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quarta-feira, 28 de julho de 2010

VERBOS TERESIANOS

Teresa e Maria do Carmelo


ImageNossa Senhora está presente nos momentos mais decisivos da vida de Teresa. Já desde os primeiros balbuceios da sua infância é influenciada pela oração cadenciada do terço.

Com a idade de seis ou sete anos a mãe tinha o cuidado “em fazer-nos rezar e sermos devotos de Nossa Senhora e de alguns Santos”. Teresa continua a contar-nos que desde muito jovem “Procurava solidão para rezar as minhas devoções que eram muitas, em especial o Rosário, do qual a minha mãe era muito devota e assim nos fazia sê-lo”.

Quando Teresa perde sua mãe, que seria entre os treze e quatorze anos de idade, vai-se encomendar a Nossa Senhora. É ela a narrar: “Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui-me, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a Ela, e, enfim, tornou-me a Si”.

Por amor e devoção a Nossa Senhora, Teresa entra no Carmelo da Encarnação de Ávila. Neste mosteiro, como em todos os outros, a presença de Maria é uma constante. A tomada de hábito marcou-a profundamente. Tomava o hábito de Nossa Senhora. Para ela, Nossa Senhora do Carmo é como a encarnação do estilo de vida e do espírito da Ordem. A partir da sua experiência mística a presença de Maria torna-se constante e integrante de muitas graças místicas.

São muitas as graças místicas que Teresa recebe ao longo da sua existência e que têm como objecto e conteúdo Nossa Senhora. Algumas são muito significativas para a sua vida e obra de fundadora. Recordo a que ela narra no
Livro da Vida, capítulo 33. É uma espécie de vestidura que Maria faz a Teresa anunciando-lhe o facto de a partir deste momento ser mãe de uma nova família religiosa: o Novo Carmelo. Jesus une sua Mãe a este seu plano. Era no dia de Nossa Senhora da Assunção. Participava na Eucaristia na Capela do Santo Cristo do Convento de S. Domingos e veio-lhe um arroubamento tão grande que ficou fora de si. “Parecia-me, estando assim, que me via vestir uma roupa de muita brancura e claridade. A princípio não via quem ma vestia; depois vi a Nossa Senhora a meu lado direito e a meu Pai S. José à esquerda, que me vestiam aquela roupa. Deu-se-me a entender que já estava limpa de meus pecados. Acabada de vestir e eu com grandíssimo deleite e glória, logo me pareceu Nossa Senhora pegar-me nas mãos. Disse-me que Lhe dava muito gosto sendo devota do glorioso S. José; que tivesse por certo que, o que eu pretendia do mosteiro, se havia de fazer e nele se serviria muito o Senhor e a eles ambos; que não temesse que nisto houvesse jamais quebra, embora a obediência que dava não fosse a meu gosto, porque Eles nos guardariam e já Seu Filho nos tinha prometido andar connosco. Para sinal de que isto se cumpriria dava-me aquela jóia.

Pareceu-me então que me tinha deitado ao pescoço um colar de ouro muito formoso e preso a ele uma cruz de muito valor. Este ouro e pedras são tão diferentes das de cá, que não têm comparação”.

Santa Teresa teve outra graça mística mariana em que ela experimenta a glorificação de Nossa Senhora: “Em dia da Assunção da Rainha dos Anjos e Senhora nossa, quis o Senhor fazer-me esta mercê: num arroubamento representou-se-me a Sua subida ao Céu e a alegria e solenidade com que foi recebida e o lugar onde está. Dizer como foi isto, eu não saberia. Foi grandíssimo o deleite que o meu espírito teve de ver tanta glória. Causou isto em mim grandes efeitos e tirei de proveito ficar com mais e maiores desejos de passar grandes trabalhos e de servir a esta Senhora, pois tanto mereceu” (V 39, 26).

Noutra visão, Teresa compreendeu como o Senhor agracearia as suas irmãs de S. José de Ávila, ao colocá-las sob a protecção de Maria: “Estando todas no coro em oração depois de Completas, vi Nossa Senhora, com grandíssima glória, revestida dum manto branco e, debaixo dele, parecia amparar-nos a todas. Entendi quão alto grau de glória daria o Senhor às desta casa” (V 36, 24).

Apesar de serem muitas as graças místicas marianas experienciadas por Teresa de Jesus, há um parelelismo muito marcado entre a experiência que ela tem de Cristo e de Maria. Depois de tantos trabalhos e sofrimentos passados nas suas fundações Teresa alegra-se com as suas irmãs: “Nós alegramo-nos de podermos em algo servir a Nossa Mãe, Senhora e Padroeira” (F 29, 23). Jesus e Maria são duas criaturas sempre unidas na vida de Teresa e dos seus Carmelos: “Pouco a pouco se vão fazendo outras coisas para honra e glória desta gloriosa Virgem e de Seu Filho. Seja Ele para sempre louvado, ámen, ámen!” (F 29, 28).


P. Jeremias Carlos Vechina, OCD

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Os quatro degraus da “Lectio Divina”


Os passos da leitura espiritual, segundo Dom Orani João Tempesta, O. Cist.

RIO DE JANEIRO, quarta-feira, 19 de maio de 2010 (ZENIT.org).- Apresentamos, a seguir, o artigo de Dom Orani João Tempesta, O. Cist., arcebispo do Rio de Janeiro, sobre como orar segundo o método da Lectio Divina, tema abordado na 48ª Assembleia dos Bispos do Brasil, celebrada em Brasília de 3 a 13 de maio.

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A "Lectio Divina" é uma expressão latina já presente e consagrada no vocabulário católico, que pode ser traduzida como "leitura divina", "leitura espiritual", ou ainda como ocorre hoje em nosso país e em vários escritos atuais, como "leitura orante da Bíblia". Ela é um alimento necessário para a nossa vida espiritual. A partir deste exercício, conscientes do plano de Deus e a Sua vontade, pode-se produzir os frutos espirituais necessários para a salvação. A Lectio Divina é deixar-se envolver pelo plano da Salvação de Deus. Os princípios da Lectio Divina foram expressos por volta do ano 220 e praticados por monges católicos, especialmente as regras monásticas dos santos: Pacômio, Agostinho, Basílio e Bento. O tempo diário dedicado à lectio divina sempre foi grande e no melhor momento do dia. A espiritualidade monástica sempre foi bíblica e litúrgica. A sistematização do método da lectio divina nós encontramos nos escritos de Guigo, o Cartucho, por volta do século XII.

A Lectio Divina tradicionalmente é uma oração individual, porém, pode-se fazê-la em grupo. O importante é rezar com a Palavra de Deus, lembrando o que dizem os bispos no Concílio Vaticano II, relembrando a mais antiga tradição católica - que conhecer a Sagrada Escritura é conhecer o próprio Cristo. Monges diziam que a Lectio Divina é a escada espiritual dos monges, mas é também de todo o cristão. O Papa Bento XVI fez a seguinte observação num discurso de 2005: "Eu gostaria, em especial, recordar e recomendar a antiga tradição da Lectio Divina, a leitura assídua da Sagrada Escritura, acompanhada da oração que traz um diálogo íntimo em que na leitura, se escuta Deus que fala e, rezando, responde-lhe com confiança a abertura do coração".

O Concílio Vaticano II, em seu decreto Dei Verbum 25, ratificou e promoveu, com todo o peso de sua autoridade, a restauração da Lectio Divina, retomando essa antiquíssima tradição da Igreja Católica. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, especialmente aos religiosos, que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo (Fl 3,8). Porquanto, "ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo" (São Jerônimo, Comm. In Is., prol).

O método mais antigo e que inspirou outros mais recentes, é que, seja pessoalmente, em comunidade ou no círculo bíblico nós comecemos a reflexão com a Palavra de Deus e que, depois da invocação do Espírito Santo, segue os passos tradicionais: 1- Lectio (Leitura); 2- Meditatio (Meditação); 3- Oratio (Oração) e 4- Contemplatio (Contemplação). Existem outros métodos que, inspirados aqui, procuram ajudar o cristão a acolher em sua vida a Palavra de Deus e a colocar em prática no seu dia a dia. Em nossa 48ª Assembleia dos Bispos do Brasil, celebrada em Brasília de 3 a 13 de maio último, além de tratar como tema central a "Palavra de Deus", proporcionou aos Bispos, na manhã do domingo, dia 9, um tempo para lerem, meditarem e rezarem com esse método. A mensagem que foi publicada sobre o tema central está baseada justamente nesse clima. Chegou o momento de passarmos a colocar em nossos grupos de reflexão, círculos bíblicos e outros grupos a Palavra de Deus como fonte de reflexão e inspiração para iluminar a nossa realidade concreta.

O método tradicional é simples: são quatro degraus - "a leitura procura a doçura da vida bem-aventurada; a meditação a encontra; a oração a pede, e a contemplação a experimenta. A leitura, de certo modo, leva à boca o alimento sólido, a meditação o mastiga e tritura, a oração consegue o sabor, a contemplação é a própria doçura que regala e refaz. A leitura está na casca, a meditação na substância, a oração na petição do desejo, a contemplação no gozo da doçura obtida." (Guigo, o Cartucho, Scala Claustralium).

Portanto, quanto à leitura,

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leia, com calma e atenção, um pequeno trecho da Sagrada Escritura (aconselha-se que nas primeiras vezes utilizem-se os textos dos Evangelhos). Leia o texto quantas vezes e versões forem necessárias. Procure identificar as coisas importantes desta perícope: o ambiente, os personagens, os diálogos, as imagens usadas, as ações. É importante identificar tudo com calma e atenção, como se estivesse vendo a cena. A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com aplicação de espírito.

Quanto à Meditatio,

Blog de lectiodivina :Leitura Orante da Biblia (Lectio Divina), 2. A meditação: ruminar, dialoga, atualizar

começa, então, diligente meditação. Ela não se detém no exterior, não pára na superfície, apóia o pé mais profundamente, penetra no interior, perscruta cada aspecto. Considera atenta sobre o que esta Palavra está iluminando minha vida e a realidade em que vivo hoje. Quais são as circunstâncias que ela me questiona e me incentiva? Depois de ter refletido sobre esses pontos e outros semelhantes no que toca à própria vida, a meditação começa a pensar no prêmio: Como seria glorioso e deleitável ver a face desejada do Senhor, mais bela do que a de todos os homens (Sl 45,3), não mais tendo a aparência como que o revestiu sua mão, mas envergando a estola da imortalidade, e coroado com o diadema que seu Pai lhe deu no dia da ressurreição e de glória, o dia que o Senhor fez (Sl 118,24).

Quanto à Oratio,

Blog de lectiodivina :Leitura Orante da Biblia (Lectio Divina), 3. A oração: suplicar, louvar, recitar.

toda boa meditação desemboca naturalmente na oração. É o momento de responder a Deus após havê-lo escutado. Esta oração é um momento muito pessoal que diz respeito apenas à pessoa e Deus. Não se preocupe em preparar palavras, fale o que vai ao coração depois da meditação: se for louvor, louve; se for pedido de perdão, peça perdão; se for necessidade de maior clareza, peça a luz divina; se for cansaço e aridez, peça os dons da fé e esperança. Enfim, os momentos anteriores, se feitos com atenção e vontade, determinarão esta oração da qual nasce o compromisso de estar com Deus e fazer a sua vontade. Vendo, pois, a pessoa que não pode por si mesma atingir a desejada doçura de conhecimento e da experiência, e que quanto mais se aproxima do fundo do coração (Sl 64,7), tanto mais distante é Deus (cf. Sl 64,8), ela se humilha e se refugia na oração. E diz: Senhor, que não és contemplado senão pelos corações puros, eu procuro, pela leitura e pela meditação, qual é, e como poder ser adquirida a verdadeira doçura do coração, a fim de por ela conhecer-te, ao menos um pouco.

Quanto ao último passo, a Contemplatio:


desta etapa a pessoa não é dona. É um momento que pertence a Deus e sua presença misteriosa, sim, mas sempre presença. É um momento no qual se permanece em silêncio diante de Deus. Se ele o conduzirá à contemplação, louvado seja Deus! Se ele lhe dará apenas a tranquilidade de uns momentos de paz e silêncio, louvado seja Deus! Se para você será um momento de esforço para ficar na presença de Deus, louvado seja Deus! Mas em todas as circunstâncias será uma maneira de ver Deus presente na história e em nossa vida! "Ele recria a alma fatigada, nutre a quem tem fome, sacia sua aridez, lhe faz esquecer tudo o que não é terrestre, vivifica-a, mortificando-a por um admirável esquecimento de si mesma, e embriagando-a sóbria a torna" (Guido, o Cartucho).

Há uma preocupação grande com a vida prática, com a conversão, de modo que muitas vezes se costuma acrescentar a "actio", ou seja, ação junto com a contemplação. Os temores de uma vida "alienada" podem ser sempre apresentados em todas as circunstâncias, mas quando se aprofunda realmente na Palavra de Deus e se crê que ela é como uma espada de dois gumes que penetra no mais profundo de nosso ser e que também ilumina nossa vida e nosso caminho, teremos certeza de que ela ilumina a nossa estrada e nos conduz com a graça de Deus por uma vida nova.

Portanto, diante deste patrimônio da nossa Igreja que é este método da Lectio Divina, desejo a todos que inspirados na mensagem que os Bispos enviaram acerca do tema central da 48º Assembleia, possamos todos nós aprofundar a Leitura Orante da Bíblia, que, aproximando-nos da Palavra de Deus, encontremos os caminhos da vida dos cristãos hoje, neste início de milênio, que, diante da atual mudança de época, respondamos com uma vida nova, haurida nas escrituras sagradas, que nos comunicam a Palavra eterna, o Verbo eterno, Jesus Cristo, nosso Senhor!

Dom Orani João Tempesta, O. Cist.

Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro


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sábado, 24 de abril de 2010

XII Encontro de Presidentes, Mestres e Conselheiros OCDS - (Palestra 1)

Tema : Santa Teresa (cristológica, eclesial, oracional e mariana)

• São realidades que em Santa Teresa estão intrinsecamente relacionadas, como que desdobramentos naturais de uma única realidade: Deus. Deus Uno-Tríno é a fonte que dá vida e sustenta todas as realidades dele oriundas.

• Cristológica: Teresa de Jesus e Jesus de Teresa. É todo um programa de vida que se aprofunda e desenvolve à medida dos anos. Cristo é o centro de sua vida e sua história a tal ponto de também nela ocorrer o que Paulo apóstolo experimenta: “não sou mais eu quem vivo, é Cristo quem vive em mim”.
Sua espiritualidade cristológica está profundamente enraizada na S. Escritura, particularmente nos Evangelhos, na Liturgia (Missa e Ofício), nos Sacramentos e que se prolonga na oração pessoal. É seu AMIGO, seu LIVRO VIVO, seu CAPITÃO DE AMOR.
“Não sabes que sou poderoso? Que temes?” (V. 36,16)
“Eu sou fiel”. (R. 28,1) = (Ap 1,5;19,11)
Mesmo no ápice de sua vida espiritual, jamais abandonou as expressões populares das relações com o Senhor, como p. ex. o Jesus Menino que presidia suas fundações, o Senhor do Horto e as várias representações da paixão, etc...
“Tenho compreendido claramente que esta é a Porta pela qual devemos entrar, se pretendemos que a soberana Majestade revele grandes segredos. Não queira outro caminho, ainda que esteja no cume da contemplação. Por aqui irá seguro. É por meio deste Senhor nosso que nos vem todos os bens”. ( V. 22,6.7)

• Eclesial: Teresa é e quer ser filha da Igreja até a morte. Absolutamente nada sem a Igreja.
Sem negar, naturalmente, a realidade espiritual da Igreja Corpo Místico, Teresa vive a realidade terena da Igreja, compartilhando a dramática situação eclesial do séc. XVI; preocupa-se em dar o melhor de si para o bem da Igreja. A evangelização do novo mundo (América) interessa-lhe particularmente.
Quer relacionar-se com “homens da Igreja” e que estes sejam “santos e letrados” para deles receber ajuda oportuna, tanto pessoal quanto comunitária para suas monjas.
Na sua atividade de fundadora, bem como na sua obra escrita e na sua experiência mística, tudo vem submetido à autoridade eclesial, mesmo havendo, em alguns casos, certas hesitações. Todo seu carisma e ministério é exercido dentro da estrutura eclesial: “ Em tudo sujeito-me à Santa Igreja Católica”. Nota importante na eclesialidade de Teresa: esta acontece, antes de tudo, na própria comunidade religiosa: é o “pequeno colégio de Cristo”, onde “todos deverão amar-se e fazer-se amáveis”.

• Oracional: a vida cristológica e eclesial de Teresa, como que um movimento natural de relação amorosa, encontra na oração sua “ Terreno” privilegiado.
A oração teresiana é, antes de tudo, uma atitude existencial: Ela não é outra coisa “ senão tratar de amizade – estando muitas vezes tratando a sós – com quem sabemos que nos ama”. (V. 8,5)
Nesta relação ( e justamente por ser relação !) “o principal não é pensar muito, mas amar muito” (4M, 1,7). Trata-se, portanto, não apenas de atos de oração, mas de atitudes orantes, uma vez que “ o verdadeiro amante em toda parte ama e se lembra do amado”. (F. 5,16)
Esta atitude orante, em S. Teresa, compromete seriamente toda a existência e não deixa espaço para o mínimo farisaísmo: “Não deveis assentar vossos alicerces só em rezar e contemplar. Com efeito, se não buscardes virtudes e o exercício delas, ficareis sempre anãs. E praza a Deus que não seja só no crescer, porque já sabeis que quem não cresce, diminuí. (7M, 4,9)
Para o orante, a mãe e mestra Teresa é categórica: “Segui sempre o mais perfeito” (C 5,3).

• Mariano: como nos aspectos anteriores, o marianismo em Santa Teresa invade e ilumina toda sua existência.
Nascida e criada em família profundamente cristã, Teresa vive com fervor e simplicidade sua vida de fé e esta vida é marcada pela presença viva e fecunda da Mãe do Senhor. Toda a sua trajetória e experiências é um canto de amor e gratidão para com a Virgem Maria, a tal ponto de ser chamada, também de “ Teresa de Maria”. Teresa jamais separou Maria de Jesus, da Igreja, da oração e do Carmelo. Maria é como que o perfume que exala suavemente sempre e em toda parte.
Para além de sua devoção popular à Virgem, jamais abandonada, as elevadas experiências de S. Teresa tem raízes bíblicas e fortes motivações teológicas. A Mãe de Deus é proposta com modelo de união com Cristo. Ver 6 M 7,14.
“ A companhia do bom Jesus é proveitosa demais para que nos afastemos dela, o mesmo acontecendo com a da Sua Sacratíssima Mãe” (6M 7,13)
Eis um texto pouco divulgado, no que se refere à Virgem como modelo e testemunho de fé e sabedoria: “Ó segredos de Deus! Aqui não há senão entregar o intelecto e pensar que, para compreender as grandezas de Deus, ele de nada vale. Convém nos lembrar do que fez a Virgem Nossa Senhora, com toda sua sabedoria, perguntando ao anjo: como se fará isso? E quando o anjo lhe disse: O Espírito Santo virá sobre ti, a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, ela não tratou de mais disputas. Como quem tinha grande fé e sabedoria, percebeu algo que, diante da intervenção dessas duas coisas, nada mais havia para saber ou de que duvidar” (CAD 6,7).
De diversos modos, na experiência e espiritualidade de Teresa, Maria surge como modelo e testemunho, mas também como intercessora e auxílio: “ Entendi ter muita obrigação de servir a Nossa Senhora e a São José, porque muitas vezes, estando eu totalmente perdida, Deus voltava a me dar saúde graças aos seus rogos” (R 30).
Toda sua intimidade divina foi sempre vivida sob o patrocínio da Virgem Maria. Humana como é, Teresa jamais desprezou os recursos dos simples: “Sinto uma alegria indizível olhando para uma imagem de Nossa Senhora” (CE 61,7).
Como mãe e mestra nossa, deixa-nos o seu amoroso convite, sempre atual e necessário para nossa vida cristã e carmelitana: “ Já que possuís tão boa Mãe, imitai-A e considerai a imensa grandeza dessa Senhora, bem como a vantagem de tê-La por padroeira”. (3M, 1,3)
Olhando com simplicidade e amor para Mãe do Senhor e nossa, descobriremos na constelação da santidade uma ESTRELA de primeira grandeza, cujo nome é MARIA: “ Quem é esta donzela? É filha do Eterno Pai E reluz como uma estrela”. (P. 14)


Frei Afonso de Santa Teresinha, ocd