A mística de João da
Cruz não aliena, ela envolve e nos projeta na vida e nos obriga a sair de nós
mesmos. Para encontrar a verdadeira felicidade é preciso encontrar-se consigo
mesmo, com Deus e com os outros, para ter o sabor da liberdade.
Há um poema de João da Cruz que gostaria de colocar aqui: é a sua
e nossa biografia. Com toque delicado, João da Cruz, no Pastorcito, nos
apresenta quem somos nós e o que queremos.
"Um Pastorinho,
só, está penando,
Privado de prazer e de contento,
Posto na pastorinha o pensamento,
Seu peito de amor ferido, pranteando.
Privado de prazer e de contento,
Posto na pastorinha o pensamento,
Seu peito de amor ferido, pranteando.
Não chora por tê-lo o
amor chagado,
Que não lhe dói o ver-se assim dorido,
Embora o coração esteja ferido,
Mas chora por pensar que é olvidado.
Que não lhe dói o ver-se assim dorido,
Embora o coração esteja ferido,
Mas chora por pensar que é olvidado.
Que só o pensar que
está esquecido
Por sua bela pastora, é dor tamanha,
Que se deixa maltratar em terra estranha,
Seu peito por amor mui dolorido.
Por sua bela pastora, é dor tamanha,
Que se deixa maltratar em terra estranha,
Seu peito por amor mui dolorido.
E disse o Pastorinho:
Ai, desditado!
De quem do meu amor se faz ausente
E não quer gozar de mim presente!
Seu peito por amor tão magoado!
De quem do meu amor se faz ausente
E não quer gozar de mim presente!
Seu peito por amor tão magoado!
Passado tempo em
árvore subido
Ali seus belos braços alargou,
E preso a eles o Pastor ali ficou,
Seu peito por amor mui dolorido." (Poesia 7)
Ali seus belos braços alargou,
E preso a eles o Pastor ali ficou,
Seu peito por amor mui dolorido." (Poesia 7)
João da Cruz exige uma leitura atenta, amorosa e repetitiva — pelo menos três vezes — para entrar em sua linguagem amorosa. Afinal, a linguagem do amor, só quem se decide a amar, pode conhecê-la."
Fonte: Frei Patrício Sciadini, OCD