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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

TERESA DE LISIEUX VIDA- DOUTRINA- AMBIENTE

PARTE IV

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CAPÍTULO 12

NA NOITE DA FÉ

EMMANUEL RENAULT ocd

"O homem que não foi tentado, que sabe?" (Sir 34,10). Estas palavras do Ben-Sirá exprimem um fato de experiência humana, segundo a qual ninguém pode chegar a um autêntico conhecimento de si e do mundo, e corresponder ao desígnio de Deus a seu respeito, se não passou pelo fogo das provações, seguindo o exemplo de Cristo.

A Escritura fala, pois, de "provações" como de uma travessia necessária para a vida, de uma condição indispensável para contrastar o valor da fé (1Pd 1,7), para manifestar a verdade (1Cor 11,19), para exercitar a humildade (1Cor 10,12-13).

Mas as provações podem converter-se em "tentações" pelo aproveitamento que delas pode fazer Satanás (cf. Ms A 5,3; 1Cor 7,5; 1Ts 3,5). Deus não é o autor das tentações, mas permite-as como testes impostos ao homem para penetrar no seu mistério por meio do mistério da cruz.

Estas são as "provações-tentações" que Teresa sofreu, especialmente no fim da sua vida, sofrendo ao mesmo tempo um duplo enfrentamento com a morte: a morte física que inexoravelmente destruía o seu corpo de mulher de vinte e quatro anos e a morte espiritual que ameaçava a vida da sua alma. Para avaliar melhor as condições do combate que teve que suportar nesta grande provação final da sua fé, haveria que voltar a situá-la no contexto da sua doença mortal, contexto que é tratado no capítulo seguinte.

Perfil da sua provação

Em junho de 1897, três meses antes da sua morte, Teresa declara: "Nos dias tão alegres do tempo pascal, Jesus fez-me compreender que há verdadeiramente almas que não têm fé, almas que, por abuso das graças perdem esse precioso tesouro, fonte das únicas alegrias puras e verdadeiras" (Ms C 5v).

Há que indicar que este conhecimento do mundo das almas sem fé não lhe foi dado como uma iluminação do espírito destinada a abrir-lhe perspectivas novas para avivar o seu zelo apostólico. Assim tinha sido para Santa Teresa de Ávila quando da visita do Padre Maldonado, franciscano, ao regressar do México: tinha-se inflamado com a notícia dos "milhões de almas que ali se perdiam por falta de doutrina" (Fundações, 1,7).

Teresa sabia que havia "ímpios que não tinham fé", pois uma sobrinha da sua tia a Sra Guérin, Margarida Maudelonde, tinha se casado com um reconhecido ateu, o Sr. Tostain, representante do presidente da República em Lisieux. Mas na sua fé "tão viva, tão clara", "julgava que falavam ao contrário do que pensavam ao negarem a existência do céu", porque, para Teresa a existência do céu era então de tal evidência que para um espírito reto e sincero era impossível não admiti-la: "A esperança de ir para o céu inundava-me de alegria" (Ms C 5v).

E eis que, de repente, é-lhe dado o conhecimento, não exterior, mas íntimo, experimental, deste mundo das almas sem fé ao ver-se ela mesma imersa nele: "Deus permitiu que a minha alma fosse invadida pelas mais espessas trevas e que o pensamento do Céu tão deleitoso para mim, não fosse senão motivo de combate e de angústia..." (Ms C 5v). Não é que Teresa participasse dos sentimentos destes ateus e renegados, pois é na sua defesa como Teresa se encontrará na sua companhia e como Jesus lho "fez sentir", somente sentir, que realmente há almas que se encontram nestas trevas do espírito. Esta tomada de consciência do drama dos incrédulos irá aprofundando-se na coração de Teresa, durante as semanas e os anos, pois a sua "não ia durar uns dias, umas semanas...". Quando escrevia isto, não sabia que duraria, embora parecesse impossível, exatamente dezesseis meses e vinte e cinco dias, quer dizer, até á hora da sua morte.

Tratava-se de uma provação que não era simplesmente de ordem moral, afetiva ou psicológica, isto é, não era uma crise passageira, como a experimentavam muitos cristãos do nossos dias, mas era realmente uma provação de ordem teologal, imposta por Deus para purificar a sua fé do que tinha de"demasiado natural", como ela própria reconhecerá, para retirar — diz Teresa — "tudo quanto pudesse haver de satisfação natural no desejo que tinha do Céu" (Ms C 7v).

Para ela, como para qualquer cristão, as motivações da fé não são todas sobrenaturais. Misturam-se, mais ou menos e quase sempre, elementos naturais que a privam da sua pureza, da sua força e, consequentemente, da sua capacidade de "unir" a Deus como Ele é. Daí, estas purificações necessárias que São João da Cruz descreveu magistralmente na Subida do Monte Camelo e Noite escura.

Mas o Senhor, na sua pedagogia cheia de sabedoria e misericórdia, não impõe estas purificações senão àqueles que consentem nelas, e não o faz senão depois de prolongada e paciente preparação. É o que Teresa compreendia quando escreveu: "Ele não me enviou este sofrimento senão no momento em que tive força para o suportar"; e acrescenta: se o tivesse sido mais cedo, creio bem que teria mergulhado no desânimo..." (Ms C 7v). Há que indicar que não diz "teria duvidado", mas apenas "mergulhado", É que a sua "fé, tão viva, tão clara" estava já tão firmemente segura que não correria o perigo de cair na incredulidade. Apesar de tudo, segundo o desígnio de Deus sobre ela, tinha que sofrer uma última purificação como o ouro no crisol (cf. 1Cor 1,12-13), exatamente igual, como tinha acontecido a Maria, a Mãe de Deus.

Esta é a razão pela qual devemos comprovar que, se a sua provação de fé surgiu de repente, como tempestade em águas tranqüilas ou como violenta tormenta em céu azul, esteve precedida de alguns sinais precursores, do mesmo modo que a sua primeira hemoptise na noite do 2 para 3 de abril de 1896 foi precedida por numerosas dores de garganta e de peito. Evidentemente, não é casualidade que a manifestação da sua tuberculose coincidisse praticamente com a entrada na noite das suas dúvidas (a noite seguinte: dia 15 de abril!) Como se os seus sofrimentos físicos, que irão crescendo até chegarem a ser atrozmente insuportáveis, tivessem que acompanhar e redobrar os seus sofrimentos espirituais, e isto até à sua morte, para levá-la, por meio de uma paciência heróica, a uma atitude de fé totalmente despojada de todo o vestígio de "satisfação natural".

As trevas

"Que estranho e incoerente!" (UCR 3.7.3). Esta exclamação da Santa adverte-nos, desde o princípio, de que não estaremos em condições de compreender perfeitamente a natureza e as diversas formas que a provação da fé apresenta a uma alma. É um mistério até para a mesma alma.

A vida é uma realidade simples e complexa. Simples, no seu caminhar para Deus. Complexa, nos elementos que a compõem: o mundo interior e exterior da pessoa. Quando a tentação da dúvida surge numa alma, a fé é atacada na sua raiz, e este ataque à raiz dura mais e é tanto mais profundo quanto a árvore da fé desenvolveu mais profundamente as suas raízes e os seus ramos em toda a existência. Não é de admirar que estas tentações, uma vez que elas seguem o ritmo da vida, pareçam desenvolver-se sem ordem lógica.

Daí a impressão de incoerência e a dificuldade para os que se lhes torna difícil compreender e fazer que se compreenda o que estão a experimentar. "Prova interior que é impossível entender" (UCR 21/26.5.10).Será, pois, com prudência e com simplicidade como procuraremos descrever e depois examinar a luta pessoal vivida pela Santa.

No seu Manuscrito C, escrito três meses antes da sua morte (junho de 1897), Teresa utiliza uma comparação para explicar o seu estado: "Imagino que nasci num país coberto por um espesso nevoeiro, e que nunca contemplei o risonho aspecto da natureza" (Ms C 5v). Doutrina teológica certa, proposta em termos simples. A fé é já, por si mesma, uma noite para a razão que não pode ter a evidência das realidades divinas. Estas "maravilhas" das quais ouviu falar, não são uma "história inventada", mas "uma realidade indubitável", por que o Rei da pátria do sol brilhante veio viver trinta e três anos no país das trevas" (ib.). Deste modo, a obscuridade inerente à fé é iluminada para a alma por uma certeza comparável a um "resplandecente facho" (Ms C 6r). São Pedro falou de uma "lâmpada que brilha em lugar escuro" (2 Pd 1,19). A prova consiste, pois, em que a noite da fé se transforma em noite total: as tentações contra a fé têm como efeito ocultar a pequena chama ou obscurecem o seu resplendor com o espesso véu das dúvidas: "mas de repente, os nevoeiros que me rodeiam tornam-se mais densos, e penetram-me na alma, e envolvem-na", explica Teresa (Ms C 6v).

Numa carta à Irmã Maria do Sagrado Coração, a Santa tinha descrito, de forma alusiva, o mesmo fenômeno, comparando-se a um "passarinho acometido pela tempestade". "Parece-lhe não acreditar que existe outra coisa, a não ser as nuvens que o envolvem", mas "sabe que para além das nuvens o seu Sol brilha sempre" (Ms B 5r).

A fé continua presente, mas a sua "luz invisível" (Ms B 5r) já não é percebida pela alma que já não sente "o gozo" (Ms C 7r). Tem a impressão de ter entrado numa noite mais profunda, noutra noite. É impressionante ver quanto a Santa insiste na profundidade desta nova obscuridade. Fala de "espessas trevas", de "sombrio túnel" (Ms C 5v); já não se trata de um "véu", mas de um muro que se ergue até aos céus" (Ms C 7v).

Nas notas recolhidas pelas suas irmãs durante a sua doença, encontramos os mesmos traços característicos: "... o céu é de tal maneira escuro que não vejo nenhuma aberta" (UCR 27.5.6). Fala de um "espaço negro, onde já não se distingue nada... Ah! sim, que escuridão!" (UC 28.8.3). As poesias que compôs desde abril de 1896 até junho de 1897 diziam explicitamente: "Apoiada sem nenhum Apoio / Sem Luz e nas Trevas" (PN 30, de 30 de abril de 1896): "O meu Jesus sorri-me quando suspiro por Ele. / Então já não sinto a provação da fé" (O meu Céu, P 32, de 7 de junho de 1896): Quando no meu coração se levanta a tempestade" (PN 36, de 15 de agosto de 1896).

As confidências que escalonam as últimas conversas mostram-nos que Teresa sofrerá esta provação até ao seu último suspiro. No entanto, adverte: "Às vezes, é verdade, um pequeníssimo raio de sol vem iluminar as minhas trevas; então a provação cessa por um instante" (Ms C 7v), para voltar novamente um instante depois.

Tais períodos de calma devem-se ao desaparecimento das dúvidas: "é como algo interrompido" (UCR 9.6.3). Ou como a percepção repentina da ternura de Deus. Assim, o encontro fortuito no jardim de uma galinha que abriga os seus pintinhos sob as suas asas (cf. UC 7.6.1), um sonho no qual a madre Ana de Jesus a tranqüiliza sobre o valor do seu "pequeno caminho" (cf. Ms B 2r-v), ou a solicitude pela qual se vê envolta. É "um relâmpago no meio das trevas" (UCR 22.7.1). Acontece que tem sentimentos de alegria passageira: quando reza à Santíssima Virgem (cf. UCR 1.5.2), quando escuta a Irmã Teresa de Santo Agostinho referir o sonho em que viu a Teresa por detrás de uma pesada porta negra" (UCR 1.5.2), ou quando ouve uma "música longínqua" (UCR 13.7.17).

Estas tão breves consolações não lhe devolvem a doçura interior que tinha conhecido anteriormente. Assim, chorando de gratidão por um ramo de flores silvestres que urna irmã lhe tinha levado para o aniversário da sua profissão, precisa: "Choro pelas delicadezas de Deus para comigo; exteriormente estou totalmente satisfeita, mas interiormente continuo sempre na provação..." (UCR 8.9).

Outra constatação. Se, no fundo, a provação foi contínua, conheceu graus de intensidade variável. Parece que se foi acentuando progressivamente até alcançar às vezes um máximo de violência: "Admiro o céu material; o outro está para mim cada vez mais fechado" (UCR 8.8.2). Em particular, advertem-se dois momentos cruciais. A noite de 15 para 16 de agosto de 1897, na qual as próprias irmãs da santa, fortemente impressionadas, temem que sucumba às tentações e rezam explicitamente por ela, e durante as últimas horas da sua vida, "é a agonia pura, sem sombra de consolação" (UCR 30.9).

É razoável que os sentimentos experimentados pela Santa sejam ao princípio de assombro, de surpresa. Não o esperava, sobreveio "de golpe" (Ms C 6v). Sentimentos de estranheza, de incompreensão para ela e para as outras, e, em conseqüência, de solidão: "Só Deus pode compreender-me" (UCR 11.7.1). Sentimentos de desânimo (cf. UCR 4.8.4), de angústia (UCR 20.8.10). Sentada a "uma mesa cheia de amargura", como "o pão da dor" e sofre um indizível tormento interior (cf. Ms C 6r).

Tentações

Se agora lhe perguntarmos sobre a natureza exata da sua "provação da alma", parece- nos ouvi-la responder que consiste principalmente em "pensamentos" de dúvidas contra a fé (cf. UCR 7.8.4; 10.8.7). Sem dúvida, há que incluir estes "pensamentos extravagantes" (UCR 4.6.3) sobre os quais não se explicou.

Teresa, embora tenha dado provas de ser muito reservada, oferece-nos alguns exemplos destas sugestões surgidas das trevas: "Sonhas com a luz, com uma pátria inundada dos mais suaves perfumes; sonhas com a posse eterna do Criador de todas estas maravilhas; pensas sair um dia dos nevoeiros que te rodeiam. Continua, continua, alegra-te com a morte, que te dará, não o que tu esperas, mas uma noite mais profunda ainda, a noite do nada" (Ms C 6v). Provavelmente, foi mais explícita com o seu confessor, o abade Youf, que lhe respondeu: "Não se detenha nisso, é muito perigoso" (UCR 6.6.2).

Não se podem fazer comparações entre uma alma e outra, sobretudo neste terreno da fé, no qual cada um vai a Deus pelo seu próprio caminho. Os pontos sobre os quais a voz das trevas faz recair a dúvida são certamente os que por mais tempo se mantêm no coração de Teresa, aqueles pelos quais, por assim dizer, estava totalmente investida. Pelo contrário, as suspeitas da dúvida não terão podido penetrar nela. Seria interessante comprovar como os temas mencionados aqui em resumo correspondem ao mundo privilegiado de Teresa: a luz, a "pátria", os perfumes, a felicidade eterna da posse de Deus, a criação e as suas maravilhas, "o desterro" e a sua tristeza.

"Continua, continua", sugere-lhe a voz. Todo o dinamismo teresiano da vida concebida como um caminho e inclusive como uma "corrida" para Deus está considerado aqui com cinismo num convite à alegria malvada de um coração orgulhoso que não quer esperar nada e com nada se satisfaz: "Alegra-te com a morte, que te dará, não o que tu esperas, mas uma noite mais profunda, a noite do nada" Neste conselho diabólico, há que advertir igualmente uma paródia do modo habitual de Teresa que sabia transformar os seus fracassos, as suas decepções, as suas penas em vitórias por meio da aceitação humilde e alegre da vontade de Deus. Em suma, o essencial da tentação consistia em destruir completamente o movimento profundo do "pequeno caminho", negando a confiança incondicional que é a sua base. Teresa entendeu isto ao indicar que esta voz maldita "se ria dela" Haveria que falar antes de cinismo, de ironia malvada. Por outro lado, a Santa comparará estas sugestões a "serpentes malignas", que assobiam aos seus ouvidos (UCR 9.6.2).

A madre Inês refere: "Certa noite, na enfermaria sentiu-se levada mais do que habitualmente a confiar-me os seus sofrimentos (...) Se soubesse, disse-me ela, que terríveis pensamentos me dominam! Reze muito por mim, para que eu não ouça o demônio que me quer convencer de tantas mentiras. É o raciocínio dos piores materialistas que se impõe ao meu espírito: Mais tarde, fazendo constantemente novos progressos, a ciência explicará tudo naturalmente, conhecer-se-á a razão absoluta de tudo o que existe e que continua ainda a ser um problema porque há muitas coisas para descobrir..., etc. etc. Quero fazer o bem depois da minha morte, mas não poderei! Acontecerá como com a Madre Genoveva: esperava-se vê-la fazer milagres e o silêncio completo caiu sobre o seu túmulo?' (UCR OPT, Agosto, p. 1301).

Percebe-se aqui que Teresa não estava tão desligada do mundo, que não ignorava completamente as discussões promovidas pelo cientificismo da época. Esta tentação aponta para a convicção da Santa de que aqui embaixo é impossível chegar a "ver" a verdade de todas as coisas (cf. UC 11.8.5). Não é que negue à ciência um poder ilimitado na descoberta dos segredos do universo, mas recusa o suposto que tais progressos devem prescindir da fé. É esta insinuação que Teresa recusa ao mesmo tempo como uma mentira e como uma violência feita à sua liberdade; "os pensamentos horríveis" se apresentam, efetivamente, de modo obsessivo, por persuasão, sob a forma de um argumento que "se impõe" ao seu espírito.

Há outra tentação que procura tocar-lhe no coração: o desejo de fazer o bem depois da sua morte será inútil. A prova? A "santa" madre Genoveva, fundadora do Carmelo de Lisieux, não manifestou a sua sobrevivência no mais além; o silêncio completo caiu sobre o seu túmulo. Para quê então tantos sacrifícios, toda a sua juventude perdida por um desejo generoso que não é mais do que um sonho? Pretender vir a ajudar os outros, que ilusão!

A madre Inês conta-nos outra confidência de Teresa sobre o conteúdo dos seus pensamentos contra a fé: "ontem à noite, senti-me invadida por uma verdadeira angústia e as minhas trevas aumentaram. Não sei que voz maldita me dizia: Estás certa de que Deus te ama? Veio dizer-te? A opinião das criaturas não é o que te vai justificar diante dele" (DE, p. 572). Esta tentação não tem o tom de burla da primeira, mas, como as outras, aponta para um ponto sensível em Teresa: o amor de Deus para com ela. Na mesma linha podemos situar o testemunho do Pe. G. Madelaine que confessou a Santa em junho de 1896: "A sua alma atravessou uma crise de trevas espirituais na qual se julgava condenada" (PA 595).

Em palavras deste confessor, o amor de Deus para com Teresa é posto em questão até ao ponto dela se julgar recusada por Ele e "condenada". A condenação supõe, certamente, uma vida mais além, pois a eternidade de dor corre simultânea com a eternidade ditosa. Induz a crer igualmente na existência do céu. Pois bem, precisamente segundo o Manuscrito C, Teresa tinha sido tentada a negá-la. O que espera é "a noite do nada (Ms C 6v). Se, depois da morte, não há nada, tampouco haverá nem céu nem inferno. Como conciliar, pois, estas afirmações contraditórias?

Observar-se-á que os testemunhos do Padre Madelaine e da Madre Inês se referem a momentos que se situam antes da redação do Manuscrito C (junho de 1897), no qual a Santa fala de si mesma. Já indicamos que a provação de fé em Teresa evoluiu progressivamente crescendo em intensidade. Eis um exemplo: com o tempo, a tentação tornou-se mais radical Em julho de 1897, Teresa dirá: "Tudo conduz ao Céu" (UCR 3.7.3). Que significa exatamente para ela o céu? Parece ser essencialmente a eternidade feliz, a vida com Deus. Mas, inclui isto a existência do próprio Deus? Algumas reflexões permitem julgar que não põe em dúvida a dita existência, mas apenas a sobrevivência da alma. Em suma, Deus existiria, mas não se ocuparia dos homens! "Mas, se porventura fosse possível, Vós mesmo houvésseis de ignorar o meu sofrimento..." (Ms C 7r). Tal posição pode parecer ilógica. Como afirmar que é impossível? "Me é impossível confiar-vos totalmente as minhas angústias", dizia Teresa um dia à madre Inês, "teria medo de ofender a Deus se exprimisse com palavras tais pensamentos. Eu que tanto O amo! Mas tudo isto é incoerente" (DE p. 451). A incoerência do seu estado interior aparece numa declaração da Irmã Teresa de Santo Agostinho no Processo Apostólico: "Se soubésseis, disse-me, em que trevas me vejo envolvida. Não creio na vida eterna. Parece-me que depois desta vida mortal não há mais nada: tudo desapareceu para mim e que não me resta mais que o amor” (PO 402).

"Não me resta mais que o amor". Pode o amor de Deus subsistir sem a fé? Como pode uma casa manter-se em pé quando já não tem fundamentos? Pois bem, é quase certo que nesta tempestade o amor de Teresa a Deus não sofreu nenhuma míngua. O que provoca o seu assombro: "Como é possível amar tanto a Deus e à Santíssima Virgem e ter desses pensamentos!..." (UCR 10.8.7).

Teve que procurar uma explicação para este fenômeno, pois propõe esta resposta encontrada quando lia um comentário da Imitação: "Nosso Senhor no Jardim das Oliveiras gozava de todas as delícias da Trindade, e apesar disso a sua agonia não era menos cruel. É um mistério, mas garanto-lhe que sou capaz de, em parte, o compreender por aquilo que eu própria sinto" (UCR 6.7.4).

Dava-se conta de que possuía a provação da firmeza e da vitalidade da sua fé? Se é certo afirmar com o Mons. Combes que "a caridade de Teresa salvou a sua fé", pode-se igualmente inverter a proposição e dizer que a fé de Teresa salvou a sua caridade. Foi a sua "fé viva" na sua unidade existencial que resistiu aos assaltos da dúvida. Talvez seja conveniente comprovar apenas que nos encontramos na presença de um aspecto de caráter misterioso de toda a provação da fé e, em particular, do mistério da alma teresiana.

Resistência sem concessões

O termo "combate", usado por Teresa, define bem as suas reações diante dos assaltos da dúvida. Não se contentou com sofrer passivamente o tormento, lutou corajosamente, adotando um a um, ou simultaneamente, quatro "sistemas" de defesa: resistência sem concessões, táctica da "fuga", afirmação da sua fé, abandono em Deus.

A imagem que vem espontaneamente à mente ao recordar a atitude de Teresa durante a sua noite de dúvidas é a de uma praça fortemente defendida. Sugere-o, em principio, o vocabulário guerreiro que a Santa usa com gosto: soldado, guerra, armas, etc... (e isso comprova-se especialmente a partir de finais de 1896), mas sobretudo pela fortaleza de alma da qual deu provas ao longo desta temível provação. Dir-se-ia fortaleza inquebrantável, assente solidamente sobre a rocha. Nada lhe impedirá de "permanecer ali, apesar de tudo"- não ela "não muda de lugar" (Ms B 5v).

A sua firmeza não conhece o desfalecimento. No máximo, revela um dia a violência dos ataques que padece deixando aflorar nos seus lábios, contra a sua vontade, a obsessão da suspeita com a qual "o inimigo" (Ms C 7r) a fustiga, dizendo: "Se não houvesse vida eterna... Mas há, talvez... é certo que há!" (UCR 5.9.1). Não é uma brecha aberta no recinto fortificado, pois recusa este insidioso "talvez". Não quis, pois, conceder nada ao seu "adversário" (Ms C 7r), nem sequer o mínimo de verdade recebida e mantida na sua fé. Resiste com todas as suas forças. Pela manhã, depois de uma noite particularmente esgotante, confessa: "Afastei muitas tentações" (UCR 6.8.1).

A resistência sem concessões de Teresa parece-nos tanto mais admirável quanto que a sua provação foi prolongada, violenta, e começou "de golpe". Não conheceu a lenta irrupção de um crepúsculo no qual as verdades da fé se difundem pouco a pouco para dar lugar a uma noite cerrada sem que se monte guarda, como aconteceu a Renan. Semelhante lance não podia acontecer a Teresa, era impossível. Impossível por causa da sua vigilância e do rigor da sua fé. "Sou como a sentinela observando o inimigo desde a mais alta torre de um castelo" (Ms C 23r). Além disso, as provas da fé — das quais falamos — os numerosos sofrimentos que teve que enfrentar durante a sua vida, sobretudo a doença do seu pai, tinham-na arrastado para o combate espiritual e fortalecido cada vez mais a seu fé em Deus e numa confiança inalterável n'Ele.

É certo que tinha gozado de um meio de fé excepcional, mas como, para consolidar a sua fé, para adquirir a força e a maturidade que vemos nela, para manter a sua fé "viva e clara" (Ms C 5r), não haveria de combater contra essas mil solicitações para a duvida e para a descrença das quais toda a sua vida, inclusive protegida, oferece ocasião? Ela, que só "buscou a verdade" (UCR 30.9), não deixou de encontrar dificuldades que necessariamente se viu forçada a indicá-las por meio das suas observações sobre o mundo que a rodeia, das suas reflexões pessoais sobre a doutrina recebida e das suas próprias descobertas. Parece evidente que percebeu certos problemas... Por isso, lamenta-se de não poder esclarecer por si mesma as traduções da Escritura que julga defeituosas (cf. UCR 4.8.5). Conhecemos com que avidez se infirmou sobre as verdades da fé ao longo da sua vida, muito cedo das lições de catecismo do abade Domin que lhe chamava o "seu doutorzinho" (Ms A 37v). O livro do abade Arminjon trouxe-lhe um profundo conhecimento dos "mistérios da vida futura" (Ms A 47r). Assimilou, sobretudo, o Evangelho sem se cansar.

Esta formação sólida e considerável, isenta de curiosidades ou de subtilezas intelectuais, constituiu o tesouro vivo que defendia com vigilância inflexível. À totalidade do seu compromisso pela fé correspondia-lhe a integridade dessa mesma fé zelosamente guardada. Tinha confiado tudo a Deus. Mantida sempre, feita vida da sua própria vida, convertida na sua própria substância, a fé de Teresa tinha adquirido o vigor de um organismo vivo e sadio, plenamente desenvolvido. Não é de admirar que dê a impressão de uma cidadela inexpugnável. O seu profundo enraizamento em Cristo e a sua vigilância conferem-lhe aquela firmeza da casa construída sobre a rocha da qual fala o Evangelho (cf. Mt 7,24-27).

Tática da fuga

Um segundo "sistema" de defesa que Teresa adotou diante das tentações contra a fé, consiste na "fuga". "Em cada nova ocasião de combate, quando o meu inimigo me vem provocar, porto-me com bravura. Sabendo que é covardia bater-se em duelo, volto às costas ao adversário, sem me dignar olhá-lo de frente" (Ms C 7r).

Porquê é uma covardia bater-se em duelo? Pelo contrário, não é necessário coragem para arriscar a própria vida? Para compreender o pensamento de Teresa, devemos situar-nos de entrada na sua estratégia. Aceitar o duelo, quer dizer, aceitar tomar em consideração as dúvidas contra a fé, é entrar no jogo do "inimigo", é reconhecer o valor das suas razões, é talvez também satisfazer secretamente o "instinto de morte" que às vezes impulsiona a alguém experimentado a acabar com as suas dificuldades por meio do suicídio. Bater-se em duelo já é capitular, é ofender a Deus, é já renegar d'Ele recusando confiar plenamente n'Ele. Em definitivo, aceitar bater-se em duelo é uma covardia, porque é trair a Deus e fugir do autêntico combate, por outro lado mais duro, pois não concede nada à natureza ao exigir a sua entrega sem condições. O autêntico combate, não foi o do anjo com Jacó? Por isso, Teresa toma firmemente a decisão de, "em cada nova ocasião", fugir do compromisso e da rendição inevitável que lhe é proposta. Considera prudente "não expor-se ao combate quando a derrota é certa" (Ms C 15r). Quer dizer, nega-se a deter-se nesses "pensamentos" (UCR 10.8.7) que a voz maldita lhe sugere (DE, p. 526); volta-lhes as costas sem dignar-se olhá-los na cara", sabendo que não é apenas inútil, mas também "muito perigoso" examiná-los de perto, discutir com eles para medir a sua validez. "Pode ficar tranqüila; não vou cansar a minha `cabecinha' a atormentar-me" (UCR 6.6.2).

Podemos pensar que já tinha usado antes esta "tática da fuga", quando com receio acolhia alguns ataques imperceptíveis à integridade da fé que se lhe apresentavam sob a forma inofensiva e insidiosa de "sins" e de "talvez". O que não exclui que desejasse apaixonadamente um melhor conhecimento da sua fé, ela que nunca "buscou senão a verdade", mas o seu instinto sobrenatural muito seguro a fez evitar os enganos de uma investigação intelectual satisfeita de si mesma, cativada mais pelo seu avanço do que pela verdade. Em Teresa não há temeridade, não há ameaça alguma; não vai ao encontro do inimigo, é ele que a vem "provocar" (UCR 7.7.4; 13.7.7). Não lhe podia ocorrer simular as suas dificuldades, pôr em jogo o seu espírito, pois não podia tolerar o "fingimento" (UCR 7.7.4; 13.7.7). "Ah, eu não finjo; é bem verdade que não entendo absolutamente nada" (cf (UCR 15.8.7).

Outro fato notável. As suas tentações não seguiram o caminho astuto das motivações que são, por natureza, exteriores à fé, tais como uma informação incompleta de dados revelados, um ensino caricaturesco ou um pôr em tela de juízo total, provocado pela situação da Igreja ou a da sociedade, ou inclusive alguns casos particulares de escândalo. Desde há tempo, o seu sentido da fé tinha-lhe permitido discernir e captar a substância. Por isso, o seu "adversário", sem rodeios, provoca-a diretamente sobre o essencial. Teresa sabe que a tentação não é pecado, que uma dificuldade, para se transformar em dúvida, tem que passar por um consentimento livre e consciente, por uma aceitação positiva. "Mil dificuldades não produzem uma dúvida", dizia o cardeal Newman. A preocupação da Santa de não "ofender a Deus" é de tal natureza que teme inclusive descrever os seus tormentos interiores: "Não quero escrever mais sobre isso; temeria blasfemar. Até receio ter dito demais..." (Ms C 7r). "Teria medo de ofender a Deus se exprimisse com palavras tais pensamentos" (DE, p. 451).

Pode ver-se outra razão no seu silêncio e na sua prudente reserva de querer evitar que se contagiem com o seu mal aquelas que vivem com ela. A Irmã Genoveva dirá no Processo Apostólico: "Não falava disso a ninguém por temor de contagiar as outras com o seu indizível tormento" (PO 276). Respondeu à Irmã Maria do Sagrado Coração de uma forma vaga e mudou de onversa. Compreendi então que não queria dizer-me nada "por temor de me fazer participante das suas tentações" (PA 813). Ao Padre Madelaine dirá: "Procuro que ninguém sofra as minhas penas" (PA 559).

Enfim, Teresa aplicava neste caso extremo um princípio que pertencia ao seu "pequeno caminho": "Faz tanto bem e dá tanta força não dizer nada das suas penas!" (DE, p. 305). Nega apiedar-se de si mesma, a buscar consolações doloristas, porque, no fundo, não sente apego algum a si mesma.

Afirmação da sua fé

Teresa não se contentou com resistir energicamente aos assaltos do adversário, nem usou a sua tática da fuga senão para atacar por sua vez, afirmando deliberadamente a sua fé na verdade que estes "pensamentos" procuravam induzi-la a negar. "Em cada nova ocasião de combate (...). Corro para o meu Jesus, e digo-Lhe que estou pronta a derramar o sangue até à última gota para confessar que o Céu existe" (Ms C 7r).

Em certo modo, renova a totalidade do seu compromisso com Deus, com Jesus, fazendo atos de fé, multiplicados quanto for necessário: "Creio ter feito mais atos de fé de há um ano para cá, do que durante toda a minha vida" (Ms C 7r). Depois de uma noite em que as tentações se fizeram mais agudas: "Ah! fiz muitos atos de fé..." (UCR 6.8.1). Falando à madre Inês destes "pensamentos tenebrosos": "Sofro-os forçosamente - diz ela - mas quando os sofro, não deixo de fazer atos de fé" (DE, p. 526).

Durante a sua agonia, quando os seus sofrimentos tinham chegado ao paroxismo, foi quando, contrariando as suas tentações, fez ouvir este grito, admirável de fé e de amor: "Ah! meu bom Deus!... Sim, ele é muito bom, acho-o muito bom!" (UCR 30.9).

Noutros momentos em que se sente menos acurralada faz numerosos atos de fé implícitos, ou afirmando serenamente "quando estiver no céu..." (cf. UCR 27.6) ou dizendo a Deus que o ama (cf. UCR 30.7.8), ou fazendo o sinal da cruz que lhe exige um esforço considerável (cf. UCR 31.8.3). Beija o seu crucifixo com ternura (cf. UCR 2.8.5; 19.8.3). Inclusive terá que "cantar fortemente no meu coração: Depois da minha morte a vida é eterna" (UC R 15.8.7). Pedirá insistentemente para receber o sacramento dos doentes e manifestará a sua alegria por lhe ser administrado (UCR 30.7.18). Sempre, pelo mesmo motivo de exercitar e fortalecer a sua fé, ficará decepcionada por não se poder confessar com o abade Youf (cf. UCR 6.9.3). A sua maior dor foi ver-se privada da comunhão a partir do dia 19 de Agosto até à sua morte, devido à incapacidade de absorver mesmo um bocadinho da hóstia. Numa palavra, suporta terríveis sofrimentos físicos e a sua "provação da alma" com o pensamento, ou melhor, com a certeza de trabalhar pelo bem das almas e de levar a cabo uma ação póstuma: "Voltarei" (UCR 9.7.2).

A reação de Teresa às suas dúvidas foi extraordinária pela sua oportunidade e eficácia. Compreendeu que não podia recorrer a nenhuma ajuda externa para se manter firme nesta tormenta. A resposta do abade Youf às suas confidências: "Não se detenha nisso, é muito perigoso", a fez dizer com humor: "Não é nada consolador ouvir isto" (UCR 6.6.2). Quando uma das suas irmãs julgou consolá-la lendo-lhe belos textos, disse-lhe sem ambigüidades: "Foi como se a Irmã cantasse!" (UCR 23.7.2).

Tinha compreendido que nenhuma explicação, nenhuma verificação, demonstração racional, nenhuma prova humana podia dispensá-la de uma gestão que ninguém, por outro lado, podia fazer em seu lugar: "obedecer à fé", renovando a sua total adesão, apoiando-se somente na Palavra de Deus. Para isto, só havia um meio: fortalecer a sua fé exercitando-a. Como a vida, pois a fé é vida divina, havia que fazê-la agir fazendo atos, pois os teólogos dizem que o ser vivo se estrutura por dentro.

Longe de deplorar a sua situação incômoda a toda a inteligência de ter que aderir a uma verdade da qual não temos evidência natural, Teresa aceita livremente a obscuridade inerente à fé: "Desejei mais não ver a Deus nem aos santos e permanecer na noite da fé do que outros desejam ver e compreender" (UCR 11.8.5), ou mais ainda: "Só no Céu veremos a verdade de todas as coisas. Na terra, é impossível" (UCR 4.8.5). Por isso, esforça-se "embora não tendo o gozo da fé, procuro, pelo menos realizar as obras dela" (Ms C 7r).

Neste campo, não há que acreditar nos sentimentos. Sabe que estes variam à mercê das circunstâncias e do nosso humor. Além disso, são inadequados para o nosso encontro com Deus. Para O encontrar "em espírito e verdade" é preciso ser arrojado no seu intimo. Por outras palavras, a alma deve querer acreditar por um movimento da sua liberdade. Daí, perante o assalto das dúvidas, a vontade totalmente determinada de Teresa em manter um acolhimento livremente aceite ao dom da fé: "Canto simplesmente o que QUERO ACREDITAR" (Ms C 7v) — palavras sublinhadas duas vezes. É inútil demonstrar aqui que poderia ser acusada de "fideísmo".

Apontemos antes duas particularidades do realismo teresiano. Na sua luta, Teresa não titubeia. A sua réplica é sempre imediata: "Em cada nova ocasião de combate (...), corro para o meu Jesus" (Ms C 7r). Toda ela está em movimento. Por outro lado, vemos como mostra a sua capacidade para se servir dos acontecimentos, das menores ações para se elevar a Deus. Possui a arte de viver o instante presente concentrando nele toda a densidade do seu ser: "Só sofro um instante. Porque ao pensar no passado e no futuro desanimamos e desesperamos" (UCR p. 327; cf. 645).

Numa palavra, Teresa escapa à acusação de puro voluntarismo porque a razão última do seu querer acreditar não é outra senão o amor. É reveladora esta reflexão: "Oh! Como eu sinto que desanimaria se não tivesse fé, ou melhor, se não amasse a Deus!" (UCR 4.8.4). De fato, descobrimos aí o segredo da energia indomável desenvolvida por Teresa na sua luta contra as tentações. Luta para conservar uma fé que ama, porque essa fé lhe revelou o amor.

Abandono em Deus

Resistência, fuga, atos de fé e de amor, Teresa está intimamente convencida de que não poderia fazer nada disso sem a ajuda da graça. Sabe que há uma só fé, mas que a ajuda de Deus é necessária para a conservar: "Não cesso de dizer a Deus: 'Ó meu Deus, eu Vos suplico, preservai-me da desgraça de ser infiel" (UCR 7.8.4).

Temos aqui uma amostra magistral do "pequeno caminho", que consiste em permanecer "pequena", quer dizer, não atribuir a si nenhuma virtude, em não se julgar capaz de realizar pelas suas próprias forças qualquer bem que seja, mas, pelo contrário, reconhecer a sua radical pequenez, servir-se dela para esperar tudo de Deus: "Não posso apoiar-me em nada, em nenhuma das minhas obras, para ter confiança" (UCR 6.8.4), "Nunca me apoio nos meus juízos; sei como sou fraca" (UCR 20.5.1).

Enquanto nos mantivermos nesta atitude de pobreza, de humildade de coração, não corremos nenhum perigo. As provações que necessariamente temos que sofrer são sempre medidas por Deus, que não permite que sejamos tentados acima das nossas forças desse momento; quando vivemos: "Deus dá-me exatamente o que posso agüentar" (UCR 25.8.2), "se eu morrer abafada, Deus dar-me-á forças" (UCR 27.7.15).

Pelo contrário, a catástrofe é certa desde que nos julgamos capazes de vencer uma dificuldade por nós mesmos: "Compreendo muito bem que São Pedro tenha caído. Esse pobre São Pedro que se apoiava sobre si mesmo em vez de se apoiar unicamente sobre a força de Deus. Concluí que, se dissesse: 'Ó meu Deus, amo-Vos muito, bem o sabeis, para me deter num só pensamento contra a fé', as minhas tentações se tornariam mais violentas e sucumbiria de certeza a elas" (UCR 7.8.4).

Se Teresa se mantém firme é, pois, somente porque Deus a sustém. Mas não sente esta ajuda, é-lhe dada pouco a pouco e de um modo tão secreto que Teresa tem a impressão de estar completamente abandonada na sua noite, nos seus sofrimentos físicos, nas suas angústias de alma. Come "o pão da dor (...) da mesa cheia de amargura, na qual comem os pobres pecadores" (Ms C 6r). Experimenta o sentimento da ausência de Deus como se tivesse caído na descrença. Sem "o gozo da fé" (Ms C 7r), privada das alegrias sobrenaturais do amor que a cumulavam antes, vive psicologicamente o desamparo dos ateus. O céu lhe é totalmente fechado...: "Até os santos me abandonam!" (UCR 3.7.6). Não são as consolações sensíveis que as suas irmãs crêem que podem aliviar este indescritível "tormento".

As trevas interiores parecem pôr em tela de juízo não só a sua adesão à fé, mas igualmente o impulso da sua esperança sob a forma de dúvida sobre a fidelidade de Deus em manter as suas promessas. Que a bem-aventurança do céu se revele ilusória é uma cara da tentação, mas não é menos temível que esta outra cara que consiste em duvidar que Deus se interessa pela alma, em pensar que Ele a abandona a si mesma nos seus esforços irrisórios para conseguir o fim prometido.

Mais profundamente ainda, o que Teresa vê ameaçado nesta provação da fé é o bem que mais aprecia: a sua confiança no Amor misericordioso. Era o centro do seu "pequeno caminho". Teresa ofereceu-se "como vítima de holocausto ao Amor misericordioso de Deus" (cf. Ms A 84r), e tinha recebido a prova da aceitação divina naquela "ferida de amor" (cf. UCR 7.7.2), experimentada pouco depois (junho de 1895) e noutros sinais. E eis que esta reciprocidade de amor total parecia cessar de repente. Deus retirava-se em silêncio da sua dupla noite. Teresa compreende que o abandono aparente de Deus devia responder com a sua entrega total, um abandono não menos total nas mãos de Deus: "Deus quer que eu me abandone como uma criancinha que não se preocupa o que dela farão" (UCR 15.6.1). Esta disposição habitual traduz-se nas suas palavras como um verdadeiro leitmotiv:"Abandono-me" (UCR 10.6), "é necessário abandonarmo-nos" (UCR 25.8.8).

Há que dizer que Teresa chegou a este abandono total em Deus de forma progressiva: "Estas palavras de Jó: ‘Mesmo que Deus me matasse eu ainda esperaria n'Ele’, encantaram-me desde a infância. Mas andei muito tempo antes de me fixar neste grau de abandono. Agora lá estou" (UCR 7.7.3).

Um abandono desta natureza não é demissão, mas aceitação definitiva, sem reservas, da vontade de Deus, qualquer que ela seja.

Trata-se, portanto, da forma mais elevada da fé, de uma fé despojada que não se apóia em nenhuma motivação humana; é, sobretudo, forma mais pura de um amor que chegou a uma plenitude que se exprime por uma confiança cega na misericórdia de Deus, apesar de tudo o que pareça contradizê-la. Não, Deus não a abandona no meio da sua noite, Ele não pode abandoná-la, nunca a abandonou: "Amo-O! Ele nunca me abandonará" (UCR 27.7.15). Teresa repete a sua certeza sem se cansar, e ao fazê-lo, dá a réplica mais adequada e mais completa às suas tentações contra a fé.

Em nenhum momento se deixará levar pelas perguntas sobre a bondade de um Deus que lhe permite sofrer assim. Em vez de O acusar de indiferença, inclusive de crueldade como tinha feito Jó, encontra o meio de lhe dar graças, de lhe agradecer pelo que suporta. Tem esta extraordinária exclamação: "Oh! como Deus tem de ser bom para que eu possa suportar tudo o que sofro!" (UCR 23.8.1). Sabe que Ele está aí, que é Ele quem lhe concede poder ir tão longe neste “martírio", que é, embora pareça mentira, o "martírio de amor" que tanto desejou. Compreendeu que a sua perseverança na confiança dava a medida do seu amor, que Deus esperava dela "mais provas de abando no e de amor" (UCR 10.7.14).

A uma pergunta sobre a paciência e sobre os santos que assistiam como observadores ao seu combate, Teresa responde: "Eles querem ver... principalmente se vou perder a confiança... até onde vou levar a minha confiança..." (UCR 22.9.3). O que motiva esta confiança total não são os seus méritos pessoais, uma vida exemplar, é o incompreensível e infinito Amor misericordioso do próprio Deus: "Poder-se-ia julgar que se tenho uma tão grande confiança em Deus é porque não pequei. Disse bem, minha Madre, que ainda que eu tivesse cometido todos os crimes possíveis, mesmo assim teria sempre a mesma confiança" (UCR 11.7.6).

Há necessidade de dizer que Teresa saiu vitoriosa deste longo e desapiedado combate? Para o demonstrar, não é necessário recorrer à sua ação e à sua glória póstumas. Deixava já entrever este resultado feliz durante o mesmo tempo da sua provação em virtude da sua ousada resistência, da sua recusa em discutir com o seu adversário, dos seus atos de fé e de amor, da sua confiança inquebrantável, como já vimos. Mas da sua vitória temos outras provas que demonstram que era mestra de operações e que dominava realmente a situação. Dois traços do seu comportamento são particularmente reveladores: a sua alegria e a sua paz, que se manifestam de mil maneiras por meio das suas "jogadas", dos seus jogos de palavras, das suas brincadeiras, da recordação de canções de outrora, dos seus pormenores para distrair e alegrar as suas irmãs. Certamente que sofre e muito, mas "é com alegria e paz", escreve Teresa à madre Maria de Gonzaga (Ms C 4v).

As Últimas Conversas estão cheias de notas deste tipo: "A minha alma, apesar das trevas, permanece numa paz admirável" (UCR 24.9.10). Admirável, com efeito, embora a natureza a castigasse com doenças que a esgotaram no seu corpo e na sua alma.

A alegria e a serenidade irradiam do seu ser, até tal ponto que as suas irmãs estavam surpreendidas por isso e esqueciam às vezes que tinham ao seu cuidado uma doente muito grave, indo pedir-lhe conselhos, fustigando-a com perguntas ou para receber consolação.

Paz admirável, falando humanamente, porque não há outra fonte senão a graça presente no fundo do coração de Teresa. De modo que o seu último suspiro que, assinala, com um êxtase momentâneo, o seu triunfo, aparece como a meta da sua subida. Bem entendido que, até ao último segundo, podia falar e Teresa não o ignorava, ela que confiava tanto na sua fraqueza. Mas tal desfalecimento era mais do que improvável, porque, costuma dizer-se, morre-se como se viveu.

A morte de Teresa confirma toda a sua vida. Os pontos suspensivos finais resumem-na inteiramente: "Oh! amo-O!... Meu Deus... Amo-Vos!..." (UCR 30.9).

CAPÍTULO 13

A ÚLTIMA DOENÇA

Monsenhor GUY GAUCHER

Durante a Quaresma de 1896, a Irmã Teresa entra na última etapa da sua vida e conhece uma nova situação: a da doença. Certamente que Teresa sabe o que supõe tentar manter-se corajosamente de pé durante todo o dia, com dores de garganta, tosse persistente, certamente acessos de febre que suporta em silêncio. Desde 1894 que se anda a tratar da dor persistente da garganta. Chegou mesmo a consultar o doutor Francis La Néele, primo de Teresa por casamento, pois o médico oficial é o Dr. Cornière, velho amigo da família Martin. Mas não foi auscultada.

É cuidada com os meios que têm à disposição. Mas a família Guérin está seriamente preocupada; testemunha-o a correspondência familiar: "Que Teresa se cuide com energia" (21-10-1894).

O alerta verdadeiro aconteceu durante a Semana Santa de 1896: duas hemoptises seguidas na quinta-feira e na sexta-feira (Ms C 4v). A Irmã Teresa, mais do que assustar-se, por causa do indicado começo do lindo ano de 1895 e do seu ato de oferecimento do dia 9 de junho, considera-o como um "chamado do Esposo". Nunca quis morrer jovem, mas teve sempre o pressentimento de que tal aconteceria, escreve ela com naturalidade: "Porque sinto que o meu exílio vai terminar" (Viver de Amor, P 17/14). Em abril de 1895, disse à Irmã Teresa de Santo Agostinho: "Morrerei em breve..." (PO 1945).

Depois destes acidentes, foi examinada (através da grade) pelo doutor La Néele, que não descobre nada de grave. De fato, a tuberculose continua a avançar. Continuava ativa no convento... e noutras partes. Já a rodeira, a Irmã Maria Antonieta, tinha falecido tuberculosa no dia 4 de novembro de1896. Depois de Teresa, outras irmãs seguiram o mesmo caminho; entre elas, a jovem Irmã Maria da Eucaristia, sua prima, filha de farmacêutico, que morreu no dia 14 de abril de 1905, aos trinta e cinco anos, apesar dos cuidados mais modernos da época.

A tuberculose foi temível praga que, entre 1886 e 1906, levou cerca de 150.000 pessoas por ano. A idade mais afetada situa-se entre os vinte e um e os trinta e cinco anos. A província de Calvados foi especialmente atacada. A cidade de Lisieux assistia todas as semanas a funerais de pessoas novas, que morreram com a terrível doença, que semeava o terror e que não desapareceu totalmente até 1944, com a descoberta dos antibióticos apropriados.

Cada vez mais solitária

A partir da Quaresma de 1897, a Irmã Teresa cai, portanto, "gravemente doente". Desde o dia 4 de abril. A Irmã Maria da Eucaristia escreve à sua família (Guérin) que a sua prima tem indigestões e febre todos os dias até às 15h. O doutor Cornière acaba de ver a doente: tem vômitos, dores agudas no peito, expectorações esporádicas de sangue. Os prolongados ataques de tosse esgotam-na.

A sua solidão se intensifica. Pouco a pouco, abandonou os exercícios da vida comunitária: em Maio, já não pode ajudar a Irmã Maria de São José na rouparia. Faz alguns trabalhos de costura para o suprir. Na quarta-feira, dia 26 de maio, não pôde participar na procissão das rogações no jardim. Lhe é retirada a função de adjunta da mestra de noviças, a madre Maria de Gonzaga. Teresa tem que renunciar ainda à reza do ofício com a comunidade e também a fazer oração no coro. Nos fins de Maio, princípios de Junho, já não é vista no refeitório. Não participa também dos recreios, demasiado cansativos.

Arrasta-se para ir à missa, não todos os dias. Numa manhã em que, como recurso esgotado, se encontra na cela sentada no seu banquinho, diz-lhe a madre Inês de Jesus: "Não é sofrer demasiado para conseguir uma comunhão" (DE II, p. 38). Às vezes para subir à sua cela demora meia hora e tem que fazer esforços extraordinários para despir sozinha a roupa.

É vista, pois, frequentemente na cela procurando não perder o tempo, indo ao jardim quando há bom tempo. As receitas de fins de Maio prescrevem vesicatórios, dolorosas pontas de fogo, calmantes, xarope contra a tosse.

A solidão dá-lhe tempo para compor o que deseje: neste mês de Maio, compôs um longo poema sobre a Virgem. Não queria morrer sem dizer o que pensa da sua Mãe "mais Mãe do que Rainha".

Contempla em Maria a mulher cristã que segue fielmente o seu Filho Jesus, mesmo na noite da fé, no caminho comum. Não é na noite da fé que Teresa vive habitualmente, como o atestam algumas envergonhadas alusões à madre Inês de Jesus?: "... esta prova interior que é impossível de entender..." (UCR 21/26.5.10). "Senti como que as angústias da morte... e sem nenhuma consolação!" (UCR 4.6.2).

Num desafio da madre Henriqueta do Carmelo de Paris, escreve um breve e dilacerador poema, espécie de testamento, A rosa desfolhada (PN 51, de 19 de maio de 1897). Como a rosa que brilha no altar e embeleza a festa de Jesus, e se desfolhar, a Irmã Teresa entrega-se "para já não ser": "Jesus, por teu amor prodigalizei a vida / o meu futuro /Aos olhos dos mortais rosa para sempre murcha / tenho de morrer!" (estrofe 4).

Fala aos seus irmãos espirituais, ao seminarista Bellière e ao padre Roulland, da sua morte próxima. Toda a esperança de cura parece-me perdida. Mas em princípios de Junho, a situação piora.

Escreve ainda: o Manuscrito C

Na tarde de 30 de maio, a madre Inês toma conhecimento de que a sua jovem irmã tivera duas hemoptises no ano anterior. Fica transtornada e, já tarde, vai ter com a madre Maria de Gonzaga, na noite do dia 2 de junho. Informa a sua priora da existência de um caderno escrito por Teresa a seu pedido, e sugere-lhe que possa continuar para completar o relato da sua vida: será útil para redigir a sua circular necrológica. A madre Maria de Gonzaga aceita na condição de que o texto fosse dirigido a ela. No dia seguinte, a madre Inês entrega à sua irmã um pequeno caderno negro com a ordem de escrever... sobre a caridade fraterna, sobre os seus irmãos espirituais, sobre o que quiser...

Teresa obedece uma vez mais. Mas o seu estado não permite uma grande concentração. Umas vezes na sua cela, outras no jardim (molestada continuamente pelas irmãs neste lugar), sofrendo muitíssimo, escreverá algumas páginas cada dia, sem plano, sem ranhuras, "como se pescasse à linha, escrevendo o que aparece na extremidade do fio" (UCR 11.6.2). Mas terá que parar depois de ter escrito trinta e seis páginas com uma letra cada vez mais difícil, para terminar a lápis, extenuada. Baixou à enfermaria, no andar de baixo: já não sairá dela.

Não sabe que escreveu uma obra de arte espiritual que dará a volta ao mundo. Termina com as palavras: "pela confiança e pelo amor", duas palavras-chaves da sua espiritualidade. Sem quase falar da sua doença, entrega-nos confidências maravilhosas sobre a sua vida passada e atual, entre outras as do dia 9 de junho, quando evoca a sua prova contra a fé ou, mais tarde, o segredo de uma vida fraterna vivida na caridade mais autêntica. As páginas sobre o modo de exercer o ofício de mestra de noviças demonstram que a sua pedagogia é admirável e importante, antecipando-se, uma vez mais, ao seu tempo.

No sábado, dia 5 de junho, a comunidade e a família começaram uma novena a Nossa Senhora das Vitórias (como em maio de 1883). No dia 7, a Irmã Genoveva tira três fotografias a sua irmã esgotada: apesar dos seus esforços, a doente, febril, não pode sorrir.

O doutor Cornière visita-a pelo menos nos dias 11, 12 e 24 de junho. No dia 30, a doente retine-se, pela última vez, no locutório com os Guérin que partem para férias para a sua propriedade La Musse, perto de Evreux.

No dia 2 de julho, primeira sexta-feira do mês, adora o Santíssimo Sacramento no oratório. Doravante não irá mais vezes, porque a situação se deteriora com um brusco agravamento.

Hemoptises: do dia 6 de julho a 5 de agosto

Durante vinte e nove dias, com alguns períodos de calma, sofre hemorragias, dia e noite, pelo menos uma vintena de vezes. Situação extremamente angustiante para ela e para a comunidade. Neste tempo, o doutor Corniere visita-a pelo menos dezoito vezes. Curiosamente, declara no dia 7 de julho: "Não é tuberculose, é um acidente nos pulmões, uma autêntica congestão pulmonar".

Erro de diagnóstico? Conforme as receitas, não parece, porque são-lhe prescritos os cuidados habituais da época em semelhantes casos. Mas é impossível que o doutor, amigo das carmelitas desde há muito, tivesse omitido voluntariamente o uso do termo tabu, objeto de terror e, às vezes, de desprezo. Porque a tuberculose era considerada como doença de gente pobre e desfavorecida.

O doutor acrescenta que no estado em que a Irmã Teresa se encontra, não se salva senão o "2%". De fato, Teresa encontra-se em estado de extrema debilidade: nem sequer pode levar a mão à boca; cai por si mesma. Já não pode comer: os vômitos lhe impedem.

É descida num colchão para a enfermaria. Há que administrar-lhe a Santa Unção? O doutor e o superior julgam que não. Por outro lado, Teresa encontra ainda forças para brincar! Não está, pois, moribunda.

Do dia 27 a 30 de julho, sente muitos sofrimentos. Sente-se asfixiar. Lhe é dado éter para respirar, sem conseguir algum efeito. O cônego Maupas decide, por fim, administrar-lhe a Santa Unção, porque julgam que não passará a noite. Na pequena cela vizinha, está tudo preparado para uma morte iminente.

Estes terríveis sofrimentos durarão até o dia 6 de agosto: a tuberculose invadiu todo o pulmão direito. Doravante, Teresa já não abandonará a enfermaria do andar de baixo, que tem cinco metros por quatro. É dedicada à Santa Face. A cama de feno está num canto, ao lado da janela, rodeada por altas cortinas escuras. Entre duas portas — uma dá para o claustro — instalou-se a Virgem do Sorriso que acompanhou Teresa: a doente vê-a de frente.

A Irmã Santo Estanislau, enfermeira oficial, cuida dela; mas, dada a sua avançada idade, delega esse ofício frequentemente a Irmã Genoveva, que se sente feliz por cuidar da sua irmã, embora nem sempre tenha posto toda a delicadeza desejada.

A madre Inês de Jesus obteve da priora, a madre Maria de Gonzaga, licença para vigiar a sua jovem irmã durante as Matinas e vai tomando nota das suas palavras em pedacinhos de papel. Não pensava que no futuro poderiam ser preciosos, mas a sua dor de "Mãezinha" fica atenuada pelas "migalhas" que carinhosamente recolhe.

Outras visitas são relativamente raras: quer-se cuidar da doente e há que proibir a entrada das noviças.

É evidente que Teresa não pode continuar a escrever o seu manuscrito no estado em que se encontra. As últimas páginas estão escritas a lápis, pois não tem forças para suster a pena. No entanto, por caridade fraterna, escreverá ainda longas cartas ao seu irmão espiritual, o seminarista Maurício Bellière, de férias em Langrune-sur-Mer, uma carta de despedida ao Pe. Roulland, missionário na China, duas cartas aos Guérin e alguns bilhetes a algumas irmãs.

Já não tem forças para ler. Na sua cabeceira está o Evangelho, a Imitação de Cristo, o Cântico espiritual e a Chama de amor viva de São João da Cruz num volume. Teresa contentar-se-á com pôr pequenas cruzes a lápis ao lado das passagens que está a ler.

Quando se pensava que estava às portas da morte, o seu estado mantém-se estacionário durante alguns dias, do dia 6 de agosto até o dia 15 do mesmo mês. É tempo de férias. O doutor Cornière partirá com a sua família para Plombiêres. Comprovara que o pulmão esquerdo começara a contagiar-se. Receita “pequenos remédios". Depois de duvidar e consultar o médico, os Guérin partem para Vichy, onde o tio está a ser tratado.

Grandes sofrimentos: do dia 15 a 25 de agosto

Rapidamente, os sofrimentos que a doente sente no lado esquerdo do peito tornam-se intoleráveis; os seus pés incham. A madre Maria de Gonzaga dá o consentimento para chamar o doutor Francis La Néele que vive em Caen. Pelo seu casamento com Joana Guérin, é primo de Teresa. Descreverá imediatamente ao seu sogro a emoção de ver a sua prima na clausura: "Beijei a nossa santinha na fronte por ti, por mamãe e por toda a família. Pedi licença, para guardar as normas, à madre priora e sem esperar a resposta que talvez proíbe a Regra, auscultei o que era devido (...) O pulmão direito está absolutamente perdido, cheio de tubérculos em vias de amolecimento. O esquerdo está afetado na parte inferior" (carta de 26 de agosto de 1897).

Assim, pois, a palavra tabu foi pronunciada: não há nenhuma ilusão sobre uma cura possível. Na quinta-feira, dia 19 de agosto, festa de São Jacinto, Teresa comunga pela última vez: oferece a comunhão pelo ex padre Jacinto Loyson (1827-1912), provincial dos Carmelitas, que abandonou a Igreja em 1869. Tinha recusado a infalibilidade pontifícia (proclamada em 1870 no concílio - Vaticano I), tinha casado com uma viúva americana convertida do protestantismo, a Sra. Meriman, e tivera um filho. Tinha fundado uma "igreja católica galicana". O escândalo tinha sido enorme em França e na Europa, pois era muito conhecido, amigo de Newman e de Montalembert. O seu nome estava proscrito em todos os Carmelos. Mas a Irmã Teresa, a partir de 1891, chamava-lhe seu "irmão" (Ct 129). Rezou por ele até à sua morte e aquela última comunhão é a prova disso.

Neste tempo, o cerimonial da comunhão dos doentes era pesado e complicado. Teresa estava em tal estado de fraqueza que não o podia agüentar: já não poderá comungar. Algumas irmãs escandalizam-se. Passa o dia 20 de Agosto angustiada e a chorar.

A partir do domingo, 22 de agosto, a doente entra numa fase de sofrimentos agudíssimos. Confessa: "Ninguém sabe o que é sofrer assim. Não, é preciso senti-lo" (UCR 22.8.2). "É um dia de contínuos sofrimentos" (ib.). Surgem então terríveis dores de intestinos, fonte de humilhações diversas para a doente. Mais tarde falar-se-á de "gangrena de intestinos", com todas as suas conseqüências. São dores para "gritar", e Teresa não pode deixar de "gemer".

Para cúmulo de desgraças, no momento em que mais teria necessidade de um médico, o doutor La Néele tinha ido em peregrinação nacional a Lourdes com a sua mulher e Leônia. Foi, sem dúvida, durante este período que a doente sofre "até perder a razão", declarou que "se não tivesse fé, não teria vacilado em suicidar-se" (PA 204).

No entanto, de modo inesperado, na sexta-feira dia 27 de agosto, produz-se um repentino período de calma. Quando se julgava que estava moribunda, começa a viver uma nova trégua que durará dezenove dias. Para lhe dar gosto, para que veja pela janela o esplendor do jardim no Verão, deslocam-lhe a cama e põem-na no centro da enfermaria.

O último período "bom": do dia 28 de agosto até 13 de setembro

Se os sofrimentos agudos acabaram, a febre, a opressão, a fraqueza permanecem. Na segunda-feira, dia 30, levam a doente numa cama de rodas e a Irmã Genoveva tira-lhe uma fotografia no claustro. Será a última fotografia de Teresa viva. A Irmã Genoveva leva-a até à porta que dá para o coro das Carmelitas: Teresa reza e contempla o Santíssimo Sacramento pela última vez.

Neste mesmo dia, o doutor La Néele, regressado de Lourdes, visita a sua prima: só lhe resta meio pulmão para respirar. Com a sua franqueza habitual, acusa a madre Maria de Gonzaga de não a ter feito ir a um médico todos os dias no estado em que se encontra a Irmã Teresa. Volta no dia seguinte e ainda, pela última vez, no dia 5 de setembro.

Dir-se-ia que nestes dias de trégua, a doente volta à vida; vêm-lhe desejos inesperados de comer, e a família Guérin procura satisfazê-los: assado com puré, bolo, um pastelinho de chocolate, alcachofras, queijo branco...

Na quarta-feira, dia 8 de setembro, celebra-se o sétimo aniversário da sua profissão, e no dia 11 ainda tem forças para fazer duas coroas de acianos que oferece à Virgem do Sorriso.

O doutor Cornière regressa de férias na sexta-feira, dia 10 de setembro. Sente-se "consternado" pelo estado da Irmã Teresa. A partir do dia seguinte, começa a piorar.

Os últimos dias e a agonia: do 17 ao 30 de setembro

O doutor Cornière vê claro: no dia 14 de setembro pensa que a Irmã Teresa não viverá mais de quinze dias. Para lhe fazer a cama, a robusta Irmã Amada de Jesus pega nela nos braços: Teresa está tão fraca que temem que morra imediatamente.

No dia 20 pedem à madre Maria de Gonzaga que comprove a magreza da jovem carmelita; assusta-se e exclama: "O que é uma menina assim tão magra?" "Um esqueleto", responde Teresa que aproveita todas as ocasiões para fazer rir à sua volta e desdramatizar a situação. Mas, nos dias seguintes, falta-lhe o ar: os pulmões já não funcionam. Asfixia: "Mãezinha!... falta-me o ar da terra, quando me dará Deus o ar do céu?..." (UCR 28.9.1). Os dois últimos dias, quarta-feira, dia 29, e quinta-feira, dia 30, são de agonia, em sentido estrito. Na quarta-feira começam as respirações ruidosas. Desde as seis da manhã, a comunidade apertada na pequena enfermaria salmodia as orações dos agonizantes. A doente está consciente. Lhe é dada — alívio excepcional — uma colher de xarope com morfina de quando em quando. O doutor Cornière visita-a pela última vez. Teresa pergunta à madre Maria de Gonzaga: "Estou em agonia?... Como hei de fazer para morrer? Não vou nunca saber morrer!" (UCR 29.9.2).

Pela tarde, o abade Faucon, confessor extraordinário do Carmelo, ouve a última confissão da Irmã Teresa, pois o capelão, o abade Youf, está gravemente doente (não sobreviverá senão oito dias à sua penitente). Ao sair da enfermaria, o abade Faucon disse à priora: "Que bela alma! Parece confirmada em graça".

Naquela noite, não se pode deixar a doente sozinha: a Irmã Maria do Sagrado Coração e a Irmã Genoveva velam por ela. Teresa dormirá muito pouco: reza à Santíssima Virgem e, para não despertar as suas irmãs, fica com um copo na mão. A madre Inês de Jesus dormiu na cela ao lado. Pela manhã, as três irmãs Martin estão à volta da sua irmã que está ofegante: "É a agonia pura, sem sombra de consolação".

À tarde do dia 30 de setembro é dramática. Pelas 14h30min, com muita dificuldade, Teresa incorpora-se na cama. A sua voz é "clara e forte". As suas mãos estão "violáceas". Reza: "Meu Deus, tende piedade de mim!... Ó minha boa Virgem Santa, vinde em meu auxílio! Meu Deus, quanto sofro!... O cálice está cheio até a borda!... Não vou nunca saber morrer!..." (UCR 30.9).

Pelas 16h30min, toda a comunidade se reuniu na enfermaria. Durante duas horas, um ruído respiratório terrível dilacera o seu peito, treme com todos os seus membros. Um suor abundante deslizava pelas faces e trespassa toda a roupa. Soltava pequenos gritos.

Pelas 19h, a madre Maria de Gonzaga manda sair a comunidade que se tinha reunido para rezar havia já duas horas. A madre Inês de Jesus, assustada pelos sofrimentos da agonia da sua irmã, retira-se e vai rezar diante da pequena estátua do Sagrado Coração, na escada que dá para o primeiro andar, para que a sua irmã não desespere.

A priora vê que chega o fim. Toca o sino da enfermaria e grita: "Abram as portas todas!" As irmãs ajoelham em volta da cama. A doente, segurando o crucifixo, diz claramente: "Oh! amo-O". A seguir: "Meu Deus... Amo-Vos!".

Subitamente levanta os olhos e o seu olhar torna-se resplandecente: "Pelo espaço de um Credo" olha por cima da estátua da Virgem, depois descai suavemente para trás, com a cabeça inclinada sobre a direita, um misterioso sorriso nos lábios. Às 19h20min, exalou o último suspiro. Podemos contemplar a beleza deste rosto tranqüilo, graças à fotografia que a Irmã Genoveva tirou.

Na sexta-feira, pela tarde, o seu corpo foi levado, segundo o costume carmelita, para ser exposto no coro, diante da grade. Ali ficará até ao domingo pela tarde. Começaram então a manifestar-se sinais de decomposição O caixão fechou-se pela tarde.

Já não se podia enterrar no cemitério do Carmelo, de acordo com a ordem das autoridades municipais. A família Guérin, insigne benfeitora, tinha comprado uma sepultura para o Carmelo no cemitério, situado numa colina que domina Lisieux. Na segunda-feira, 4 de outubro, uma trintena de pessoas sobem a dita colina, seguindo o carro fúnebre. Leônia Martin preside o séqüito, o tio Guérin fica em casa por causa de um ataque de gota.

A partir do dia seguinte, a enfermaria fica arrumada. Queimam-se a esteira e as alpargatas (sandálias de corda das carmelitas) muito gastas de Teresa; a vida diária retoma o seu ritmo habitual...

Como podemos ver, mesmo contada brevemente, aquela doença que pôde com um corpo de vinte e quatro anos, foi terrível. Deve-se abandonar toda a imagem de Epinal que evoque a morte "da santinha com uma rosa mão", como se descreveu a "dama das camélias”, outra normanda de vinte e três anos, morta de tuberculose, rodeada pelos seus amantes, com uma camélia na mão.

Tudo isto não é senão ficção. A Irmã Teresa sofreu aquela doença implacável. Porém, como sofria? Procuremos agora olhar e ouvir aquela doente que alcançou por graça — o cume da sua vida, com a mesma lógica do dom total de si mesma: a do seu batismo, a da sua profissão religiosa e a do seu oferecimento ao Amor misericordioso.

Uma mulher muito humana

Sentimo-la admiravelmente humana. Teresa é uma doente como as outras: sofre, geme, chora, tem pesadelos, custa-lhe muito rezar — tão grande é a sua fraqueza. Pensa frequentemente na sua vida passada: vêm-lhe à memória as recordações. A vida passada nos Buissonnets, no colégio das beneditinas, depois os seus nove anos no Carmelo. Revela-se tal como é, no seu amor à natureza: as flores, os frutos, todos os animais.

Durante estes meses mostra-se afetuosa e sensível. A sua fraqueza física não lhe permite reprimir as suas lágrimas, mas às vezes também chora de alegria, de gratidão a Deus e às suas irmãs. Mas chora igualmente de amor!

Perguntamo-nos como pode manifestar a sua alegria em tais condições. "Faz rir a todos os que estão perto. No modo como nos conta as coisas, ali onde deveríamos chorar, rimo-nos às gargalhadas, é tão divertida... Julgo que morrerá a rir-se, está tão alegre", escreve a sua prima a Irmã Maria da Eucaristia.

As "piadas" da doente são freqüentes, às vezes nas circunstâncias mais trágicas. Amou particularmente a Teófano Venard, que jovem mártir, missionário no Vietnã (1829-1861), porque estava sempre Teresa tem sentido do humor, às vezes muito negro quando contempla os objetos que estarão presentes no seu funeral: acha-os tão feios!

Não pára com os jogos de palavras se com isso consegue alegrar as suas irmãs que estão tristes por vê-la partir. Recorda muito frequentemente as expressões normandas da sua infância, com o seu acento típico. Ri-se um pouco do seu bom médico, pois não gosta das suas vacilações. Chama ao doutor Cornière "Clodão o cabeludo".

Se Teresa usa em certas ocasiões a linguagem infantil — "dodó, loló, bebé" — não é que se faça criança ou regresse ao infantilismo. Certo é que, como nos Buissonnets em 1883, está doente e rodeada das suas irmãs. Mas, quantos caminhos percorridos desde os catorze anos! Com a graça do Natal de 1886, saiu, escreve ela, das "fraldas da sua infância" e dos seus defeitos (Ms A 44v). Não se trata de regressar ali no momento da morte.

Longe de cair na afetação, usa a linguagem infantil para fazer sorrir as suas irmãs (e em primeiro lugar as três Martin). É preciso ver nisso um ato de valor e sobretudo de caridade fraterna. Quando acontece no estado que descrevemos, não é fácil esquecer-se de si mesma para pensar na dor dos que a rodeiam.

A alegria de Teresa vem de mais longe ainda... Em Junho, escreve no seu último manuscrito: "Que banquete poderia uma carmelita oferecer às suas irmãs, senão um banquete espiritual composto de caridade amável e alegre?... O Senhor ama os que dão com alegria" (Ms C 28 v; cf. 2 Cor 9,7). "Quando posso, faço por estar alegre, para dar gosto" (UCR 6.9.2).

"Que a minha vida seja um ato de Amor" (Cr 224)

Desde há muito tempo que a vida de Teresa é "amar a Jesus e faze-lo amar (Ct 224, 225, 226, 254), como escreveu no ato de oferecimento ao Amor misericordioso.

Amar a Jesus, amar ao próximo. Como testamento, escreveu no seu ultimo manuscrito páginas sublimes sobre a caridade fraterna. Nas Últimas conversas, viveu-a diariamente: "Quando sou caridosa, é só Jesus que age em mim" (Ms C 12v).

Com que rapidez amadureceu! Tem apenas vinte e quatro anos, e a sua sabedoria era reconhecida. O abade Youf disse um dia à madre Maria de Gonzaga: "Tendes uma segunda madre Genoveva". Não esqueçamos que esta era considerada como a Santa do Carmelo. Não sem razão a madre Maria de Gonzaga confiou as cinco noviças à Irmã Teresa. A madre Maria de Gonzaga pensava que mais tarde a Irmã Teresa seria priora.

Com a madre Inês de Jesus, invertem-se os papéis. Toda a sua vida, Paulina foi "Mãezinha", a instrutora, a conselheira espiritual, a priora. E eis que, na doença, a sua irmãzinha aconselha-a, faz-lhe algumas correções fraternas.

Algumas irmãs mais velhas irão mesmo, em segredo, pedir-lhe conselhos espirituais, conforme testemunha a Irmã Genoveva. Na correspondência com os seus dois irmãos espirituais, até ao fim, propor-lhes-á o seu caminho, feito de confiança e amor. Escreve ao seminarista Bellière: "Sigo a via que (Jesus) me indica... Espero que um dia Jesus vos faça caminhar pela mesma senda que eu" (Ct 247). Insiste algum tempo depois: "Sinto que temos de ir para o Céu pela mesma via, a do sofrimento unido ao amor" (Ct 258). "Vos é proibido ir para o Céu por outro caminho que não seja o da vossa pobre irmãzinha... o caminho da confiança simples e amorosa é bem indicado para vós" (Ct 261).

Acontece que a doente no estado em que se encontra não faz de "mestra". Nas Últimas conversas recolhidas pela madre Inês, encontram-se apenas oito palavras relacionadas com o pequeno caminho. Principalmente, vive-o.

Viver o "pequeno caminho"

De entrada, Teresa continua a reconhecer as suas imperfeições e fraquezas: "Sou a própria fraqueza... cada dia espero descobrir em mim novas imperfeições" (Ms C 12v). Ao seminarista Bellière, confessa-lhe: "Ó meu irmão! peço-vos que acrediteis em mim, Deus não vos deu como irmã uma grande alma, mas uma muito pequenina e muito imperfeita" (Ct 224).

Num pequeno incidente com a Irmã São João Batista, presenciado pela madre Inês de Jesus, Teresa atreve-se a escrever a esta: "Sinto-me muito mais feliz por ter sido imperfeita do que se, apoiada pela graça, tivesse sido um modelo de doçura" (Ct 230).

Esta fraqueza tão frequentemente reconhecida e aceita, torna-se um lugar privilegiado da misericórdia divina. Se Teresa quer "permanecer pequena", não é por afetação, mas para se lançar nos braços de Jesus, o "ascensor" que a fará subir para o Pai, mais ainda na situação humanamente desesperada em que se encontra na enfermaria: "Há muito tempo que já não me pertenço. Entreguei-me totalmente a Jesus, portanto Ele é livre de fazer de mim o que Lhe agradar" (Ms C 10v). Só o abandono a guia: "No fim de contas, para mim é igual viver ou morrer" (UCR 15.5.7).

Por isso, o paradoxo que impressionou vivamente as testemunhas: Teresa vive "a paz e a alegria" no meio dos piores sofrimentos. Mesmo na sua prova contra a fé, que mal conhecia a trégua, afirma: "Ah! sim, que escuridão! Mas sinto-me em paz" (UCR 28.8.3).

O grande desejo de uma missão universal

No fim do seu Ultimo manuscrito, escreve: "Uma alma abrasada de amor não pode ficar inativa" (Ms C 36r). A missão de "fazer amar a Jesus" continua a obcecá-la. Reza e oferece-se por "um membro da sua família que não tem fé", o Sr. Tostain. A sua Ultima comunhão será pelo padre carmelita Jacinto Loyson que tinha abandonado a Igreja.

Mas isto não lhe basta: o seu horizonte é vasto, universal. Não pode conceber que o seu trabalho missionário acabe com a sua vida. Porquê não vai continuar depois? Nasce nela um grande desejo: fazer o bem depois da sua morte. É o maior desejo de toda a sua vida, mas não experimentou que Deus os cumulou todos? Porquê este, "o maior de todos"? Reza com esta intenção e faz "a novena da graça", de 4 a 12 de março, a São Francisco Xavier, padroeiro das missões.

Apresenta os seus argumentos a partir do exemplo dos anjos. Confia ao Pe. Roulland: "Espero não ficar inativa no Céu, o meu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas, peço isto a Deus e estou certa de que Ele me concederá. Não estão os Anjos continuamente ocupados conosco sem nunca cessarem de ver a Face divina, de se perderem no Oceano sem limites do Amor? Porque não havia Jesus de me permitir que os imitasse?" (Ct 254).

Três dias depois, a madre Inês de Jesus anota estas palavras num pedacinho de papel: "Sinto que vou entrar no repouso... Mas sinto sobretudo que a minha missão vai começar, a minha missão de fazer amar o bom Deus como eu O amo, de dar o meu pequeno caminho às almas. Se o bom Deus escutar os meus desejos, o meu Céu será passado na terra até ao fim do mundo. Sim, quero passar o meu Céu a fazer bem na terra. Não é nada de impossível, pois, no seio da visão beatífica, os Anjos velam por nós. Não posso fazer uma festa de gozo, não posso repousar enquanto houver almas para salvar... Porém, quando o Anjo disser: 'O tempo já não existe!', então, repousarei, poderei gozar, porque o número dos eleitos estará completo e todos terão entrado na alegria e no repouso. O meu coração estremece com este pensamento..." (UCR 17.7).

Estas palavras terão mais tarde um eco universal

De vez em quando, neste último período da sua vida, Teresa pronunciou palavras misteriosas: "Voltarei...", "descerei...", "enviar-vos-ei graças..." Mais tarde, também eu estarei junto das criancinhas batizadas..." (UCR 25.6.1). E depois, esta expressão admirável de audácia: "Deus terá de satisfazer todos os meus desejos no Céu, porque eu nunca fiz a minha vontade na terra" (UCR 13.7.2). Diz isto tudo com grande humildade, porque sabe que "tudo é graça" (UC 5.6.4) e que "tudo vem d'Ele" (UCR 11.7.3).

A sua fé, embora contrariada pela provação — algumas tardes menciona a presença do demônio —, a faz pronunciar uma frase memorável: "Não vejo bem o que terei a mais depois da morte que não tenha já nesta vida. Verei a Deus, é verdade! Mas quanto a estar com Ele, já estou inteiramente na terra" (UCR 15.5.7).

Uma circular necrológica

Nas últimas semanas vai acontecer algo que terá conseqüências incalculáveis. A madre Inês de Jesus sonha com uma circular necrológica da sua irmã, coisa habitual nos Carmelos: depois da morte de uma carmelita, essa circular era enviada a todos os conventos da Ordem. Por seu lado, a Irmã Teresa está de acordo pelo que lhe diz respeito.

Mas a "Mãezinha" pensa servir-se dos escritos de Teresa; por isso pediu à madre Maria de Gonzaga que mandasse a doente completar o seu primeiro manuscrito.

Projeta-se a publicação destas páginas. Teresa consente, mas, estando como está, não pode participar nela. Por isso, contenta-se com fazer algumas recomendações a sua irmã. Confia inteiramente na sua irmã: "Não tive tempo para escrever o que teria querido: tudo o que vos parecer bem suprimir ou acrescentar no caderno da minha vida, sou eu quem o suprime ou acrescenta. Lembrai-vos disto então e não tenhais nenhum escrúpulo, nenhuma dúvida nesta matéria" (DE II, p. 164).

Teresa faz as suas recomendações: "Sobretudo, não esquecer de contar a história da pecadora! Isso deve provar que não me engano" (UCR 20.7.3). "Depois da minha morte será necessário não falar a ninguém do meu manuscrito antes de ser publicado; será necessário falar dele só à Nossa Madre. Se proceder de outra forma, o demônio há de preparar-lhe mais do que uma armadilha para estragar a obra de Deus... uma obra importantíssima!" (UCR 1.8.2).

A madre Inês de Jesus lembrou-se de pedir a Teresa para reler uma passagem do seu manuscrito que lhe parecia incompleta. Teresa respondeu: "O que estou a reler neste caderno, é tão bom para a minha alma... Minha madre, estas páginas farão muito bem. Com a continuação, conhece-se melhor a doçura de Deus..." (DE II, p. 229).

Teresa não é senão um instrumento da misericórdia: "Como se verá que tudo vem de Deus e a parte de glória que eu tiver, será um dom gratuito que não me pertence; todos o verão claramente..." (UCR 11.7.3). "Ah! pressinto que todo o mundo me amará..." (DE II, p. 229).

Cinco dias antes da sua morte, a Irmã Teresa termina os seus escritos de um modo especial, dando-lhes uma chave de leitura: "Agora compreendo que tudo o que disse e escrevi é inteiramente verdade..." (UCR 25.9.2).

"Subir ao Calvário com Jesus" (PN 17)

Em Junho, Teresa voltou a ler a sua segunda peça teatral sobre Joana d'Arc. Dirá à madre Inês: "Nela verá os meus sentimentos sobre a morte; estão lá todos revelados" (UCR 5.6.2). Mas há uma frase que a deve ter impressionado: "Oh! como me sinto consolada ao ver que a minha agonia se parece com a do meu Salvador..." (RP 3,2.5).

É esse o segredo da doença e da agonia da Irmã Teresa. Certamente, conforme o veredicto médico, morre de tuberculose. Porém, aos olhos da sua fé, quer "morrer de amor" por e com o Amado ao qual sempre quis seguir, até à cruz gloriosa. O desejo do martírio impulsionou-a sempre. Depois de uma hemoptise, declarara: "Sabia que teria a consolação de ver o meu sangue derramado, pois morro um martírio de amor" (Genoveva, PO 307).

Habitualmente não tem medo à morte, embora experimente momentos difíceis: "Uma manhã durante a ação de graças, depois da Comunhão, senti como que as angústias da morte... e sem nenhuma consolação!" (UCR 4.6.3). "Tenho medo de ter receado a morte... Mas com certeza não tenho medo daquilo que se passará depois!... O que é afinal essa separação misteriosa da alma e do corpo? Foi a primeira vez que senti isto, mas abandonei-me imediatamente a Deus" (UCR 11.9.4).

As irmãs de Teresa, que tinham lido as descrições sanjoaninas sobre a "morte de amor", imaginavam aparições de anjos, inclusive da Virgem e algum sinal extraordinário na morte da sua jovem irmã. Teresa devolve-as ao cotidiano: "Não se admirem se eu não aparecer depois da minha morte, e se não virem nada de extraordinário como sinal da minha felicidade. Lembrem-se que meu pequeno caminho' consiste em nada desejar ver". Reserva o seu olhar para Jesus Crucificado: "Nosso Senhor morreu Vítima de Amor, e vejam como foi a sua agonia!" (UCR 4.6.1). "Nosso Senhor morreu na Cruz, no meio de tantas angústias, e no entanto foi a mais bela morte de amor. Foi a única que se pôde ver, não se viu a da Santíssima Virgem. Morrer de amor, não é morrer em êxtase. Confesso-lhe sinceramente, parece-me que é aquilo que eu sinto" (UCR 4.7.2). Recusa toda a realidade espetacular: não morrerá "depois de comungar" ou numa bela festividade litúrgica, mas num dia normal.

Ela é, sobretudo, a Irmã Teresa da Santa Face, que evoca o servo sofredor de Isaías 53 e a Jesus no Getsêmani. No dia 2 de junho, escreve à Irmã Maria da Eucaristia: "O seu Esposo não é um Esposo que a vai levar a festas, mas sim à montanha do Calvário" (Ct 234). Não abandona o seu "querido pequeno crucifixo": beija-o (na face), atira rosas sobre ele e não o deixará durante toda a sua agonia. Todos os pequenos pormenores da sua vida de doente orientam-na para a Paixão de Jesus. As suas três irmãs estão adormecidas junto à sua cabeceira: quando despertam, chama-lhes: "Pedro, Tiago e João!". Sente dor nas costas? Lembra-se de Jesus a levar a cruz.

Depois de ter feito tão frequentemente a via sacra na capela, vive-a agora verdadeiramente, sem palavras. À Paixão de Jesus, responde a compaixão de Teresa. Por isso, não duvida em aplicar a si as palavras da oração sacerdotal de Jesus (Jo 17). A sua audácia encontra legitimidade numa sã teologia do Corpo místico: "Posso apenas servir-me das palavras de Jesus na última ceia. Ele não poderá ofender-se com isso visto que sou a sua esposazinha e por conseguinte os seus bens são meus" (Ct 258 e C 34v). A melhor passagem do seu último manuscrito exprime a sua quinta-feira santa. E a chave dos seus sofrimentos. Mal acaba de escrever esse texto, começa a sua sexta-feira santa. Também ela, discípula e esposa de Jesus, é o grão de trigo que cai na terra e morre, mas para produzir muito fruto. No dia 11 de agosto, Teresa cita o versículo de São João (12,24).

Sepultada no dia 4 de Outubro, depois de uma agonia na qual diz: "Nunca teria acreditado que era possível sofrer tanto! Nunca! Nunca! Não sei explicar isto senão pelos ardentes desejos que eu tive de salvar almas" (UCR 30.9).

Teresa produziu muitos frutos durante estes cem anos. Deus cumulou todos os seus desejos porque foi o seu Espírito que os infundiu nela. Teresa tinha escrito ao seminarista Bellière: "Eu não morro, entro na vida" (Ct 244).

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O CASO LÉO TAXIL — DIANA VAUGHAN

Monsenhor GUY GAUCHER

Na segunda-feira de Páscoa, no dia 17 de março de1897, numa conferência de imprensa dada na sala de geografia em Paris, Charles Jogand-Pagês, aliás Léo Taxil (1854-1907), reconheceu publicamente a sua mentira que durara doze anos.

Epílogo de uma história rocambolesca muito embrulhada, fundada nas lutas entre a Igreja católica e a franco-maçonaria e o "gênio" enganador de um marselhês que tinha simulado a conversão à fé católica.

Foi um episódio lamentável dos combates clericais e anticlericais da segunda metade do século XIX. Coisa admirável, uma jovem carmelita desconhecida foi misturada nele e esta impostura juntou-se ainda à sua grave provação contra a fé.

Jogand-Pages tinha começado por ser desertor, ladrão, depois tinha inventado algumas burlas espetaculares em Marselha e na Suíça.

Sob o nome de Léo Taxil tinha editado uns cento e trinta opúsculos pertencentes à "Biblioteca anticlerical" e um jomal, "o Anticlerical". Em 1892, foi expulso da franco-maçonaria. Fracassado, converteu-se em1885 e escreveu as Confissões de um livre pensador, que terá quarenta e cinco edições. Em 1884, Leão XIII publicou a encíclica Humanum genus, contra a franco-maçonaria. A luta teve uma extrema violência.

Apareceram então as Memórias de um ex-paladista, escritas por uma tal Diana Vaughan, convertida sob a influência de Joana d'Arc. A imprensa católica apaixona-se com estas revelações bem como numerosas revistas religiosas. No Carmelo de Lisieux, a madre Inês de Jesus sugere à Irmã Teresa que escreva um poema para Diana Vaughan. A inspiração não vem, mas Teresa envia-lhe uma fotografia representando a Joana d'Arc, com umas linhas. Diana responde.

Teresa escreve em 1896 a sua peça teatral O triunfo da humildade (RP 7) na qual se tratam cenas populares de diabos e se fala de Diana Vaughan. Durante o Verão, lê a Novena eucarística da convertida.

Porém, há alguns muito céticos. Nos fins de setembro de 1890, houve um congresso anti-maçônico em Trento. Uma comissão romana distancia-se de Léo Taxil. Daí a reserva da Irmã Teresa quando Diana ataca um bispo italiano.

Chega então a conferência de imprensa de 19 de abril de 1897. Esperava-se que, no final, aparecesse Diana Vaughan... E é Léo Taxil quem chega, revelando a sua impostura: ele tinha inventado por completo a personagem de Diana Vaughan e há doze anos que está a enganar a Igreja católica. A sua conversão não foi senão mais uma farsa.

A sessão acaba em tumulto e, no dia seguinte, os jornais católicos denunciam o impostor. Um quadrado lacônico do jornal Le Normand produz consternação no Carmelo de Lisieux dizendo que durante a reunião se tinha projetado a fotografia de uma carmelita vestida de Joana d'Arc. Desta vez Taxil não mentia! Era a Irmã Teresa!

Podemos imaginar a humilhação das Irmãs. Teresa atirou a carta de "Diana" ao lixo do jardim e fará desaparecer de todos os seus escritos o nome de Diana Vaughan (RP 7 e princípio do Manuscrito B).

Ter sido enganada deste modo (juntamente com bispos, sacerdotes e a comunidade), na sua noite da fé, tornou-se para ela penosíssimo. Teresa não deixará transparecer nada disto. Mas podemos ter por certo que Teresa orou pelo "ímpio" Léo Taxil, que tinha "abusado das graças" (Ms C 5v), ela, que aceitava ficar só nas trevas para que os incrédulos recebessem luz.

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"ÚLTIMAS CONVERSAS"

Monsenhor GUY GAUCHER

Durante os dias em que a Madre Inês de Jesus vela a sua irmã doente, vai tomando nota apressadamente das suas palavras, às vezes de modo telegráfico. Em primeiro lugar, para sua própria consolação, porque a "Mãezinha" vê morrer a sua jovem irmã com imensa tristeza. Quando se dá conta de que Teresa vai morrer, pensa igualmente numa circular necrológica. Daí, essas perguntas sobre o seu passado, os seus sentimentos, a sua concepção da vida religiosa.

Reúne, no total, perto de 850 frases. Por outro lado, a Irmã Maria do Sagrado Coração (sua madrinha) e a Irmã Genoveva (Celina) tomaram também nota de algumas frases.

Depois da morte de Teresa, a madre Inês, que prepara um livro que será a História de uma alma, utiliza as suas notas num capítulo, o XIII, que relata a doença e a morte da jovem carmelita.

Por volta de 1904-1905, volta a copiar e a classificar todos os seus papéis num "grosso caderno negro" (destruído a seguir). Servir-se-á dele para redigir cinco "cadernos verdes", que constituirão a base da sua deposição no Processo do Ordinário (1909-1910), no que se refere a este período da vida da sua irmã.

Foi preciso esperar por 1922, sem dúvida, para que redija, para seu uso pessoal, um "Caderno amarelo" completíssimo. Depois da canonização de Santa Teresa (1925), publicará uma antologia muito restrita das Últimas conversas, as Novissima Verba (362 frases), em 1927.

Em 1971 uma equipa de investigadores, graças aos arquivos do Carmelo, publicou as Últimas conversas nas suas diversas versões (quatro, em total), mas dando prioridade ao Caderno amarelo, que é um complemento muito importante para o conhecimento teresiano.

Certamente que os textos não foram gravados num gravador; levam a marca da madre Inês de Jesus. Mas a publicação em sinopse das quatro versões (Últimas palavras na Nova Edição do Centenário, 1992) permite a qualquer um comparar os textos e fazer-lhes a crítica.

Não se lhes pode dar a mesma credibilidade que aos escritos teresianos, mas privar-se totalmente destas "logia" seria prejudicial para o conhecimento desta Teresa doente, humana, sofredora, humorista, orante, pobre e, de momento, sublime na sua total simplicidade. Por outro lado, a madre Inês de Jesus teria sido incapaz de inventar numerosos traços referidos no seu Caderno amarelo. Pelo contrário, censurou fortemente as Novissima Verba, não querendo entregar, em 1927, ao público em geral, estas "intimidades", estas "piadas", que nos mostram que a humanidade desta santa toma-a próxima de todos os homens vítimas da doença e do desamparo.

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TERESA NOS FALA:

"No braseiro devorador do Amor"

"Ah! meu irmão, como eu podeis cantar as misericórdias do Senhor, elas brilham em vós com todo o esplendor... Amais Santo Agostinho, Santa Madalena, essas almas a quem 'Muitos pecados foram perdoados porque muito amaram' (Lc. 7,47). Também eu as amo, amo o seu arrependimento, e sobretudo... a sua amorosa audácia! Quando vejo Madalena avançar na presença de numerosos convidados, banhar com as suas lágrimas os pés do Mestre adorado que toca pela primeira vez, sinto que o coração dela compreendeu os abismos de amor e de misericórdia do Coração de Jesus, e que, por muito pecadora que ela seja, este Coração de amor está não só disposto a perdoar-lhe, mas ainda a prodigalizar-lhe os benefícios da sua intimidade divina, a elevá-la até aos mais altos cumes da contemplação.

Ah! meu querido irmãozinho, desde que me foi dado compreender também o amor do Coração de Jesus, confesso que Ele afastou do meu coração todo o temor. A lembrança das minhas faltas humilha-me, leva-me a nunca me apoiar na minha força que só é fraqueza, mas esta lembrança fala-me ainda mais de misericórdia e de amor.

Quando lançamos as nossas faltas com uma com fiança inteiramente filial no braseiro devorador do Amor, como não seriam elas consumidas para sempre?" (Ct 247).

CAPÍTULO 14

A VIDA DO MAIS ALÉM

PIERRE DESCOUVEMONT E RAYMOND ZAMBELLI

História de uma alma

No século passado, quando morria uma carmelita, a sua priora tinha o costume de enviar aos outros Carmelos uma circular fúnebre, que resumia a vida da defunta e convidava a rezar por ela. Esta "circular" foi ampliando-se um pouco mais com o tempo. Tal foi o caso de Teresa do Menino Jesus da Santa Face, que morreu em Lisieux no dia 30 de setembro de 1897.

A priora de Lisieux dispunha, efetivamente, de uma documentação de primeira mão: os três manuscritos autobiográficos, escritos pela mesma Teresa. Lá para o final da sua vida, Teresa tinha pressentido que depois da sua morte a leitura destas páginas faria bem; as almas compreenderiam que é possível chegar à santidade por um "pequeno caminho" muito simples. Teresa confiou à madre Inês o trabalho de edição, dizendo-lhe que não vacilasse na correção do seu texto.

Depois da morte da sua irmã mais nova, a madre Inês julgou-se na obrigação de levar a cabo a ordem. Divide os três manuscritos em onze capítulos e deles compõe o duodécimo, no qual refere os últimos meses e a morte de Teresa. O livro completa-se com alguns extratos das suas cartas, com um bom número das suas poesias e com testemunhos das suas noviças.

No dia 29 de outubro, a madre Maria de Gonzaga escreve ao Pe. Godofredo Madelaine, premonstratense, prior da abadia de Mondaye e grande amigo do Carmelo, para lhe anunciar o envio do manuscrito de Teresa, encarregando-o de o corrigir ou de o fazer corrigir.

O Pe. Madelaine ficou entusiasmado. No dia 30 de janeiro de 1898, quatro meses depois da morte de Teresa, escreve: "Continuo a ler o delicioso manuscrito: quão fresco, natural e edificante é tudo isto! Espero remetê-lo a fins de fevereiro com as observações que julgo me serem permitidas fazer. Se uso este termo, é porque considero esta autobiografia como uma relíquia". O testemunho era importante, porque o Pe. Madelaine, que algum tempo depois seria eleito abade da abadia de Frigolet, não era um qualquer. Foi ele quem fez a proposta de intitular a "circular" de Teresa: História de uma alma, título sugerido pelo próprio texto de Teresa ao princípio do seu manuscrito. Por outro lado, o título não era nada original, pois aparece na capa de muitas obras da época. Foi também o P Madelaine quem se encarregou de conseguir o imprimatur do bispo.

Quando monsenhor Hugonin ouve o Pe. Madelaine falar dos manuscritos deixados pela Irmã Teresa do Menino Jesus, dá-se perfeitamente conta de quem se trata: daquela Teresa Martin que tinha ido vê-lo a Bayeux, uns dez anos antes, para alcançar a licença de entrar muito nova no Carmelo. A primeira reação do bispo não foi muito animadora: "Padre — disse-lhe — desconfie da imaginação das mulheres!". Mas, como o Pe. Madelaine insiste sobre o valor das páginas, o bispo acaba por dizer: "Faça-me, pois, uma cópia". No dia 7 de março seguinte, por ocasião de uma reunião acadêmica, na festa de São Tomás de Aquino, que reúne um grande número de sacerdotes à volta do bispo, o Pe. Madelaine apresenta a sua cópia: monsenhor Hugonin concede o imprimatur... e morre dois meses depois.

A obra aparece no dia 30 de setembro de 1898, exatamente una ano depois da morte de Teresa, com dois mil exemplares. O Sr. Guérin reviu as provas e financiou a edição. "Como se venderá tudo isso? Estes volumes vão ficar-nos nas mãos", dizia uma carmelita de Lisieux.

Acolhimento inesperado

Contra toda a previsão, a obra esgotou-se rapidamente. Difundida essencialmente nos conventos, suscitou em todos os lados um interesse muito vivo. Muitos leigos começaram a lê-la e ficaram impressionados. Muitos sacerdotes confessam que aquela leitura lhes fez melhor que todos os retiros que até então tinham feito. No seminário maior de Bayeux, a maior parte dos alunos "devoram" o livro; alguns, no entanto, acham o seu estilo demasiado afetado.

Pelo contrário, muitos contemplativos — homens que desconfiam instintivamente de toda a afetação — manifestarão a sua admiração pela "pequena Teresa". Na Grande Cartuxa, os religiosos "disputam" os dois exemplares da História de uma alma, mesmo aquele que passa por ser "o teólogo mais sábio da Ordem".

Desde 1899, chegam a Lisieux cartas da Polônia, Inglaterra e Espanha, a pedir a tradução para os seus respectivos países. O abade Teil, que está a trabalhar na beatificação das carmelitas de Compiègne, mortas na guilhotina em 1794, leu a História de uma alma a partir de 1899 e fala dela com elogios.

É evidente que nem todos participam deste entusiasmo. Alguns Carmelos exprimem as suas reticências: "Essa religiosa tão nova não deveria afirmar de um modo tão absoluto a sua opinião sobre a perfeição. A idade e a experiência, sem dúvida alguma, tê-la-iam mudado". Uma priora pensa que a jovem carmelita, ao falar das suas graças, se exprimia com simplicidade, mas que também se poderia descobrir nela algum orgulho. Outra considerava a História muito pouco "viril". E um carmelita italiano demasiado "infantil".

Costuma pensar-se sempre em publicar imediatamente uma nova edição. No dia 24 de maio de 1899, o novo bispo de Bayeux, monsenhor Amette, que pouco depois será bispo auxiliar, depois arcebispo de Paris, autorizava a reedição da História de uma alma (4 000 exemplares). A partir de então, que iniciar cada ano a operação. Em 1900 sai a terceira edição, de 2 000 exemplares; em 1901, a quarta, de 2 000; em 1902, a quinta, de 3 000; em 1903, a sexta, de 3 000... e, a partir de então, as edições não cessam de aumentar e multiplicam-se as traduções.

Para colocar a História de uma alma ao alcance de todos os bolsos, é feita uma edição popular que apareceu, em 1902, com o título de Uma rosa desfolhada. Teve-se a feliz idéia de fazer um resumo da sua vida e da sua doutrina. É o Chamamento às almas pequenas, aparecido pela primeira vez em 1904. Mais tarde, uma Vida abreviada, que contém um resumo ainda mais breve (primeira edição em 1913), e uma seleção de Pensamentos (primeira edição em 1915) permitirá meditar os diferentes aspectos da sua espiritualidade.

Alguns números serão suficientes para mostrar a popularidade de que rapidamente gozou a "irmãzinha Teresa". Da sua morte à sua canonização, isto é, num espaço inferior a dezesseis anos, foram editados:

400 000 exemplares da História de uma alma (em francês); o livro foi traduzido numas cinqüenta línguas;

800 000 exemplares do Chamamento às almas pequenas;

300 000 exemplares da Vida abreviada;

500 000 exemplares de Pensamentos.

Mencionemos, de passagem, o êxito das estampas e relíquias. De 1898 a 1915, o Carmelo distribuiu 8 046 000 estampas de retratos e 1 124 000 bolsinhas de recordação.

Outra estatística, não menos sugestiva, refere-se à correspondência. Todos os dias chegam a Lisieux cartas de todo o mundo a pedir às carmelitas que rezem a Teresinha por esta ou aquela intenção: a conversão ou a cura de uma criança, de um marido, a reconciliação de uma família, etc. Coisa curiosa, Teresa lá para o final da sua vida, tinha previsto este tipo de ação "póstuma". No dia 9 de junho de 1897, depois de ter feito a célebre promessa de que depois da sua morte haveria uma chuva de rosas, acrescenta: "Depois da minha morte ireis à caixa do correio e ali encontrareis consolações".

Tinha começado com algumas cartas diárias, mas o movimento acelerou-se progressivamente. Em 1909, a média de cartas é de vinte e três por dia. Nos anos seguintes, a onda diária passará a duzentas e chegará até quatrocentas em 1914. Em 1923-1925, anos da beatificação e canonização de Teresa, o número de cartas foi de quinhentas a mil por dia. Atualmente ainda, chega uma média de cinqüenta cartas por dia ao Carmelo ou à Direção de peregrinações.

Primeiras peregrinações a seu túmulo e primeiros milagres

A sepultura de Teresa encontrava-se a caminho dos Champs-Rémouleux, como então se chamava ao cemitério da cidade. As carmelitas queriam sepultá-la no fundo do seu quintal, no pequeno cemitério que sempre existiu ali. Mas, nos fins do século passado, estas sepulturas "dentro da cidade" já não eram autorizadas, a não ser num caso totalmente excepcional. O Carmelo vira-se obrigado, em conseqüência, a comprar uma sepultura no cemitério de Lisieux. Ao comprovar que o terreno era demasiado pequeno e que a morte de Teresa era iminente, o Sr. Guérin comprou outro terreno cercado, o qual ainda hoje serve para a sepultura das carmelitas. Teresa foi, pois, a primeira a ser ali enterrada.

Como o Sr. Guérin se encontrava doente no dia do funeral de Teresa (segunda-feira, dia 4 de outubro de 1897), foi o Sr. Maudelonde, cunhado da Sra. Guérin, quem presidiu o séqüito até ao cemitério. Leônia acompanhou-o.

Em breve, e depois da aparição da História de uma alma, visita-se cada vez mais a sepultura de Teresa. Rapidamente, começaram a levar do cemitério uma e outra relíquia, um pedaço de erva, uma flor ou um pouco de terra.

A partir de 1899, começam a pedir relíquias ao Carmelo de Lisieux: pedaços das suas roupas ou uma parte dos seus cabelos. E eis que, quase de todas as partes, chegam a Lisieux numerosos testemunhos de curas que se realizavam durante uma novena em honra da "Rainhazinha", curas que acontecem habitualmente no contato do doente com uma relíquia da carmelita.

Para o processo de beatificação (1903-1909)

Apesar da excepcional difusão da História de uma alma e da confiança que rapidamente se tem na intercessão da "irmãzinha Teresa", ninguém pensava, nos primeiros anos a seguir à sua morte, que um dia seria canonizada.

Parece que foi um jovem sacerdote escocês, ordenado em 1897, o P. Thomas Taylor, o primeiro a manifestar esta idéia. Depois de ter lido a Florzinha de Jesus, foi conquistado pela jovem carmelita francesa. Ao voltar de uma peregrinação a Lourdes, passa por Lisieux nos dias 15 e 16 de maio de 1903 e visita, no locutório do Carmelo, as três irmãs de Teresa (Maria, Paulina e Celina), a sua prima Maria Guérin e a madre Maria de Gonzaga. Diz-lhes, com bons modos, que se havia de começar a dar passos em vista da abertura de um Processo. A resposta da priora não se fez esperar: "Então, Padre, quantas carmelitas haveria que canonizar!".

Onda crescente de petições

Pouco a pouco, no entanto, a idéia de um Processo de beatificação vai abrindo caminho. Chegam a Lisieux pedidos de quase todas as partes a reclamar a abertura da causa da "Florzinha", como é chamada nos países anglófonos. No Canadá torna-se extremamente popular. Na Bélgica, na Itália, Espanha, na América do Sul, sobretudo no Brasil, veneram-na como uma santa.

No dia 6 de junho de 1905, Pio X promulgava o breve de beatificação das dezesseis carmelitas de Compiègne. Na mesma tarde, o Carmelo de Lisieux recebia do seminário de Tournai (Bélgica) um pedido, seguido de cinqüenta e três assinaturas, a pedir "a introdução, a continuação e o êxito da causa da serva de Deus, Irmã Teresa do Menino Jesus". As carmelitas não podem deixar de ver um sinal nesta coincidência. Parece-lhes que as mártires de Compiègne lhes pedem para trabalharem na glorificação da sua irmãzinha!

O que não sabiam as carmelitas de Lisieux de então era que mais tarde Teresa teria, para que a sua própria causa avançasse, a mesma pessoa que se ocupava do Processo de beatificação das carmelitas de Compiègne, monsenhor Roger de Teil, distinto canonista. Em fevereiro de 1909, será nomeado vice-postulador da sua causa.

Por uma coincidência igualmente curiosa, o abade de Teil tinha ido em setembro de1896 ao Carmelo de Lisieux dar uma conferência sobre as carmelitas de Compiègne. Conferência de que Teresa tinha gostado muito: reavivara no seu coração o desejo do martírio e, ao sair do locutório, tinha prognosticado que com um postulador assim as carmelitas de Compiègne iam ser beatificadas muito em breve. Em 1894 tinha participado com alegria na festa do seu centenário e, enquanto confeccionava bandeiras em sua honra, confiara à Irmã Teresa de Santo Agostinho: "Que felicidade se nós tivéssemos a mesma sorte, a mesma graça!".

Mas o que causa admiração nas carmelitas em 1905 é o número de postulantes que, vivamente impressionadas pela leitura da História de uma alma, solicitam a sua entrada no Carmelo de Lisieux. No dia 1º. de março, a Irmã Maria do Sagrado Coração escreve a Leônia: "Uma jovem de dezesseis anos de muito boa família tem o consentimento dos seus pais para entrar no Carmelo no mês de Agosto. Vem do outro extremo da França, de Metz, atraída por Teresa do Menino Jesus. Mas necessita, como o necessitou Teresa, do consentimento do bispo que a acha um pouco nova. Esta semana, três jovens italianas fizeram o mesmo pedido à nossa Madre, mas compreendes que é impossível contentar a toda a gente". Como Teresa de Ávila tinha estabelecido o número limitado de religiosas para as suas comunidades, tiveram, efetivamente, que mandar muitas para outros Carmelos.

Assombro e reticências

A crescente popularidade da "sua" Teresinha não subiu à cabeça das carmelitas de Lisieux. Acreditavam tão pouco na sua futura canonização que nem sequer pensavam conservar a correspondência à qual apenas tentavam responder de forma não muito estereotipada. Foi o monsenhor de Teil quem, em 1908, as aconselhou a guardarem a dita correspondência. Tal argumento mostraria só por si que o Processo de Teresa não foi um "assunto" promovido pelo Carmelo de Lisieux.

A vida do convento continua tranqüila e fervorosa. As carmelitas, felizes por comprovarem a influência que a leitura do seu manuscrito exerce, contudo, não imaginam que um dia Teresa estará "nos altares". As suas próprias irmãs não acreditam! Mesmo em 1910, quando a superiora da Visitação de Caen advirta, no jardim do convento, a Leônia, Irmã de Teresa, que lhe parecia altamente improvável um Processo de canonização, continuou a estender a roupa branca da lavagem, enquanto gritava: "Teresa! Era muito simpática. Mas santa! No entanto...!".

O tio de Teresa, o Sr. Guérin, opunha-se totalmente, quanto a ele se refere, à perspectiva de um Processo para canonizar a sua sobrinha. Anteriormente tinha-se ocupado com gosto da edição dos seus manuscritos e tinha-se alegrado com a sua difusão, mas agora mostra-se contrário à idéia de um processo no Vaticano! Tinha uma idéia completamente distinta da santidade. Via-a aureolada de carismas extraordinários e acompanhada de penitências sensacionais. Se se canonizasse a Teresa, pensava, haveria que canonizar muitíssimas mais, incluída a sua filha Maria que, também ela, acabava de morrer de tuberculose no Carmelo, após gravíssimos sofrimentos (14 de abril de 1905). Depois, quando o eco dos primeiros milagres "teresianos" começa a saltar as páginas dos jornais, o Sr. Guérin experimentará uma séria irritação. Inclusive em algum momento teve a idéia de sair de Lisieux.

Estava então vacante a sede de Lisieux. Monsenhor Amette, que acabava de ir para Paris, não tinha sido muito partidário quando falaram com ele para introduzir a causa: "É necessário tempo, homens e dinheiro", respondera com evasivas. Monsenhor Lemonnier, o novo bispo, nomeado no dia 13 de julho de 1906, não era mais diligente que o seu predecessor, apesar de a madre Inês ser então priora no Carmelo: não via, realmente, na vida daquela jovem religiosa o que pudesse justificar semelhante "pretensão" e suspeita, pura e simplesmente, que as "irmãs Martin" querem que a mais nova da família seja canonizada. Apesar disso, no dia 15 de outubro de 1907, solicita às religiosas que tinham conhecido a Irmã Teresa do Menino Jesus que escrevam as suas recordações e as enviem ao seu capelão, o Pe. Pitrou.

Em 1907, o Pe. Eugénio Prévost ia frequentemente ao Vaticano, pois o papa tinha lhe pedido que fundasse uma casa em Roma. Pede, pois, a Lisieux que lhe preparem dois exemplares da História de uma alma: um, encadernado em couro branco, para o papa; outro, em vermelho, para o cardeal Merry del Val, secretário de Estado. No dia 15 de março, foi entregue o exemplar ao papa que, nesse mesmo dia, mal presta atenção a quem mais tarde chamará "a santa maior dos tempos modernos!".

A causa sairá do impasse devido à eleição de uma nova priora no Carmelo de Lisieux: a madre Maria dos Anjos do Menino Jesus, eleita no dia 8 de maio de 1908, em substituição da madre Inês, que acabava o seu segundo mandato. No mesmo dia da sua eleição, a madre Maria dos Anjos escreve a monsenhor Lemonnier para lhe solicitar a abertura da causa. Apesar de Teresa já gozar de fama mundial, parece que o bispo continua pouco diligente em conceder a autorização. Porém, no dia 26 de maio, produz-se um milagre bastante espetacular em Lisieux: a cura instantânea de uma menina cega de quatro anos, a quem a sua mãe no dia anterior tinha levado ao túmulo de Teresa. Milagre que produz um grande reboliço em Lisieux, porque esta menina, Regina Fouquet, é de ambiente modesto e a idade da menina não dá lugar para suspeitas. O doutor La Néele, primo de Teresa por matrimônio, não favorável antes à introdução da causa, viu-se obrigado a comprovar a cura. Assinará o certificado médico no dia 7 de dezembro. Compreende-se que a Irmã Maria da Trindade pudesse escrever no dia 12 de agosto: "o seu culto estendeu-se por todo o mundo; de todos os lados chegam abundantes cartas e pedidos".

Monsenhor Lemonnier já não pode fazer outra coisa senão solicitar de Roma a abertura de um Processo. Em janeiro de 1909, admite a eleição de um postulador, o Pe. Rodrigo, postulador geral das causas do Carmelo. Nomeia monsenhor de Teil como vice-postulador...

As grandes etapas da glorificação (1909-1925)

O Processo põe-se em marcha. Daqui em diante ninguém o poderá parar. Começado em 1909, acabará em 1925, com a canonização. Para quem não conhecer a habitual prudência da Igreja em matéria de canonização, este tempo de dezesseis anos pode parecer-lhe muito longo. De fato, o Processo de Teresa foi levado a cabo num tempo recorde. Quais as razões desta excepcional rapidez?

Em primeiro lugar, Teresa foi literalmente canonizada pelo povo de Deus, muito antes de o ser pela Igreja. Esta não fez senão reconhecer oficialmente a veneração que em todo o mundo lhe era rendida, alguns anos somente depois da sua morte. Compreende-se que o cardeal Vico, prefeito da Congregação dos Ritos, chegasse a dizer em 1919, na intimidade da clausura de Lisieux: "Temos de nos apressar a glorificar a santinha, se não quisermos que a voz dos povos se nos adiante". Acrescentava: "Se estivéssemos nos primitivos tempos da Igreja, em que as beatificações dos servos de Deus eram feitas por aclamação, há muito tempo que a irmãzinha estaria nos altares". Deste modo, Teresa desmentia clamorosamente o que Renan predizia em 1858, quando escrevia: "A santidade é um gênero de poesia acabado, como tantos outros. Haverá santos canonizados por Roma, não os haverá canonizados pelo povo. É algo que causa tristeza o aspecto doentio, apoucado, mesquinho, insignificante dos santos modernos".

Porém, é igualmente falso pensar que a rapidez da canonização de Teresa só se explica pelo fervor popular.

Os três papas que acompanharam o Processo estiveram firmemente convencidos da santidade de Teresa e da importância do "pequeno caminho" que ela queria oferecer ao mundo.

Assim é como, por privilégio especial, Bento XV dispensou Teresa do espaço de cinqüenta anos então exigido normalmente entre a morte de um "servo" ou de uma "serva" de Deus e a abertura do debate sobre a heroicidade das suas virtudes. O mesmo pontífice julgou inútil um novo processo sobre a reputação de santidade de Teresa, demasiado evidente para que fosse necessário demonstrá-la.

Os milagres, enfim, eram tão abundantes que o vice-postulador da causa teve realmente de sobra por onde escolher para que fossem estudadas de perto as curas necessárias para a beatificação e as outras duas necessárias para a canonização. Além disso, há a "chuva de rosas", prometida por Teresa. Os favores de toda a espécie alcançados pela intercessão da "irmãzinha Teresa" serão tão numerosos que chegarão a ser publicados sucessivamente sete volumes, intitulados Chuva de rosas, para referir, não a totalidade, mas sim a parte mais espetacular das conversões e dos milagres realizados pela célebre "semeadora de rosas". A primeira Chuva de rosas tinha sido incluída como apêndice no final da História de uma alma, na edição de 1907. Os sete volumes publicados de 1907 a 1925 formam um total de mais de 3 000 páginas, em impressão compacta, e deram lugar à venda de 400 000 exemplares.

O desenvolvimento das peregrinações

Os milagres multiplicam-se e são cada vez mais numerosos os peregrinos que vão rezar na sepultura de Teresa. O silêncio do caminho que sobe para o cemitério de Lisieux e o panorama que de cima se divisa favoreciam, por outro lado, a oração dos peregrinos. Chegados ao terreno cercado das carmelitas, muitos deles rezavam com os braços em cruz. E, como se o túmulo fosse uma "caixa de correio do paraíso", ali deixavam pedidos, cartões de visita, fotografias, para que recordassem a quem já chamavam a "santa". Levavam para ali flores, mas também ex-votos: muletas, bastões, aparelhos de toda a espécie, para testemunhar uma cura obtida pela sua intercessão.

No dia 24 de agosto de 1913, organizou-se uma importante peregrinação militar ao túmulo de Teresa: prelúdio do papel especialissimo que os soldados iam ter durante a guerra de 1914-1918 no desenvolvimento da devoção à "irmãzinha Teresa".

O cemitério de Lisieux ia-se convertendo cada vez mais numa "colina inspirada", conforme o título que um jornalista de Démocratie dava, no dia 13 de outubro de 1913, ao artigo que dedicava a estas peregrinações.

No momento em que este artigo aparecia, já se tinha procedido a uma primeira exumação do corpo de Teresa. No dia 6 de setembro de 1910, efetivamente, tinha-se realizado um primeiro reconhecimento oficial dos seus restos na presença de quinhentas pessoas. Depois de permanecer treze anos na cova, apenas são encontrados restos de ossos cobertos por pedaços de tela.

O novo caixão foi colocado desta vez num jazigo de alvenaria, a dois metros de profundidade.

O Processo

Se Teresa cumpria abundantemente a promessa que fizera de passar o seu céu a trabalhar "na terra", os que tomaram em mãos o seu Processo também não descansavam: chegaram, rapidamente, à convicção de que, sob aspectos totalmente simples, Teresa era realmente uma santa.

O promotor de justiça (chamado normalmente advogado do diabo), Teófilo Dubosq, sulpiciano, superior do seminário de Bayeux, foi especialmente eficaz. Nomeado "promotor da fé" em julho de 1910 por monsenhor Lemonnier, foi imediatamente conquistado por Teresa, e esmerou-se em apresentar um sumário ao mesmo tempo claro e completo. Os especialistas estimam que, sob este ponto de vista, o Processo de Teresa foi um modelo do gênero.

Quanto ao vice-postulador, monsenhor de Teil (que já não verá na terra o resultado definitivo do seu trabalho, pois morreu um ano antes da beatificação de Teresa), era um trabalhador incansável, ao mesmo tempo que um postulador cheio de sutileza e de humor. Teve, sobretudo, a inteligência de apresentar a Pio X argumentos capazes de o impressionar. Durante a audiência do dia 29 de outubro de 1910, leu a carta que Teresa tinha escrito a Maria Guérin, sua prima, no dia 30 de maio de 1889, para a animar a comungar regularmente, apesar dos seus escrúpulos: "Jesus está no tabernáculo expressamente para ti, para ti só, arde com o desejo de entrar no teu coração (...) O que ofende a Jesus, o que Lhe fere o coração é a falta de confiança!... Irmãzinha querida, comunga muitas vezes, muitas vezes... é esse o único remédio se queres curar-te, não foi sem razão que Jesus pôs essa atração na sua alma". Um texto tão eucarístico tinha que agradar ao papa que acabava de promulgar o decreto sobre a comunhão freqüente.

Em 1910-1911 teve lugar o Processo informativo, chamado "ordinário", porque se leva a cabo sob a autoridade do bispo de Bayeux, monsenhor Lemonnier, "Ordinário" do lugar. Trinta e sete testemunhas depõem em Bayeux ou em Lisieux sobre a vida da Irmã Teresa, das quais nove carmelitas que viveram com ela.

Em 1915-1917, também em Bayeux e Lisieux, realiza-se o processo "apostólico", sob a autoridade da Santa Sé apostólica.

No dia 9 de agosto de 1917 procede-se a uma segunda exumação do corpo de Teresa. A cerimônia é efetuada perante uma multidão calculada em 1 500 pessoas. Num local reservado, dois médicos, sob juramento, identificam os ossos do corpo de Teresa.

A Congregação dos Ritos, em Roma, não deixava de receber cartas chegadas de todo o mundo, a pedir a glorificação por parte da Igreja da irmãzinha Teresa. Já não havia dúvida de que a sua beatificação seria muito em breve.

Efetivamente, no dia 14 de agosto de1921, Bento XV promulgava o Decreto sobre a heroicidade das virtudes da "Venerável" Irmã Teresa do Menino Jesus. Por esta ocasião, pronunciou um admirável discurso sobre a "Infância espiritual", no qual realçava os traços essenciais da doutrina evangélica, à qual o Senhor queria chamar-nos por meio de Teresa.

No ano de 1922 viu o processo relativo ao exame das duas curas obtidas por intercessão de Teresa, e propostas à Congregação dos Ritos em vista da sua beatificação.

No dia 26 de março de 1923 foi a transladação solene. Quem esteve nesse dia em Lisieux ficou com uma recordação inesquecível. No cemitério fechado ao público, trabalhavam dois operários, sob a vigilância do bispo e das autoridades civis, para tirar o caixão da cova. Fora, milhares de peregrinos rezavam o Terço. Eis que o cortejo se põe em andamento: sob um sol esplêndido, uma longa fila de peregrinos — uns cinqüenta mil — estende-se ao longo de dois quilômetros. Sem cânticos, sem instrumentos musicais, pois Teresa ainda não estava beatificada. Apenas a recitação do terço alterna com a dos salmos.

Beatificação e canonização de Teresa

A última glorificação de Teresa estava reservada ao papa Pio XI. Dava graças a Deus por ter colocado esta "Estrela" na aurora do seu pontificado: o seu retrato, as suas relíquias não abandonavam o seu escritório de trabalho.

No dia 11 de fevereiro de 1923 assinava o decreto que declarava autênticos os dois milagres que foram selecionados em vista da beatificação de Teresa e, nesta ocasião, dizia que a carmelita de Lisieux era um "milagre de virtudes" e um "prodígio de milagres".

No dia 29 de abril presidia às cerimônias da beatificação. "O mais belo dia do meu pontificado", dirá pela tarde aos seus familiares.

Finalmente, no dia 17 de maio de 1925, rodeado de vinte e três cardeais e de duzentos e cinqüenta bispos, procedia à canonização de Teresa. Quinhentos mil fiéis tinham ido a Roma por esta ocasião, mas apenas cinqüenta mil puderam entrar na basílica de São Pedro e ouvir o papa pronunciar a fórmula solene que declarava que doravante se podia chamar à humilde carmelita de Lisieux "Santa Teresa do Menino Jesus".

Mal estas palavras saíram dos lábios do Sumo Pontífice, quando instantaneamente, pela primeira vez em semelhante circunstância, ao recolhimento profundo da multidão sucederam aplausos entusiastas e prolongados. E enquanto as bandas de música colocadas na cúpula ressoam, os sinos de São Pedro começam a tocar, aos quais, em carrilhão de festa, respondem todos os de Roma.

Na homilia da missa, o papa exaltou a infância espiritual que Teresa tinha ensinado "com palavras e exemplos", e convidou os cristãos a admirá-la a fim de que, por sua vez, se tornem "crianças", no sentido evangélico do termo. "Se este caminho de infância espiritual se generalizasse — concluía o papa —, quem não vê que facilmente se realizaria a reforma da sociedade humana".

Por outro lado, Pio XI não cessou em toda a sua vida de confiar a Teresa as suas grandes iniciativas apostólicas, especialmente o lançamento da Ação católica e o desenvolvimento das missões.

Expansão crescente sem cessar

Se os cristãos não esperaram a canonização de Teresa para ir em peregrinação à sua sepultura, é evidente que a partir de 1925 acudiram cada vez mais a rezar a Santa Teresa do Menino Jesus.

No dia 14 de dezembro de 1927, Pio XI proclamava padroeira principal das missões, assim como a São Francisco Xavier, a esta humilde carmelita oculta. Se a tensão internacional não o impedisse, o mesmo papa teria ido em julho de 1937 inaugurar a basílica de Lisieux. Teve que contentar-se em enviar como legado o cardeal Pacelli.

Quando este chegou a papa, com o nome de Pio XII, proclamou Teresa "segunda padroeira da França, bem como a Santa Joana d'Arc". A proclamação teve lugar no dia 3 de maio de 1944, um mês antes do desembarque das tropas aliadas nas terras da Normandia.

Alguns números bastarão para sugerir a expansão que Teresa exerce na Igreja do século XX. Mais de setenta seminários e um grande número de escolas têm-na por padroeira. Foram-lhe dedicadas mais de mil e setecentas igrejas ou capelas, repartidas pelas cinco partes do mundo. Entre elas, cinco igrejas catedrais: Niamey (Níger), Sokodé (Togo), Bouaké (Costa do Marfim), Garoua (Camerum) e Urawa (Japão), e cinco basílicas menores: Rio de Janeiro (Brasil), Lisieux, Anzio, La Bombetta (Veneza) e Choubrah (Egipto). Este último edifício foi uma oferta dos muçulmanos do Cairo à "santinha de Alá", para lhe agradecer todos os favores recebidos.

Uma cinquentena de congregações religiosas, em todo o mundo, acolheu-se ao seu patronato. Três destas foram fundadas pelo padre Gabriel Martin, missionário vandeano, a quem Teresa conquistou a partir de 1908 quando lia o Chamamento às almas pequenas e que foi em Lisieux, em 1923 e 1925, o panegirista das festas de beatificação e canonização. Fundou, em 1928, a Congregação das Missionárias de la Plaine, cuja finalidade é trabalhar na evangelização das terras planas e pantanosas vandeanas; em 1933, a Congregação das Oblatas de Santa Teresa — as quais se encarregam de acolher os peregrinos na casa natal de Alençon, nos Buissonnets e na casa de retiros "Santa Teresa" de Lisieux — e, em 1947, a Congregação das Missionárias de Santa Teresa.

Indicamos, finalmente, a existência de um instituto secular teresiano, Deus Caritas, fundado pelo R. Puaud, capelão de peregrinações, e cujos estatutos foram aprovados por Roma em 1979. Os seus membros (centenas deles na atualidade) esforçam-se por viver o Evangelho no espírito de Santa Teresa, vivendo como leigos no meio do mundo.

Entre as obras que desfrutam muito especialmente do patronato de Santa Teresa, indicamos a obra dos Órfãos Aprendizes de Auteuil (Paris), à qual o Pe. Daniel Brottier consagrou os últimos doze anos da sua vida. Uma das noviças de Teresa, a Irmã Maria da Trindade, falava frequentemente com a sua mestra de noviças da Obra fundada no século passado pelo abade Roussel a serviço das crianças pobres da capital: "a Obra da Primeira Comunhão", convertida em breve na "Obra dos Aprendizes". O pai desta noviça, Vítor Castel, professor jubilado, viajava efetivamente pela França a fim de dar a conhecer a Obra do abade Roussel. Quando Maria Luísa Castel recebia no Carmelo carta do seu pai, Teresa era posta ao corrente imediatamente das dificuldades da Obra e dos seus êxitos e não deixava de rezar por estes queridos órfãos.

Em 1923, os superiores do Pe. Brottier, da Congregação do Espírito Santo, encarregaram-no daquela Obra. O antigo capelão militar tinha já uma profunda devoção à pequena carmelita. A partir da sua nomeação em Aureuil, decide construir uma capela em honra de Teresa que acaba de ser beatificada alguns meses antes, a fim de que os Órfãos pudessem rezar à sua "Mãezinha" num santuário digno dela. Pois bem um dia toma como seu ajudante a Joaquim León Castel — um dos irmãos da Irmã Maria da Trindade — ao qual, vinte e cinco anos antes, Teresa tinha pedido frequentemente que trabalhasse pelo crescimento da Obra. Que alegria! A seguir, propõe à Irmã Maria da Trindade que seja a madrinha espiritual dos seus Órfãos e pede a Teresa que faça chover sobre as suas casas "não rosas, mas notas do banco"! A confiança do Pe. Brottier não é decepcionada: multiplicam-se as doações e a Obra cresce consideravelmente...

O Pe. Brottier foi beatificado pelo papa João Paulo II no dia 25 de novembro de 1984, ao mesmo tempo que outra discípula do "pequeno Caminho", Elisabete da Trindade, carmelita de Dijon.

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O LOCUTÓRIO DE TERESA

RAYMOND ZAMBELLI

No coração de numerosos peregrinos de Lisieux há um secreto desejo de entrar um dia no Carmelo de Teresa. Tal desejo, embora legítimo, raramente é atendido. Foi preciso esperar pelo centésimo quinquagésimo aniversário da fundação deste Carmelo para que de modo excepcional se abrissem as portas da comunidade a umas centenas de convidados: isto aconteceu em 1988.

No entanto, há um lugar neste Carmelo onde o olhar de todo o peregrino entra na clausura. É o lugar onde repousa Teresa, o lugar tão venerado do seu sepulcro.

Gosto desse lugar por tudo o que me oferece ver. Está, em primeiro lugar, aquela grade que simbolicamente marca a inevitável distância entre Teresa e nós. Distância que se impõe quando se mede a diferença entre a santidade da sua vida e cada unia das nossas pobres existências. Distância que, não obstante, nem afasta nem desanima ninguém. Distância muito necessária que, a seu modo, recorda o indispensável respeito que deveria envolver todo o encontro com os seres humanos.

Este lugar bendito é, de fato um locutório. O locutório oferece-nos a possibilidade de estar a qualquer hora do dia com quem viemos visitar; que nos espera, nos escuta e nos responde.

Ah, se estas grades pudesse falar! Quantas orações, quantas preces, quantas confidências! Quantos nomes ditos em voz baixa, quantos seres queridos recomendados diariamente!

Aqui os corações libertam-se, as almas abrem-se. Aqui Teresa recebe as nossos segredas e as nossas promessas. Aqui Teresa responde-nos com palavras que iluminam, apaziguam, tranqüilizam e animam.

Locutório aprazível, silencioso e benfeitor. Verdadeiro santuário onde a história da nossa alma se comunica sem dor com quem nos revelou a sua. Aqui, diariamente se escreve esta outra história da peregrinação de Lisieux que nunca será impressa, porque é a mais secreta, a mais profunda, a mais misteriosa, numa palavra, a mais incomunicável.

Está a grade, a estátua jacente e as flores, essas braçadas de flores. À sua maneira, também falam e exalam perfumes que se chamam carinho, admiração, agradecimento ...

Esta linguagem das flores da sepultura de Teresa é a linguagem amante de tantos fiéis por quem declarava um mês antes de morrer: "Gosto muito de flores, de rosas, as flores vermelhas e as belas margaridas rosadas" (DE 28.8.7).

É igualmente a linguagem evangélica do perfume de Betânia que se derrama generosamente e que fala da lógica mais pura de Teresa: "Ah! sem contar eu dou-me bem segura / De que, quando se ama, não se conta.... " (PN 17, 5, Viver de amor).

Nos tempos de Teresa havia sempre uma terceira pessoa no locutório. Bastava levantar os olhos para a identificar na pessoa da Virgem Maria, representada com os traços da autêntica e célebre estátua da Virgem do Sorriso. Deste modo, no locutório do Carmelo de Lisieux são duas as mulheres que, na realidade, nos acolhem, nos escutam e nos respondem...

A BASÍLICA DE LISIEUX

Pierre Descouvemont

Foi construída num tempo recorde, graças à generosidade de milhares de ofertas de todo o mundo. Iniciada em 1929, foi benzida solenemente no dia 11 de julho de 1937 pelo cardeal Pacelli, legado do Papa Pio XI e futuro Papa Pio XII.

O arquiteto Luís Maria Cordonnier escolheu um estilo neobizantino, semelhante ao da basílica do Sagrado Coração em Montmartre (Paris). Este arquiteto, de fama internacional, ganhava, havia quarenta anos, o primeiro lugar em inumeráveis concursos:

1885: Nova Bolsa de Amsterdam.

1887: Laureado, fora de concurso, pela restauração da catedral de Milão (os trabalhos não se realizaram por falta de crédito).

1894: Escola das Belas Artes no Conservatório de Música de Lille.

1900: Grande prêmio na Exposição Universal de Paris.

1906: Palácio da Paz em La Haya.

A construção da basílica tinha sido formalmente pedida por Pio XI. Em novembro de 1929 tinha feito saber a monsenhor Suhard, novo bispo de Bayeux, que era preciso fàzê-la "muito grande, muito bela e o mais rápido possível".

A superfície total do edifício é de 4500 m., o seu comprimento é de 95 metros e a altura da cúpula é de outros 95 metros.

A abóbada da cripta, acabada em julho de 1932, está completamente coberta de mosaicos, no estilo da exposição das Artes decorativas de 1925. A decoração ilustra a vida interior de Teresa. Os mosaicos da basílica superior evocam o seu esplendor póstumo.

Durante a segunda guerra mundial, as cento e cinqüenta bombas e ogivas caídos à volta da basílica, bem como as bombas caídas na mesma basílica no verão de 1944, não a conseguiram destruir.

Durante os dez anos que se seguiram à libertação da cidade repararam-se os danos causados pelos bombardeamentos e colocaram-se os mosaicos e os vitrais da basílica superior. Terminados estes trabalhos, foi solenemente consagrada no dia 10 de julho de 1954.

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TERESA NOS FALA:

"Ser-vos-ei mais útil no céu do que na terra"

"Meu irmão..., quando receberdes esta carta, já terei deixado a terra. O Senhor, na sua infinita misericórdia, ter-me-á aberto o seu reino e poderei dispor dos seus tesouros para os prodigalizar às almas que me são queridas. Ficai certo, meu Irmão, de que a vossa Irmãzinha cumprirá as suas promessas, e de que a alma dela, liberta do peso do invólucro mortal, voará feliz para as longínquas regiões que vós evangelizais. Ah! meu irmão, pressinto que vos serei muito mais útil no céu do que na terra e é com alegria que venho anunciar-vos a minha próxima entrada nessa bem-aventurada cidade, certa de que partilhareis da minha alegria e agradecereis ao Senhor por me dar os meios de vos ajudar mais eficazmente nas vossas obras apostólicas.

Conto não ficar inativa no Céu, o meu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas, peço isto a Deus e estou certa de que Ele me concederá. Não estão os Anjos continuamente ocupados conosco sem nunca cessarem de ver a Face divina, de se perderem no Oceano sem limites do Amor? Porque não havia Jesus de me permitir que os imitasse? Meu irmão, vedes que se abandono já o campo de batalha, não é com o desejo egoísta de descansar, o pensamento da eterna bem-aventurança a custo faz rejubilar o meu coração, desde há muito tempo o sofrimento tomou-se o meu Céu cá na terra e tenho verdadeiramente dificuldade em imaginar como poderei adaptar-me num País onde a alegria reina sem qualquer sombra de tristeza. Será preciso que Jesus transforme a minha alma e lhe dê a capacidade de gozar, de contrário não poderei suportar as delícias eternas.

O que me impele para a Pátria dos Céus é o chamamento do Senhor, é a esperança de O amar enfim como tanto tenho desejado e o pensamento de que O poderei fazer amar por uma multidão de almas que hão de bendizê-1o eternamente" (Ct 254).

TERESA HOJE

Monsenhor GUY GAUCHER

O mistério continua: como é que uma carmelita tão nova, que morreu desconhecida numa cidade de unia província francesa, pôde conquistar o mundo?

E porque é um fato, pergunta-se: há em toda a história da santidade uma corrida tão fulgurante, "um furacão de glória" (Pio XI) tão impetuoso na história dos dois mil anos da Igreja? E estamos apenas a cem anos da sua morte obscura, nas angústias da tuberculose e da noite da fé! Estamos ainda longe de avaliar o impacto prodigioso da vida e da doutrina de Santa Teresa na Igreja e no mundo. Ainda não se fez nenhum estudo sério sobre a sua vida póstuma.

Por certo, a Igreja honrou-a com um assombroso número de títulos: padroeira universal das missões (1927), padroeira secundária de França (1944), padroeira de todos os noviciados, protetora da Rússia (1932), do México (1929), da Missão de França (1941), da Ação Católica Operária (1929), etc.

Os papas São Pio X e Pio XI nomearam-na, respectivamente, "a maior santa dos tempos modernos" e "uma palavra de Deus para o mundo". O cardeal Pacelli - futuro papa Pio XII - "a mais ilustre taumaturga dos tempos modernos" (1938). Estes elogios podiam alargar-se indefinidamente, à escala mundial.

O que importa hoje, cem anos depois da sua entrada na Vida, é comprovar o impacto incessante da sua vida e da sua mensagem espiritual.

Neste tempo, em que o ceticismo e o desespero invadiram todas as camadas das sociedades, em que as esperanças suscitadas pelas ideologias totalitárias fracassaram, em que o mundo tecnológico já não deixa lugar à humanidade simples, a crise da Esperança chega ao seu mais alto grau.

Os santos da Igreja apareciam como mestres da sensatez, da esperança, do amor, porque "eles não envelhecem praticamente nunca, nunca prescrevem. São as testemunhas perenes da juventude da Igreja. Nunca se convertem em personagens do passado, em homens e mulheres de ontem. Pelo contrário, continuam a ser homens e mulheres do amanhã, os homens do futuro evangélico do homem e da Igreja, as testemunhas do mundo futuro". Não foi por casualidade que o papa João Paulo II, primeiro peregrino a Lisieux, pronunciou estas palavras na esplanada da basílica. Aplicam-se perfeitamente à jovem normanda.

Advertimos - em Lisieux e noutras partes - que a palavra e a oração de Teresa liberta pessoas feridas, rompe as cadeias dos jovens drogados ou desesperados, continua a suscitar vocações sacerdotais, religiosas e laicais. Procura gente de muito longe, introduz-se nos meios mais inesperados, desempenha um papel importante no ecumenismo, atrai os muçulmanos, impressiona gente estranha à fé, às vezes pela simples visão do seu verdadeiro rosto que chegou até nós graças à fotografia.

Mais de cinqüenta congregações apostólicas em todo o mundo chamam-se de Santa Teresa e tomaram-na como fundadora. Na França, a rápida expansão de novas comunidades enraízam-se muitas vezes na espiritualidade desta jovem santa, cuja fraqueza foi o trampolim para uma santidade da vida cotidiana. Teresa continua a reunir à sua volta tanto a intelectuais de alto vôo como a pobres de todos os países.

Desde 1932, espirituais e teólogos viram que a doutrina de Santa Teresa tem em si um caráter universal. Mais de seiscentos bispos e uma multidão de leigos pediram então ao papa Pio XI que fosse proclamada Doutora da Igreja. Uma mulher? Nenhuma até então tinha sido declarada Doutora. O papa não quis dar esse passo. Paulo VI o fez em 1970, proclamando duas mulheres Doutoras da Igreja: Santa Teresa de Ávila e Santa Catarina de Sena. O caminho estava aberto. Santa Teresa de Lisieux escreveu: "Ah, apesar da minha pequenez, queria esclarecer as almas como os Profetas, os Doutores. Tenho a vocação de ser Apóstolo" (Ms B 3r), "Sinto em mim a vocação de Doutor" (Ms B 2v).

Deus escutou sempre os seus desejos. O essencial continua a ser que a sua vida e a sua mensagem, marcadas pelo seu próprio tempo, mas superando-o profeticamente (anunciou temas importantes do Vaticano II), são o antídoto mais eficaz contra o desespero contemporâneo. Pode ser considerada a Doutora da Esperança. É evidente que será uma santa importante para o século XXI, "orientada para o porvir, testemunha do mundo futuro".

Sob a inspiração do Espírito Santo, desejou ser o Amor no coração da Igreja. Ninguém lhe tirará esse lugar Porque "foi Jesus que lho deu" (Ms B 3v).

No dia 19 de outubro de 1997, o papa João Paulo II, durante a celebração do dia mundial das missões, proclamou Santa Teresa Doutora da Igreja Universal e publicou a Carta Apostólica Divini Amoris Scientia para apresentar a vida e a mensagem da nova Doutora.

CONCLUSÃO

Anastásio, cardeal BALLESTERO ocd

As páginas deste livro têm o mérito de reconstruir com os dados da história um caso misterioso, como o da vida e da espiritualidade de Santa Teresa do Menino Jesus.

É a reconstrução cuidadosa, cheia de aspectos sugestivos e interessantes, rica de interpretações autênticas e fiéis, mas uma reconstrução que, no entanto, não pode substituir os escritos autobiográficos da Santa, mas constitui sobretudo uma preciosa introdução aos mesmos. Uma deliciosa história de uma humanidade jovem na qual a riqueza da família humana e a vivacidade dos talentos pessoais encontram uma superação misteriosa e profunda nos dons da misericórdia divina.

Esta relação entre a história e a misericórdia é um dos aspectos mais singulares do caso de Teresa. Ela mesma é consciente disso, proclama-o com absoluta convicção e convence com as suas reflexões, nas quais a efusão da misericórdia divina abunda, e onde a humanidade límpida e radicalmente aberta ao dom divino se manifesta deliciosa e exemplar: as recordações de família, a precocidade de uma vocação, a realização da vocação no Carmelo, o encontro no Carmelo com os mestres como Teresa de Jesus e João da Cruz, a irradiação na vida da comunidade aproveita especialmente aos jovens, e difunde-se em breve, depois da morte preciosa, numa efusão que irrompe na Igreja como um autêntico milagre que deixa atônitos a todos quantos sabem ver e entender a lógica e a coerência de Deus: é o ser o Senhor da misericórdia.

Esta Teresa do Menino Jesus, precisamente por esta insistente proclamação da misericórdia de Deus é motivo da esperança que não é apenas riqueza dela, mas que é dom que ela dará a quantos a conhecem e a escutam.

Escutando Teresa do Menino Jesus, a paternidade de Deus não se converte somente em mistério de fé, mas chega a ser experiência de vida que nunca acaba. É a filha que penetra no Coração do Pai, que se abandona ao abraço do amor paterno tão misericordiosamente grande e tão soberanamente generoso. Esta comunicação da paternidade de Deus, esta proclamação da misericórdia do Salvador que Teresa vive, não é uma complacência suspeitosa de uma afetividade infantil, mas a valorosa coerência para o mistério que a transcende, que a envolve, que a faz vítima e, ao mesmo tempo, a cumula de felicidade e de glória.

Neste sentido, a experiência de Teresa do Menino Jesus é um autêntico caso evangélico. Aquele Evangelho que a Santa levava sobre o seu coração, aquele Evangelho do qual se alimentava quase exclusivamente, é certamente a Palavra de Deus, é certamente o mistério de Cristo Filho do Pai, Esposo das virgens, Salvador do mundo, encarnação do amor trinitário.

Tudo isto está proclamado e faz com que a mensagem de Teresa do Menino Jesus possa ser interpretada como uma nova evangelização na qual a substância do Evangelho é vivificada pela experiência interior, na oração que se torna contemplativa, no amor que se torna filial e fraterno, na generosidade da caridade que se torna heróica e oblativa.

A este Senhor Jesus, a quem Teresa mesma se oferece, a Santa conduz as almas que a seguem por meio da simplicidade do Evangelho, que não é infantilismo espiritual, mas coerência com as palavras do Senhor: "Se não vos tomardes como crianças, não entrareis no reino dos céus".

Esta palavra do Evangelho é a síntese de uma vida, de uma experiência espiritual, de uma doutrina evangélica e é também — digamos — a vocação de uma criatura que depois de ter vivido tudo isto na heroicidade da terra, o está a proclamar maravilhosamente a partir da glória do céu.

Tudo isto no livro que foi escrito torna-se vivo e palpitante, torna-se límpido e transparente, torna-se precioso para se aproximar da Santa e escutar a sua mensagem e seguir o caminho que leva à salvação.

É um desejo que podemos pedir ao livro, é uma graça que podemos pedir à ,santa, protagonista exemplar

CRONOLOGIA DE TERESA

1873

Quinta-feira 2 de janeiro: Nascimento em Alençon.

Sábado 4 de janeiro: Batismo na igreja de Nossa Senhora.

Sábado 15 ou domingo 16 de março: Vai para casa de uma ama, em Semallé.

1874 – um ano

Quinta-feira 2 de abril: Regresso definitivo da casa da ama para Alençon.

1875 — dois anos:

Segunda-feira 29 de março: Viaja de comboio a Le Mans com sua mamãe, para a casa da tia visitandina.

Desde a idade de dois anos: "Eu também hei de ser religiosa" (Ms A 6r)

1877 — quatro anos:

Sábado 24 de fevereiro: Morte da sua tia visitandina.

Sexta-feira 18 a quarta-feira 23 de junho: Peregrinação a Lourdes da Sra. Martin, com Maria, Paulina e Leônia, para obter a sua cura.

Quarta-feira 28 de agosto: Morte da Sra Martin, às 00h. 30.

Quinta feira 15 de novembro: Mudança para os "Buissonnets" em Lisieux.

1878 — cinco anos:

De segunda-feira 17 de junho a terça-feira 2 de julho: Viagem do Sr. Martin, Maria e Paulina a Paris, para visitarem a Exposição. Teresa é confiada à tia Guérin.

Quinta-feira 8 de agosto: Vê o mar pela primeira vez, em Trouville.

1880 — sete anos:

Princípios do ano ou fins do anterior: Primeira Confissão.

1881 — oito anos:

Segunda-feira 3 de outubro: Entrada na Abadia de Lisieux como semi-interna.

1882 — nove anos:

Segunda-feira 2 de outubro: Paulina, sua "segunda mamãe", entra no Carmelo de Lisieux.

1883 — dez anos:

Domingo 8 de abril: Morte da sua avó Martin.

Domingo 13 de maio, Pentecostes: Cura súbita, pelo sorriso da Santíssima Virgem.

Segunda-feira 20 até 30 de agosto: Férias em Alençon.

1884 — onze anos:

Quinta-feira 8 de maio: Primeira Comunhão na Abadia. Profissão de Paulina, Irmã Inês, no Carmelo.

Sábado 14 de junho: Confirmação por D. Hugonin, na Abadia.

Agosto: Férias em Saint-Ouen-le-Pin.

1885 — doze anos:

Domingo 3 a sexta-feira 10 de maio: Férias em Deauville.

Julho: Férias em Saint-Ouen-le-Pin.

Sábado 22 de agosto a sábado 10 (17?) de Outubro: Viagem do Sr. Martin a Constantinopla (sete semanas).

1886 — treze anos:

Fevereiro-março: Teresa abandona definitivamente a Abadia.

Princípios de outubro: Viagem com o seu papai e irmãs a Alençon.

Sexta-feira 15 de outubro: Entrada de Maria no Carmelo de Lisieux.

Sábado 25 de dezembro, Natal: Graça da sua "conversão".

1887 — catorze anos:

Domingo 29 de maio, Pentecostes: Teresa recebe do pai licença para entrar no Carmelo.

Segunda 20 a domingo 26 de junho: Férias em Trouville.

Verão: "Conversas no belvedere" com Celina. Orações pela conversão de Pranzini.

Segunda 31 de outubro: Teresa em Bayeux, para ver D. Hugonin.

Sexta-feira 4 de novembro a sexta-feira 2 de dezembro: Viagem a Paris, Suíça, Itália, Roma.

1888 — quinze anos

Segunda-feira 9 de abril, festa da Anunciação: Entrada de Teresa no Carmelo.

Sábado 23 a terça feira 27 de junho: Fuga do Sr. Martin para o Havre.

1889 — dezesseis anos:

Quinta-feira 10 de janeiro: Tomada de Hábito.

Terça-feira 12 de fevereiro: O Sr. Martin é internado em Caen.

1890 — dezessete anos:

Segunda-feira 8 de setembro, festa da Natividade de Maria: Profissão (perpétua) de Teresa.

Quarta-feira 25 de dezembro, Natal: cancelamento do aluguel dos Buissonnets.

1891 — dezoito anos:

Terça-feira 24 de novembro: Celebração do Terceiro centenário da morte de São João da Cruz.

Sábado 5 de dezembro: Morte da Madre Genoveva, fundadora do Carmelo de Lisieux.

1892 — dezenove anos:

Sábado 2 a quinta feira 7 de janeiro: Epidemia de gripe. Morrem três irmãs da comunidade.

Terça-feira 10 de maio: Depois de três anos em Caen, o Sr. Martin, doente, é levado para Lisieux, para casa dos Guérin.

Quinta-feira 12 de maio: Última visita do Sr. Martin às suas filhas carmelitas: as suas únicas palavras: "No céu".

1893 — vinte anos:

Segunda-feira 20 de fevereiro: A Irmã Inês é eleita priora.

Setembro: Teresa consegue ficar no "noviciado".

1894 — vinte e um anos:

Janeiro: A sua primeira obra de teatro sobre Joana d'Arc, para a festa da priora, dia 21 de Janeiro.

Domingo 27 de maio: Paralisia e Santa Unção do Sr. Martin.

Sábado 16 de junho: Entrada de Maria da Trindade no Carmelo.

Sexta-feira 29 de julho: Morte do Sr. Martin em Saint-Sébastien-de-Morsent (onde fica a quinta de La Musse).

Sexta-feira 14 de setembro: Entrada da Irmã Celina no Carmelo.

1895 — vinte e dois anos:

Durante o ano: Redação do Manuscrito autobiográfico A.

Domingo 9 de junho, festa da Santíssima Trindade: Oferecimento ao Amor misericordioso.

Quinta feira 15 de agosto: Entrada da sua prima Maria Guérin no Carmelo de Lisieux.

Quinta-feira 17 de outubro: A Madre Inês pede a Teresa que reze pelo seminarista Maurício Bellière, o seu primeiro "irmão espiritual".

1896— vinte e três anos:

Segunda-feira 24 de fevereiro: Profissão da sua Irmã Celina, Irmã Genoveva.

Sábado 21 de março: Difícil eleição da Madre Maria de Gonzaga como priora. Teresa é confirmada no seu lugar de mestra auxiliar de noviças.

Sexta-feira 3 de abril, Sexta-Feira Santa: Primeira hemoptise noturna.

No domingo 5 de abril, Páscoa: Teresa entra na sua "provação da fé", que irá durar até à sua morte.

Sábado 30 de maio: A Madre Maria de Gonzaga confia-lhe um segundo "irmão espiritual", o Pe. Adolfo Roulland.

Terça-feira 8 de setembro: Princípio da redação do Manuscrito autobiográfico B.

Sábado 21 de novembro: Novena para obter a cura de Teresa prevendo a sua possível ida para um Carmelo da Indochina; recaída definitiva.

1897 — vinte e quatro anos:

Princípios de abril: No fim da Quaresma. Teresa cai gravemente doente.

Terça-feira 6 de abril: Início das Últimas Conversas, anotadas pela Madre Inês.

Segunda-feira 19 de abril: Leo Taxil revela as suas imposturas sobre o caso de "Diana Vaughan", na qual Teresa acreditou por algum tempo.

Quinta-feira 3 de junho: Começo do Manuscrito autobiográfico C

Quinta-feira 8 de julho: Teresa é descida para a enfermaria.

Sexta-feira 30 de julho: Hemoptises contínuas e faltas de ar. Às 18 h., recebe a Santa Unção e a comunhão em viático.

Quinta-feira 30 de setembro: Teresa morre pelas 19:20 h. As suas últimas palavras: "Meu Deus, amo- Vos!...".

Segunda-feira 4 de outubro: Enterro no cemitério de Lisieux.

Depois da sua morte:

30 de setembro de 1898: Aparição da História de uma alma, dois mil exemplares Cada ano é necessário reeditá-la...

1910: Abertura do processo de beatificação.

29 de abril de 1923: Beatificação por Pio XI.

17 de maio de 1925: Canonização na basílica de São Pedro em Roma por Pio Xl.

14 de dezembro de 1927: Pio XI proclama Santa Teresa Padroeira principal das missões, em pé de igualdade com São Francisco Xavier

2 de junho de 1980: O papa João Paulo II, peregrino em Lisieux.

30 de setembro de 1997: Primeiro Centenário da morte de Teresa.

19 de outubro de 1997: O papa João Paulo II proclama Santa Teresa Doutora da Igreja.

ÍNDICE

Quem nos ensinará a esperança'? (cardeal Danneels) Apresentação (De Meester, Salvatico, Giordano) Siglas dos escritos

Capítulo 1: A filha de Luís e de Zélia (Conrad De Meester ocd)

A França católica durante a segunda metade do século XIX (Stéphane-Marie Morgain ocd)

A "renda de Alençon" (Monsenhor Guy Gaucher)

Genealogia de Teresa

Teresa nos fala: "Os anos cheios de sol da infância" (Ms A 11v)

"História primaveril de uma florzinha branca" (Ms A 2 rv-9 rv)

Capítulo 2: A infância de Teresa em Lisieux (Monsenhor Guy Gaucher)

A casa dos Buissonnets (Monsenhor Guy Gaucher)

A "pobre Leónia" (18-63-1941 — Monsenhor Guy Gaucher)

Teresa nos fala: Vida em família (Ms A 13v; 14 r; 18rv)

"Eu escolho tudo" (Ms A 10 rv)

Capítulo 3: Teresa, jovem leiga (Monsenhor Guy Gaucher)

Teresa nos fala: Para a Cidade eterna

Capítulo 4: A comunidade de Teresa (Geneviève Devergnies ocd)

O Carmelo de França: origens e espírito (Stéphane-Marie Morgain ocd)

O Carmelo de Lisieux (Geneviève Devergnies ocd)

As duas Teresas, mãe e filha (Tomás Alvarez ocd)

Teresa e São João da cruz (Federico Ruiz ocd)

Capítulo 5: "O sofrimento estendeu-me os seus braços" (Geneviève Devergnies ocd)

As vinte e quatro horas no Carmelo (Geneviève Devergnies ocd)

As leituras de Teresa (Geneviève Devergnies ocd)

Teresa nos fala: "Como crianças pequenas" (Ms A 70r; 75v- 76r)

"O triunfo do meu rei" (Ms A 72rv; A 73r)

"Não conheço outro meio senão o amor" (Ct 109)

Capitulo 6: À descoberta do "pequeno caminho" (Conrad De Meester ocd)

Teresa nos fala: "Jesus não quer fazer nada sem nós" (Ct 135)

"Alimentar o amor" (Ct 143)

Capítulo 7: O oferecimento ao Amor misericordioso (Conrad De Meester ocd)

Teresa nos fala: "Viver de amor" (PN 17)

Capítulo 8: Teresa, à escuta da Palavra (Roberto Fornara ocd)

Teresa nos fala: "Nos braços de Deus" (Ct 226).

Capítulo 9: A caridade fraterna (Pierre Descouvemont)

Teresa nos fala: "Uma candeia no candelabro" (Ms C 22r; 18r; 12r)

"O farol luminoso do amor" (Ms B 3v; 5v)

Capitulo 10: Apóstolo e missionária (Camilo Gennaro ocd)

Capítulo 11: Teresa e o mistério de Maria (François-Marie Léthel ocd)

Teresa nos fala: "Por que te amo, ó Maria (PN 54)

Capítulo 12: Na noite da fé (Emmanuel Renault ocd)

Capítulo 13: A última doença (Monsenhor Guy Gaucher)

O caso Léo Taxil — Diana Vaughan (Monsenhor Guy Gaucher)

"Últimas conversas" (Monsenhor Guy Gaucher)

Teresa nos fala: "No braseiro devorador do Amor" (Ct 247)

Capítulo 14: A vida do mais além (Pierre Descouvemont — Raymon Zambelli)

O locutório de Teresa (Raymond Zambelli)

A basílica de Lisieux (Pierre Descouvemont)

Teresa nos fala: «Ser-lhe-ei mais útil no céu do que na terra" (Ct 254)

Teresa hoje (Monsenhor Guy Gaucher)

Conclusão (Anastasio cardeal Ballestero ocd)

Cronologia de Teresa