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domingo, 10 de junho de 2012

A “FORMAÇÃO” DO CARMELITA SECULAR




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IX CONGRESSO REGIONAL NORTE-NORDESTE
Recife-   7 a  10 de junho de 2012


A “FORMAÇÃO” DO CARMELITA SECULAR[1


Frei Aloysius, OCD[2]
(Tradução: comissão de formação-J.E.Manfredini)

dizer com a palavra formação[3], porque penso que há muita confusão na definição de Quero dar respostas a algumas questões e tratar de alguns pontos de suma importância que se acham em três documentos citados anteriormente. Esses pontos nos ajudarão a entender exatamente o que queremos formação.
Na maioria dos casos, quando falamos de programas de formação, na realidade estamos falando, na verdade, de “programas de informação”. Mas a informação não é necessariamente formação.
A fim de compreender bem a diferença que existe entre um e outro conceito (formação/informação), quero adiantar que é o que identifica precisamente um membro da Ordem Secular.
a)         Existem muitas pessoas que tem um vivo interesse pela espiritualidade carmelitana, por Santa Teresa, São João da Cruz, Santa Teresinha ou Edith Stein. Tem muito interesse, mas não sentem nenhuma inclinação/vocação a formar parte, de pertencer a Ordem Secular.
b)         Há muitas pessoas que amam a Santíssima Virgem e querem levar seu escapulário.
c)         Muitos mais levam o escapulário em todo o mundo e não são carmelitas. E é que o escapulário é um sacramental da Igreja. Quando fiz a primeira comunhão, no dia seguinte, todos os primocomungantes recebemos o escapulário, e não éramos carmelitas.
d)         Dá-se o caso de muitas pessoas que querem seguir uma vida de oração, uma vida interior e tendem a buscar uma oração profunda, mas não tem vocação para a Ordem Secular.
Então, o que é que identifica uma pessoa com a vocação à Ordem Secular dos Carmelitas Teresianos? Minha resposta é: O compromisso com a Ordem. Esse compromisso é precisamente o que distingue o carmelita secular de outras pessoas que tem muito interesse espiritual pela Santíssima Virgem, o escapulário, a oração. Os que têm vocação de carmelitas são aqueles que desejam FORMAR PARTE (formar = formação) DA ORDEM[4].
Ontem, uma de vocês me recordava o que disse no Congresso de Pamplona, e, que por outra parte vou dizendo em todo o mundo: “Tenho para vocês duas notícias, uma boa e outra nem tanto. A boa é que vocês são carmelitas, membros da Ordem. Mas a outra notícia que não é tão boa é que ser carmelita não é privilégio; é uma responsabilidade”.
Certo. Trata-se de uma responsabilidade. Vocês fazem um compromisso com a Ordem. Por este compromisso assumem a responsabilidade de corresponder às exigências de serem carmelitas. Vocês com o compromisso – seja qual for a fórmula que se adota: promessa temporária ou definitiva, votos ou outra fórmula – tem que abrir-se à formação que quer e lhes pede a Ordem. Não necessariamente a “informação”.
Desejo ler alguns pontos da Ratio e do que disse frei Luis Aróstegui no documento Assistência Pastoral. Trata-se de entender o que quer dizer-nos a Igreja em seus documentos quando usam a palavra formação[5].

A COMUNIDADE NO PROCESSO DE “FORMAÇÃO”

Quero falar do lugar que desempenha a comunidade no processo de formação. Sigo alguns números da Ratio, do 24 ao 29. Estes seis números falam do papel que representa a comunidade no processo de “formação”.
24. A comunidade secular do Carmelo é uma associação de fiéis de Cristo, inspirada pelo ideal da Igreja Primitiva onde “tinham um só coração e uma só alma” (At. 4,32). Seus membros são animados pela espiritualidade do Carmelo Descalço.
25. A comunidade secular expressa o mistério da Igreja-Comunhão. E de fato, ele provém da comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, de quem ela se alimenta. Ela toma parte na missão da Igreja, missão de convidar a todos para comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo (LG 1,19).
Por isso eu prefiro a palavra “comunidade” à palavra fraternidade. A Igreja universal tem certeza na comunidade/comunhão, mas não na fraternidade.
26. A vida fraterna, inicialmente, se inspira na regra “primitiva” dos Irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo dada por Santo Alberto, patriarca de Jerusalém e confirmada por Inocêncio IV. Fieis aos ensinamentos de Nossa Santa Madre Teresa, os membros são conscientes de que seu compromisso não pode ser levado sozinho; a sua vida fraterna é um lugar privilegiado onde eles se aprofundam, se formam e amadurecem.
27. É Cristo, em seu mistério pascal, o modelo e sustentáculo da vida fraterna. Esta vida fraterna constitui um modo evangélico de conversão que requer a ousadia de renunciar a si mesmo para acolher e integrar o outro dentro da comunidade. Esta renúncia torna-se um modo de vida para viver como Jesus viveu.
28. "Por causa desta identidade da comunidade Ordem Secular Carmelitana, ela é o lugar apropriado para a formação do candidato que busca a admissão. A comunidade deve oferecer um bom exemplo de como vive um Carmelita Secular, mesmo se o ideal...
(Para entrar na comunidade perfeita há que esperar a morte. É a vida eterna a comunidade perfeita. Todas as comunidades que existem sobre esta terra são imperfeitas. A comunidade perfeita não existe, somente na vida eterna)
Somente como exceção, e em circunstâncias extraordinárias, pode um candidato ingressar na Ordem como membro isolado. A comunidade da Ordem Secular como um todo, e cada um de seus membros, tem responsabilidade formativa, a ser concretizada: na maneira determinada, em cooperação com o responsável pela formação e com o Conselho.
29. O Conselho da Comunidade tomará cuidado especial ao eleger seculares acertados para a equipe de formação, pessoas de oração e cultura, com mente aberta e ansiosos por partilhar sua experiência carmelitana com os candidatos...
Experiência carmelitana, não simples e só conhecimento da espiritualidade, das obras... Experiência carmelitana.
Nomeados os formadores e estando todos - os melhor qualificados, por númerosos que sejam -  em sintonia em seus objetivos e métodos será mais bem-sucedida a educação dos candidatos. Um papel formativo importante na comunidade é exercido pelos membros mais velhos, os enfermos ou aqueles que estão de alguma forma incapacitados, os quais, em seu contato regular com os candidatos, devem ser um muito bom exemplo por sua experiência.
Estamos falando, em consequência, da comunidade como “lugar” de formação; não tenho falado de programa de informação. É certo que uma boa formação depende de uma boa informação, mas a formação, afinal, não se reduz a só informação. Um pode dominar toda a informação que queira e não haver chegado a formar parte da comunidade.
Frequentemente, recebo perguntas, de um bravo, bom e excelente presidente e me põe a seguinte questão: Pode seguir adiante um membro da comunidade, quer dizer, passar ao seguinte período de formação, pois já tem conhecimentos de sobra da espiritualidade carmelitana? Não vamos acelerar os passos, respondo, porque o propósito dos seis anos de formação é incorporar progressiva e paulatinamente as pessoas na comunidade de pessoas. Não se trata unicamente de dominar matérias e conteúdos. É saber como viver a espiritualidade. São conceitos diversos formação e informação, como tenho tentado deixar claro.


Reflexão -    EMAÚS – ACOMPANHAMENTO EDUCATIVO
“13.Eis que dois deles viajavam nesse mesmo dia para um povoado chamado Emaús, a sessenta estádios de Jerusalém;14.e conversavam sobre todos esses acontecimentos.15.Ora, enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles;16.seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo.17.Ele lhes disse: "Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?" E eles pararam, com o rosto sombrio.18.Um deles, chamado Cléofas, lhe perguntou: "Tu és o único forasteiro em Jerusalém que ignora os fatos que nela aconteceram nestes dias?" —19."Quais?", disse-lhes ele. Responderam: "O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obra e em palavra, diante de Deus e diante de todo o povo:20.nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.21.Nós esperávamos que fosse ele quem iria redimir Israel; mas, com tudo isso, faz três dias que todas essas coisas aconteceram!22.É verdade que algumas mulheres, que são dos nossos, nos assustaram. Tendo ido muito cedo ao túmulo23.e não tendo encontrado o corpo, voltaram dizendo que tinham tido uma visão de anjos a declararem que ele está vivo.24.Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas tais como as mulheres haviam dito; mas não o viram!"25.Ele, então, lhes disse: "Insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram!26.Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?"27.E, começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito.28.Aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais adiante.29.Eles, porém, insistiram, dizendo: "Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina". Entrou então para ficar com eles. 30.E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-o a eles. 31.Então seus olhos se abriram e o reconheceram; ele, porém, ficou invisível diante deles. 32.E disseram um ao outro: "Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?"33.Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém. Acharam aí reunidos os Onze e seus companheiros;”
Biblia de Jesrusalem Lucas 24,13-33

- O Viandante que se aproxima e caminha com os discípulos para propor-lhes  esperança e  vida;
- é necessário um relacionamento interpessoal projetado para frente, que dê sentido e plenitude;
- fazer-se companheiro de caminho;
- o Modelo de Jesus, Viandante, que retorna aos discípulos no momento da tristeza, caminha com eles, fala-lhes até que sua Palavra faça arder seu coração... até o ponto de ser convidado: “Permanece conosco”...
- Jesus não quer entrar, mas entra porque foi convidado: ele quer que sua presença seja desejada.. ; é modelo para o educador que deve fazer-se amar, que pode educar somente quando ama; é um amor que preenche as tensões do principiante com palavras, mas sobretudo com gestos, capazes de dizer que o fim de toda obra educativa é o de conduzir ao amor, como dizia S. Agostinho: “Não existe convite maior ao amor, do que amar por primeiro”.
-reconhecem-No no repetir o gesto de partir o Pão...
-é uma educação que fala ao coração... não pode ser somente verbal, mas necessita de gestos prenhes de significado e de paixão, capazes de comunicar ao outro a vida...
- quando Jesus desaparece, os discípulos fazem-se perguntas e decidem voltar a Jerusalém... a educação autêntica não faz dependentes do mestre, mas os torna capazes de caminharem sós, mesmo no escuro da noite;
- é uma educação que forma para viver e contagiar a liberdade...
- Emaús revela-nos o momento da companhia, da memória e da profecia; é uma estrutura exemplar de cada um dos processos educativos...
(Bruno ForteUna teologia per La vita, (Brescia: La Scuola ed. 2011) 123ss.)

É  importante que o estilo e toda a comunidade se torne formativa... os conteúdos são importantes, mas a vida é mais! E deve-se formar para a vida...( Frei Alzinir)
Bibliografia:  Constituições, a Ratio e Acompanhamento pastoral da OCDS

Apresentação  no Congresso Regional: Rose Piotto, ocds



















[1] Palestra proferida em Ávila.
[2] Frei Aloysius foi delegado geral para a OCDS.
[3] As palavras em negrito significam que frei Aloysius frisou com insistência sobre elas.
[4] Sublinhou de maneira especial e particular este jogo de palavras. Enfatizou o “formar parte da Ordem”, por um lado; por outro o binômio: formar = formação.
[5] Há pessoas que dizem conhecer a espiritualidade teresiana porque leram Santa Teresa, São João da Cruz e adicionam que podem citar de memória exaustiva seus textos. Então concluem que tem vocação de carmelita secular. [O texto é original de Frei Aloysius; parece ilustrativo. Ao colocá-lo na nota de roda pé  foi opção do transcritor].

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