Proposta de retiro feita, a
pedido dos superiores carmelitas da América Latina, por Frei Carlos Mesters,
DomVital Vilderink, Frei Romualdo Borges de Macedo, Ir. Marlene Frinhani e Ir.
Dazir Campos.
I- CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES
1. Antes de ser carmelitana, a
vida deve ser
humana
.
* O retiro deve levar a
entender melhor e em maior profundidade o sentido da vida humana e deve levar a
pessoa a ser mais humana.
* No início do retiro deve
haver uma dinâmica pela qual se fica sabendo qual a compreensão que cada um tem
da Vida Humana.
* A vocação carmelitana
responde ao mais profundo do “humanum” dimensão constitutivo do ser humano, é a
sua dimensão fundamental.
2. As pré-compreensões: ter bem
claro a visão de espiritualidade que está na base do retiro
* A visão linear evolutiva (cosmos, anthropos, logos)
de Theilhard de Chardin
* A visão tradicional
(egresso de Deus, regresso para Deus) que está na base da teologia tradicional
e de grande parte da própria Bíblia
* A visão da busca do Centro
(“busca-te em mim, busca-me em ti” Teresa d’Ávila) que é mais de acordo com a
tradição carmelitana e que será a visão de base na orientação do retiro.
* O arco do retiro é
construído em cima da visão da busca de Deus como Centro
* É importante que isto seja
claro para o orientador ou orientadora do retiro.
* De vez em quando, ao longo
do retiro, esta visão deve ser explicitada, para evitar que se misturem as
visões na cabeça das pessoas.
II-O OBJETIVO ESPECÍFICO DE UM
RETIRO CARMELITANO
Sabendo aonde se quer chegar,
determina-se o ponto de partida e o ponto de chegada do retiro, elaboram-se o
itinerário espiritual a ser percorrido e os passos a serem dados. Tendo claro o
objetivo, será possível determinar também a dinâmica apropriada, a divisão dos
assuntos, o jeito de fazer a oração e as celebrações e a maneira de organizar
os dias.
No encontro dos Superiores e
Superioras maiores Carmelitas da América Latina, realizado no mês de setembro de
2002 no Rio de Janeiro, foi pedido que o retiro tivesse o seguinte objetivo. A
vivência do Evangelho nas comunidades eclesiais de base leva as pessoas a terem
uma visão crítica da realidade e faz nascer nelas um compromisso sério com a
transformação tanto da própria vida pessoal como da vida comunitária e da vida
social. A experiência mostrou que, para uma pessoa poder manter-se firme neste
processo de conversão, de mudança e de transformação tanto pessoal como social,
é importante ela ter motivações claras e profundas (1) para poder vencer o
desânimo, (2) para poder discernir entre as ideologias que muitas vezes tentam
camuflar a realidade, (3) para poder agüentar as noites escuras da fé, (4) para
poder olhar para alem do fenômeno da secularização; (5) para poder enxergar o
sentido da sua vida para além dos limites de tempo e espaço da sua própria vida
pessoal, ou seja, para além do seu próprio nascimento e morte.
Com outras palavras, é importante
e necessário ter uma espiritualidade profunda, nascida da experiência concreta
pessoal e comunitária de Deus e não apenas fruto de raciocínio ou de leituras.
O objetivo do retiro é para ajudar as pessoas a iniciar ou a aprofundar dentro
de si e do seu próprio centro de vida esta espiritualidade de resistência e de
compromisso.
O retiro carmelitano terá que ser
uma experiência concreta e prática do lema do profeta Elias: “Vivo é o Senhor
em cuja presença estou”, e da atitude de Maria: “Faça-se em mim segundo a tua
palavra”. Ou seja, deve provocar nos participantes uma abertura cada vez maior
para a presença de Deus e para a ação da sua Palavra no “centro” de nós mesmos.
Este abrir-se para a Palavra de Deus e esta vivência da presença de Deus
possuem dentro de si uma dinâmica própria que leva a pessoa a percorrer um
itinerário espiritual em busca de Deus e do seu próprio centro. O retiro terá
que ser a vivência deste itinerário.
O objetivo de um retiro
carmelitano terá que ser: viver mais intensa e mais conscientemente aquilo que
a espiritualidade carmelitana propõe como ideal de vida e que é o ideal de todo
cristão: “Viver em obséquio de Jesus Cristo”. Para que um retiro possa alcançar
este objetivo é necessário que ele tenha uma dinâmica própria, tirada da Regra
e da Tradição da Família Carmelitana. Trata-se de aprofundar a maneira
carmelitana de “viver em obséquio de Jesus Cristo”. Tudo deve ser organizado e
orientado em vista do objetivo geral: configurar-se a Jesus.
Um retiro não é um curso. Um
retiro não tem como objetivo ensinar ou fazer saber algo. Mas sim fazer
experimentar algo. Geralmente, nós vivemos imersos no anonimato da massa, do
grupo, do nós. Raramente, o nosso eu acorda e se destaca. É
importante que isto aconteça durante o retiro. Só fica você frente Àquele que o
chamou. É como um holofote que passa por cima da multidão dos carmelitas de
toda a história e ele pára e destaca você. De repente, você se descobre como chamado
ou chamada por Deus.
Três palavras ajudam a sintetizar
o objetivo do retiro, de qualquer retiro: 1. Transfiguração. O retiro deve
tornar transparente (transfigurar) o dia-a-dia da nossa vida como carmelitas. A
experiência do retiro deve purificar o olhar e revelar uma nova dimensão desta
vida. O retiro deve levar a olhar o presente com outros olhos.
2. Re-apropriação. O que foi
vivido pelos carmelitas desde 1207 não é terra de ninguém nem herança sem dono.
Tem dono! Somos nós! Somos desafiados a dar um destino real a esta herança! Faz
olhar o passado com olhos de quem se sente responsável pela herança
do Carmelo.
3. Identificação.
Redescobrir aquilo que devemos ser como carmelitas e reassumi-lo como nossa
Missão e nosso ideal de vida. Faz olhar o futuro com olhos de quem se
sente responsável para que esta herança seja colocada realmente a serviço do
Povo de Deus.
III-O ITINERÁRIO A SER PERCORRIDO
DURANTE O RETIRO CARMELITANO
O itinerário é um só, o mesmo
para todos e todas: Seguir Jesus. Mas há muitas maneiras de se percorrer um
itinerário. Há muitas escolas de espiritualidade. No retiro carmelitano
procura-se percorrer este itinerário segundo a maneira que é própria e característica
da espiritualidade carmelitana.
O esboço deste itinerário aparece
na Regra, na vida dos santos e santas do Carmelo, nos escritos dos autores
espirituais carmelitanos e na tradição das práticas espirituais da Família
Carmelitana. Aparece sobretudo na vida do profeta Elias e de Maria, cujo
testemunho e exemplo inspiraram a espiritualidade carmelitana desde o seu
começo.
1. O itinerário espiritual
segundo a tradição carmelitana
O retiro inaciano está baseado na
descrição que Santo Inácio fez da sua experiência de trinta dias na gruta de
Manresa. Nestes trinta dias, ele percorreu um caminho, cujos frutos até hoje
colhemos nos inúmeros retiros inacianos. A Bíblia descreve o itinerário do
profeta Elias, caracterizado sobretudo na experiência dos quarenta dias no
deserto. O profeta percorreu um caminho, cujos frutos até hoje colhemos na
espiritualidade carmelitana. Este itinerário espiritual de Elias foi retomado
num dos livros mais antigos da espiritualidade carmelitana, a “Instituição dos
Primeiros Monges”. O autor usou o esquema bíblico da vida do profeta para
descrever o itinerário espiritual vivido no Carmelo. De maneira sugestiva e
simbólica ele apresenta a pessoa do profeta Elias como aquele que viveu por
primeiro o ideal de vida da família carmelitana. O retiro carmelitano consiste
em refazer o itinerário percorrido pelo profeta Elias. A “Instituição dos
Primeiros Monges” começa a descrição do ideal da vida carmelitana com esta
frase com que a Bíblia inicia a descrição da caminhada do profeta Elias:
“Sai daqui, vai para o oriente, esconde-te
na torrente de Carit, no outro lado do Jordão. Beberás da
torrente.Ordenei aos corvos que te levem pão” (1 Rs 17,3-4).
Na tradição do Carmelo, Maria é
irmã, mãe e mestra. É modelo de quem caminha na fé, modelo da comunidade. Ela
acompanha o irmão e a irmã carmelita e os ajuda a imitá-la na vivência da
Palavra. Maria não é um meio para alcançar o fim. Ela acompanha do começo ao
fim e mostra o ideal. O itinerário vem do profeta Elias, mas quem inspira e anima
é Maria.
2. As três etapas do itinerário
espiritual segundo a tradição carmelitana
Os autores espirituais do Carmelo
descrevem as etapas deste itinerário em direção a Deus e ao centro da alma. É
deles que colhemos o esquema para as três etapas a serem percorridas durante o
retiro.
1ª ETAPA: Via da Purificação
"Servir a Deus de coração
puro e consciência serena”
O objetivo da 1ª Etapa:
Purificação do coração sedento e inquieto. O ponto de partida: 1Reis
17,1-6:
Elias se apresenta ao Rei como
aquele que vive sempre na presença de Deus. Confronto com o Rei e com Deus. Em
seguida, ele deixa tudo para trás e inicia a sua caminhada em direção a Deus
indo para Karit do outro lado do Jordão, onde será alimentado por Deus.
Assuntos específicos
Ver a situação de onde se parte
para fazer a caminhada
Fazer a memória da caminhada
feita para chegar até hoje
Peregrino do Absoluto: a busca de
Deus, a busca do centro
Combater os falsos profetas
dentro e fora de nós e o poder da oração
2º ETAPA: Via da
descoberta da luz no meio da escuridão da caminhada. “Revestir a armadura
de Deus”. O objetivo da 2ª Etapa: Descobrir a luz dentro da noite
escura. Ponto de partida: 1Reis 19,1-18 e Lucas 9,28-36:
Elias fica com medo e foge. A
animado pelo anjo caminha até a Montanha de Deus, onde entra na gruta. O
anúncio da paixão e morte causa crise nos discípulos. A transfiguração de Jesus
com Moisés e Elias e a convivência iluminadora com Jesus acontece para
ajuda-los a superar a crise.
Assuntos específicos
Analisar de perto a crise de
Elias como espelho da nossa crise
A crise leva a uma nova
experiência de Deus
Jesus como os primeiros cristãos
o viram
A reconciliação e a reintegração
que surge da fé em Jesus
3º ETAPA: Via do
reencontro transformador. “A justiça é cultivada pela prática do silêncio”
O objetivo da 3ª Etapa:
Reintegração ao redor do Centro. O ponto de partida: 2Reis 2,1-18 e
1Reis 21,1-29
Arrebatado num carro de fogo
Elias sobe ao céu e deixa o seu manto para Eliseu que continua a ação profética
de Elias. Elias sempre foi o homem do Espírito, pronto a anunciar a Palavra,
como fica claro no caso da vinha de Nabot. Depois do reencontro com Deus no
Horeb, Elias reencontra-se consigo e com sua missão profética.
Assuntos específicos
Aberto para Deus, Elias não opõe
resistência à ação do Espírito
Jesus na Cruz: máxima união com o
Pai, máxima revelação da Trindade
A história da vinha de Nabot. A
profecia que nasce do silêncio
Síntese do retiro feito: rever os
marcos da caminhada
IV- Aprofundando os três
elementos básicos do retiro carmelitano
* O ponto de partida:
O ponto de partida é bem humano:
de um lado, a grandeza e a força do profeta Elias em derrubar as pretensões do
sistema do rei Acab com sua ideologia e ídolos falsos e, de outro lado, as suas
limitações e falhas, sua fragilidade e falta de visão.
* As etapas da caminhada:
Durante as três etapas do
percurso do retiro devem ser vistos e meditados os vários aspectos que marcaram
a caminhada do profeta Elias: a sua abertura para a palavra e para o espírito
que o ajudavam a superar as falhas e limitações; sua qualidade como profeta
como conseqüência da abertura para a Palavra e para o Espírito; sua vida em
permanente conflito, conseqüência da atitude profética, e sua maneira de viver
o conflito, espiritualidade do conflito; sua vida na presença de Deus, sua
mística, sua vida de oração, como ça para agüentar a vida que levava; os
critérios que o animavam na sua busca de Deus e que, no momento decisivo, se
mostravam insuficientes.
* O ponto de chegada:
O ponto de chegada é o reencontro
com Deus que nasce a partir da desintegração de tudo que Elias pensava sobre
Deus e que o leva a ver e viver a vida de um jeito totalmente novo e a
reencontrar o sentido da sua missão.
V- Especificando mais as
etapas a serem percorridas durante o retiro
O ponto de partida: orientar-se,
situar-se
O ponto de partida é a luz no
horizonte que orienta os passos desde o primeiro momento. É o ideal apontado
pelo autor da “Instituição dos Primeiros Monjes”. Ele indica o rumo que o
carmelita seguir e onde deve querer chegar: “Sai daqui, vai para o oriente e
esconde-te na torrente de Carit, no outro lado do Jordão. Beberás da torrente.
Ordenei aos corvos que te levem pão” (1Rs 17,3-4). Logo no início deve ficar
bem claro o seguinte: 1. Aonde se quer chegar na vivência carmelitana do
Evangelho: viver na presença de Deus para poder chegar ao “centro”. 2.
Qual o instrumento que temos: a oração e a Lectio Divina. 3. E quais os
modelos que nos acompanham neste itinerário carmelitano para Deus: Elias e
Maria.
O ponto de partida é também o
lugar onde estão os nossos pés, isto é, a situação existencial de onde se parte
em direção ao ideal. E aqui tomamos como modelo os quarenta dias da caminhada
do profeta Elias. O seu ponto de partida era o desânimo, o medo, a perda de
sentido da vida, o cansaço da luta, a fuga, a deserção, a vontade de morrer.
Fugindo da Rainha Jezabel, Elias só pensa em comer, beber e dormir. Deitado
debaixo do junípero, ele é a imagem do ser humano limitado, fraco, derrotado,
que perdeu o rumo na vida e necessita refazer-se como pessoa para poder
continuar a viver. Ele já tinha realizado grandes coisas na vida. Já era
profeta havia tempo. Já tinha tido experiências de Javé, o Deus de Israel. Deus
já o acolhera e o levara a esconder-se na torrente de Carit, na torrente da
Caridade. Mas os acontecimentos, tanto pessoais, como sociais e políticos,
influíram nele, derrubaram as suas convicções e revelaram fraquezas que ele não
conhecia. Era a hora de uma nova conversão.
Primeiro passo: o itinerário
penoso e fecundo pelo deserto
O primeiro passo é a intervenção
do anjo que manda levantar e caminhar: “Elias, levanta e come! Ainda te resta
um longo caminho!” Anteriormente, a mesma palavra de Deus tinha dito: “Sai
daqui, vai para o oriente!” Naquela ocasião, ele teve que deixar a terra,
atravessar o Jordão e deixar tudo para trás. Agora, novamente, ele é convidado
pelas circunstâncias da vida a deixar tudo, a caminhar, a renunciar, a esquecer
e esvaziar-se para Deus, “Vacare Deo”. É a via purgativa do homem
exterior, a via da purificação, do confronto e da revisão. Orientada pelo
anjo e sustentada pela comida da oração, a pessoa decide levantar-se e inicia a
Subida do Monte Carmelo. Vence o medo da noite e começa a caminhada em direção
ao Monte Horeb, a Montanha de Deus. É ao mesmo tempo a caminhada em direção a
si mesmo, para dentro do seu próprio interior, para encontrar a Deus na raiz do
seu próprio ser, onde existe a . É ainda a caminhada em direção ao irmão e à
irmã, pois Deus só se encontra é no próximo, na fraternidade: “Onde dois ou
três estão reunidos em meu nome, estarei no meio”.
Nesta longa caminhada pelo
deserto não há nada que possa distrair. Tudo é seco, sem vida. O que sustenta e
guia o caminhante é a luz escura que lhe vem do ponto de chegada, lá da
Montanha de Deus. A caminhada é como os 40 anos que o povo passou no deserto: é
o tempo necessário para refazer a história, refazer a pessoa desintegrada,
reencontrar a vida, reencontrar-se a si mesmo, beber do próprio poço e
redescobrir a luz da presença da Deus na escuridão da noite, perceber algo da
presença de Deus no centro mais profundo de si mesmo. São os 40 dias que Jesus
passou no deserto preparando-se para a sua missão e enfrentando a tentação do
demônio com a luz da Palavra de Deus. São os 40 anos da longa gestação da Regra
do Carmo no bojo da história do grupo fundador da Família Carmelitana, de 1207
quando Alberto redigiu a forma de vida, até 1247, quando o Papa Inocêncio
aprovou a Regra do Carmo. Ao longo deste penoso e fecundo caminhar, o
caminhante se sustenta pela oração, que lhe dá força.
Segundo passo: a experiência de
Deus na Montanha Horeb
Elias se esconde na gruta. Na
primeira chamada, ele se escondera na torrente Carit, na caridade. Era o
amor que o sustentava, e o sustenta novamente. Sem a força do amor não seria
capaz de agüentar tanta dureza. Apesar da escuridão, a via é iluminativa;
é a descoberta da luz no meio da escuridão da caminhada. Pois, na medida em que
se tem a coragem de caminhar na noite, descobrem-se luzes novas, diferentes. É
a Brisa Leveque revela a nova presença de Deus, diferente dos sinais
antigos da tempestade, do raio e do terremoto. O caminhante vai meditando sobre
a vida e sobre o passado. Vai descobrindo os caminhos de Deus. Vai se enchendo
de zelo pela causa do Senhor.
É no Monte Horeb que Deus se
revela de maneira nova. Elias consegue sair da gruta em que se escondia.
Descobre que não é ele quem defende a Deus, mas é Deus quem o defende!
Redescobre a presença gratuita e exigente de Deus em sua vida. Como na primeira
vez, ele
bebe
novamente da torrente. Como
no primeiro êxodo, ele recebe alimento no deserto e experimenta a doçura da
presença de Deus. Os olhos se abrem e ele descobre que Deus está mais presente
do que ele imaginava. Ele não é o único a lutar pela causa de Deus! Há mais de
7000 pessoas que continuam fiéis a Deus!
Terceiro passo: redescoberta da
Missão e retomar o caminho
Como fruto desta longa caminhada
o coração do caminhante se unifica e se torna a morada de Deus. O coração está
indiviso e puro, ele chegou no seu centro, a consciência está em paz. “Coração
puro e consciência serena”. Nesta Noite Escura ele sai sem ser
notado, tendo como luz a escuridão que ilumina mais que o sol do meio dia. E
ele canta o amor de noivado. É a via unitiva do reencontro transformador.
A chama o penetra de tal maneira que madeira e fogo são uma coisa só. “Ó noite
que guiaste mais que a alvorada! Amada no amado transformada!”
O ponto de chegada
O ponto de chegada do itinerário
espiritual ou fruto desta longa caminhada é a nova descoberta da missão, é a
contemplação que percebe Deus em todas as coisas da vida, da natureza, da
história. É a transfiguração ou a transparência das coisas da vida presente.
É a re-apropriação das coisas do passado. É a identificação com a missão
que faz olhar para o futuro.
Elias alcança a maturidade e pode
gerar outros filhos. Como um pai de família, ele deixa a dupla herança, o duplo
espírito, para o filho mais velho, que vai continuar a missão. O retiro é a
continuação desta missão. Com Maria no dia da ascensão, permanecemos unidos em
oração para que também para nós venha o Espírito de Deus, o Espírito de Jesus,
invadir nossa vida e empurrar-nos com ânimo redobrado em direção a Deus,
aos irmãos e a nós mesmos. Pois Deus só se encontra é no próximo, na
fraternidade: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, estarei no meio”.
Maria como estrela guia na
caminhada
Na espiritualidade carmelitana,
Maria, a mãe de Jesus e irmã dos carmelitas, é presença constante e discreta em
todos os momentos e etapas desta longa caminhada de Elias. Assim como ela foi
presença na vida de Jesus, deve ser presença na nossa vida. Eis alguns aspectos
desta sua presença:
* Maria como discreta e
sofrida presença na vida de Jesus (Marcos)
* Maria e a sua companhia
tal como transparece na genealogia (Mateus)
* Maria como modelo da
comunidade que se alimenta na Palavra (Lucas)
* Maria como símbolo da vida
(AT), aberta para o novo (NT) (João)
* Maria como imagem dos que
lutam pela vitória da vida (Apocalipse)
* Maria que tem consciência
crítica da realidade (Magnificat)
VI- Especificando mais as
etapas a serem percorridas durante o retiro
Para que, durante o retiro, se
possa percorrer este itinerário com suas etapas e alcançar o ponto de chegada,
alguns elementos básicos não poderão faltar nas meditações a serem feitas para
os “retirantes”. São como que postes que sustentam o fio da caminhada. Poderão
haver outros possíveis assuntos opcionais, mas estes básicos não poderão
faltar. São os seguintes:
1. A busca de Deus
A busca de Deus como aspiração
básica da vida humana e como disposição sincera de quem vai fazer o retiro;
busca de Deus que se reflete na busca da justiça, da fraternidade e da paz
2. Deus é Jesus
Quem quer buscar Deus deve
buscá-lo em Jesus, deve viver em obsequio de Jesus Cristo, pois Jesus é a
revelação de Deus para nós.
3. O caminho até Deus
O caminho da busca passa pelo
deserto com suas crises e noites escuras, enfrentadas pela oração: o deserto de
Elias, a noite escura de Maria ao pé da Cruz,
4. O lugar do encontro com Deus
O lugar do encontro com Deus e
com Jesus se realiza é no próximo e na comunidade: sem vida fraterna
comunitária não é possível viver plenamente a fé em Jesus.
5. A redescoberta da missão
A busca de Deus se expressa e se
concretiza na missão redescoberta de serviço, de profecia, de contemplação no
concreto da vida.
VII-Esquema de um retiro
carmelitano de seis dias
1ª ETAPA.
“Servir a Deus de coração puro e
consciência serena”. Via da Purificação
O objetivo da 1ª Etapa:
Purificação do coração sedento e inquieto
1. A atração do chamado provoca a
busca
2. O desejo de ir em busca de
Deus leva a deixar para trás o que não serve para a caminhada
1º DIA: O PONTO DE PARTIDA:
1Reis 17,1: Elias se apresenta ao
Rei como aquele que vive sempre na presença de Deus. Confronto com o Rei e com
Deus.
1ª Meditação.
Ver a situação de onde se parte
para fazer a caminhada
Fazer com que a pessoa se dê
conta onde estão os seus pés em dois níveis importantes da sua vida: 1) O nível
do engajamento familiar e social; 2) O nível do relacionamento com Deus: qual a
imagem que se faz de Deus e como a fé em Deus influi na sua vida. A pessoa ver
como estes dois níveis se entrelaçam entre si ou se existe uma dicotomia entre
os dois.
2ª Meditação.
Fazer a memória da caminhada
feita para chegar até hoje
Fazer com que a pessoa faça uma
retrospectiva da sua própria vida e procure ver onde e como a fé em Deus o
marcou. Lembrar que os primeiros carmelitas “viviam em obséquio de Jesus
Cristo” e procuravam ser contemplativos, porque experimentaram em algum momento
da sua vida que foram contemplados por Deus. Cada um verificar como e quando se
sentiu contemplado. Para ajuda podem servir os textos de 2Tim 1,3-5; 3,14-17; e
Fil 3,4-14.
2º DIA: A ARRANCADA INICIAL:
1Reis 17,2-6: Elias deixa tudo
para trás e inicia a sua caminhada em direção a Deus indo para Karit do outro
lado do Jordão, onde será alimentado por Deus.
1ª Meditação.
Peregrino do Absoluto: a busca de
Deus, a busca do centro
Aproveitar do comentário da
“Institutio” deste texto de 1Reis 17,2-6 para ajudar a perceber a necessidade
da renúncia para se poder iniciar a caminhada, mas renúncia que nasce do desejo
imenso de estar com Deus que atrai e chama e como sendo renunciar por renunciar
ou por serem as criaturas coisas más. A busca do Centro é o eixo do retiro e o
centro da caminhada. Mostrar a partir do itinerário de Elias que a caminhada
provocada em nós pela palavra que chama continua sempre, sem descanso.
2ª Meditação.
Combater os falsos profetas
dentro e fora de nós e o poder da oração
A partir de 1Reis 18, mostrar que
a caminhada em direção ao Centro , em direção a Deus, implica em luta contra as
falsas imagens de Deus que vamos descobrindo tanto fora de nós, na sociedade,
como dentro de nós mesmos, nas nossas atitudes e aspirações. Neste mesmo texto
transparece a importância da oração tanto para fazer descer o fogo do céu como
para fazer descer a chuva. Acentuar a presença de Maria no comentário que os
Carmelitas fazem da nuvenzinha que traz a chuva benfazeja.
2º ETAPA. “Revestir a
armadura de Deus”. Via da descoberta da luz
O objetivo da 2ª Etapa: Descobrir
a luz dentro da noite escura
1. Desde o primeiro momento da
caminhada em direção a Deus, a luz de Deus já está presente e faz sentir a sua
presença em forma de escuridão. Faz descobrir que as idéias que tínhamos sobre
Deus não são Deus. Aí escurece tudo.
2. O objetivo desta segunda etapa
é experimentar as noites na vida e, aos poucos, ir descobrindo que existe luz
dentro dessa noite, luz mais forte que aquela com que nos orientávamos
anteriormente.
3. A Regra do Carmo fala da
necessidade de revestir a armadura de Deus que consiste no controle dos
sentimentos e dos pensamentos e no exercício da fé, esperança e a caridade. A
única arma ofensiva é a espada da Palavra de Deus.
3º DIA: A ENTRADA NA ESCURIDÃO DA
GRUTA
1Reis 19,1-10: Elias fica com
medo e foge. A animado pelo anjo caminha até a Montanha de Deus, onde entra na
gruta.
1ª Meditação.
Analisar de perto a crise de
Elias como espelho da nossa crise
Ver em que consistia a crise de
Elias: medo, fuga, desânimo, vontade de comer, beber e dormir, falta de visão
das coisas, visão deficiente de Deus. Ver também as noites escuras dos santos e
santas carmelitas: João da Cruz, Edith Stein, Tito Brandsma, Teresinha, Teresa
de Ávila, e tantos outros. Analisar de perto alguns aspectos das noites que
hoje acontecem no dia a dia da vida das pessoas. Fazer perceber que nesta
escuridão existe a luz de Deus.
2ª Meditação.
A crise leva a uma nova
experiência de Deus
Analisar de perto o texto de 1
Reis 19,11-14, onde se descreve como Elias teve a experiência do Absoluto que é
totalmente diferente de todas as imagens e idéias que possamso ter de Deus. Deus
se faz presente na Brisa Leve, isto é, na ausência de todas as vozes. Rasga-se
o véu que impedia o encontro. Introduzir aqui a experiência que Jesus tem do
Pai. Deixar perceber que no fim deste terceiro dia e no começo do quarto dia
estamos atingindo o ponto alto da caminhada do retiro.
4º DIA: A CONVIVÊNCIA ILUMINADORA
COM JESUS
Lucas 9,28-36: O anúncio da
paixão e morte causa crise nos discípulos. A transfiguração de Jesus com Moisés
e Elias acontece para ajuda-los a superar a crise
1ª Meditação.
Jesus como os primeiros cristãos
o viram
Em Jesus, Deus se faz presente de
maneira nova. Na convivência com Jesus esta nova experi6encia de Deus se
irradia e se concretiza numa nova maneira e conviver. Jesus usa toda uma
pedagogia para ajudar os discípulos e as discípulas a fazer a conversão, a
tirar de dentro de si a imagem antiga de Deus e revestir-se da imagem nova. Os
três títulos mais antigos de Jesus, conservados pelos primeiros cristãos
mostram como eles viram a revelação de Deus em Jesus e qual o caminho Jesus
abriu para eles poderem voltar para Deus, para o Centro: Filho do Homem,
Servidor e Redentor.
2ª Meditação.
A reconciliação e a reintegração
que surge da fé em Jesus
O efeito imediato da nova
experiência de Deus tal como nos foi revelada por Jesus é o novo tipo de
relacionamento entre as pessoas. Surge a fraternidade como sinal profético da
nova experiência de Deus e como fruto da reconciliação. Se Deus é Pai e Mãe, nós
devemos ser irmão e irmã uns dos outros. Daí nasce a necessidade de acolher os
outros como irmão e irmã, de perdoar não sete vezes como Pedro queria, mas
setenta vezes sete.
3º ETAPA. “A justiça é
cultivada pela prática do silêncio”. Via do reencontro transformador
O objetivo da 3ª Etapa:
Reintegração ao redor do Centro
1. Depois que iniciou a
caminhada, deixou para trás o que não servia para o encontro com Deus, depois
de ter passado pela noite escura e de ter descoberta dentro dela a nova luz da
presença de Deus, a pessoa se reencontra com o Centro, com Deus.
2. O reencontro com Deus, com o
centro, tem um efeito integrador e transformador na pessoa que faz essa
experiência. Ela se reencontra consigo, com os outros, com o cosmo, com a
realidade que a envolve, com a natureza, com a própria missão.
5º DIA: AGUARDAR COM MARIA A
DESCIDA DO ESPÍRITO
2Reis 2,1-18: Arrebatado num
carro de fogo Elias sobe ao céu e deixa o seu manto para Eliseu que continua a
ação profética de Elias
1ª Meditação.
Aberto para Deus, Elias não opõe
resistência à ação do Espírito
Desde o início, o Espírito tem
franca entrada na vida de Elias. Ele era conhecido como o homem aberto para a
ação imprevisível do Espírito. Superada a crise que o levou até o Monte Horeb,
Elias se torna mais transparente para o encontro transformador com Deus,
simbolizado no arrebatamento num carro de fogo para o céu. Ele vai e deixa o
seu duplo espírito com Eliseu que deve continuar a missão profética. O mesmo
acontece com Jesus que deixa o seu Espírito para nós. Unidos entre si com
Maria, os discípulos aguardam a vinda do Espírito Santo.
2ª Meditação.
Jesus na Cruz: máxima união com o
Pai, máxima revelação da Trindade
Morrendo na Cruz, Jesus grita:
“Eli! Eli! Por que me abandonaste?” Assim ele morre. A paixão de Jesus na Cruz
é a máxima revelação da trindade e é também a máxima união de Jesus com o Pai.
Jesus e o Pai: o Pai é a grande realidade na vida de Jesus. Pela sua obediência
Jesus se tornou a revelação do Pai e a manifestação do Reino. Maria, ao pé da
Cruz, em total silêncio, acompanha Jesus nesta missão. A máxima união do
discipulado: Seguir, Servir, Subir
6º DIA: A REDESCOBERTA DA MISSÃO
PROFÉTICA
1Reis 21,1-29: A vinha de Nabot.
Depois do reencontro com Deus no Horeb, Elias reencontra-se consigo e com sua
missão profética.
1ª Meditação.
A história da vinha de Nabot. A
profecia que nasce do silêncio
Elias reencontrou-se consigo e
com a sua missão. Houve o confronto entre o Rei e Nabot. O rei transgride a lei
e o projeto de Deus. Nabot procura ser fiel ao projeto de Deus para o povo.Por
causa da sua fidelidade ele é eliminado pela infidelidade do rei e da rainha.
Neste momento, a profecia desperta em Elias e ele se coloca do lado da causa da
Nabot, contra o Rei e a Rainha. No fim do retiro cada um deve procurar
reordenar sua vida ao redor do Centro redescoberto: sua vida pessoal, sua vida
familiar e profissional, sua vida como membro da comunidade e como cidadão.
2ª Meditação
Síntese do retiro feito: rever os
marcos da caminhada
Nesta meditação final, convém
retomar todo o caminho percorrido desde a véspera do retiro, para que os
retirantes possam chegar a fazer uma síntese pessoal que os ajudará na
caminhada pela vida.
VIII- Os meios os recursos
para alcançar o objetivo do retiro carmelitano
1. O motor que empurra a
percorrer o itinerário é a oração
A Regra do Carmo recomenda, por
bem oito vezes, que o carmelita, a carmelita, medite e ore a Palavra de Deus,
tanto sozinho na cela, como em comunidade. Ela pede que a Palavra habite
abundantemente na boca e no coração, a ponto de produzir pensamentos santos e
de envolver a pessoa em tudo que faz. Tudo deve ser feito na Palavra de Deus.
Onde a Palavra de Deus é acolhida, ela produz como resposta a oração que
orienta e sustenta no itinerário em direção a Deus. Quando uma pessoa decide
responder ao apelo da Palavra de Deus, ela inicia uma longa caminhada sem
retorno. Na mesma medida em que ela vai em busca de Deus, este mesmo Deus já se
faz presente na vida dela. O efeito da chegada de Deus é a escuridão. A pessoa
faz a experiência do deserto, do esvaziar-se. É o caminho da Subida do Monte
Carmelo e da Noite Escura. A luz escura da contemplação! Aquilo que empurra e
sustenta neste itinerário para Deus é a oração, nascida da fé de que Deus é
maior que a escuridão, ou melhor, de que a escuridão é luminosa.
Os autores espirituais do Carmelo
descrevem este itinerário espiritual e esclarecem suas etapas, para que a
pessoa que nele se inicia não se perca. Explicam como você cresce na oração e
como a oração vai se modificando e se aprofundando na mesma medida em que você
vai se adentrando neste caminho em direção a Deus.
Por tudo isso, o retiro terá que
ser, antes de tudo, uma experiência concreta de oração, uma oficina onde se
aprende a rezar, onde você se apropria de um método de oração, o método
carmelitano. O método de oração próprio do Carmelo é simples e atrevido: tende
diretamente à intimidade com Deus. Quando no Carmelo se fala em perfeição,
entende-se a união da alma com Deus. Para alcançar este estado de união com
Deus é preciso caminhar na presença de Deus. O retiro terá que ser um tempo em
que se dê uma grande atenção à prática da oração de tal modo que leve você a
viver continuamente na presença de Deus. Numa palavra, o retiro deve ser uma
aprendizagem da oração nas suas várias formas, em que é praticada no Carmelo:
leitura orante da Palavra de Deus, oração aspirativa, oração comunitária, etc.
2. Especificando e completando os
recursos a serem usados
1. Leitura Orante da Bíblia
A Leitura Orante da Bíblia deve
ser a espinha dorsal do retiro, pois é nela que a Regra do Carmo mais insiste.
Deve haver uma orientação bem concreta em dois sentidos: no método de
como fazer e nos textos bíblicos a serem usados. O assunto dos textos
deve estar em consonância com os assuntos da caminhada a ser percorrida durante
o retiro.
2. Oração aspirativa
A oração aspirativa caracteriza a
oração na espiritualidade carmelitana, pois ela nasce da consciência da
presença de Deus e quer conduzir a uma intimidade sempre maior, para saborear a
gratuidade da sua presença amiga. Ela deve receber uma atenção especial e a sua
prática deve ser um outro eixo importante do retiro. Deve haver momentos
especiais para a aprendizagem e a prática desta oração.
3. Oração comunitária
A oração comunitária deve receber
uma atenção especial cada dia, pois a Regra do Carmo pede com insistência que se
faça oração em comum e que se reúna diariamente no oratório para a celebração
da Eucaristia. Será o momento em que se vive a partilha, se experimenta a
fraternidade e se exerce a escuta e o diálogo no encontro com o irmão e a irmã.
4. Silêncio
A Regra fala do silêncio como um
dos meios para realizar o ideal do Carmelo. O silêncio abre para a relação com
o outro. O retiro deve ser marcado pela prática do silêncio como exercício que
ajuda a praticar a oração, a recolher a mente, a dilatar o coração, a ter a
atenção voltada para Deus, a ter uma atitude de escuta, a ter um olhar
benevolente de contemplação. Silêncio de escuta, Silêncio profético, Silêncio
Orante, etc.
5. Direção espiritual
O retiro deve ser uma
oportunidade para experimentar a importância da direção espiritual e da
partilha. No caminho em direção a Deus e ao irmão/irmã é importante ter um
guia. Cada participante deve ter alguém que, durante o retiro, o ajude e o
oriente a se situar na sua caminhada em direção a Deus. Deve haver momentos de
orientação espiritual.
IX- Atitudes, Textos,
Dinâmicas, Esclarecimentos
Para que um rio alcance o mar, é
necessário cavar um leito. Para que o retiro carmelitano alcance o objetivo
proposto, é necessário que se crie um ambiente. O leito por onde corre o retiro
não consiste em dar muitas conferências e longas meditações sobre o caminho,
mas sim em colocar as pessoas no caminho, pedir que nele andem e dar algumas
breves orientações de como andar. Elas mesmas vão ter que percorrer e
experimentar as etapas do itinerário em direção a Deus. Para que isto aconteça
seguem algumas dicas práticas:
* Sobre a atitude do
orientador ou da orientadora do retiro
1.Na maneira de ler e interpretar
os textos da Bíblia
* Os textos bíblicos não são
meros instrumentos ou provas, mas são como espelhos, onde a pessoa se reconhece
e re-conhece a sua própria vida, caminhada e luta.
* São como arquétipos, onde
se enxerga o que somos e devemos ser e que lembra o que diz Milton de
Nascimento: “Certos canções caem tão bem dentro de mim que perguntar carece por
que não fui eu que fiz?”
* Vale a pena lembrar o que disse
João Cassiano a respeito da leitura dos Salmos: “Instruídos por aquilo que nós
mesmos sentimos, já não percebemos o texto como algo que só ouvimos, mas sim
como algo que experimentamos e tocamos com nossas mãos; n\ao como uma história
estranha e inaudita, mas como algo que damos à luz desde o mais profundo do
nosso coração, como se fossem sentimentos que formam parte do nosso ser.
repitamo-lo: não é a leitura que nos faz penetrar no sentido das
palavras, mas sim a própria experiência nossa adquirida anteriormente na vida
de cada dia” (Collationes X, 11). A vida ilumina o texto, o texto ilumina
a vida.
2.Ter uma constante preocupação
com relação a estes três assuntos:
* Deve ter sempre presente a
visão de espiritualidade da “Busca do Centro” como sendo o critério básico de
referência.
* Deve ter uma preocupação
constante em usar uma linguagem de acordo com a sensibilidade das pessoas que
participam do retiro.
* Deve ter presente na fala, nos
olhos, nos pés e na reflexão da realidade concreta do povo com que hoje
convivemos e ao qual procuramos servir como testemunhas da Boa Nova de Deus.
* Dinâmicas para todos os
dias
1. Abertura do dia com um texto
do profeta Elias
2. Marcar o ambiente com alguma
imagem de Elias
3. Prática da Oração aspirativa
4. Ter algum momento de partilha
(dentro do contexto do retiro)
5. Informar: “Como foi?” para ter
momento de explicitação
6. Canto de mantras
7. Síntese pessoal à noite (se
possível, por escrito)
8. Silêncio durante todo o tempo
do retiro
* Textos para cada etapa
Esta parte deverá ser feita
ainda.
* Esclarecimentos a serem
dados oportunamente
Além das duas meditações diárias
haverá a possibilidade de uma conferência por dia com a finalidade de explicar
e esclarecer certos assuntos importantes para o andamento do retiro. Eis uma
lista de alguns destes assuntos que poderia merecer uma conferência de meia
hora:
1. Explicar em que consiste
exatamente a visão de espiritualidade do Centro, para que as pessoas possam
perceber o fio da meada durante os dias do retiro.
2. Explicar em que consiste
exatamente a ”Oração Aspirativa” como coisa própria e característica da
espiritualidade carmelitana, e como fazer o exercício da Presença de Deus.
3. Explicar brevemente como fazer
a Lectio Divina e qual a mística que deve animar a Leitura Orante da Palavra de
Deus e como fazer os quatro passos que a
4. Explicar qual a atitude cristã
frente à Bíblia
X-Dinâmicas específicas para um
retiro carmelitano
1. Cada dia:
1. indicar textos bíblicos para a
Lectio Divina
2. indicar alguns salmos para a
oração pessoal
3. apresentar perguntas-chave
para assimilar o assunto do dia e perceber o seu alcance para a vida
4. em dois momentos oferecer aos
participantes assunto para a reflexão durante o dia
5. oferecer exemplos do santo ou
da santa que praticou o assunto e que pode ser padroeiro do dia
6. ter a possibilidade de oração
pessoal e de viver a experiência do vazio, do deserto
7. ter oração em comum em dois
pontos fixos: de manhã e à noite, com eucaristia
8. ter algum momento de partilha
e de convivência fraterna.
2. Apresentação e seqüência dos
assuntos
Não deve ser aula sobre os
assuntos a serem meditados, mas sim uma seqüência dinâmica entre os vários
assuntos. Não só falar e meditar sobre as coisas, mas também praticá-las e
fazê-las acontecer. No fundo, o que importa, não é que se fale sobre os
assuntos, mas sim que a realidade indicada pelo assunto possa ser vivenciada
pelos participantes, mesmo sem que se fale sobre ela.
3. A participação de todos
Ter uma equipe para ajudar na
dinâmica, pois é difícil para um só fazer tudo. Cada participante deve
sentir-se responsável para ajudar a criar um ambiente de silêncio, de solidão,
de deserto, de fraternidade, de oração.
4. Proposta de horário
7:00 Lectio Divina
7:30 Café
8:00 Louvor da Manhã
9:00 Meditação
10:00 Início do vazio do deserto
o vazio do deserto
17:00 Meditação
18:00 Jantar
19:30 Louvor da Tarde com
Eucaristia
21:00 Lectio
5. Explicação da dinâmica do
horário
Durante o dia, há dois momentos
fortes de Lectio Divina, de oração em comum e de meditação. Na parte da manhã
das 7:00 às 10:00 horas e na parte da tarde das 17:00 às 21:00. São como os
dois ganchos que sustentam a rede do dia, em cujo centro está o silêncio, o
vazio do deserto a ser preenchido por Deus. Os dois ganchos sustentam a gente
na hora da crise e ajudam a agüentar o vazio e a dureza do deserto. O vazio do
deserto deve ser preenchido por aquilo que é a tarefa básica do carmelita, da
carmelita: “meditar dia e noite na lei do Senhor e vigiar em orações”.
XI-Esquema de assuntos para
algumas das meditações básicas
Caso o retiro tiver maior número
de dias e for necessário abordar e meditar outros assuntos relacionados com o
itinerário básico do retiro carmelitano, oferecemos aqui um esquema para
algumas das meditações:
1. A Busca de Deus: “Sai daqui e
vai para o outro lado do Jordão, Carit!”
2. A Busca de Deus em Jesus:
“Ninguém vem ao Pai, senão por mim!”
3. O lugar do encontro com Deus é
o próximo: “Era eu!” A fraternidade
4. O Caminho a percorrer: o
deserto, as crises e as oportunidades
5. O meio que assegura a
travessia: a Oração
6. A Missão redescoberta ao pé do
Sinai
7. O Silêncio profético e o
significado do trabalho
8. A Leitura Orante da Bíblia, a
Atitude correta diante da Palavra de Deus
9. O Carmelo, a hospedaria de
Deus:a opção pelos pobres
10. Deus
11. Maria, a estrela guia
12. A esperança é a última que se
desfaz
13. Oração aspirativa
14. A caminhada do Profeta Elias
15. Vocação na Bíblia
16. Jesus formador
17. O novo caminho que Jesus
abriu para o Pai
18. A Oração na vida de Jesus
XII-Pensamentos Finais
Retiro é:
Re-visão: ver de novo a
Deus!
Re-colhimento: colher de novo os
frutos da justiça!
Re-flexão: dobrar-se de novo
diante da grandeza e ternura de Deus!
Re-forço: forçar de novo a
entrada para dentro de si!
Re-conhecimento: conhecer de
novo a presença de Deus na vida!
Re-ação: agir de novo a partir do
novo começo!
Re-cordação: fazer passar de novo
pelo coração toda a vida do povo sofrido!
Re-união: unir de novo a
comunidade!
Re-creio: criar de novo a vida
como Deus sonhou!
Re-feiçãofazer de novo o
percurso da vida
Re-torno voltar de novo às
Re-tiro: tirar de novo água
da !
Jesus
re-tirou-se para o deserto, onde
foi tentado pelo satanás.
re-tirou-se para o outro lado do
lago, onde procurou descansar, mas não deu.
re-tirou-se para o Monte, onde na
glória encontrou a cruz.
re-tirou-se para o Horto das
Oliveiras, onde entrou em agonia.
re-tirou-se deste mundo para o
Pai, como gesto supremo de amor.