quando se vive. Comprometer-se nesta vida de oração exige nutrir-se da fé, da esperança e, sobretudo, da caridade, para viver na presença e no mistério do Deus vivo[14];
·         impregnar de zelo apostólico a oração e a vida em um clima de comunidade humana e cristã;
·         viver a abnegação evangélica a partir de uma perspectiva teologal;
·         dar importância, no compromisso evangelizador, à pastoral da espiritualidade como a colaboração peculiar da Ordem Secular, fiel à sua identidade carmelitano-teresiana.”

E sendo uma RESPONSABILIDADE fazemos  um compromisso com a Ordem. Por este compromisso assumimos a responsabilidade de corresponder às exigências de sermos carmelitas. O compromisso – seja qual for a fórmula que se adota: promessa temporária ou definitiva, votos ou outra fórmula – tem que abrir-se à formação que quer e lhes pede a Ordem. Não necessariamente a “informação”.
Um  membro da Ordem Secular de Nossa Senhora do Monte Carmelo e Santa Teresa de Jesus então é :
 1- um membro praticante da Igreja Católica
 2- que,  sob a proteção de Nossa Senhora do Monte   Carmelo  
 3-  inspirado por Santa Teresa de Jesus e por São João  da Cruz
 4-  se compromete com a Ordem  
 5 - buscar o rosto de Deus,
 6 -  para o bem da Igreja e do mundo
.
(Elementos para o discernimento da vocação à Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares, Pe. Aloysius Deeney, OCD)

Então: O que caracteriza uma pessoa vocacionada á ocds?
A resposta é: O compromisso com a Ordem. Esse compromisso é precisamente o que distingue o carmelita secular de outras pessoas que tem muito interesse espiritual pela Santíssima Virgem, o escapulário, a oração. Os que têm vocação de carmelitas são aqueles que desejam FORMAR PARTE (formar = formação) DA ORDEM.
Por este compromisso assumimos  a responsabilidade de corresponder às exigências de sermos Carmelitas. E assim, abrimo-nos a FORMAÇÃO para sermos Carmelitas Seculares Teresianos.
A formação há de ser permanente. É como o respirar, nunca podemos deixar! É algo inseparável da comunidade em que a vocação ao Carmelo nos insere. “A caridade aumenta ao ser transmitida”. Teresa quis formar comunidades orantes. O amor de umas para com as outras, por exemplo, será a primeira condição para poder começar um caminho de oração.
A comunidade da Ordem Secular tem características e finalidades diversas: o que a une não é uma interação constante entre seus membros, mas o fato de caminhar juntos ou, melhor, na mesma direção, compartilhando objetivos e finalidades cada um na  situação concreta na qual se encontra.
Os carmelitas seculares partilham com os religiosos o mesmo carisma, vivendo cada um conforme seu próprio estado de vida.

Como se pode entender esta pertença comum à mesma Ordem?
Devemos ter plena consciência de nossa vida leiga, sem querer formar nossas comunidades para que sejamos frades ou monjas. Precisamos nos inteirar do que a Igreja quer de nós. Pois há muitos seculares que não tem plena consciência de quem eles realmente são; não buscam saber, não leem e não se formam, e nem aceitam a formação proposta pela igreja e /ou pela Ordem Secular. Para isso temos os nossos documentos nos orientando:  As constituições, a Ratio, Estatutos, Doc. Da Igreja e tantos outros. É preciso que nós carmelitas seculares  nos eduquemos  nesta dimensão para tomarmos consciência de que formamos parte de um povo que tem a mesma dignidade de filhos e filhas. Conforme nos diz nossas constituições , no proêmio: “A grande família do Carmelo Teresiano está presente no mundo sob muitas formas. Seu núcleo é a Ordem dos Carmelitas Descalços, formada pelos frades, as monjas de clausura e os Seculares. É uma só Ordem com o mesmo carisma”. Somos responsáveis e co- responsáveis da organização e missão carmelita na igreja.
Nós Carmelitas Seculares não podemos deixar que isso caia na sombra , fique esquecido. É importante recuperar o significado e seu alcance real. Somos missionários no nosso papel de leigos carmelitas, formamos parte do Carmelo missionário através do nosso trabalho dentro das paroquias, nas pastorais e nos serviços que prestamos. Através de nossa profissão, de nossas diversões, amizades, de nosso serviço pessoal e comunitário ao nosso próximo mais necessitado seja do material ou do espiritual. Santa Teresa já dizia que o resultado de nossa oração eram os frutos das nossas obras.
CUIDAR DA VOCAÇÃO É ESTAR EM CONSTANTE FORMAÇÃO
“O objetivo central do processo de formação na Ordem Secular, é a preparação da pessoa para viver o carisma e a espiritualidade do Carmelo em seu seguimento de Cristo, a serviço da missão.”     (Constituição ocds.32)
A formação eclesial missionaria , em geral, não tira os leigos carmelitas da realidade em que vivem; mas sim os ajuda a penetrar nela profundamente, a ler a vida diária com os olhos do Espírito e a contar a todos o que tem visto e ouvido com o colorido especial dos próprios dons. Encarnados na realidade, revivem o mistério da encarnação e do envio missionario de Jesus, são um testemunhas  de alegria no meio do mundo., inseridos plenamente nas realidades cotidianas são o sal e a luz, presença alentadora no caminho de muitos. Em cada ser humano que passa ao seu lado, os leigos carmelitas veem a Jesus que pode ser olhado, que grita marginalizado para que alguém o escute, que espera ser acompanhado para a vida. Nos leigos carmelitas, Jesus se faz próximo e amigo dos homens e mulheres, cuida da vida, alimenta a esperança.
Quando os leigos carmelitas descobrem a Jesus como um tesouro e escolhem viver “em obsequio de Jesus Cristo”  não podem calar esta experiência e querem, como a Madre Teresa, dar vozes nos cruzamentos dos caminhos para que todos conheçam o amor entranhável de Deus. A oração se converte assim, neles, em uma reação espontânea ao amor de Deus, em “um trato de amizade com quem sabemos nos ama” (V 8,5); a missão passa a ser um experiência de gratuidade por ter recebido tudo de graça.
“É necessário que desde o tempo de formação inicial se ajude a conhecer e compreender o mundo em que vivemos, suas esperanças, suas aspirações e o o lado dramático que com freqüência lhe caracteriza” (GS 4)

O que define a qualidade espiritual dos leigos do Carmelo Teresiano é seu compromisso com o Reino de Deus que traz Jesus.
PORTANTO:
 Os leigos do Carmelo Teresiano tem um lugar, uma tarefa e uma palavra na família do Carmelo. Se eles não disserem sua palavra, o Carmelo ficará um pouco as escuras. É hora de superar antigos esquemas clericais, que marcam distancias entre os que são membros de uma mesma família e cavam valetas que separam aos que compartilham o mesmo carisma.
O  carmelita Secular  é uma pessoa que busca a santidade (a plenitude de sua vocação batismal) e coloca toda sua vida ao serviço de Cristo e do Evangelho através do apostolado, sem modificar seu modo de estar no mundo. (Pedro Tomás Navajas, a formação eclesial do carmelita secular )
O único modo correto de compreender o nosso lugar e nosso papel como Carmelitas Seculares é buscar uma formação consciente e participativa, integrada com a Ordem OCD, província OCDS, e a Igreja...
Só quando os leigos do Carmelo se descalçam diante do mundo, entendido como terreno santo que Deus está continuamente criando e recriando, podem apresentar-se no meio dele como a boa noticia do Deus que só sabe amar. (Pedro Tomás Navajas, a formação eclesial do carmelita secular )
Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho! (1Cor 9,16). Para a Nova Evangelização é necessário o protagonismo de um leigo carmelita, bem formado, com experiência de Deus, com estruturas menos complicadas para viver a comunhão e a missão. Onde acontece isso, surge a esperança.
O seguimento de Jesus, exige viver com radicalidade evangélica. A resposta de Santa Teresa é: “Juntos andemos, Senhor”. Qual será a nossa resposta hoje ao convite de Jesus:  “Vão vocês também até a minha vinha” (Mt 20,4).?  O mundo é a vinha do Senhor ( assim fala na “Christifideles Laici”, a carta magna dos leigos na igreja) desde onde Deus chama a todos seus fieis, ordenados ou leigos, a trabalhar, a gerar novas formas de vida, novas experiências de convivência, novas mentalidades e estruturas de relação entre as pessoas, as culturas, os povos e as nações.

Que grande e maravilhosa é a missão do Carmelita Secular!
Fazer que a realidade da vida de cada dia
( amizade, trabalho, ação política...o dia a dia )
se revele como espaço em que o Reino de Deus já vem , de fato chegou e está entre nós.

QUESTIONAMENTOS:
Cada Carmelita Secular pessoalmente e Cada comunidade tem que responder, como comunidade, a esta pergunta: O que posso fazer / O Que podemos fazer para compartilhar com outros (pessoas de boa vontade, cristãos, católicos, carmelitas...ou não) o que temos recebido por pertencer ao Carmelo?
Rose Lemos Piotto, ocds, comunidade Santa Teresinha do Menino Jesus
Passos-MG                                                                                         

Bibliografia:     Pedro Tomás Navajas, carmelita teresiano a formação eclesial do carmelita secular /Constituições ocds/Ratio ocds/Elementos para o discernimento da vocação à Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares, Pe. Aloysius Deeney, OCD/Frei Alzinir Debastiani OCD, Delegado Geral para a ocds

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Sentido do Natal



            Como o Natal pode ser Boa Nova neste nosso tempo onde as guerras, o terrorismo e a violência generalizada marcam as sociedades e os noticiários? Qual o sentido de celebrar o nascimento de uma Criança quando em nosso mundo se adia ao máximo a gravidez ou se escolhe não ter filhos; ou de maneira definitiva busca-se a legalização do aborto e se ainda esta não se efetivou, a morte de milhares de inocentes ocorre clandestinamente? Que importância tem o Natal num mundo onde se adora o dinheiro, o prazer e o poder? O Natal contribui efetivamente para trazer sentido aos homens e mulheres de hoje, aos jovens, aos idosos, às famílias que vivem num ambiente de indigência ética, de desvalorização da pessoa, onde o Sol está eclipsado e a Lua perdeu seu brilho e nos sentimos envolvidos por densas e espessas trevas?
            “Ó Senhor, fazeis brilhar a minha lâmpada, ó meu Deus, iluminai as minhas trevas” (Sl 17, 29)
            À esta e a tantas outras perguntamos que podemos fazer, o Papa Francisco na sua Carta Lumen Fidei, sobre a fé, vem nos ajudar a encontrar claridade.
            “A luz da fé é a expressão com que a tradição da Igreja designou o grande dom trazido por Jesus... ‘Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas’ (Jo 12, 46)... ‘Porque o Deus que disse: das trevas brilhe a luz foi quem brilhou nos nossos corações’ (2 Cor 4, 6)... Conscientes do amplo horizonte que a fé lhes abria, os cristãos chamaram a Cristo o verdadeiro Sol, ‘cujos raios dão a vida’. A Marta, em lágrimas pela morte do irmão Lázaro, Jesus diz-lhe: Eu não te disse que, se acreditares, verás a glória de Deus?’ (Jo 11, 40). Quem acredita vê; vê com uma luz que ilumina todo o percurso da estrada, porque nos vem de Cristo ressuscitado, estrela da manhã que não tem ocaso.” (Lumen Fidei, p 7)
            A luz de Cristo vem à Igreja mediante a fé e se reflete na vida de uma nuvem de testemunhas que a receberam como dom e a partilharam como missão. Os santos e santas, do passado e do presente, experimentaram as trevas que envolvem o mundo e o próprio coração, mas se deixaram iluminar pela Luz que vem do Céu e por meio de uma íntima união com Cristo tornaram-se Luz do mundo. Assim foi com santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face e assim ela nos descreve sua vivência:
“Imagino ter nascido num país envolto por um denso nevoeiro. Nunca contemplei o risonho aspecto da natureza, inundada, transfigurada pelo sol Brilhante; desde minha infância, ouço falar dessas maravilhas, sei que o país em que estou não é a minha pátria, que existe outro com o qual devo sonhar sempre. Não se trata de uma história inventada por um habitante do triste país em que estou, mas é uma realidade comprovada, pois o Rei da pátria do sol brilhante veio viver trinta e três anos no país das trevas. Ai! as trevas não entenderam que esse Rei divino era a luz do mundo... Mas, Senhor, vossa filha entendeu vossa divina luz, pede-vos perdão pelos seus irmãos (...) Que todos aqueles que não estão iluminados pela luz resplandecente da fé a vejam finalmente luzir... (Obras Completas, Manuscrito C, pp. 226-227)
A ressurreição de Cristo é um evento cronologicamente posterior ao seu Natal, porém, enquanto Luz que revela o significado de tudo o que Ele fez, falou e de sua entrada na existência terrena, a ressurreição vem em primeiro lugar. O Cristo Ressuscitado vem ao encontro de seus primeiros discípulos, da Sua Igreja, e a partir desta experiência, iluminados pelo Espírito Santo, releram a sua história e viram nela, desde seu início até o seu final, a revelação amorosa de Deus Pai e de seu projeto de salvação para toda a humanidade.
Santa Teresinha acolheu o testemunho, a fé, desta Igreja sobre o Natal de Cristo “desde minha infância ouço falar dessas maravilhas”. Proclama esta mesma fé num momento de noite escura, de trevas, da privação sensível da fé, “Senhor, vossa filha entendeu vossa divina luz”. Esta provação da fé inicia-se exatamente no tempo pascal e só vai terminar quando ela própria fizer sua páscoa e entrar na Vida. No texto autobiográfico, citado acima, Teresa faz um ato de fé no Verbo Encarnado, que ao fazer-se irmão dela e de toda a humanidade no mistério de seu Natal, ela assume também a sua fraternidade, a sua irmandade com relação àqueles que estão nas trevas e na sombra da morte, e como o Filho, por Ele e Nele, Teresinha intercede por todos, “Pede-vos perdão pelos seus irmãos (...) Que todos aqueles que não estão iluminados pela luz resplandecente da fé a vejam finalmente luzir”. Isso é vivência profunda do Natal, fruto da Graça que encontrou abertura e adesão generosa do coração de Teresa.
“Para nos permitir conhecê-Lo, acolhê-Lo e segui-Lo, o Filho de Deus assumiu a nossa carne; e assim, a sua visão do Pai deu-se também de forma humana, através de um caminho e um percurso no tempo. A fé cristã é fé na encarnação do Verbo e na sua ressurreição na carne; é fé em um Deus que Se fez tão próximo que entrou na nossa história. A fé no Filho de Deus feito homem em Jesus de Nazaré não nos separa da realidade; antes permite-nos individuar o seu significado mais profundo, descobrir quanto Deus ama este mundo e o orienta sem cessar para Si; e isto leva o cristão a comprometer-se, a viver de modo ainda mais intenso o seu caminho sobre a terra.” (Lumen Fidei pp. 20-21)
Foi numa noite de Natal, em 1886, que Teresinha recebeu uma de suas maiores graças: “recebi a graça de sair da infância... nessa noite em que Ele se fez fraco e sofredor por meu amor, fez-me forte e corajosa, vestiu-me com suas armas e desde essa noite bendita, não fui vencida em nenhum combate... Teresa não era mais a mesma, Jesus mudara o seu coração... Fez de mim pescador de almas, senti um grande desejo de trabalhar para a conversão dos pecadores... Senti numa palavra a caridade entrar no meu coração, a necessidade de me esquecer para dar prazer e desde então fui feliz!”.
“Na fé, o “eu” do crente dilata-se para ser habitado por um Outro, para viver em um Outro, e assim a sua vida amplia-se no Amor. É aqui que se situa a ação própria do Espírito Santo: o cristão pode ter os olhos de Jesus, os seus sentimentos, a sua predisposição filial, porque é feito participante do seu Amor, que é o Espírito; é neste Amor que se recebe, de algum modo, a visão própria de Jesus. Fora desta conformação no amor, fora da presença do Espírito que o infunde nos nosso corações (cf. Rm 5, 5), é impossível confessar Jesus como Senhor (cf. 1Cor 12, 3).” (Lumen Fidei, pp. 23)
A fé no Amor, da qual o Natal é uma expressão, tem poder de transformar o Homem por inteiro e com ele o mundo todo: “Fez de mim pescador de almas, senti um grande desejo de trabalhar para a conversão dos pecadores... Senti numa palavra a caridade entrar no meu coração, a necessidade de me esquecer para dar prazer e desde então fui feliz!”. A fé amadurecida, adulta, é vivida como amor, como doação de si, como serviço ao próximo, assim como Jesus o fez. Só o amor é capaz de iluminar e de salvar o mundo das trevas da indiferença, do egoísmo, da ganância, do orgulho e do pecado que estão na raiz da desumanização do mundo.

“Urge recuperar o caráter de luz que é próprio da fé, pois, quando a sua chama se apaga, todas as outras luzes acabam também por perder o seu vigor. De fato, a luz da fé possui um caráter singular, sendo capaz de iluminar toda a existência do homem. Ora, para que uma luz seja tão poderosa, não pode dimanar de nós mesmos; tem de vir de uma fonte mais originária, deve provir em última análise de Deus. A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada, orientando os nossos passos no tempo. (...) a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as nossas trevas.” (Lumen Fidei, p. 9) 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O MISTÉRIO DO NATAL

                                                     POR EDITH STEIN






1. ENCARNAÇÃO E HUMANIDADE
Quando os dias ficam cada vez mais curtos quando caem os primeiros flocos de neve (normal, no inverno alemão), então surgem suavemente os primeiros pensamentos natalinos. Destas simples palavras emana um encanto ao qual é difícil um coração ficar indiferente. Mesmo os que têm uma fé diferente, ou os infiéis, para os quais a antiga história da criança de Belém nada significa, preparam-se para a festa e pensam em como acender um raio de alegria em toda parte. É como uma correnteza quente de amor perpassando toda a terra, meses e semanas antes. Uma festa de amor e de alegria. Esta é a estrela para a qual todos se dirigem nos primeiros meses de inverno.
Para os cristãos e, principalmente, para os cristãos católicos, significa algo mais: a estrela os conduz para o presépio onde está a criança, que traz a paz para a terra. A arte cristã apresenta-nos isto através de inúmeros quadros formosos; cantos antigos nos falam sobre isso, fazendo ecoar todo o encanto da infância. Para quem vive a liturgia da Igreja, os sinos do “Rorate Caeli” [Orvalhai ó céus] e os cânticos do Advento despertam no coração uma santa saudade; para quem está unido à fonte inesgotável da santa liturgia, o grande profeta da Encarnação diariamente bate à porta com suas poderosas palavras de advertências e promessas: “Céus, gotejai lá de cima, e que as nuvens chovam o justo! O Senhor já está perto! Vinde adoremo-Lo! Vem Senhor, não tardeis mais! Jerusalém, regozija, com grande alegria, pois o teu Salvador vem a ti”.
De 17 a 24 de dezembro, as grandes Antífonas do “Ó” conclamam para o Magnificat (ó Sabedoria, ó Adonai, ó Raiz de Jessé, ó Chave de Davi, ó Sol Nascente, ó Rei dos Reis, ó Emanuel), de forma mais saudosa e enérgica: “Vinde, para nos libertar.” E, sempre mais promissora, ecoa: “Veja, tudo se completou” (no último domingo do Advento); e, finalmente: “Hoje sabereis que o Senhor virá e amanhã contemplareis a sua glória”.
Sim, quando à noite as luzes clareiam as árvores enfeitadas e os presentes são trocados, o desejo incompleto aponta para um outro clarão de luz. Os sinos tocam para a missa do galo, e se renova nos altares, enfeitados de luzes e de flores, o milagre da noite santa: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Agora sim, chegou o momento da feliz redenção.
“A fuga para o Egito”, Simone Cantarini, 1636
Óleo sobre tela – Museu do Louvre – Paris – França



2. O SEGUIMENTO DO FILHO DE DEUS FEITO HOMEM
Cada um de nós talvez já tenha experimentado tal felicidade natalina. Mas, até aqui, o céu e a terra não se uniram. Também hoje a estrela de Belém é uma estrela na noite escura. Já no segundo dia, a Igreja tira as vestes festivas e se reveste com a cor do sangue e, no quarto dia, de cores enlutadas.
Estêvão, o protomártir, aquele que primeiro seguiu o Senhor para a morte, e os santos inocentes, as criancinhas de Belém de Judá, mortas cruelmente por mãos de algozes, estão ao redor da Criança no presépio. O que isto quer dizer? Onde está o júbilo das potências celestes? Onde está a tranqüila bem-aventurança da noite santa? Onde está a paz na terra? “Paz na terra aos homens de boa vontade”.
Mas nem todos têm boa vontade. Por isso, o Filho do Pai Eterno nasceu da glória celeste, pois o mistério do mal encobriu a terra com a escuridão. Trevas cobriram a terra e Ele veio como luz que iluminou as trevas, mas as trevas não O conheceram. Àqueles que O acolheram, Ele trouxe a luz e a paz; a paz com o Pai do céu, a paz com todos que, com Ele, são filhos da luz e filhos do Pai do céu, e a profunda paz do coração; mas não a paz com os filhos das trevas. Para eles, o Príncipe da paz não traz a paz, mas sim a espada. Para eles o Senhor é a pedra de tropeço, contra quem atacam e na qual serão destruídos. Esta é uma grande e séria verdade, que não podemos encobrir por causa do encanto poético da Criança no presépio. O mistério da encarnação e o mistério do mal caminham juntos. Contra a luz que vem do alto, contrasta a noite do pecado, escura e tenebrosa.
A criança no presépio estende as mãos, e o seu sorriso parece dizer o que mais tarde pronunciaram os lábios do Filho do Homem: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo”. E aqueles que seguem o seu chamado, os pobres pastores, aos quais nos campos de Belém o resplendor do céu e a voz do anjo anunciaram a Boa Nova, responderam confiantes: “Vamos a Belém”, e puseram-se a caminho.
Os reis, vindos do oriente longínquo, seguiram, na mesma fé simples, a estrela milagrosa para eles. Através das mãos da criança, correu o orvalho da graça, e “eles exultaram com grande alegria”. Estas mãos dão e, ao mesmo tempo, cobram: vós, sábios, despojai-vos de vossa sabedoria e tornai-vos simples como crianças; vós, reis, entregai vossas coroas e vossos tesouros e inclinai-vos, humildemente, diante do Rei dos reis; aceitai, sem hesitação, os fardos, dores e pesares exigidos pelo vosso serviço; de vós crianças, que não podeis ainda oferecer nada gratuitamente, tiram a vossa tenra vida, antes dela ter propriamente começado: ela não pode servir melhor do que ser sacrificada ao Senhor da vida.
“Siga-me” – dessa maneira se expressaram as mãos do menino, como mais tarde repetirá com os lábios o Mestre. Assim foi dito ao discípulo a quem o Senhor amava. E São João, o jovem com o coração puro de criança, seguia sem perguntas: Para onde? E para quê? Ele deixou a barca do pai e seguiu o Senhor em todos os caminhos até ao Gólgota.
“Siga-me” – também entendeu o jovem Estêvão. Ele seguiu o Senhor na luta contra os poderes das trevas, a cegueira da descrença obstinada; ele deu testemunho do Senhor com sua palavra e com seu sangue; ele O seguiu também em seu Espírito, no Espírito do Amor, que combate contra o pecado, mas que ama o pecador, e ainda na morte intercede diante de Deus pelos assassinos. São Personagens de luz, que rodeiam o presépio: os santos tenros inocentes, os simples e fiéis pastores, os reis humildes, Estêvão, o discípulo entusiasmado e João, o discípulo predileto. Todos eles seguiram o chamado do Senhor.
Em oposição a eles se encontram, na noite da dureza e cegueira incompreensíveis, os doutores da lei, que podem dar informações sobre o tempo e o lugar onde devia nascer o Salvador do mundo, mas não deduzem daí: “Vamos a Belém”; o rei Herodes pretende matar o Senhor da vida.
Diante da criança no presépio, os espíritos se dividem. Ele é o rei dos reis e o Senhor da vida e da morte. Ele fala o seu“Siga-me”, e quem não for a seu favor, é contra Ele. Ele o diz também para nós, e nos coloca diante da decisão entre a luz e as trevas





3. O CORPO MÍSTICO DE CRISTO
3.1 – SER UM COM DEUS
Para onde o Menino-Deus nos conduzirá nesta terra, isto não sabemos e não deveríamos perguntar antes do tempo. Só sabemos que para aqueles que amam o Senhor, todas as coisas servem para o bem. Os caminhos pelos quais o Senhor nos conduz, levam-nos para além desta terra. Ó troca maravilhosa! O criador do gênero humano encarnando-se, concede-nos a sua divindade. Por causa desta obra maravilhosa o Redentor veio ao mundo. Deus se tornou Filho do homem, para que os homens se tornassem filhos de Deus. Um de nós rompeu o laço da filiação divina, e um de nós devia reatar o laço, pagando pelo pecado. Nenhum da antiga e enferma raça podia fazê-lo. Devia ser um rebento novo, sadio e nobre.
Tornou-se um de nós e, mais do que isto: unido conosco. O maravilhoso no gênero humano é que todos somos um. Se fosse diferente, estaríamos lado a lado, como indivíduos autônomos e separados, e a queda de um não poderia ter se tornado a queda de todos. Podia ter sido pago e atribuído a nós o preço da expiação, mas não teria passado a sua justiça para os pecadores, e não teria sido possível nenhuma justificação.
Mas Ele veio, para tornar-se conosco um corpo místico. Ele, nossa cabeça, nós, os seus membros. Ponhamos nossas mãos nas mãos do Menino-Deus, pronunciando o nosso “Sim” ao seu “Siga-me“. Então, nos tornamos Seus, e o caminho está livre, para que a sua vida divina possa passar para a nossa. Isto é o começo da vida eterna em nós. Não é ainda a visão beatífica de Deus na luz da glória, é ainda escuridão da fé, mas não é mais deste mundo, já é estar no Reino de Deus. Quando a bem-aventurada Virgem pronunciou o seu “Fiat”, aí começou o Reino de Deus na terra e ela se tornou a sua primeira serva. E todos, que antes e depois do nascimento da criança, por palavras e obras, se declararam a seu favor: São José, Santa Isabel com seu filho e todos os que estavam ao redor do presépio, entraram no Reino de Deus.
Tornou-se diferente do que se pensou, conforme os salmos e profetas o reinado do divino rei. Os romanos continuaram os dominadores da terra, os sumo sacerdotes e os doutores da lei continuaram a subjugar o povo pobre. De forma invisível, cada um, que pertencia ao Senhor, trazia o Reino de Deus em si. O seu fardo terreno não lhe foi tirado, e sim outros fardos acrescentados; mas, o que ele trazia dentro de si, era uma força animadora, fazendo o fardo suave e a carga leve. Assim acontece ainda hoje com os filhos de Deus. A vida divina, acesa em sua alma, é a luz que veio nas trevas, o milagre da noite santa. Quem traz esta luz dentro de si, compreende quando se fala dela. Para os outros, porém, tudo o que se pode dizer a respeito, é um balbuciar incompreensível. Todo o evangelho de São João é um canto à luz eterna, que é amor e vida. Deus está em nós e nós nele, esta é a nossa parte no reino de Deus, para a qual a Encarnação colocou o alicerce.
3.2 – SER UM EM DEUS
Ser um com Deus: este é o primeiro passo. Mas, o segundo é a conseqüência do primeiro. Cristo sendo a cabeça e nós membros do corpo místico, estamos unidos elo a elo, todos somos um em Deus, uma única vida divina. Se Deus é Amor e está em nós, então não pode ser diferente o nosso amor para com os irmãos. Por isto o amor humano é a medida do nosso amor a Deus. Mas, é algo mais do que o simples amor humano. O amor natural se dirige a um outro, ligado pelos laços do sangue ou por afinidades de caráter ou por interesses comuns. Os outros são “estranhos”, que “não nos importam”, talvez até por seu jeito antipático, de forma que mantemos a devida distância.
Para o cristão não existe “gente estranha”. Próximo é aquele que encontramos em nosso caminho e que mais necessita de nós; indiferentemente, se é parente ou não, se a gente gosta dele ou não, se ele é “moralmente digno” da nossa ajuda ou não. O amor de Cristo não tem limites, ele nunca termina, ele não recua diante da feiúra ou sujeira. Ele velo por causa dos pecadores e não por causa dos justos. E se o amor de Cristo mora em nós, então, façamos como Ele, indo ao encontro das ovelhas perdidas. O amor natural visa a ter a pessoa amada para si, possuindo-a de forma mais exclusiva.
Cristo veio para devolver ao Pai a humanidade perdida; e quem ama com seu amor, este quer os homens para Deus e não para si. Este é, ao mesmo tempo, o caminho mais seguro para possuí-las para sempre; pois, se amamos uma pessoa em Deus, então somos com ela um em Deus, enquanto que o vício da conquista muitas vezes mais cedo ou mais tarde sempre resulta em perda. Há um princípio válido para todas as almas e para os bens exteriores: quem, ambiciosamente, se ocupa em ganhar e apropriar, perde; porém, aquele que tudo oferece a Deus, ganha para sempre.
3.3 – SEJA FEITA A TUA VONTADE
Com isto estamos tocando no terceiro sinal da filiação divina: Ser um com Deus, foi o primeiro. Que todos sejam um em Deus, foi o segundo. O terceiro: “Nisto reconheço que vós me amais, se observardes os meus mandamentos”. Ser filho de Deus significa: andar apoiado na mão de Deus, na vontade de Deus; não fazer a vontade própria, colocar todo cuidado e toda a esperança nas mãos de Deus, não se preocupar consigo e com seu futuro. Nisto consiste a liberdade e a alegria dos filhos de Deus. Tão poucos as possuem, mesmo entre os realmente piedosos, mesmo entre os heroicamente dispostos ao sacrifício. Sempre andam encurvados sob o peso dos cuidados e obrigações.
Todos conhecem a parábola dos pássaros do céu e dos lírios do campo. Mas quando encontram uma pessoa que não tem herança, nem pensão e nem seguro e, mesmo assim, vive tranqüilo quanto ao seu futuro, aí meneiam a cabeça como se fosse algo incomum. Contudo, quem esperar do Pai do céu, que cuide a toda hora de seu dinheiro e da condição de vida que ele gostaria de ter, por certo, vai se enganar. A confiança em Deus vai se firmar inabalavelmente quando incluir a disposição de aceitar tudo das mãos do Pai. Pois somente Ele sabe o que é bom para nós. E, se a necessidade e a privação forem mais convenientes do que uma renda folgada e segura, ou insucesso e humilhação, melhor do que honra e reputação, então se deve estar preparado para isso. Se assim fizermos, podemos viver despreocupados com o futuro e com o presente. O “seja feita a vossa vontade”, em toda a sua amplitude, deve ser o fio condutor da vida cristã. Ele deve nortear o correr do dia, da manhã até a noite, o correr do ano e de toda a vida. Será a única preocupação do cristão. Todos os outros cuidados, o Senhor assume.
Mas esta única preocupação pertence a nós, enquanto vivermos. Objetivamente, não somos definitivamente firmes para permanecermos sempre nos caminhos de Deus. Assim como os primeiros pais perderam a filiação divina pelo distanciamento de Deus, assim cada um de nós está sempre entre o nada e a plenitude da vida divina. Mais cedo ou mais tarde isto se torna também uma experiência subjetiva. No começo da vida espiritual, quando começamos a nos entregar à direção de Deus, é que sentimos bem forte e firme a mão que nos conduz; de forma clara aparece para nós, o que devemos fazer ou deixar de fazer.
Mas isto não é sempre assim. Quem pertence a Cristo, deve viver a vida de Cristo. Deve-se amadurecer até à idade adulta de Cristo, ele deve iniciar a via-sacra para o Getsêmani e o Gólgota. E todos os sofrimentos que vem de fora, são nada comparados com a noite escura da alma, quando a luz divina cessa de clarear e a voz do Senhor se cala. Deus está presente, porém, escondido e silencioso. Por que acontece isto? São os mistérios de Deus, dos quais falamos, ele não se deixa penetrar completamente. Só podemos vislumbrar algumas facetas desse mistério e, por isso, Deus se fez homem, para voltar e fazer-nos participar da sua vida. Esse é o começo e a meta final.
Mas, no meio se encontra ainda outra coisa. Cristo é Deus e homem e, quem quer partilhar a sua vida, deve fazer parte de sua vida divina e humana. A natureza humana que Ele aceitou, deu-lhe a possibilidade de sofrer e morrer; a natureza divina que Ele possui desde toda a eternidade, deu à sua paixão e morte um valor infinito e uma força redentora. A paixão e morte de Cristo continuam no seu corpo místico e em todos os seus membros. Todo homem tem que sofrer e morrer. Porém, se ele for membro vivo no corpo de Cristo, então, o seu sofrimento e sua morte adquirem pela divindade de seu corpo, força salvadora. Esta é a causa objetiva por que todos os santos desejam sofrer. Não se trata de um prazer doentio de sofrer, Aos olhos da razão natural, isto pode parecer perversidade. À luz do mistério da redenção, contudo, isto se revela de maneira sublime. E assim a pessoa ligada a Cristo, mesmo na noite escura do distanciamento subjetivo de Deus e abandono, persistirá; talvez a divina providência permita o tormento, para libertar a pessoa objetivamente aprisionada. Por isto: “Seja feita a Vossa vontade”, mesmo quando na noite mais escura.

4. MEIOS SALVÍFICOS
Será que podemos falar alto “seja feita a Vossa vontade”, quando não temos mais a certeza daquilo que a vontade de Deus exige de nós? Temos meios para permanecer no Seu caminho, quando se apaga a luz interior?
Existem tais meios, e tão fortes, que o erro, apesar das possibilidades, de fato se torna infinitamente improvável. Deus veio para nos salvar, se nos unirmos a Ele, se conformarmos a nossa vontade com a Sua. Ele conhece a nossa natureza. Ele conta com ela e, por isso, nos deu tudo o que nos pode ajudar para alcançarmos o fim. O Deus-Menino tornou-se nosso permanente mestre para nos dizer o que devemos fazer.
Para que a vida humana seja inundada da vida divina, não basta uma vez por ano ajoelhar-se diante do presépio e deixar-se cativar pelo encanto da Noite Santa. Para isto, devemos estar em comunicação diária com Deus, ouvir as palavras que Ele falou e que nos foram transmitidas, e segui-las. E, antes de tudo, rezar, como o Salvador mesmo ensinou e sempre de novo incutiu insistentemente. “Pedi e recebereis”. Esta é a promessa segura de atendimento. E quem fala diariamente, de coração, “ó Senhor, seja feita a tua vontade”, pode confiar que não desrespeita a vontade divina, onde subjetivamente não tem certeza. Além disso, Cristo não nos deixou órfãos. Ele mandou o seu Espírito que nos ensina toda a verdade; Ele fundou a sua Igreja, que é conduzida pelo seu Espírito, e estabeleceu nela os seus representantes, pela boca dos quais o seu Espírito fala para nós com palavras humanas. Nela uniu os fiéis em comunidade e deseja que um ajude o outro. Assim, não estamos sós, e onde fracassa a confiança em si mesmo e a própria oração, aí ajuda a força da obediência e a força da intercessão.
“E o Verbo se fez carne”. Isto se tornou realidade no estábulo de Belém. Mas cumpriu-se ainda de outra maneira. “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, este terá a vida eterna”. O Salvador, que sabe que somos e permanecemos humanos, tendo que lutar dia após dia, com fraquezas, vem em auxílio da nossa humanidade de maneira verdadeiramente divina. Assim como o corpo terrestre precisa do pão cotidiano, assim também a vida divina em nós precisa ser alimentada constantemente. “Este é o pão vivo que desceu do céu”. Quem come deste pão todos os dias, neste se realizará, diariamente, o mistério do Natal, a Encarnação do Verbo. E este, certamente, é o caminho mais seguro, para se tornar “um com Deus” e de penetrar dia a dia de maneira mais firme e mais profunda no Corpo Místico de Cristo.
Eu sei que para muitos pode parecer um desejo por demais radical. Para a maioria, isto significa começar de novo, uma reorganização de toda a vida interna e externa. Mas deve ser assim! Na nossa vida, devemos criar espaço para o Cristo Eucarístico, para que Ele possa transformar a nossa vida na Sua vida: será que é exigir demais? A gente tem tempo para tantas coisas fúteis, tantas coisas inúteis: ler livros, revistas, jornais, freqüentar restaurantes, conversar na rua 15 ou 30 minutos, tudo isto são “dispersões”, onde esbanjamos tempo e força. Não se poderá reservar uma hora pela manhã, para se concentrar, e ganhar força, para enfrentar o resto do dia? Mas, na verdade, é necessário mais que uma hora. Devemos viver de tal maneira que uma hora se suceda à outra, e estas, prepararem as que vierem. Assim, não será mais possível “deixar-se levar”, mesmo temporariamente, pelo ara do dia.
Com quem se vive diariamente, não se pode desconsiderar o seu julgamento. Mesmo sem dizer palavras, percebemos como os outros nos consideram. Tentamos nos adaptar conforme o ambiente e, se não conseguimos, a convivência se torna um tormento. Assim também acontece na comunicação diária com o Senhor. Tornamo-nos cada vez mais sensíveis àquilo que Lhe agrada ou desagrada. Se antes, estávamos mais ou menos contentes com nos mesmos, agora isto se torna diferente. E descobriremos em nós muita coisa que precisa ser melhorada e outras que as vezes, são quase impossíveis de serem mudadas. Assim nos tornaremos pequenos, humildes, pacientes e condescendentes com o “cisco no olho de nosso próximo”, pois a “trave” no nosso olho nos incomoda.
Finalmente, aprenderemos a aceitar-nos tal qual somos à luz da presença divina, e a nos entregar à divina misericórdia, que poderá vencer tudo aquilo que está além de nossas forças. Da auto-suficiência de um “bom católico”, que “cumpre com seus deveres”, que “lê um bom jornal” e “vota certo” etc. – mas que, no entanto, pratica o que ele bem quer – há um longo caminho até chegar a viver na mão de Deus e da mão de Deus, na simplicidade da criança e na humildade do cobrador de impostos. Mas quem uma vez andou, não voltará atrás.
Assim, filiação divina quer dizer: tornar-se pequeno e, ao mesmo tempo, tornar-se grande. Viver da Eucaristia quer dizer: sair, espontaneamente da estreiteza da própria vida e penetrar na amplitude da vida de Cristo. Quem visita o Senhor na Sua casa, não quer se ocupar sempre e somente com seus problemas. Vai começar a interessar-se pelas coisas do Senhor. A participação no sacrifício diário nos leva livremente à totalidade litúrgica. As orações e os ritos do culto divino nos apresentam, no decorrer do ano litúrgico, a história da salvação diante da nossa alma, deixando penetrar-nos sempre mais profundamente no seu sentido. E a ação sacrificial nos impregna sempre de novo com o mistério central de nossa fé, o ponto angular da história universal: o mistério da Encarnação e Redenção. Quem poderia com coração aberto participar do Santo Sacrifício sem ser envolvido por este espírito de sacrifício, sem ser tomado pelo desejo, dele mesmo e com sua pequena vida pessoal, se integrar na grande obra do Salvador?
Os mistérios do cristianismo são um todo indiviso. Quando nos aprofundarmos num deles, seremos conduzidos para todos os outros. Assim, o caminho de Belém conduz, seguramente, para o Gólgota; do Presépio para a Cruz.
Quando a Bem-Aventurada Virgem levou a criança para o templo, foi-lhe profetizado que uma espada atravessaria a sua alma, e que esta criança seria a causa da queda e do reerguimento de muitos; um sinal de contradição. É o anúncio da paixão, da luta entre a luz e a treva, que já se manifesta no presépio. Em alguns anos a apresentação do Senhor coincide com a septuagésima, a celebração da encarnação e a preparação para a paixão. Na noite do pecado brilha a estrela de Belém. No esplendor da luz, que sai do presépio, cal a sombra da cruz. A luz se apaga nas trevas da Sexta-Feira Santa, mas se levanta com mais fulgor, como sol da graça, na manhã da ressurreição.
O caminho do Filho de Deus encarnado precisou passar pela Paixão da morte na Cruz para chegar à glória da Ressurreição. Chegar a esta mesma glória da Ressurreição com o Filho do Homem, pela paixão e morte, é o caminho de cada um de nós, de toda a humanidade.