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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

TERESA DE ÁVILA, AMIGA DE DEUS E DA HUMANIDADE


Frei Patrício Sciadini, ocd.

Faz quarenta anos que Santa Teresa de Ávila é minha amiga e estando, ao que diz São João da Cruz, ela o vai ser até o fim da vida, porque os amigos são como o vinho, mais envelhecem ficam melhores. Quem encontra Teresa de Ahumada encontra de verdade uma amiga que tem um coração grande e uma vontade de ajudar a todos a “sair” dos pequenos problemas da vida, das dificuldades, das ninharias oferecendo uma solução que não é mágica, mas fruto de um longo e difícil caminho: só Deus basta. E aquele que a Deus tem nada lhe falta.

Teresa não foi sempre a Teresa dos livros magisteriais de oração como o “Castelo Interior” ou o “Caminho de Perfeição”. Mas foi uma Teresa vaidosa, buscadora da beleza e que gostava de ir atrás das fantasias dos romances de cavalaria. Foi a Teresa cheia de entusiasmo mas que não tinha muitas raízes para levar à frente uma vida de sacrifício. Gostava de Deus mas não queria de forma alguma libertar-se de certas comodidades e regalias a que tinha direito no mosteiro da Encarnação. Mas sempre, como ela diz, “foi amiga da verdade”.

Há uma virtude no fundo da alma de Santa Teresa que não se pode colocar em discussão: a humildade. E ela apreciava muito esta virtude que, no Caminho de Perfeição, apresentando várias virtudes diz: “embora que a coloque por último não é a última mas a principal”. Quem vive de verdade a humildade sabe não desprezar os dons que Deus, mas nem também os coloca na “vitrine” para que todos os vejam e elogiem.

Humildade é caminhar na verdade. A verdade se faz presente somente aos humildes. O que conquista o coração quando nos aproximamos de Santa Teresa é sua simplicidade e sinceridade. Não toma pose nem de mística, nem de doutora ou professora, expõe com simplicidade o que se passa no seu coração, o que acontece entre ela e Deus, “que são coisas mui secretas”. Corre o risco de não ser compreendida, mas nem por isso volta atrás e tenta modificar o que sente. Ela sabe que as coisas de Deus não é permitido a todos poder compreende-las mas somente a poucos.

Teresa é mestra do que ela experimenta e sabe. Não são raros os casos em que ela diz: “disto eu entendo porque já passei por aí.” Não há nesta mulher inteligente, intuitiva e sábia a mínima sombra de orgulho e de prepotência intelectual e espiritual. É amiga, repete como mãe e amiga as mesmas coisas sem se cansar, na esperança de que possam ser compreendidas e vividas.

Teresa sabe como chegar ao coração. Vai direto ao assunto e consegue convencer a todos. No seu tempo convenceu os maiores teólogos, hoje convence a Igreja, Papas e Bispos, e homens e mulheres da estrada como nós. A oração para Teresa é a porta de toda a felicidade, e a falta de oração é o caminho para todos os males. Por isso, por mais pecadores que formos nunca devemos deixar a oração.

O demônio gosta de convencer os pecadores de não rezarem porque são pecadores. Chegar à fonte da oração, manancial de Água viva não é caminho fácil e nem livre de obstáculos mas se faz necessária uma “determinada determinação”, uma “coragem corajosa” e, aconteça o que acontecer, não voltar atrás nunca. Não importa o que os outros podem dizer e pensar, o que vale é agradar somente ao Senhor, que Teresa gosta de chamar carinhosamente de “Sua Majestade”.

Uma amiga como Teresa de Ávila nos faz falta nas noites da vida. Só é possível ser de verdade amigos quando somos amigos de Deus e dos outros. Uma amizade sem Deus na primeira ventania vai-se embora. E a amizade alicerçada sobre Deus-amor não há tempestade e terremoto que possam destruir. É só experimentar para crer. Vale a pena ler Santa Teresa e escolhe-la como amiga!

OS 10 PASSOS DA ORAÇÃO

caminho

NASCIDOS PARA VOAR



“A etapa mais alta da vida alcança-se na convivência com Deus. Precisamente aqui radica a audácia da aventura humana”(Joseph Ratzinger). “Dá graças pelos rostos das pessoas boas e pelo doce amor que há detrás dos seus olhos... Pelas flores que se movem ao vento” (Carta de Cary Grant a sua filha antes de morrer). “Poucas coisas nos interessam tanto a nós, homens e mulheres de hoje, como os grandes fenómenos de mudança que marcam a nossa vida e o rumo da história humana. Essa inabarcável mudança da nossa humanidade, desde o homem das cavernas ao homem dos arranha-céus” (Tomás Álvarez).“Quem foram os que viveram desde o mais profundo essa experiência de mudança: os convertidos, os poetas, os místicos... expressaram-na em imagens e símbolos que nos questionam muito mais que as palavras e que as teorías” (Tomás Álvarez).“Num prazo de tempo brevíssimo amplos sectores da sociedade sofreram uma espécie de ataque nuclear espiritual, uma espécie de big bang na cultura cristã que até agora constituía o nosso fundamento. Embora as pessoas não neguem Deus, ninguém conta já em que exerça poder sobre o mundo e possa fazer algo de verdade" (Peter Seewald).


O BICHO-DA-SEDA .

A força do desejo
. O Senhor é quem faz em nós obras grandes (cf M V,2,1). A nós toca dispormo-nos (cf M V,2,1). A oração começa sendo o que podemos fazer para nos pormos diante de Jesus. Quando este desejo é grande, não há dificuldade que se ponha por diante. “Vieram então trazer-lhe um paralítico transportado por qutro homens. Como não podiam levá-lo à presença de Jesus, devido à multidão, descobriram o telhado no sítio em que Ele se encontrava e, tendo feito uma abertura, arrearam o catre em que jazia o paralítico” (Mc 2,3-4). Santa Teresa é uma testemunha forte do desejo profundo do ser humano por ir a Deus. .


As filigranas da natureza.
Quando contemplamos com olhos limpos a natureza que nos rodeia, nasce-nos o assombro e brota em nós o louvor a Deus que faz maravilhas e mostra em cada pequenina coisa a sua sabedoria (cf M V,2,2). Muitos oram assim..

A morte do velho.
O que soa a morte não gostamos. Repugna-nos a pena de morte, as mortes violentas. Temos medo da própria morte ou da morte daqueles a quem mais queremos. E sem embargo há mortes que nos levam à vida. “Matando, morte em vida a trocaste” (São João da Cruz). E somos nós os encarregados de dar morte ao que não nos dá vida. Como faz o bicho da seda “que começa a fabricar a seda e a edificar a casa onde há-de morrer. Esta casa quereria eu dar a entender aqui, que é Cristo” (M V,2,4). “Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Col 3,3-4). A morte “em vez de estar diante de nós, está atrás” (R. Panikker). .

Ânimo e ao trabalho!
Para deixar qualquer vício que se nos tenha pegado pelo caminho necessitamos de muito ânimo. Quanto mais para deixar todo o velho que levamos dentro! “Eia, pois , minhas filhas, demo-nos pressa em fazer este trabalho e a tecer este casulo, despojando-nos do nosso amor próprio” (M V,2,6). “Morra, morra este verme tal como o da seda em acabando de fazer para aquilo para que foi criado, e vereis como veremos a Deus e nos vemos tão metidas em Sua grandeza” (M V,2,6).


A NOVA CRIATURA


Tudo para a vida.
Esse passo pela morte é para renascer a outra maneira de viver, com horizonte novo, com psicologia nova, com nova abertura ao transcendente, com insaciável apetência de mais vida. Todo este processo está envolto em alegria. “A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas depois de ter dado à luz o menino, já se não lembra da aflição, pelo prazer de ter vindo ao mundo um homem” (Jo 16,21). “Que não teremos ainda acabado de fazer nisto tudo quanto podemos, quando este trabalhito que não é nada, junte Deus com Sua grandeza e lhe dê tão grande valor que o mesmo Senhor seja o prémio desta obra” (M V,2,5).







. A borboletinha. “Ó grandeza de Deus, e como sai daqui uma alma por haver estado um pouquinho metida na grandeza de Deus e tão junta com Ele” (M V,2,7). Aparece um novo sentido para a vida. “O tirar forma parte desde o princípio da essência de Deus. Tirar de confusões, tirar da apatia, tirar da solidão e do isolamento” (Martin Buber). . Algo insuspeito. “A mesma alma não se conhece a si mesma... Vê-se com um desejo de louvar ao Senhor... Logo começa a ter o de padecer grandes trabalhos... Os desejos de penitência grandíssimos, o de solidão, o de que todos conheçam a Deus; e daqui lhe vem uma grande pena de ver que é ofendido” (M V,2,7). “Ó grandeza de Deus! Poucos anos antes, e ainda talvez há dias, estava esta alma que não se lembrava senão de si! Quem a meteu em tão penosos cuidados?” (M V,2,11).


DESENHO DA PESSOA NOVA


- Tem asas para voar.
“Já não tem em nada as obras que fazia sendo lagarta, que era tecer a pouco a pouco o casulo; nasceram-lhe asas. Como se há-de contentar, podendo voar, andando passo a passo? Tudo lhe parece pouco de quanto pode fazer por Deus, segundo os seus desejos. Não tem por muito o que passaram os santos, entendendo já por experiência como ajuda o Senhor e transforma uma alma que já não parece ela, nem ainda sua figura” (M V,2,8). A fraqueza converte-se em fortaleza, a escravidão em liberdade; só Deus é para ela o seu verdadeiro gozo (cf M V,2,8). A fé cristã, ademais de memória, é também liberdade, abertura ao futuro.


- Enfrenta novos trabalhos. “Ó Senhor! e que novos trabalhos começam para esta alma! Quem dissera tal, depois de mercê tão subida? Enfim, de uma maneira ou de outra, há-de haver cruz enquanto vivemos” (M V,2,9). “O contemplativo é a pessoa totalmente entregue à acção, mas tendo o coração totalmente posto aos pés do Senhor” (Tony de Mello). A caridade vive-se até ao heroísmo.


- Tudo o vive com paz. “Não quero dizer que não tenham paz os que chegam aqui, que a têm, e muito grande; porque os mesmos trabalhos são de tanto valor e de tão boa raíz, que, embora muito grandes, deles mesmos sai a paz e o contentamento” (M V,2,10). E daí nascem caminhos de paz.

- Todo o seu ser ressuma louvor. Expressa-o muito bem o salmo 64: “Ressumam as pastagens do deserto, / as colinas revestem-se de alegria; / os campos cobrem-se de rebanhos, / e os vales enchem-se de trigais / expandindo-se com gritos e cantares”. A benção de Deus traduz-se em abundância, e a mesma terra parece sentir a alegria do dom divino.

- Tem o olhar posto em Jesus. “Pois vede, irmãs, o que o nosso Deus faz aqui para que esta alma já se conheça por Sua; dá-lhe do que tem, que é o que teve Seu Filho nesta vida: não nos pode fazer maior mercê” (M V,2,13). “Seguir a luz é o mesmo que ficar iluminados” (Ireneu de Leão). E com Jesus imagina a nova humanidade, para dar novas oportunidades ao amor.


Momento de Oração


Começa a orar com o louvor.
Deus é o que faz maravilhas.
EU TE LOUVO E TE BENDIGO, TU ÉS O MEU SENHOR.
EU TE LOUVO E TE BENDIGO, CANTO PARA TI.

Recorda o teu caminho cristão, os momentos de dor e de alegria, a presença sempre próxima do Senhor. Tem em conta que a santidade é a tua pobreza oferecida que se encontra com a grandeza de Deus.

Faz presente os amigos de Deus, eles são testemunhas da maturidade de todo o crescimento espiritual.

Escuta esta parábola:


A BORBOLETA “Um dia, uma pequena abertura apareceu num casulo. Um homem sentou-se e observou a borboleta por várias horas e como ela se esforçava para que o seu corpo passasse através daquele pequeno espaço. Então parecia que se tinha dado por vencida pois não se via nenhum movimento e não parecia fazer nenhum progresso. Parecia que tinha feito mais do que podia e ainda assim não conseguia sair. Então o homem decidiu ajudá-la. Pegou numa tesoura e com ela cortou o casulo para que a borboleta pudesse sair. A borboleta saiu com uma grande facilidade. Mas o seu corpo estava atrofiado, muito pequeno e com as asas maltratadas. O homem continuou observando a borboleta porque esperava que em qualquer momento as suas asas se fortalecessem, se abrissem com força e fossem capazes de suportar o seu peso afirmando-se com o tempo. Mas nada se passou. Na realidade, a borboleta passou o resto da sua vida arrastando-se com o corpo atrofiado e com as asas maltratadas e encolhidas. Nunca foi capaz de voar. O que o homem na sua gentileza e desejo de ajudar não comprendia era que o casulo apertado e o esforço necessário para sair pelo pequeno buraco era o modo em que Deus fazia que o flúido do corpo da borboleta fosse até às suas asas de maneira que estivesse listra para voar logo que tivesse saído do casulo.

AO ORAR A NOSSA VIDA FAZ-SE TRANSPARENTE


copiado do blog: http://www.oracaovirtual.com.pt/?id=content&id_content=26

domingo, 31 de janeiro de 2010

CARTA 396.

A D. PEDRO DE CASTRO Y NERO, EM AVILA

AVILA, 19 DE NOVEMBRO DE 1581

O LIVRO DAS MISERICÓRDIAS DE DEUS

UMA CONFERÉNCIA ESPIRITUAL COM D. PEDRO PARA ABRR-LHE A ALMA.

DÁ-LHE SEUS ESCRITOS PARA QUE OS LEIA E DÉ SUA OPINIÃO.

LOUVA AS “GALAS” DO ESTILO DE D. PEDRO

Jesus esteja com vossa mercê. O favor que vossa mercê me fez com sua carta de tal maneira me enterneceu, que dei primeiro graças a Nosso Senhor com um Te Deum laudainus, antes de as dar a vossa mercê, porque me pareceu recebê-la das mãos de que me vieram tantas outras. Agora beijo as de vossa mercê infinitas vezes, e quisera fazê-lo mais que por palavras. Que coisa é a misericórdia de Deus! Minhas maldades fizeram bem a vossa mercê; e tem razão, vendo-me fora do inferno que há tanto tempo tenho merecido. Assim é que intitulei esse livro “Das Misericórdias de Deus”.

Seja Ele para sempre louvado, que estava eu longe de pensar nesta graça que agora recebi; e contudo sentia-me perturbada a cada palavra mais forte. Não quisera dizer-lhe mais, por escrito. Suplico a vossa mercê venha ver-me amanhã, véspera da Apresentação, e porei diante dos olhos de vossa mercê uma alma que se desviou muitas vezes, a fim de que faça vossa mercê nela tudo o que julgar conveniente para torná-la agradável a Deus. Espero em Sua Majestade dar-me-á graça para obedecer-lhe toda a minha vida. Não pretendo, se houver de ausentar-me, recuperar a liberdade, nem a quero porque desejar isto seria coisa nova para mim; portanto, não é possível que me deixe de vir grande bem por seu meio, se vossa mercê de seu lado não me desamparar, e sei que não há de fazê-lo. Guardarei este seu bilhete comopenhor deste ajuste, embora tenha outro maior’.

O que suplico a vossa mercê, por amor de Nosso Senhor, é que sempre tenha presente quem eu sou, a fim de não fazer caso das mercês que recebo de Deus a não ser para considerar-me pior, pois, correspondendo tão mal a elas, está claro que o receber é ficar mais endividada. Vingue antes vossa mercê em mim a honra deste Senhor, já que Sua Majestade não quer castigar- me a não ser com mercês, o que é não pequeno castigo para quem se conhece.

Em acabando vossa mercê de ler esses papéis, dar-lhe-ei outros. Se os vir, não é possível deixar de aborrecer a quem deveria ser tão diferente do que sou. Penso que darão gosto a vossa mercê. Dê-lhe Nosso Senhor de Si, como Lhe suplico. Amém.

Nada perdeu vossa mercê para comigo pelo estilo com que escreve; tencionava até falar a vossa mercê nas suas galas: tudo aproveita para Deus, quando a raiz é a vontade de servi-lo. Seja por tudo bendito, amém, que há muito não sinto tão grande contentamento quanto nesta noite. Pelo título beijo a vossa mercê muitas vezes as mãos; mas é muito grande para mim.

TERESA DE JESUS