"A Igreja
peregrina é missionária por natureza, porque tem sua origem na missão do Filho
e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai". Por isso, o impulso
missionário é fruto necessário à vida que a Trindade comunica aos
discípulos.(DA347)
Cidinha Paula,ocds
VIVER E COMUNICAR A
VIDA NOVA EM CRISTO NOSSOS POVOS
Neste tópico tem duas
palavras importantes. Primeiro: natureza.
A Igreja é
missionária por sua natureza essência. Essa essência é de Deus, porque ―este
desígnio brota do amor de Deus, isto é, da caridade de Deus Pai. Em
outras palavras, a missão vem de Deus porque Deus é amor, um amor que não se contém,
que transborda, que se comunica, que sai de si já com a criação do mundo, e
conseqüentemente ao pecado da humanidade, com a história da salvação para
reintegrar as criaturas na vida plena do Reino. É a Missio Dei, o próprio Deus
que se auto-envia pela missão do Filho e do Espírito através dos quais o
próprio Pai se revela como amor (cf. Jo 14,9).Resumindo, Deus é missão.
A segunda palavra é
missionária. A Igreja é por sua natureza missionária. Isso constitui uma
revolução no próprio conceito de Igreja, que procede da missio Dei. Não é mais
a Igreja que envia missionários, mas é ela própria enviada como missionária.
Seu envio não é conseqüência: é essência.
A atividade
missionária não é tanto uma ação da Igreja, mas é simplesmente a Igreja em ação.
Um Deus humano
Jesus causa
desconforto, conflito com as estruturas de poder da sociedade. O anuncio de um
Deus tão humano deixa os homens da Lei e os poderosos indignados.
Se o Evangelho é uma
Boa Nova libertadora para os pobres e os humildes, ao mesmo tempo, é uma
notícia terrível e ameaçadora para os ricos e os poderosos (cf. Lc 1,52-53).
Uma vida plena
Fazer
discípulos na missão (cf. Mt 28,19), portanto, quer dizer fazer irmãos. A
comunhão de vida estabelecida mediante relações fraternas constitui a origem, o
caminho e a meta da missão: ―descobrimos, dessa forma, uma profunda lei da
realidade: a vida só se desenvolve plenamente na comunhão fraterna e justa (DA
359).
Uma missão que
comunica vida
A partir daqui
entendemos por que uma vida plena segundo o Evangelho é uma vida que se torna
dom. A vida de Jesus foi um dom: ―tomai e comei, isto é o meu corpo. Nós
fazemos eucaristicamente memória desse dom quando nos entregamos inteiramente à
doação, até coincidir rigorosamente com o Dom recebido.
A referência maior é
o Mestre e Senhor que lava os pés (Jo 13,1-17) e que recomenda: ―vocês devem
fazer a mesma coisa que eu fiz (Jo 13,15). Ou, em outras palavras: “fazei isto
em memória de mim”.
A Eucaristia é o
centro vital do universo, capaz de saciar a fome de vida e felicidade: Aquele
que se alimenta de mim, viverá por mim‘ (Jo 6,57). Nesse banquete feliz
participamos da vida eterna e, assim, nossa existência cotidiana se converte em
Missa prolongada (DA 354).
RENOVAÇÃO MISSIONÁRIA
DAS COMUNIDADES
A missão de comunicar
vida é a razão de ser da Igreja (cf. DA 373) Por isso ela é chamada a
desinstalar-se: a Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar
na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos
pobres do Continente (DA 362).
Se missão significa envio,
todo envio pressupõe um deslocamento e uma saída: nós somos agora, na América
Latina e no Caribe, seus discípulos e discípulas, chamados a navegar mar
adentro para uma pesca abundante. Trata-se de sair de nossa consciência isolada
e de nos lançarmos, com ousadia e confiança , à missão de toda a Igreja (DA
363). A conversão missionária da qual fala o DA em uma de suas páginas centrais
(cf. 7.2 Conversão pastoral e renovação missionária das comunidades) trata-se
substancialmente de uma saída. Na saída de si, do círculo da própria comunidade
e dos confins da própria terra, se realiza para a Igreja essa conversão.
Paradoxalmente, é nessa saída que a Igreja encontra sua razão de ser e sua
própria identidade.
“Temos que ser de
novo evangelizados” (DAp 549)
O tema da conversão,
antes de ser dirigido aos destinatários da missão, é apontado pelo DA como
exigência fundamental para a própria Igreja. Com o mesmo espírito do Vaticano
II, Aparecida analisa que, na atual conjuntura de grandes mudanças,
―sentimo-nos desafiados a discernir os sinais dos tempos (DA 33) e a assumir
uma atitude de permanente conversão pastoral (DA 366). Na mudança global a
Igreja precisa mudar também, mas não apenas pastoralmente ―seu jeito de ser,
ela precisa ser evangelizada de novo para converter-se numa Igreja cheia de
ímpeto e audácia evangelizadora (cf. DA 549). Conversão é um convite para
Igreja e não, primeiramente, para o mundo.
Como “peregrinos a
caminho” (DA 553)
A missão consiste no seguinte: não podemos
esperar que as pessoas venham a nós, precisamos nós, ir ao encontro delas e
anunciar-lhes a Boa Nova ali mesmo onde se encontram. Esse princípio parece
quase óbvio. No entanto, na prática, a Igreja sempre teve a tentação de
evangelizar os povos a partir de sua própria condição, permanecendo em seu
lugar, a partir de sua própria cultura, enviando e delegando seus missionários,
mas sem se envolver num movimento de saída e de inserção nas situações que
desejavam evangelizar.
Missionário não é, em
si, aquele que acolhe, mas é o acolhido.
Uma Igreja enviada é
uma Igreja que está fora de casa, que faz a experiência radical do seguimento,
do despojamento e da itinerância, como companheira dos pobres (cf. DA 398) e
como hóspede na casa dos outros.
O verbo mittere,
origem da palavra missão, quer dizer também libertar, deixar andar, soltar: o
envio tem tudo a ver com liberdade e libertação. O anúncio do Reino de Deus
precisa andar solto pelo caminho.
“Além de uma pastoral
de mera conservação” (DA 370)
Somos convidados a
transformar não apenas as nossas pessoas, mas o nosso próprio agir. Praticamente,
devemos passar do hábito de apenas planejar , mas continuamente avaliá-lo,
acompanhá-lo, modificá-lo: ―Esse projeto diocesano exige acompanhamento
constante por parte do bispo, dos sacerdotes e dos agentes pastorais, com
atitude flexível que lhes permita manter-se atentos às exigências da realidade
sempre mutável (DA 371).
A nota do DA é
extremamente indicativa: ―não se trata só de estratégias para procurar êxitos
pastorais mas da fidelidade na imitação do Mestre (DA 371). Ter um projeto
missionário significa imitar Jesus, ser fiel a ele. Ele teve um projeto
missionário? Sim, sem dúvida. O encontramos em Mateus 9,35-10,42. Ai podemos
buscar linhas mestras para traçar nossos projetos e nosso caminhos.
NOSSO COMPROMISSO COM
A MISSÃO AD GENTES
A Igreja se encontra
hoje numa situação de diáspora diante da fragmentação e da multi-culturalidade
do mundo atual.O catolicismo na América Latina perde porcentagens de supostos
adeptos e assiste ao crescimento das igrejas pentecostais.
Nessa situação de efervescência, cidades e
metrópoles substituíram aldeias em todos os continentes. Sabedorias populares e
estruturas comunitárias deram lugar à autonomia e à liberdade das pessoas. A
questão religiosa, no seu conjunto, se amplifica e se aprofunda diante dos
desafios do mundo pós-moderno e globalizado (cf. DA 37). Para a humanidade do
século XXI, a religião torna-se sempre mais
uma mercadoria para satisfazer as necessidades/desejos espirituais de
sentido dos indivíduos, dispensando, porém, a adesão a uma comunidade e a
afiliação a uma confissão .
Numa realidade
marcada por grandes e profundas mudanças, a Igreja procura encarar os desafios
do mundo de hoje com uma atitude ambivalente: de um lado, positivamente, com
confiança, atenção e escuta, discernindo os ―sinais dos tempos em que Deus se
manifesta (DA 366); por outro, com apreensão, frente ―à desordem generalizada
que se propaga por novas turbulências sociais e políticas, pela difusão de uma
cultura distante e hostil à tradição cristã (DA 10).
Missão aos corações
Por isso que a missão
não é primariamente uma questão de estruturas, de métodos e de estratégias, mas
é uma questão de homens e mulheres novos: ―não há novas estruturas se não há
homens novos e mulheres novas que mobilizem e façam convergir nos povos ideais
e poderosas energias morais e religiosas (DA 538). O diálogo e o anúncio missionário,
antes de mais nada, precisa passar de pessoa a pessoa, de casa em casa, de
comunidade a comunidade (...) procurando dialogar com todos em espírito de
compreensão e de delicada caridade (DA 550). De coração a coração, objetivo da
missão é converter os corações, fazendo com que todos se tornem discípulos
missionários (cf. Mt 28,19). Isso significa praticar a Palavra e reconhecer-se
como irmãs e irmãos, filhos do mesmo Pai, uns com os outros, próximos aos
demais no mundo inteiro.
Comunidade
missionária
O segundo âmbito da
missão ad gentes que podemos identificar no DA é a constituição da comunidade
missionária:
A Diocese, em todas
as suas comunidades e estruturas, é chamada a ser comunidade missionária (cf.
ChL 32). Cada Diocese necessita fortalecer sua consciência missionária, saindo
ao encontro dos que ainda não crêem em Cristo no espaço de seu próprio
território e responder adequadamente aos grandes problemas da sociedade na qual
está inserida. Mas também, com espírito materno, é chamada a sair em busca de
todos os batizados que não participam na vida das comunidades cristãs (DA168).
Trata-se de uma firme
decisão que ―deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos
pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer
instituição da Igreja (DA 365). Aqui, a consciência missionária é explicitamente
ad gentes porque se caracteriza pela saída ao encontro dos que ainda não crêem
em Cristo, e só como complemento a comunidade é chamada a sair em busca de
todos os batizados que não participam na vida das comunidades cristãs.
Missão Continental
“Assumimos o
compromisso de uma grande missão em todo o Continente, que de nós exigirá
aprofundar e enriquecer todas as razões e motivações que permitam converter
cada cristão em discípulo missionário. Necessitamos desenvolver a dimensão
missionária da vida de Cristo. A Igreja necessita de forte comoção que a impeça
de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do
sofrimento dos pobres do Continente. Necessitamos que cada comunidade cristã se
transforme num poderoso centro de irradiação da vida em Cristo. Esperamos em
novo Pentecostes que nos livre do cansaço, da desilusão, da acomodação ao
ambiente; esperamos uma vinda do Espírito que renove nossa alegria e nossa
esperança. Por isso é imperioso assegurar calorosos espaços de oração
comunitária que alimentem o fogo de um ardor incontido e tornem possível um atraente
testemunho de unidade para que o mundo creia (Jo 17,21) (DA 362).
Nesse esforço, as
comunidades cristãs podem ganhar de qualidade em sua vivência e testemunho
missionário sem, porém alcançar as metas esperadas. Com efeito, a nova
evangelização encontra na figura do semeador uma sua possível metáfora. O lugar
não é mais o redil do Bom Pastor. Agora o campo é o mundo (Mt 13,48), lugar
aberto, de risco e de insegurança, onde o semeador sai para semear. Ele lança a
semente em todo tipo de terreno, mas não é ele que rega (cf. 1Cor 3,7) menos
ainda aquele que faz crescer (cf. Mc 4,26-29). A ação do semeador é marcada por
uma gratuidade radical: ele somente lança a Palavra de Deus, talvez pequena
como semente de mostarda (cf. Mc 4,30-32) e não se preocupa nem de arrancar o
joio (cf. Mt 13,29). Mas é animado por uma profunda esperança de que algo possa
dar fruto.
Missão ad gentes
A missão ad gentes é
uma atividade marcada pela pura fé.
Para o DA, as gentes destinatárias
da missão são, em primeiro lugar, os pobres, enquanto carecem de reconhecimento
por parte da sociedade com um todo. São os excluídos, ―não são somente
explorados, mas supérfluos e descartáveis (DA 65), povo de rua, migrantes,
enfermos, dependentes químicos, presos (cf. DA 8.6), pessoas que representam
somente um custo e que, portanto, para a lógica neo-liberal, devem ser
eliminados.
Também destinatária dessa
missão é a família (cf. DA 548), como patrimônio da humanidade inteira, núcleo
da sociedade mundial, afetado por difíceis condições de vida que ameaçam diretamente
sua existência (cf. DA 432), junto a todos seus sujeitos (crianças,
adolescente, jovens, idosos, mulheres, homens, mãe e pai de família). O DA não
esquece dos areópagos da cultura moderna global : o mundo da educação, da
comunicação, da política, da economia, da ciência e tecnologia, onde o
Evangelho e a Igreja são vistos muitas vezes como estranhos e hostis. Enfim, um
enfoque especial sobre a cidade, onde surgem novos costumes e modelos de vida,
e sobre os indígenas e afro-descendentes, com os quais a missão ad gentes tem
uma dívida histórica.
Tudo isso representa
para a Igreja da América Latina e Caribe uma missão ad gentes fora de sua casa
e de seus quintais. Podemos dizer que ela está mergulhada nessa missão, e que,
portanto, constitui para ela e seus missionários uma atividade primária e essencial,
jamais concluída.
Missão universal
Vivemos num mundo
globalizado – queiramos ou não queiramos – que nos impele para uma visão
mundial dos desafios e das perspectivas para a humanidade (cf. DA 406). Somos
cidadãos mundiais que precisam cuidar do planeta-casa e da humanidade-família
(cf. DA 470 – 475).
Muitas vezes no nosso
ministério lembrar aos cristãos que eles são missionários pelo batismo e por
sua própria vocação (cf. DA 284 – 285; 377), mas não se recorda, com o mesmo
ânimo, que são universais, católicos, e que têm compromissos com o mundo
inteiro. Sem essa característica se desvirtua completamente o ser discípulo
missionário. A paixão pelo mundo, própria da vocação cristã, se expressa no
sentir e no vibrar profundamente pela humanidade inteira, e em ser capaz de
realizar gestos simples, ousados e concretos de solidariedade e de partilha com
os outros povos, até o envio de missionários e missionárias além-fronteiras. Em
outras palavras, ―pensar mundialmente e agir localmente. Só assim nos
tornaremos um sinal profético de uma nova humanidade mundial, fraterna e
multicultural.
A serviço do projeto
de Deus
Todos nós fiéis
leigos temos o compromisso de ser anunciadores do evangelho(cf. C. OCDS 25),
mas como carmelitas seculares o nosso compromisso é maior. Somos chamados a
testemunhar o carisma teresiano onde estivermos inseridos: no trabalho, na
comunidade, no lazer, na Igreja, na pastoral de conjunto, em sua missão
evangelizadora, e sob a direção do Bispo (cf. C.OCDS 27), levando a riqueza de
nossa espiritualidade nas missões, paróquias, casas de oração, Institutos de
espiritualidade, grupos de oração, pastoral da espiritualidade.
Iluminados pela
Palavra, pelo testemunho dos nossos santos fundadores, alimentados pela
Eucaristia e contemplando Maria como Mãe e Irmã, modelo da vida dos membros da
Ordem(cf C.OCDS 29), ela que melhor assimilou e viveu o evangelho, seja sempre nosso
modelo de ação evangelizadora , nos ajudando a estar sempre a serviço do
projeto de Deus, fazendo tudo aquilo que seu Filho nos disser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário