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sábado, 16 de janeiro de 2010
Santa Teresa de Ávila, amiga de Deus e dos homens
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Santa Teresa: conselheira dos hesitantes
Santa Teresa: conselheira dos hesitantes
Santa Teresa de Ávila, cuja festa é a 15 de Outubro, foi a primeira mulher a ser nomeada Doutora da Igreja. Ela passou a fazer parte do conjunto louvável dos teólogos estudiosos ainda que nos seus escritos, ela seguisse sempre em frente sem se preocupar com as maiúsculas e os parágrafos. Padres mais letrados poriam a pontuação.
A sua família vivia bem, ainda que recentemente, com uma frágil ligação a patentes de nobreza que eles tinham comprado. O avô paterno de Teresa era judeu. Poderíamos considerar a sua educação deficiente, no entanto era a apropriada para a filha de pais prósperos na Espanha do século XVI. A sua prosa é tão viva que talvez possamos estar agradecidos por ela não ter sido formada nos sistemas filosóficos do seu tempo.
A profundidade e a percepção dos tratados espirituais de Teresa influenciaram quase todos os escritos posteriores sobre oração e misticismo na tradição cristã ocidental. Este é um facto que teria espantado a tão prática fundadora da Reforma dos Carmelitas Descalços. Certamente isto lhe seria agradável. Ela escreveu como falou, dando conselhos, considerando as objecções ao que ela estava a dizer, motivando um maior progresso na oração, ainda que ela reflectisse, com pena, sobre a sua anterior falta de generosidade no serviço de Deus.
Chamamos a Teresa uma mística exaltada, mas ela provavelmente preferia apresentar-se como padroeira daqueles que hesitam em dar-se a si próprios completamente a Deus. No princípio, sendo já freira, ela teve de fazer uma escolha difícil entre um convite para a união com Deus e aquelas tentações seculares oferecidas pela cena social de Ávila. Parentes e amigos traziam-lhe todas as bisbilhotices do momento, para discussão no ambiente distendido do locutório do convento. Teresa era uma mulher que hesitava. Ela diz-nos na sua Vida: “por mais de dezoito anos, sofri esta batalha entre a amizade de Deus e a amizade com o mundo”.
A sua era uma luta entre o chamamento de Cristo e o fascínio dos objectivos centrados em si. Abandonando-se à mediocridade, ela conheceu a persistente tentação experimentada por aqueles que desejam não só Deus mas também muitas outras coisas ao lado. Eles dizem: vamos adiar esta decisão de ser cristão com todo o coração. Nós não seremos grandes pecadores, mas também não trabalharemos com afinco para ser santos. Teresa escreveu: “Todas as coisas de Deus me alegravam; todas as do mundo me atavam”.
Hoje vivemos numa cultura em que a liberdade é um valor fundamental. As janelas abriram-se para permitir uma maior liberdade, mas trouxeram mais do que o sol brilhante e o ar puro. Ninguém quer abraçar o rígido “sair do mundo” de décadas anteriores. O prazer legítimo e objectivos valiosos do mundo são parte da nossa vida cristã. Mas o que é que acontece quando a satisfação se transforma em indulgência? Pode o chamamento ao que é cálido e à intimidade levar a um mergulho em águas que afoguem o nosso sentido moral?
Teresa lutou com estes temas como alguém, que seja sério acerca da vida humana em plenitude, o deve fazer. Ela dá-nos uma descrição viva dos seus esforços frustrados para cortar com as relações que a prendiam, atando-a a uma luta fraca pela santidade. Lendo as suas palavras damo-nos conta da vacilação que não vai a lado nenhum mas que só anda à roda. O seu entendimento deste processo pode ser tão valioso como as suas explicações das altas experiências religiosas.
Por fim, foi tomada a sua decisão de andar firmemente numa direcção: para Deus. A cansativa caminhada em ziguezague – uns poucos passos para um lado, uns poucos passos para outro lado – foi deixada para trás. Uma nova energia emergiu com o colapso das defesas que lhe sugavam a energia da sua vontade. Ela viu a sua libertação como o trabalho da graça. Ela cantou uma canção de libertação: “Contei tudo isto devagar para que se possa ver a misericórdia de Deus”. Uma freira de há quatro séculos atrás, dá-nos uma descrição da conversão, não o deixar sérios pecados, mas de, toda a maneira, uma conversão.
Quando está a reflectir no movimento decisivo de tomar a sua vida de modo responsável, ela sublinha dois factores importantes que a apoiam no processo: a oração, que ela vê como amizade com Deus, e a amizade humana. Ela escreve no Caminho de Perfeição: “Um bom modo de ter Deus é falar com os seus amigos, porque sempre se ganha muito com isto”. Nós encontramos confiança e esperança do apoio dos outros que também querem seguir a Cristo. Num mundo frequentemente hostil, estes são os companheiros de caminho que afirmam a nossa escolha de Deus. Quando o caminho é difícil de caminhar, eles estão ao nosso lado para elevarem os nossos espíritos lentos, para ajudar a reacender as cinzas da chama de amor quando elas se estão quase a apagar. Eles afirmam o nosso valor quando perdemos a confiança em nós.
Nós somos membros de Cristo e não caminhamos sós numa confiança pessoal isolada. N’Ele, nós fazemos parte de uma comunidade onde nós somos conscientes das necessidades dos outros e sabemos que eles, por seu lado, são sensíveis às nossas. Os dons únicos de cada um não são para o enriquecimento próprio, mas para a partilha. E nessa partilha esses dons nunca diminuem mas aumentam. A amizade humana é uma força de fortaleza e apoio para avançar espiritualmente.
Teresa avisa-nos: “Eu aconselharia aqueles que praticam a oração a procurar a amizade e a associação com outras pessoas que têm o mesmo interesse”. Ela urge que “uma pessoa que começa verdadeiramente a amar e a servir a Deus fale com alguns outros acerca das suas alegrias e dificuldades”.
A grande mística espanhola deixou-nos páginas que revelam alguém com grande vontade de nos ajudar na vida do dia-a-dia e das escolhas humanas. Ela não nos fala de uma altura distante com frases exaltadas. O seu é um vocabulário terra a terra. Foi dito que ela escreve no palavreado do mercado espanhol. O mercado é uma imagem boa, porque Teresa tem coisas a vender. Ela vem ao nosso encontro, puxa-nos pela manga da camisa. Ela não quer que nos vamos embora até que ela nos mostre alguns dos tesouros que enriqueceram a sua própria vida. E a sua mensagem é persuasiva. Nós também podemos esperar receber tudo o que lhe foi dado a ela.
Ela pega-nos na mão e diz no Caminho, “Para que possas andar neste caminho da oração de modo a que não te desvies, vamos lá a ver como é que a caminhada deve começar”. Ela diz-nos que necessitamos de determinação, mas se nós “não fazemos mais do que dar um passo, o passo conterá em si tanta força” que nós seguiremos em frente e será “muito bem pago”.
Famosa pelas suas explicações sobre os estágios do desenvolvimento da oração, a Madre (como é conhecida em Espanha) quer passar tempo connosco nos primeiros estágios do desejo de Deus e ainda mais. Paralisados como podemos estar na lama da nossa própria ambivalência, Teresa vem até nós com a consoladora segurança de que ela esteve lá e descobriu como sair.
Ir. Margaret Dorgan, DCM
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
TRAÇOS DA VIDA SECULAR DE SANTA TERESA DE JESUS
Introdução
A proposta de levar ao conhecimento, dos interessados, sobre a vida dos Santos Carmelitas constitui um desafio deveras agradável. O Carmelo é um jardim com muitas e variadas flores, com matizes e perfumes diferentes, o que o torna atraente. Particularizando-se uma a uma, principalmente naquilo que mais requer ação de um jardineiro habilidoso, mergulha-se, então, num mistério que somente a ação divina pode elaborar. A riqueza espiritual de cada uma, as podas, as securas, a aridez, a irrigação, convidam, aos admiradores, a contemplar as belezas operadas pelo Bom Jardineiro numa alma que se deixa tocar. Assim aconteceu com esta belíssima flor chamada Teresa de Ahumada y Cepeda, ou melhor, Santa Teresa de Jesus, Virgem e Doutora da Igreja.
Cenários da Espanha no Século XVI
O século dezesseis, caracterizou-se fortemente pelo rompimento e reformas das estruturas, então vigentes em toda a Europa, que se desenvolveram ao longo dos séculos anteriores.
No final do século XV, Cristóvão Colombo descobriu o novo mundo e Vasco da Gama, o caminho marítimo para as Índias, abrindo, assim, a ação da Igreja, novas e vastas regiões que a compensaram das perdas sofridas na Europa pela Reforma Protestante.
Ao longo do século XVI, a Igreja sofreu profunda e dolorosamente este impacto.. O paganismo renascente, o protestantismo e o jansenismo arrastavam como um flagelo muitos de seus filhos, enquanto o Islão lançava, dos minaretes de Constantinopla para as bandas da Itália, o olhar cada vez mais ávido. Entre os numerosos mártires que morreram nas mãos dos hereges, lembramos aqui os de Gorcum nos Países-Baixos e São João Fisher e São Tomás More na Inglaterra. Para combater o espírito do mal que ameaçava subverter a sociedade, Deus suscitou S. Inácio de Loyola, o primeiro geral da Companhia de Jesus,
Santo Inácio, nobre espanhol, converteu-se aos 30 anos de idade, depois de uma breve mas brilhante carreira nas armas, fundou a Companhia de Jesus. Alma profundamente militar, quis dotar a Igreja de uma milícia nova, aguerrida para a defesa da glória de Deus e a conquista das almas. No século em que o protestantismo arrebatou à verdadeira Religião um terço da Europa, Santo Inácio foi, sem dúvida, o lutador requerido pela Providência para atender , de modo pleno, às necessidades da Igreja e que foi, para esse tempo, e continua a sê-lo ainda a mais terrível milícia da Igreja e de Cristo. Santo Inácio e São Francisco Xavier e São Francisco de Borja são nobres florões espanhóis que honraram, neste século, as suas fileiras.
São Francisco Xavier foi um dos primeiros discípulos arregimentados por Santo Inácio de Loyola, e estava entre os fundadores da Companhia de Jesus. Pregou na Índia, no Japão e em outras nações do Oriente. Converteu e batizou muitos milhares de pagãos e praticou milagres portentosos. Faleceu aos 46 anos de idade, no momento em que se aproximava das costas da China, que pretendia conquistar para Nosso Senhor Jesus Cristo..
São Francisco de Borja pertencia a uma das famílias mais nobres da Espanha. Era duque de Gandia e exerceu elevadas funções de vice-rei da Catalunha. Certa ocasião, foi incumbido de acompanhar o transporte do cadáver da imperatriz Isabel, que falecera em Toledo, até Granada, onde se faria o sepultamento. O transporte foi lento e durou quinze dias. No momento de sepultar a imperatriz, o protocolo exigia que fosse aberto o caixão para ser reconhecido o cadáver; aquela que fora admirada por sua beleza deslumbrante estava reduzida a um amontoado de podridão. Tocado pela graça a propósito daquela cena chocante, Francisco compreendeu a vaidade de toda a glória mundana, e decidiu que se algum dia enviuvasse, se consagraria inteiramente a Deus. Assim de fato aconteceu. Enviuvou aos 40 anos de idade, renunciou a todos os seus títulos e bens e ingressou na Companhia de Jesus como filho espiritual de Santo Inácio de Loyola,
Santo Inácio, São Francisco Xavier e São Francisco de Borja são nobres valores espanhóis jesuítas que honraram, naquele século, as fileiras da Igreja.
São Pedro de Alcântara, rigoroso no espírito de pobreza e mortificação, reformou os frades menores, dando-lhes nova vida à então decadente espiritualidade franciscana. Dormia apenas duas horas por noite, comia somente um dia sim outro não, e costumava colocar cinza sobre a comida para não sentir nenhum prazer no alimento. Pregou na Espanha e em Portugal. Assistiu aos últimos momentos do piedoso rei D. João III, de Portugal, e muitas vezes respondeu a consultas que lhe fez o imperador Carlos V. À hora de morrer, ardendo em febre, recusou um copo de água que lhe ofereciam porque Jesus Cristo também sofrera sede. Pouco depois expirou e Santa Teresa, de quem tinha sido amigo e confidente, teve uma visão de sua alma subindo ao Céu. É padroeiro principal do Brasil. A Família Real portuguesa e a Imperial brasileira sempre tiveram grande devoção por esse Santo admirável. Lembre-se, de passagem, que o imperador D. Pedro II tinha o nome de Pedro de Alcântara em homenagem a ele.
São João de Deus – Português natural do Alentejo, fundou, em Granada, a Ordem da Caridade, que depois ficou mais conhecida como Ordem dos Irmãos Hospitalários de São João de Deus. É patrono dos enfermeiros e dos hospitais católicos. A oração da Missa alude ao milagre do incêndio dum hospital, em que o Santo, atravessando imunemente as chamas, salvou todos os doentes.
São Pascoal Bailão – Nascido no Reino de Aragão, era irmão leigo franciscano e se destacou pela humildade, pela obediência e sobretudo pela devoção ao Santíssimo Sacramento, diante do qual permanecia longas horas em adoração. É padroeiro dos Congressos Eucarísticos.
Cenário Musical
É interessante notar que também a música tenha contribuído também para a formação de sensibilidade de Teresa, pois como freqüentadora da corte palaciana dos reis católicos, tentou mesmos algumas pequenos versos. Irá, mais tarde, estimular sua verve poética , nas recreações conventuais.
A “zarzuela” é a irmã espanhola da opereta francesa e vienense; nas suas formas mais exigentes se aproxima evidentemente da ópera cômica, tal qual em Paris e Viena. Mas a sua história, quase desconhecida fora da península ibérica, é muito mais velha que a de suas irmãs francesa e vienense. Talvez se inicie com as famosas “’Eglogas” de Juan del Encina, que viveu durante o reinado dos soberanos católicos e foi, por conseguinte, contemporâneo de Colombo e Magalhães.
A “zarzuela” adotou como característico o número de dois atos, só passando muito depois para o de três; como a opereta, mistura figuras sérias e jocosas, canções e danças, palavras faladas e cantadas. Mas as cenas que a opereta prefere fazer desenrolar em países estrangeiros, desenrolam-se sempre na Espanha. Com a progressiva popularização, envereda a “zarzuela” por mau caminho, e passa por um período de decadência que dura até boa parte do século XIX.
O século XVI é um século de transição para a música: lado a lado, deparam-se-nos o antigo e o moderno. Mas cada vez mais nítido se esboça o futuro desenvolvimento. A música deixa de escravizar-se a outras idéias e ergue-se à altura de arte, repleta de individualismo e nacionalismo; o religioso e o profano separam-se e, enquanto a música litúrgica cada vez mais se retira, conquista a profana posição definida na vida artística, substituindo as artes plásticas, até então fiel expressão do espírito da época e do sentimento popular.
É preciso reconhecer que a genial invenção de Guttenberg exerceu influência decisiva no desenvolvimento musical. Foi Petrucci, em Veneza, em 1500, quem pela primeira vez imprimiu notas musicais.
Também a Espanha conheceu uma época de florescimento. Ao lado do grande Cervantes, vivem músicos de extraordinária reputação: Tomás Luís de Victoria ((1548?-1611), colega de escola de Palestrina, e Antonio de Cabezón (1510-1566), organista cego e tocador de clavicórdio na corte de Carlos V e Filipe II, verdadeiro Bach do século XVI e hoje injustamente esquecido...
Pintura
Muito embora El Greco tenha nascido em 1541 na ilha de Creta, e depois se transferido para a Espanha, os nobres já se deixavam retratar por pintores. El Greco aparece bem depois da vida secular de Teresa, numa época de transição, em que se mesclam as culturas bizantina, italiana e espanhola. Domenikos Theotokopoulos, conhecido como El Greco, amadurece seu talento pictórico na Espanha, reduto da Contra Reforma e do poder sagrado, sede da reação às transformações que se processavam na Europa. Quando, mais tarde, já no mosteiro, Teresa é retratada por Frei Miséria e critica-o por pintá-la “feia e remelenta.”
A Família de Teresa
Toledo, centro comercial de incomparável beleza, tinha a fama e a virtude de embelezar a pele e de transluzir os rostos lavados com a água do rio. Era também celebrada a formosura de suas mulheres juntamente com a castidade e honestidade. Não menos era admirável a sua religiosidade.
Nesta cidade, nasceu, por volta de 1440, Juan Sánchez de Toledo, filho de um mercador, judeu converso e casado com Dona Inés de Cepeda, oriunda das Tordesilhas Negociava ele tecidos e sedas. Teve, durante muitos anos, concessão de direitos reais e eclesiásticos que eram reservados aos fidalgos.
Por motivos religiosos, após cumprir penitência, imposta pela Inquisição, muda-se com sua família para Ávila. Dela são conhecidos os nomes de Alvaro, Pedro, Elvira, Lorenzo e Francisco, Hernando morava em Salamanca e Alvaro que ficou em Toledo. Estes toledanos eram considerados como “filhos de bons fidalgos e parentes de bons cavaleiros”.
O pai de Teresa chamado Alonso Sánchez, antes conhecido Pyna, teve dois filhos do casamento com Catalina del Peso y Henao, falecida em 1507, e que eram Maria de Cepeda (1506) e Juan Vásquez de Cepeda (1507). Após a morte da primeira mulher casou-se com Beatriz de Ahumada, mulher singular, quinze anos mais moça e prima terceira da falecida, com quem teve os filhos: Hernando de Ahumada (1510), Rodrigo de Cepeda (1513), Teresa de Ahumada, na madrugada primaveril de 28 de março de 1515, quinta-feira Santa, Lourenzo de Cepeda (1519), Antonio de Ahumada (1521), Jerônimo de Cepeda (1522), Agustin de Ahumada (1527) e Juana de Ahumada (1528). Dona Beatriz morreu em 1543.
O caráter de Teresa
Conforme Ana da Encarnação testemunha nos Processos, Teresa “foi criada e doutrinada pelos pais com grande virtude e recolhimento.”
De seu pai Alonso, Teresa herdou a honradez, a honestidade, a dignidade pessoal, a união familiar e a bondade, retidão moral, finas maneiras docilidade e determinação.
Dona Beatriz de Ahumada, mãe de Teresa, casou-se aos quatorze anos de idade. Era uma bela mulher, frágil, de traços finos e quase infantis, educação discreta, dedicada às leituras excessivas de romances de cavalaria para aliviar seu espírito. Religiosa e devota do rosário educava os filhos com mais liberdade. Graças à corrente cultural promovida pela Rainha, acumulava uma discreta cultura. Dela, Teresa, “a mais querida do pai”, herdou a formosura, a devoção ao rosário e o prazer de ler os romances de cavalaria, escondida do pai. Levou também consigo as enfermidades e enxaquecas. da mãe.
Do avó paterno, Teresa herdou um temperamento aberto, vivência e praticidade de vida, caráter empreendedor e extrovertido, de presença marcante em qualquer negócio e em toda a família. De sua avó materna, o nome Teresa.
O caráter de Teresa formou-se, portanto, de uma mescla de amplitude e de austeridade, de carinho extremo, até mesmo no empreendimento da fuga para o martírio, com seu irmão Rodrigo, e para o convento com o auxílio de outro irmão, Antonio Ahumada, Era devota de Nossa Senhora e outros Santos também, tais como: São José, Santo Alberto, São Cirilo, Todos os Santos , Santos Anjos, Anjo da Guarda, Santos Patriarcas, São Domingos, São Jerônimo, Rei Davi, Santa Maria Madalena, Santo André, O dez mil Mártires, São João Batista, São João Evangelista, São Pedro e São Paulo, Santo Agostinho, São Sebastião, Santa Ana, São Francisco, Santa Clara, São Gregório, São Bartolomeu, Jó, Santa Maria Egípcia, Santa Catarina Mártir, Santa Catarina de Sena, Santo Estêvão, Santo Hilário, Santa Úrsula, Santa Isabel da Hungria, São Miguel Arcanjo, São Martinho, e São Joaquim. Suas devoções advinham da leitura do Flos Sanctorum (Vida dos Santos) que lia com seu irmão Rodrigo. Foi ele o seu maior incentivador nas brincadeira de ermidas, nas leituras ouvidas, nos entretenimentos piedosos, nas cruzes e altares, nos santíssimos nomes de Jesus e de Maria.
Características físicas
Fisicamente, conforme seus historiadores, não era nem alta e nem baixa, discreta e formosa, de corpo bem proporcionado. O rosto não era nem anguloso e nem redondo, mas suave e transparente com três sinais pequenos. A tez alva e artisticamente encarnada. Os cabelos levemente encaracolados e reluzentes, a fronte larga e formosa, sobrancelhas espessas e delineadas. Os olhos, bem centralizados, vivos negros e redondos. Nariz, bem colocado, nem grande e nem pequeno e nem arrebitado. Sorriso, contagiante. Seriedade, respeitada. A boca, normal com os lábios superiores mais finos que os inferiores e carnudos, graciosa e colorida, e dentes muito brancos. As orelhas, pequenas e bem feitas. Pescoço alto e branco. Mãos lindas, embora pequenas. Era uma satisfação contemplá-la e ouvi-la pela sua graciosidade e eloqüência. Andar elegante, com saltos altos, e qualquer vestido lhe caia bem. Enfim, uma figura harmoniosa que continha todos traços dos bons atributos de caráter e, cada vez mais imprescindível em sua casa.
Seu pai, retraído por temperamento, vibrava com seus carinhos efusivos de filha. Sua mãe, considerava-a mais companheira do que filha.
A educação
Provavelmente, a preceptora de Teresa tenha sido sua mãe, Dona Beatriz, porque costumava-se atribuir às mães a educação da filhas, nas letras, nas leituras e nas atitudes e maneiras.. Escrevia com rapidez e elegância.
As romarias e procissões da Semana Santa, freqüentemente, passavam em frente de sua casa. Tudo lhe falava de Deus. Até o sino da Igreja.
Teresa alimentou um grande desejo de transmitir,num grande esforço pedagógico, que se transformou em propulsor de seu carisma empreendedor, missionário e fundador. Flos Sanctorum, seu dirigente e Abecedário espiritual, de Frei De Osuma, o início do despertar espiritual e do amor pela oração. Queria ser boa como seus pais, pois julgava-se muito ruim. Tudo girava ao seu redor e tomava partido de todos os assuntos. Queria ser eremita, porque ser mártir não a deixavam, ser caridosa e dar esmolas como o pai Rezava na solidão e cultuava suas devoções. Fazia com Rodrigo o jogo do sempre, sempre, sempre para a felicidade eterna ou a perdição para sempre.
A experiência, que se adquire, lendo a vida dos Santos ou dirigindo as consciências, mostra-nos que, sem o desejo da perfeição freqüentemente renovado, não avançam as almas nos caminhos espirituais. É exatamente o que nos diz Santa Teresa: “Não restrinjamos os nossos desejos; isto é de suma importância. Cremos firmemente que, mediante o auxílio divino e os nossos esforços, poderemos também nós, com o andar do tempo, adquirir o que tantos santos, ajudados por Deus, chegaram a alcançar. Se eles nunca houvessem concebido semelhantes desejos e se pouco a pouco não tivessem chegado a executá-los, nunca teriam subido tão alto... Ah! Quanto importa na vida espiritual animar-se às grandes coisas!” (Vida) A mesma Santa é um exemplo bem frisante desta verdade: enquanto não se determinou a romper todos os laços que retardavam o seu vôo para os cimos da perfeição, andou-se arrastando penosamente na mediocridade; e desde o dia em que resolveu dar-se inteiramente a Deus, fez maravilhosos progressos.
As amizades
Por algum tempo, Teresa cultivou amizade com uma prima e foi se deixando levar pela vaidade com suas mãos, cabelos, aparência, perfumes e relacionamento com os primos, conversas, aspirações e confidências levianas, inútil apego à honra, más influências das companhias e tendência para o mal. Relutou contra a vida monástica. Chegou mesmo a escrever , com seus irmãos, um romance de cavalaria. A este tempo, seu pai Alonso era muito severo para admitir visitas pouco recomendáveis.
Por causa da saúde de Teresa, seu pai interna-a no convento agostiniano que tinha como mestra de noviças, com fama de santa, Dona Maria de Briceño. Estabeleceu-se entre esta e Teresa uma nova amizade, mais limpa e atraente, para completar o vazio deixado pelas outras. Começou, então, uma era de orações bem suaves. Houve progresso, mas Teresa ainda relutava com a idéia de ser monja. Entretanto, para Teresa, constituía ainda um problema de suma importância e acabou minando sua saúde, com “quenturas e desmaios”. Voltou à casa paterna.
Relacionamento com os irmãos
Dona Maria, sua irmã dez anos mais velha, era austera e de caráter rígido, correspondeu com Teresa de forma carinhosa tal como mãe.
Seus irmãos, Juan de Cepeda e Hernando de Ahumada, deixaram vestígios de tratos com Teresa, pois Juan morreu muito jovem, como capitão de infantaria na guerra contra africana e Hernando partiu para a Índia.
Rodrigo, seu confidente íntimo, partiu da Espanha e legou seus bens à Teresa. Ela o estimava tanto, que ao saber de sua morte, teve-o como mártir.
Juan de Ahumada foi pouco conhecido pelos historiadores.
Antonio de Ahumada morreu soldado na batalha de Añaquito. Por ele, Teresa fez peregrinação a Guadalupe.
Lorenzo de Cepeda foi seu mais afortunado irmão. Correspondeu-se com Teresa, pedindo-lhe conselhos e dando conta de seus trajetos, quando ela já estava no convento.
Pedro da Ahumada foi aquele a quem Teresa mais exerceu a bondade e a paciência.
Jerônimo de Cepeda foi quem chegou a sentir a solicitude carinhosa de sua irmã.
Agustin de Ahumada, o mais jovem dos varões, foi também o mais inquieto requerendo os cuidados da irmã, que orou por ele sem cessar. Esteve, por muito tempo, no Chile, a serviço de Sua Majestade.
Juana de Ahumada, a caçula da família, foi alvo dos desvelos da irmã. Era considerada o retrato vivo da mãe.
A morte da Dona Beatriz
Conforme declarações de Isabel de São Domingos, “depois da morte de sua mãe e aflita com pena dela, suplicou diante da imagem de Nossa Senhora e a ela se ofereceu como filha, pedindo-lhe, com lágrimas, que a tomasse em lugar de sua mãe.” A ausência da mãe provocou um vazio naquela família, impossível de preenchê-la.
Com o casamento se sua irmã Dona Maria, seu pai leva Teresa para o convento da Graça, onde permaneceu por ano e meio mais ou menos. Ali, ela vai considerar sobre a vida frívola dos bailes como as pavanas e galhardas e chegar a reencontrar o caminho do bem de sua meninice. Teresa tinha, então dezesseis ou dezessete anos. Gostava de confessar-se com freqüência regular, porém não tinha muito êxito em direção espiritual.
A vocação de Teresa
Chegaram os momentos críticos com a política belicosa de D. Carlos V, sendo que as reservas espanholas se esgotavam. Os fidalgos enfrentavam, então, um momento nebuloso na história. Assim também, ocorreria com os irmãos Cepeda y Ahumada. Os negócios de seu pai não iam nada bem. Cada dia mais difícil com encargos maiores para o estado. A política agressiva de Carlos V desencadeou conflitos intermináveis com os protestantes, com os turcos e com os franceses que o instigavam constantemente.
Hernando de Ahumada parte para o Peru com a expedição de Hernando Pizarro.
Rodrigo tomou um rumo diferente. Foi para o Rio da Prata, unindo-se à expedição de D. Pedro de Mondoza. Atravessou a Cordilheira dos Andes, para morrer gloriosamente lutando contra os araucanos. Lorenzo e Jerônimo saíriam depois com os mesmos objetivos.
A saída dos irmãos provocava um vazio muito grande no coração de Teresa, principalmente a de seu querido Rodrigo, irmão de sua alma, com quem repartia os seus sonhos na busca de Deus pelo martírio.
Decidiu, então, mais um vez ser eremita na Ordem da Virgem do Monte Carmelo. O respeito ao pai ainda a detinha para o intento, mas seu coração já estava muito inflamado e nada mais podia detê-la. Rodrigo morreu “Como mártir pela fé” Confidenciou-se com seu irmão Juan de Ahumada. Também ele decidiu-se pela vida religiosa. Planejam então a fuga para o convento sem mesmo o consentimento do pai. Partiram, silenciosa e sigilosamente para o convento da Encarnação. A reação de D. Alonso foi desoladora, porém, resignou-se e permitiu que sua filha permanecesse no convento..
A fé cristã foi o motivo de tudo o que aconteceu..
Dois dias depois, 2 de novembro de 1536, recebia o hábito das monjas da Ordem da Virgem Santa Maria do Monte Carmelo.
RESUMO
O caminho da perfeição é interminável sobre a terra. A preparação ascética da vida purgativa e iluminativa acompanha Teresa desde o auto controle entre o bem e o mal para culminar na via unitiva e mística com “determinada determinação” de servir Sua Majestade. Já não se importa com a comodidade e tem firme propósito de servir a Deus e separar-se da família e conseguiu-o graças ao grande esforço e luta contra si mesma. Concretizado o seu objetivo, invade-lhe a alegria da vitória com o Senhor e por se livrar das inutilidades
O carisma carmelitano de Teresa começa no limiar da porta do convento...
A leitura de suas obras revelam o valor heróico de vencer todas as etapas do processo de humanização e de personalidade na ação transformadora no ambiente religioso de então. O esforço de se fazer humana educou-a tornando-se agente de sua própria transformação. Não seria completa sem as experiências de sua vida secular.
Sofrimento, doenças, lágrimas, desafios, ousadia, confiança, abandono, amizade, alegria determinação e oração somaram-se em sua vida secular como cenário para sua vida altamente mística com o pé no chão e o coração no alto.
Podemos, de vez em quando, fazer atos de amor puro, sem pensar absolutamente nada em nós, por conseguinte, sem esperar ou desejar atualmente o céu. Tal é, por exemplo, este ato de amor de Santa Teresa: “Se vos amo, Senhor, não é pelo céu que Vós me tendes prometido; se temo ofender-Vos, não pelo inferno com que seria ameaçada; o que me atrai para Vós, Senhor, sois Vós, somente Vós; é ver-Vos cravado na cruz, o corpo pisado, nas ânsias da morte. E o vosso amor a tal ponto se apoderou de meu coração que, ainda quando não houvera céu, eu Vos amara; ainda quando não houvera inferno, eu Vos temera. Vós não tendes que me dar coisa alguma, para provocar o meu amor; pois que, ainda quando não esperara o que espero, Vos amara como Vos amo.”
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E RECOMENDADA:
OBRAS COMPLETAS – Teresa de Jesus – Edições Loyola – 1995
TIEMPO Y VIDA DE SANTA TERESA – Efrén de la Madre de Dios y Otger Steggink
Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid – 1996
(Tradução livre e não autorizada, mas sem fins lucrativos)
(Pesquisa elaborada por Dyonísio da Silva para o curso de formação da Comunidade Maria, Mãe e Rainha do Carmelo – São Paulo, Jabaquara)
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Centenário da chegada dos Descalços no Sudeste
Em vistas da celebração do centenário da chegada dos Carmelitas Descalços no Sudeste do Brasil a celebrar-se a partir do próximo ano, tentaremos escrever um pequeno histórico daqueles inícios, a partir de pesquisas em livros e revistas da Ordem, da Província Romana e de anotações feitas pelo nosso frei Mariano Júnior, atualmente empenhado no resgate de nossa história.
Pequeno histórico da chegada dos frades Carmelitas Descalços no Sudeste do Brasil
1. A pedido de D. Assis
D. Antônio Augusto de Assis, nascido em 1863 na cidade de Lagoa Dourada (MG), foi nomeado Bispo Titular de Sura e Coadjutor de Pouso Alegre (MG) em 10 de julho de 1907, sendo o bispo diocesano D. João Batista Correa Nery. Com a transferência de Dom Nery para sua terra natal, Campinas, que fora escolhida para sediar uma das primeiras dioceses do interior paulista, Dom Assis foi nomeado Vigário Capitular de Pouso Alegre, em outubro de 1907, e nesta qualidade regeu a Diocese até maio de 1909. Em 27 de janeiro de 1909, foi nomeado como segundo Bispo de Pouso Alegre, tomando posse a 17 de novembro deste mesmo ano. A diocese de Pouso Alegre, criada em 1900, era a chamada "diocese do sul de minas", fazendo divisa com as dioceses de São Paulo e Mariana.
Estando à frente da Diocese D. Assis empenhou-se em prover um imenso território e mais de 800.000 pessoas de sacerdotes e missionários. Além de fomentar o clero local D. Assis era aberto reconhecia a importância da presença de religiosos na diocese e, no curto espaço do seu bispado, foi em busca dos consagrados para atuarem no seminário e no colégio diocesano e para assumirem a missão na região de Córrego. Para o seminário chamou os Missionários do Sagrado Coração, única família religiosa masculina presente em todo o território da atual arquidiocese, que chegaram em maio de 1911. Para a missão chamou os Carmelitas Descalços.
Seu contato para trazer os Descalços para o Sul de Minas foi com o Cardeal Gaetano de Loi, então protetor da Ordem. O Cardeal entra então em contato com o Provincial Romano que iniciará o processo de decisão na Província até o envio dos primeiros missionários ao local.
O desejo de o bispo de Pouso Alegre ter os carmelitas pode explicar-se pelo devotamento que o bispo tinha ao Carmelo, talvez desde a época em que fora pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo em Borda da Mata, na mesma região de Pouso Alegre. O Carmelo vai-lhe coroar a trajetória como bispo - em 1916 deixa a Diocese de Pouso Alegre para assumir a nova diocese de Guaxupé (a diocese possui três paróquias dedicadas a Nossa Senhora do Carmo); em 1918 vai para Mariana, como auxiliar de D. Silvério; com a morte de D. Silvério, D. Assis decidiu morar no Rio de Janeiro, no convento da Ajuda; mas, em 1931, com 68 anos, foi designado para assumir a então recém-criada diocese de Jaboticabal, no interior de S. Paulo, sendo seu primeiro bispo. Aí D. Assis falecera em 1961. Depois de ter sido enterrado na Catedral de São João del-Rei (MG), seus restos mortais foram transferidos para a Catedral de Jaboticabal, dedicada à Gloriosa Virgem Maria do Monte Carmelo, onde repousa aos pés da excelsa Mãe a quem tanto amou.
2. A Província Romana
Depois da morte de Santa Teresa (1582), a Ordem dos Carmelitas Descalços se estendia na Itália com as fundações dos conventos de Gênova (1584) e de Santa Maria da Scala em Roma (1597). No dia 13 de Novembro de 1600, Clemente VIII decretava o nascimento da Congregação Italiana de Santo Elias. A nova Congregação teve uma prodigiosa expansão.
No Capítulo Geral de 1617, em 12 de maio, foi dividida em seis províncias, entre as quais a da Província Romana, com o título da Purificação de Maria Santíssima. O território da Província, que inicialmente se extendia por todo o Estado Pontifício, as Duas Sicílias e Malta, foi, com o nascimento de outras Províncias, restringindo-se a Lazio, Umbria e Abruzzo.
No início do século XX, depois que a Ordem conhece um período longo de perseguições e renasce com a unificação das Congregações Italiana e Espanhola, a Província Romana cresce e assume a Missão do Líbano e da Síria em 1908. Em 1911 inicia a Missão no Brasil. Em 1968 assume a Missão no Congo. Todas as três missões tiveram pleno êxito, tornando-se independentes da Província com o crescimento das vocações locais.
3. A região que margeia o rio Sapucaí
No extremo sul de Minas uma muralha verde dá as boas vindas a quem chega. A Serra da Mantiqueira, que tem seu nome originado do 'Amantikir' e significa "montanha que chora", com suas matas fechadas, foi um grande desafio para os primeiros desbravadores. Os índios foram os primeiros habitantes das serras, como comprovam as inscrições rupestres e os sítios arqueológicos. Depois vieram os bandeirantes em busca de ouro, seguindo o trajeto do rio Sapucaí, cujo nome deriva das sapucaias -- árvores que crescem em suas margens, e que nasce próximo aos municípios de Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí, no estado de São Paulo, e deságua no rio Grande, no município de São José da Barra, próximo à hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais. Nas suas margens vão nascendo pequenos povoados (Bom Repouso, Bueno Brandão, Cachoeira de Minas, Cambuí, Camanducaia, Conceição dos Ouros, Consolação, Córrego do Bom Jesus, Estiva, Extrema, Gonçalves, Inconfidentes, Itapeva, Paraisópolis, Sapucaí-Mirim, Senador Amaral, Tocos do Moji e Toledo, etc).
Os bandeirantes que foram para a região em busca do ouro, não o acharam (ele se encontrava mais ao centro das Gerais). Depararam, porém, com terras férteis e rios generosos. As cidades da região do Sapucaí e da Serra da Mantiqueira mantêm os hábitos de vida simples. Estão presentes nesse cotidiano o fogão a lenha, as quitandas, o queijo artesanal, doces, geléias e pães, além dos pratos típicos da apreciada cozinha mineira. Nestas paragens, as mãos do povo montanhês expressa em arte sua cultura e sua visão de vida através do barro, da palha, da madeira e do tecido. A arte também revela, nas festas típicas da região, a fé daquela gente.
Foi nesta região que os Carmelitas Descalços da Província Romana são enviados em Missão no ano de 1911.
4. Partida e chegada dos quatro pioneiros
O final do século XIX e a primeira metade do século XX foi um período de chegada no Brasil de muitos missionários das modernas congregações nascidas na Igreja nestes tempos. Os Descalços também conhecem naquela época uma grande expansão missionária. Neste clima, o pedido de D. Assis aos Carmelitas Descalços da Província Romana, de enviarem missionários para sua Diocese, encontrou acolhida entusiasmada no coração da Província. Frei Rodrigo de São Francisco de Paulo era o Provincial de turno que em 1910 tudo prepara para que a missão se inicie: apresenta o pedido ao conselho da Província, percebe por parte dos frades a acolhida, vai em busca dos frades dispostos para a empreitada, faz o pedido à Ordem.
Depois dos trâmites legais e das devidas autorizações, inclusive por parte de Fr. Ezequias do Sagrado Coração, Geral da Ordem, passa à preparação da documentação dos frades escolhidos para partirem no início do ano seguinte. Os pioneiros da missão no Brasil são os sacerdotes Fr. Arcanjo de São Pedro, Fr. Marcelino de Santa Teresa, Fr. Mauro de São José e o irmão-leigo Fr. Afonso de Santo Agostinho.
Eles partem do Porto de Gênova no dia 11 de março a bordo do Navio de propriedade do Lloyd Italiano de nome Cordova (rebatizado como Rio de Janeiro em 1912 e em 1913 chamado com o nome de origem, foi torpedeado e afundado perto de Cape Armi, na Itália, em 1918), colorido de amarelo e preto na chaminé e atraca no porto do Rio no dia 26 de março, depois de 16 dias de viagem transatlântica.
Os frades chegam no Brasil no ano em que governava o país o militar Hermes da Fonseca, no ano em que os marinheiros se revoltaram no Rio contra a injusta chibata, no ano da fundação de um clube de imigrantes italianos (o guarani, de Campinas, fundado em 2 de abril), num ano em que, no dizer de Nelson Rodrigues, "ninguém bebia um copo d'água sem paixão". Após chegarem ao Rio de Janeiro, os quatro expedicionários vão a cavalo para o Sul de Minas e chegam a Pouso Alegre no dia 02 de abril.
5. Córrego do Bom Jesus: o início
A cidade de Córrego do Bom Jesus foi escolhida para a instalação da comunidade. Fr. Arcanjo é o superior, pároco, e vigário provincial da nova missão. Nascido em 14 de Março de 1871, professou na Ordem no dia 29 de Março de 1887 e no dia 21 de Maio de 1897 foi ordenado sacerdote. Na Província Romana foi Definidor Provincial. Douto e pio, destacava-se por ser um grande pregador e professor de música sacra.
Quando a Província decidiu reabrir o convento da cidade de Terni, onde encontram-se os restos mortais de São Valentino, patrono dos namorados, Fr. Arcanjo foi nomeado prior daquele convento e com firmeza e tato convocou a população a retomar a sua vida religiosa, pois muitos, naquela região, influenciados pela doutrina marxista, tinham-se afastado da Igreja. Fr. Arcanjo foi escolhido a dedo para chefiar o grupo dos primeiros missionários no Brasil, para onde foi e dedicou seus últimos anos de vida.
Em Córrego os frades buscam conhecer a realidade e dar vida à comunidade. O que os frades encontram? Córrego do Bom Jesus era um pequeno povoado, elevado a distrito de Cambuí não muito tempo antes da chegada dos frades (1889). Naquele tempo contava com uma população de uns 3.000 habitantes. Mas naquela época já era um centro de peregrinação para toda a região do vale de sapucaí.
De fato a igreja foi construída em 1865 e é em torno dela que o povoado começou a surgir. O templo foi dedicado ao Sr. Bom Jesus. A Paróquia foi criada quando Córrego pertencia à Diocese de S. Paulo, em 1899. Mas o crescente movimento de fiéis que visitavam a Igreja levou d. Assis, bispo da Diocese de Pouso Alegre, a planejar elevá-lo a Santuário. Nos planos do bispo a chegada dos Carmelitas revitalizariam o santuário que o bispo cria na primeira visita pastoral que faz aos Carmelitas depois de sua chegada, no dia 4 de agosto de 1911. Nesta visita, inclusive, D. Assis pede que os frades procurem instruir o povo e chamá-lo aos sacramentos. A importância, portanto, desta igreja, na região, é que levou D. Assis a pedir aos frades que habitassem em Córrego, e não em Cambuí, sede da municipalidade.
A devoção ao Sr. Bom Jesus
A imagem do padroeiro foi confeccionada em Portugal, pelo escultor Manoel Soares de Oliveira e pintada por João Teixeira especialmente para umas das Igrejas do Império do Brasil. A obra de tamanho natural e esculpida em madeira policromada representa o ECCE HOMO.A imagem pesando cerca de 70 KG figura um dos passos da Paixão de Jesus. Flagelado e coroado de espinhos, é apresentado ao povo pelo juiz – com as mãos atadas e o olhar voltado para o céu, o seu semblante exprime serenidade numa perfeita expressão de dor. A data de fabricação embora desconhecida é supostamente pertencente ao 3º quartel do século XIX.
No dia 17 de junho de 1873 os jornais da cidade do Porto, "Comércio do Porto" e "O Progresso Comercial" falaram sobre o escultor e a exposição da imagem no Porto. Entre as especificações estava o tamanho natural da imagem, e a expressão de dor na fisionomia do Senhor preso em um dos Passos da Paixão de Jesus, apresentado ao povo pelo juiz, flagelado e coroado de espinhos. Outros jornais do Porto, como "A Palavra", o "Primeiro de Janeiro" e o "Jornal da Manhã", também se manifestaram no mesmo sentido.
A histórica imagem foi trazida do Rio de Janeiro em um carro de bois em 1873. Segundo uma transcrição do jornal "A Propaganda" de 22 de setembro de 1904, a imagem começou a ser ovacionada e transportada pelo povo em Jaguary. A imagem foi abençoada e veio em procissão com a música do Sr. Brito, até a entrada do Córrego, na época freguesia, onde aconteceu o encontro com a imagem de Nossa Senhora, acompanhada de mulheres e de música do Sr. Quintino.
O Reverendo Caramuru falou para milhares de pessoas sobre a bondade de Deus para com os homens, perdoando-lhes até na hora em que o mataram, e exaltou os fieis como um exército comandado pelo coração e obedecendo pelas lágrimas. A procissão seguiu por ruas cobertas de folhas e flores, com as janelas embandeiradas. Ao entrar na matriz o Reverendíssimo Padre João Borges Soares de Figueiredo pediu a todo que rezassem um Pai Nosso, para aquele que mandou vir do Porto aquela imagem soberanamente perfeita.
Assim ficaram estabelecidas as festas do Senhor Bom Jesus do Córrego.
A primeira festa aconteceu antes da chegada da imagem de Bom Jesus em 1873. Conhecida como "Festa do Córrego" ou " Festa de Agosto", a cada ano atraía mais festeiros e devotos. Fr. Arcanjo e seus confrades encontram, portanto, o campo espiritual da região de Córrego em plena expansão e empenham-se em evangelizar através da devoção do Bom Jesus, através da dedicação na formação do povo, nas horas ininterruptas passadas no confessionário, das pregações e Missas, mas também reforçando a beleza das tradições locais que dava uma identidade cada vez mais sólida àquele povo, com seus carros de boi, sua decoração colorida e sua culinária.
6. Cambuí e região: a messe é grande
O convento-sede da missão brasileira dos frades da Província Romana instala-se em Córrego, no dia 2 de abril de 1911. Mas a Paróquia principal localizava-se na sede do município, Cambuí, de onde Córrego era distrito. Logo após a chegada dos frades D. Assis dá provisão de Pároco de Nossa Senhora do Carmo de Cambuí ao frei Marcelino de Santa Teresa.
a) A cidade e a Paróquia de Cambuí
A Cidade de Cambuí nasceu como uma parada entre Camanducaia e Pouso Alegre, e recebeu este nome devido as árvores que povoavam as margens do Rio das Antas. Seu nome significa "a planta ou a folha que se desprende". Nos longínquos anos de 1787 já existem relatos sobre lugarejos denominados "Rio do Peixe" e "Roseta" - sendo que o nome Cambuí aparece pela primeira vez no ano de 1789 num livro de batismos da Paróquia de Camanducaia. De fato, Camanducaia, antes chamado Jaguari, foi o antigo povoado a qual pertencia Cambuí.
A região dia-a-dia se torna mais povoada, até que, por iniciativa do Capitão Francisco Soares de Figueiredo, nascido em Portugal e radicado em Campanha, e com a doação de um terreno pelo Capitão Joaquim José de Moraes e sua esposa, a Sra. Isabel Pinheiro Cardoso, é erigida uma capela em homenagem a Nossa Senhora do Carmo no lugar hoje denominado "Cambuí - Velho".
A localidade, no entanto, vai se desenvolvendo, e a igreja começa a sofrer o desgaste do tempo. As casas, feitas de taipa e adobe, são erigidas de modo desorganizado e o lugar é de acesso muito difícil.
Tendo em vista estas dificuldades, em agosto de 1834 é levado um documento à Cúria de São Paulo, pedindo autorização para a construção de outra capela num lugar melhor - onde hoje se situa a igreja matriz. Concedida à licença e após ser construída a igreja, é feita a mudança dos habitantes - que fazem uma procissão rumo à terra do Novo Cambuí.
Com a mudança, Cambuí se desenvolve e em 1850 o pequeno Curato de Camanducaia é declarado Paróquia - confirmando a autonomia da organização eclesiástica. Cambuí se mantém influente na região. Tem em pleno século dezenove, com as dificuldades do transporte, duas bandas de música, revelando sua inclinação às artes e à cultura que viriam a ter os cambuienses. Além disso, com o desaparecimento do Capitão Soares em 1864, assume o comando da freguesia o Tenente Coronel Francisco Cândido de Brito Lambert, também vindo de Campanha, que logo ocupa a Presidência da Câmara Municipal de Camanducaia mostrando o prestígio político dos habitantes de Cambuí.
Cambuí cresce e se desenvolve. Comerciantes, sapateiros, fazendeiros, tropeiros aquecem o cenário local até que em 24 de maio de 1892 Cambuí se torna cidade confirmando sua independência política.
Após a emancipação de Cambuí em 1892, seus habitantes liderados pelas figuras de José Alexandre de Moraes, Capitão Zeferino de Brito Lambert, Padre José da Silva Figueiredo Caramuru, Capitão Antonio José de Brito Lambert e Antonio Evaristo de Brito dão início à adaptação do novo município. A cidade, que também é elevada a Comarca prospera a cada dia. Abarcando os municípios de Senador Amaral, Bom Repouso e Córrego do Bom Jesus, tendo uma vida cultural intensa.
b) Frei Marcelino de Santa Teresa - Pároco de uma cidadezinha que cresce aos poucos
A Paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Cambuí foi fundada em 1850, o que marcou também a emancipação do município. Com a chegada dos Carmelitas em 1911 fr. Marcelino assume a Paróquia.
Fr. Marcelino de Santa Teresa (Henrique Dorelli) nasceu em Roma no dia 25 de agosto de 1864. Professou na Ordem no dia 28 de agosto de 1883 e no dia 21 de setembro de 1889 foi ordenado sacerdote. Depois de ordenado foi professor de filosofia no Colégio da Província Romana de Caprarola e em 1900 (24 de novembro) foi nomeado pela Sagrada Congregação de Propaganda da Fé como Missionário Apostólico. Em 1911 se une aos primeiros missionários que vêem ao Brasil e assume, logo na sua chegada, a Paróquia de Cambuí.
Fr. Marcelino empenha todo o seu zelo pelas almas aos seus cuidados nos três anos que ficou à frente da Paróquia, sem deixar de participar dos atos de sua nova comunidade, fixada em Córrego. A distância entre a cidade de Cambuí e o distrito de Córrego é pequena, uns 15 quilômetros e o frade vive entre as duas cidades e o grande campo missionário em torno de Cambuí, formado por pequenas capelas privadas nas muitas fazendas e pequenos povoados espalhados pela região montanhosa.
Em 1911 a Praça da Matriz era um descampado de terra, cercado de arame farpado. Não havia uma única árvore para amenizar o calor. A Igreja, modesta, possuía um torre solitária que fazia sombra a imagem do Cristo que chamava os fiéis a frente de sua porta principal. Ao lado da Igreja, funcionava o Mercado Municipal. Em uma das primeiras imagens da cidade de Cambuí, provavelmente do início do século XX, observa-se no seu ponto mais alto a presença dominante de uma pequena igreja constituídade dois corpos em planta retangular, com cobertura em telhado de duas águas.
Nessa época, no entorno da igreja já estava delimitada a praça principal, composta de edificações da primeira geração da cidade, que compreende o período entre a sua fundação e meados da década de 1930. Nas edificações desse período utilizavam-se o sistema construtivo denominado “pau a pique”, fundações corridas de pedra, telhas de barro “tipo colonial”, largos assoalhos, portas e janelas de madeira de grandes dimensões. Observa-se também nessa época a presença de lotes arborizados de grandes dimensões no seu sentido longitudinal. As edificações e lotes de Cambuí tinham então características urbanas e arquitetônicas do Brasil – Colônia.
Mesmo sendo tão pequena e pacata, Cambuí possuía um jornal semanal, chamado Correio do Povo e editado pelo Dr. Dráuzio de Alcântara e José Alexandre de Moraes. Dele, restam apenas 2 exemplares conhecidos: de dezembro de 1911 e julho de 1912, então em seu número 37, justamente nos dois primeiros anos do curato de fr. Marcelino.
Fr. Marcelino e o novo cinema na cidade
Em 1912 inaugura-se na cidade de Cambuí o seu primeiro cinema. Não se pode precisar sua inauguração, mas ocorreu antes desta data, 14 de Julho de 1912. Funcionava no largo atrás da Igreja Matriz, onde funcionava o mercado. O Recreio Cinema era de propriedade do Major José Luiz Tavares da Silveira, farmacêutico formado em Ouro Preto, na época capital de Minas Gerais, antigo Juiz de Paz e presidente da Câmara Municipal no século XIX. Em 1912, o acesso a Cambuí era por caminhos de tropas de burros. Uma viagem levava dias, enfrentando lama e cansaço. Poucas pessoas, àquela época, conheciam outros lugares exceto a própria cidade. O cinema era uma porta para o mundo para aquela gente e trouxe novidades para a cidade. Naquele tempo, o cinema era o grande propagador de imagens, e as pessoas somente poderiam conhecer a Pérsia e outros lugares exóticos no cinema, além da própria cidade de São Paulo e do Rio de Janeiro, a Capital Federal. Fr. Marcelino se vê nesta situação. No jornal "A Montanha", de 30/02/49 Levindo Lambert nos conta:
"A inauguração do cinema foi um acontecimento de grande ressonância em Cambuí e seus arredores. Instalara-o uma empresa, de que era presidente o saudoso farmacêutico José Luiz Tavares da Silveira. Os trabalhos técnicos foram feitos pela inteligência brilhante de João Batista Corrêa, mais tarde substituído pelo não menos inteligente Lázaro Silva. Não havia luz elétrica na cidade. Um motor a gasolina produzia a luz interna e externa e acionava o projetor. A banda de Música do Zeca Preto rompia um dobrado nos confins da Rua Coronel Lambert e marchava para o cinema arrastando já um punhado de assistentes.
A Igreja se esvaziava e Frei Marcelino Dorelli, carmelita descalço, pregava zangado: - Calígula tinha um cavalo chamado Incitatus. Elegeu o cavalo Senador de Roma e dava banquetes, comidas finas e bebidas gostosas. Mas o cavalo relinchava e pateava quando via um feixe de alfafa. E concluiu cheio de humor: O Povo de Cambuí é como o cavalo de Calígula: deixa a Igreja para procurar o Cinema... Não adiantava a arenga do frade ingênuo e bom. O povo largava a reza e acompanhava mesmo a Banda de Música, a caminho do cinema."
Cambuí, àquela época, não tinha energia elétrica. a aquisição de gerador potente para a iluminação pública, particular e urbana. E isso foi feito, com algum êxito. A luz era dada aos usuários e logradouros até às 23 horas. Esse sistema perdurou até 1924.
c) A Matriz de Nossa Senhora do Carmo
No ano seguinte ao início de seu pastoreio, Fr. Marcelino dá início à reforma da Matriz de Nossa Senhora do Carmo, no dia 8 de setembro de 1912. A igreja construída pelo Capitão Soares, um dos fundadores da cidade, apresenta em uma das suas imagens mais antigas as seguintes características: frontispício simples, com uma portada com verga reta sobreposta por cinco janelas, encimada por um frontão triangular marcado por quatro pináculos na sua base e uma pequena escultura em forma de uma ave no vértice.
Do lado direito da igreja havia uma pequena torre sineira, mais baixa que o frontispício, com sua parte superior vazada e coberta por um telhado em forma piramidal. Na frente, na sua parte mediana, foi instalada uma cruz de madeira e no seu lado direito foi construído um coreto em forma octogonal, com estrutura também de madeira.
Fr. Marcelino inicia a reforma da antiga igreja que os párocos posteriores terminam antes de 1920, dando lugar a uma outra em estilo neogótico. Essa igreja tinha no primeiro pavimento dois nichos laterais em arco e uma pequena escada que dava acesso a uma porta central em arco pleno, sobreposto por um outro arco ogival. O segundo pavimento era composto de dois pares de vitrais laterais em arcos encimados por arcos ogivais, tendo no seu centro uma porta de madeira, também em arco com balaustrada.
Na fachada principal da igreja existia uma torre central de base quadrangular, com uma janela em arco na sua fachada principal. O coroamento da torre era em forma de pirâmide, assentada sobre a terminação triangular das suas fachadas. Na frente da igreja foi implantada uma escultura representando o Cristo sobre uma base em forma de paralelepípedo, com o globo terrestre em uma das mãos. A reforma da igreja foi acompanhada de obras de urbanização da praça.
d) Despedida de Fr. Marcelino
Em 1913 Fr. Marcelino contrai a malária e é obrigado a retornar a Roma. Habita no convento de Santa Maria della Scala onde trabalha na investigação histórica da Província Romana. Em 20 de fevereiro de 1946 falece na cidade eterna. Seu substituto na Paróquia de Cambuí foi fr. Mauro de São José, que assumiu a Paróquia de 1913 a 1914.
e) Uma terceira Paróquia
No final do mês de maio de 1911, portanto no mês seguinte á chegada dos frades na região de Cambuí, D. Assis pede que os frades assumam também a Paróquia de Jaguari. Fr. Mauro de São José foi indicado para assumí-la e chega a receber a provisão do Sr. Bispo. Mas o Pároco local, Cônego Saturnino de Paula Conceição, não aceita a nomeação nem sua transferência, e D. Assis então pede que Fr. Mauro assuma uma outra Paróquia: a de Capivari do Paraíso e Bom Retiro, que distava 18 quilômetros de Córrego. Frei Mauro assume a cura da comunidade e vai para lá duas vezes por mês para celebrar as Missas e administrar outros sacramentos.
A situação em Capivari ficará assim pelos próximos anos, com a impossibilidade do Pároco de fixar residência por lá. No dia 10 de setembro de 1914 Frei Nicolau, frade que virá para a região na segunda leva de missionários que chega em 1912, assume a Paróquia no lugar de Fr. Mauro. Até 1916 ele partilha o trabalho pastoral naquela região com fr. Félix, fr. Anselmo e Fr. Jerônimo.
A situação, porém, vai ficando difícil, porque os frades começam a deparar-se com outros pedidos e fundações. Com todo o esforço dos frades a Paróquia de Capivari continua com uma assistência pequena e esporádica. Com a posse do novo bispo de Pouso alegre, D. Otávio Chagas de Miranda, no dia 29 de junho de 1916, o povo de Capivari lhe apresenta, em sua primeira visita pastoral à Paróquia no dia 19 de outubro, o pedido para um Pároco que seja residente. Na impossibilidade dos frades de poderem fundar ali um outro convento, D. Otávio indica um outro pároco para aquela comunidade e os frades, oficialmente, deixam os cuidados pastorais da Paróquia. No dia 20 de dezembro o Padre Lauro de Castro tomará posse em Capivari.