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quarta-feira, 20 de junho de 2012

O compromisso missionário dos membros da OCDS na igreja e no mundo




"A Igreja peregrina é missionária por natureza, porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai". Por isso, o impulso missionário é fruto necessário à vida que a Trindade comunica aos discípulos.(DA347)


Cidinha Paula,ocds


VIVER E COMUNICAR A VIDA NOVA EM CRISTO  NOSSOS POVOS
Neste tópico tem duas palavras importantes. Primeiro: natureza.
A Igreja é missionária por sua natureza essência. Essa essência é de Deus, porque ―este desígnio brota do amor de Deus, isto é, da caridade de Deus Pai.   Em outras palavras, a missão vem de Deus porque Deus é amor, um amor que não se contém, que transborda, que se comunica, que sai de si já com a criação do mundo, e conseqüentemente ao pecado da humanidade, com a história da salvação para reintegrar as criaturas na vida plena do Reino. É a Missio Dei, o próprio Deus que se auto-envia pela missão do Filho e do Espírito através dos quais o próprio Pai se revela como amor (cf. Jo 14,9).Resumindo, Deus é missão.
A segunda palavra é missionária. A Igreja é por sua natureza missionária. Isso constitui uma revolução no próprio conceito de Igreja, que procede da missio Dei. Não é mais a Igreja que envia missionários, mas é ela própria enviada como missionária. Seu envio não é conseqüência: é essência.
A atividade missionária não é tanto uma ação da Igreja, mas é simplesmente a Igreja em ação.

Um Deus humano
Jesus causa desconforto, conflito com as estruturas de poder da sociedade. O anuncio de um Deus tão humano deixa os homens da Lei e os poderosos indignados.
Se o Evangelho é uma Boa Nova libertadora para os pobres e os humildes, ao mesmo tempo, é uma notícia terrível e ameaçadora para os ricos e os poderosos (cf. Lc 1,52-53).

Uma vida plena
  Fazer discípulos na missão (cf. Mt 28,19), portanto, quer dizer fazer irmãos. A comunhão de vida estabelecida mediante relações fraternas constitui a origem, o caminho e a meta da missão: ―descobrimos, dessa forma, uma profunda lei da realidade: a vida só se desenvolve plenamente na comunhão fraterna e justa (DA 359).

Uma missão que comunica vida
A partir daqui entendemos por que uma vida plena segundo o Evangelho é uma vida que se torna dom. A vida de Jesus foi um dom: ―tomai e comei, isto é o meu corpo. Nós fazemos eucaristicamente memória desse dom quando nos entregamos inteiramente à doação, até coincidir rigorosamente com o Dom recebido.
A referência maior é o Mestre e Senhor que lava os pés (Jo 13,1-17) e que recomenda: ―vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz (Jo 13,15). Ou, em outras palavras: “fazei isto em memória de mim”.
A Eucaristia é o centro vital do universo, capaz de saciar a fome de vida e felicidade: Aquele que se alimenta de mim, viverá por mim‘ (Jo 6,57). Nesse banquete feliz participamos da vida eterna e, assim, nossa existência cotidiana se converte em Missa prolongada (DA 354).

RENOVAÇÃO MISSIONÁRIA DAS COMUNIDADES
A missão de comunicar vida é a razão de ser da Igreja (cf. DA 373) Por isso ela é chamada a desinstalar-se: a Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do Continente (DA 362).
Se missão significa envio, todo envio pressupõe um deslocamento e uma saída: nós somos agora, na América Latina e no Caribe, seus discípulos e discípulas, chamados a navegar mar adentro para uma pesca abundante. Trata-se de sair de nossa consciência isolada e de nos lançarmos, com ousadia e confiança , à missão de toda a Igreja (DA 363). A conversão missionária da qual fala o DA em uma de suas páginas centrais (cf. 7.2 Conversão pastoral e renovação missionária das comunidades) trata-se substancialmente de uma saída. Na saída de si, do círculo da própria comunidade e dos confins da própria terra, se realiza para a Igreja essa conversão. Paradoxalmente, é nessa saída que a Igreja encontra sua razão de ser e sua própria identidade.

“Temos que ser de novo evangelizados” (DAp 549)
O tema da conversão, antes de ser dirigido aos destinatários da missão, é apontado pelo DA como exigência fundamental para a própria Igreja. Com o mesmo espírito do Vaticano II, Aparecida analisa que, na atual conjuntura de grandes mudanças, ―sentimo-nos desafiados a discernir os sinais dos tempos (DA 33) e a assumir uma atitude de permanente conversão pastoral (DA 366). Na mudança global a Igreja precisa mudar também, mas não apenas pastoralmente ―seu jeito de ser, ela precisa ser evangelizada de novo para converter-se numa Igreja cheia de ímpeto e audácia evangelizadora (cf. DA 549). Conversão é um convite para Igreja e não, primeiramente, para o mundo.

Como “peregrinos a caminho” (DA 553)
 A missão consiste no seguinte: não podemos esperar que as pessoas venham a nós, precisamos nós, ir ao encontro delas e anunciar-lhes a Boa Nova ali mesmo onde se encontram. Esse princípio parece quase óbvio. No entanto, na prática, a Igreja sempre teve a tentação de evangelizar os povos a partir de sua própria condição, permanecendo em seu lugar, a partir de sua própria cultura, enviando e delegando seus missionários, mas sem se envolver num movimento de saída e de inserção nas situações que desejavam evangelizar.
Missionário não é, em si, aquele que acolhe, mas é o acolhido.
Uma Igreja enviada é uma Igreja que está fora de casa, que faz a experiência radical do seguimento, do despojamento e da itinerância, como companheira dos pobres (cf. DA 398) e como hóspede na casa dos outros.
O verbo mittere, origem da palavra missão, quer dizer também libertar, deixar andar, soltar: o envio tem tudo a ver com liberdade e libertação. O anúncio do Reino de Deus precisa andar solto pelo caminho.

“Além de uma pastoral de mera conservação” (DA 370)
Somos convidados a transformar não apenas as nossas pessoas, mas o nosso próprio agir. Praticamente, devemos passar do hábito de apenas planejar , mas continuamente avaliá-lo, acompanhá-lo, modificá-lo: ―Esse projeto diocesano exige acompanhamento constante por parte do bispo, dos sacerdotes e dos agentes pastorais, com atitude flexível que lhes permita manter-se atentos às exigências da realidade sempre mutável (DA 371).
A nota do DA é extremamente indicativa: ―não se trata só de estratégias para procurar êxitos pastorais mas da fidelidade na imitação do Mestre (DA 371). Ter um projeto missionário significa imitar Jesus, ser fiel a ele. Ele teve um projeto missionário? Sim, sem dúvida. O encontramos em Mateus 9,35-10,42. Ai podemos buscar linhas mestras para traçar nossos projetos e nosso caminhos.

NOSSO COMPROMISSO COM A MISSÃO AD GENTES

A Igreja se encontra hoje numa situação de diáspora diante da fragmentação e da multi-culturalidade do mundo atual.O catolicismo na América Latina perde porcentagens de supostos adeptos e assiste ao crescimento das igrejas pentecostais.
 Nessa situação de efervescência, cidades e metrópoles substituíram aldeias em todos os continentes. Sabedorias populares e estruturas comunitárias deram lugar à autonomia e à liberdade das pessoas. A questão religiosa, no seu conjunto, se amplifica e se aprofunda diante dos desafios do mundo pós-moderno e globalizado (cf. DA 37). Para a humanidade do século XXI, a religião torna-se sempre mais  uma mercadoria para satisfazer as necessidades/desejos espirituais de sentido dos indivíduos, dispensando, porém, a adesão a uma comunidade e a afiliação a uma confissão .
Numa realidade marcada por grandes e profundas mudanças, a Igreja procura encarar os desafios do mundo de hoje com uma atitude ambivalente: de um lado, positivamente, com confiança, atenção e escuta, discernindo os ―sinais dos tempos em que Deus se manifesta (DA 366); por outro, com apreensão, frente ―à desordem generalizada que se propaga por novas turbulências sociais e políticas, pela difusão de uma cultura distante e hostil à tradição cristã (DA 10).

Missão aos corações
Por isso que a missão não é primariamente uma questão de estruturas, de métodos e de estratégias, mas é uma questão de homens e mulheres novos: ―não há novas estruturas se não há homens novos e mulheres novas que mobilizem e façam convergir nos povos ideais e poderosas energias morais e religiosas (DA 538). O diálogo e o anúncio missionário, antes de mais nada, precisa passar de pessoa a pessoa, de casa em casa, de comunidade a comunidade (...) procurando dialogar com todos em espírito de compreensão e de delicada caridade (DA 550). De coração a coração, objetivo da missão é converter os corações, fazendo com que todos se tornem discípulos missionários (cf. Mt 28,19). Isso significa praticar a Palavra e reconhecer-se como irmãs e irmãos, filhos do mesmo Pai, uns com os outros, próximos aos demais no mundo inteiro.

Comunidade missionária
O segundo âmbito da missão ad gentes que podemos identificar no DA é a constituição da comunidade missionária:
A Diocese, em todas as suas comunidades e estruturas, é chamada a ser comunidade missionária (cf. ChL 32). Cada Diocese necessita fortalecer sua consciência missionária, saindo ao encontro dos que ainda não crêem em Cristo no espaço de seu próprio território e responder adequadamente aos grandes problemas da sociedade na qual está inserida. Mas também, com espírito materno, é chamada a sair em busca de todos os batizados que não participam na vida das comunidades cristãs (DA168).
Trata-se de uma firme decisão que ―deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja (DA 365). Aqui, a consciência missionária é explicitamente ad gentes porque se caracteriza pela saída ao encontro dos que ainda não crêem em Cristo, e só como complemento a comunidade é chamada a sair em busca de todos os batizados que não participam na vida das comunidades cristãs.

Missão Continental

“Assumimos o compromisso de uma grande missão em todo o Continente, que de nós exigirá aprofundar e enriquecer todas as razões e motivações que permitam converter cada cristão em discípulo missionário. Necessitamos desenvolver a dimensão missionária da vida de Cristo. A Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do Continente. Necessitamos que cada comunidade cristã se transforme num poderoso centro de irradiação da vida em Cristo. Esperamos em novo Pentecostes que nos livre do cansaço, da desilusão, da acomodação ao ambiente; esperamos uma vinda do Espírito que renove nossa alegria e nossa esperança. Por isso é imperioso assegurar calorosos espaços de oração comunitária que alimentem o fogo de um ardor incontido e tornem possível um atraente testemunho de unidade para que o mundo creia (Jo 17,21) (DA 362).
Nesse esforço, as comunidades cristãs podem ganhar de qualidade em sua vivência e testemunho missionário sem, porém alcançar as metas esperadas. Com efeito, a nova evangelização encontra na figura do semeador uma sua possível metáfora. O lugar não é mais o redil do Bom Pastor. Agora o campo é o mundo (Mt 13,48), lugar aberto, de risco e de insegurança, onde o semeador sai para semear. Ele lança a semente em todo tipo de terreno, mas não é ele que rega (cf. 1Cor 3,7) menos ainda aquele que faz crescer (cf. Mc 4,26-29). A ação do semeador é marcada por uma gratuidade radical: ele somente lança a Palavra de Deus, talvez pequena como semente de mostarda (cf. Mc 4,30-32) e não se preocupa nem de arrancar o joio (cf. Mt 13,29). Mas é animado por uma profunda esperança de que algo possa dar fruto.

Missão ad gentes
A missão ad gentes é uma atividade marcada pela pura fé.
Para o DA, as gentes destinatárias da missão são, em primeiro lugar, os pobres, enquanto carecem de reconhecimento por parte da sociedade com um todo. São os excluídos, ―não são somente explorados, mas supérfluos e descartáveis (DA 65), povo de rua, migrantes, enfermos, dependentes químicos, presos (cf. DA 8.6), pessoas que representam somente um custo e que, portanto, para a lógica neo-liberal, devem ser eliminados.
Também destinatária dessa missão é a família (cf. DA 548), como patrimônio da humanidade inteira, núcleo da sociedade mundial, afetado por difíceis condições de vida que ameaçam diretamente sua existência (cf. DA 432), junto a todos seus sujeitos (crianças, adolescente, jovens, idosos, mulheres, homens, mãe e pai de família). O DA não esquece dos areópagos da cultura moderna global : o mundo da educação, da comunicação, da política, da economia, da ciência e tecnologia, onde o Evangelho e a Igreja são vistos muitas vezes como estranhos e hostis. Enfim, um enfoque especial sobre a cidade, onde surgem novos costumes e modelos de vida, e sobre os indígenas e afro-descendentes, com os quais a missão ad gentes tem uma dívida histórica.
Tudo isso representa para a Igreja da América Latina e Caribe uma missão ad gentes fora de sua casa e de seus quintais. Podemos dizer que ela está mergulhada nessa missão, e que, portanto, constitui para ela e seus missionários uma atividade primária e essencial, jamais concluída.

Missão universal
Vivemos num mundo globalizado – queiramos ou não queiramos – que nos impele para uma visão mundial dos desafios e das perspectivas para a humanidade (cf. DA 406). Somos cidadãos mundiais que precisam cuidar do planeta-casa e da humanidade-família (cf. DA 470 – 475).
Muitas vezes no nosso ministério lembrar aos cristãos que eles são missionários pelo batismo e por sua própria vocação (cf. DA 284 – 285; 377), mas não se recorda, com o mesmo ânimo, que são universais, católicos, e que têm compromissos com o mundo inteiro. Sem essa característica se desvirtua completamente o ser discípulo missionário. A paixão pelo mundo, própria da vocação cristã, se expressa no sentir e no vibrar profundamente pela humanidade inteira, e em ser capaz de realizar gestos simples, ousados e concretos de solidariedade e de partilha com os outros povos, até o envio de missionários e missionárias além-fronteiras. Em outras palavras, ―pensar mundialmente e agir localmente. Só assim nos tornaremos um sinal profético de uma nova humanidade mundial, fraterna e multicultural.

A serviço do projeto de Deus

Todos nós fiéis leigos temos o compromisso de ser anunciadores do evangelho(cf. C. OCDS 25), mas como carmelitas seculares o nosso compromisso é maior. Somos chamados a testemunhar o carisma teresiano onde estivermos inseridos: no trabalho, na comunidade, no lazer, na Igreja, na pastoral de conjunto, em sua missão evangelizadora, e sob a direção do Bispo (cf. C.OCDS 27), levando a riqueza de nossa espiritualidade nas missões, paróquias, casas de oração, Institutos de espiritualidade, grupos de oração, pastoral da espiritualidade.
Iluminados pela Palavra, pelo testemunho dos nossos santos fundadores, alimentados pela Eucaristia e contemplando Maria como Mãe e Irmã, modelo da vida dos membros da Ordem(cf C.OCDS 29), ela que melhor assimilou e viveu o evangelho, seja sempre nosso modelo de ação evangelizadora , nos ajudando a estar sempre a serviço do projeto de Deus, fazendo tudo aquilo que seu Filho nos disser.

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