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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ser Leigo na Igreja do Século XXI.


   Celebração do aniversário de 10 anos de fundação
da Comunidade do Carmelo Secular de Tremembé – SP.

         Tema: Ser Leigo na Igreja do Século XXI.

1.      Nossa Vocação de Construtores da História.


Karl Rahner, um renomado teólogo católico, afirmou que “o Cristão do século XXI ou será místico ou não será cristão”. O homem espiritual torna-se um místico quando vive e comunica a sua comunhão com Deus numa tríplice dimensão: com Deus, consigo mesmo e com o seu semelhante. A capacidade da comunicação da vida interior ou comunicação de interioridades é um dom, um carisma que o Senhor dá àqueles que se tornam garimpeiros da alma. Como dizia Jacques Maritain: “Sou um rabdomante com o ouvido colado à terra para captar o murmúrio das nascentes escondidas, o imperceptível cicio das germinações invisíveis. E ainda como todo cristão (...) um mendigo do céu travestido de homem do nosso século[1]. Os místicos são esses rabdomantes do infinito, são “mendigos do céu revestidos da humanidade”, são homens e mulheres buscadores de Deus pela fé.
     E para que essa experiência saia do âmbito ideal e se torne um projeto encarnado e vivido na história e no tempo, porque não se pensar numa Pastoral da Espiritualidade que forme Escolas de Oração para a formação de discípulos missionários, que possam constituir pessoas cheias do Espírito Santo a fim de que eles exerçam os diversos ministérios das nossas comunidades?   
    
     Este fato não pode se apresentar como uma novidade, porque na comunidade de Jesus de Nazaré o primado da oração foi sempre uma exigência sine qua non (essencial) para a inserção do discípulo no seu grupo, elemento indispensável para ser enviado em missão. Porque não organizar de forma sistêmica, programada e estruturada a Pastoral da Espiritualidade e através das Escolas de Oração formar discípulos missionários que possam trabalhar nos vários âmbitos das atividades pastorais?

Neste vasto panorama da experiência de Deus através da oração, emergem vários grupos de formas, características e identidade muito diversas umas das outras, uns mais tradicionais, porém com nuances de novidades, outros mais vanguardistas no seu modo de ser e agir e expressar a fé; outros são mais apostólicos, outros mais contemplativos, mas entre todas essas diferenças, nota-se um desejo comum e sincero entre eles, que é o de servir cada vez mais e melhor o evangelho e a Igreja.

Neste sentido vemos a grande importância da contribuição das Escolas de Espiritualidade[2] como Escolas de oração para a formação dos fiéis leigos. Para este novo tempo, precisamos de uma nova evangelização, e para isso, de uma Igreja renovada e sempre atualizada nos seus métodos e uma estratégia de atuação pastoral que possa ver-julgar e agir na ótica de Jesus de Nazaré.

Para esta empreitada é necessário que o corpo todo trabalhe junto, os fiéis com seus padres, os padres com os seus bispos, os bispos seus coirmãos bispos, enfim todos os bispos com seus fiéis em torno do irmão maior, o Bispo de Roma.  Uma Igreja que seja expressão de unidade, comunhão numa única fé a serviço do evangelho.

Os discípulos de Jesus pediram para o seu mestre: “Mestre ensina-nos a orar”. Assim também pedem os grupos de fiéis leigos de qualquer seguimento pastoral de uma comunidade, o pedido é sempre o mesmo: “Padre: Ensina-nos a orar”, para que possamos trabalhar e servir mais e melhor, pede o povo de Deus. Pedem também os bispos para que se criem em diversos âmbitos da nossa atuação pastoral as chamadas: Escolas da Palavra, Escolas de Oração, Escolas Catequéticas, Escolas Missionárias a nível paroquial e diocesano. 

De alguma parte alguém poderá perguntar: Mas o que se deve esperar de uma Escola de Oração numa comunidade? Espera-se a formação daquilo que mais a igreja local e particular mais necessita para o serviço do anúncio do evangelho: Discípulos missionários. Um discípulo missionário sem a experiência de Deus através da oração é como se diz no âmbito empresarial: “É mão de obra não especializada”.

Formar discípulos fortes na oração, que tenham a fé como cimento de sustentação da sua atividade pastoral e uma sólida e séria espiritualidade no seguimento de Jesus de Nazaré, para que firme cada vez uma identidade própria do nosso “ser Igreja” e possam anunciar e servir o evangelho da vida com maior autenticidade. Neste sentido interpreto a Oração, a Palavra de Deus, a Catequese e a Missão, como uma escada de ascensão que nos elevará seguros para Deus e nos ajudará a alcançar a plenitude da maturidade da vida cristã.

Ser discípulo missionário para servir o evangelho da vida em nome da Igreja é algo exigente. Não basta ter somente ter boa vontade, porque no discipulado não se improvisa. A caridade cristã não pode se transformar em altruísmo, a luta pela justiça e a paz excede a prática do bem, a fraternidade e solidariedade cristã não podem se tornar uma atitude particular e ocasional, enfim na Escola de Oração se aprende a ser um irmão universal através das ações de Jesus de Nazaré.

A Escola de Oração busca garimpar discípulos missionários nas próprias comunidades. A adesão e participação na vida da comunidade eclesial não é tornar-se membro de um grêmio ou um clube social, ser discípulo missionário é tornar-se um homem e uma mulher de fé, radicados numa forte e comprometedora experiência de oração que nos lança para missão.

Em geral o termo Escola de Oração vem compreendido com reducionismos, como se fosse um grupo de oração com um estilo, método e identidade próprios. A Escola de Oração é algo muito diferente daquilo que chamamos de grupos de oração, ela está intimamente ligada às grandes linhas da espiritualidade e  tem uma estreita ligação com a catequese e a missão evangelizadora da Igreja, seja das crianças, jovens e adultos. Possui uma característica sistemática de organização e desenvolvimento de temas e estudos e momentos de exercícios para a práxis da oração, seja de forma individual e comunitária.

2.   Desafios e perspectivas.

Uma necessidade e exigência muito comum entre aqueles que buscam servir o evangelho de maneiras e formas tão diversas em nossas comunidades, é para que sejamos mais práticos e acessíveis quando falamos sobre o tema da oração. Noto que, falar simplesmente sobre o tema da oração não é suficiente, é necessário ensinar o povo de Deus a orar. Precisamos passar do discurso sobre a oração para a prática da oração. E ainda, passar da oração, para a práxis pastoral, concreta, vivencial e encarnada nas realidades da vida humana.

É na perspectiva da nossa exposição que devemos nos abrir para este vasto e amplo horizonte temático e refletirmos juntos os diversos problemas e perspectivas da oração cristã:

1.        O aspecto Teológico e Pastoral da oração pessoal e comunitária.
2.        A relação entre a Palavra de Deus e a Liturgia, seu conteúdo, forma e vivência encarnada na vida.
3.        A necessidade de uma pedagogia para oração como “Iniciação mistagógica à oração”, ou Escolas de
       Oração.

É de suma importância que o desenvolvimento de um estudo e conhecimento temático sobre o tema da oração, vá conduzindo a pessoa passo a passo ao crescimento espiritual na vida cristã a fim de atingir uma maior maturidade e adesão da fé que professa. Este processo é um caminho de perfeição da vocação cristã é um meio que possibilita uma maior abertura da vivencia e da prática da santidade.

Em diversos âmbitos da nossa atuação eclesial, em todas as pastorais e movimentos é de se admirar o interesse pela oração, existe uma grande busca da práxis da oração. Atualmente me parece que é mais fácil ensinar o povo de Deus a trabalhar e a servir pastoralmente a comunidade, do que ensiná-los a rezar. Afirmo que, se na nossa atuação pastoral, “Marta e Maria” não andarem de mãos dadas nesta empreitada, se elas não caminharem juntas, estaremos trabalhando ou orando em vão. O trabalho pastoral sem oração é altruísmo, a oração sem trabalho pastoral é alienação.

Devemos ter em conta que o caminho da oração é uma coisa árdua e exigente. Infelizmente encontramos pessoas que param nos primeiros momentos da vida de oração, buscam somente o diletantismo oracional e ao se empanturrarem do mel da experiência inicial de Deus, logo se cansam. O autêntico homem e mulher de oração devem tornar-se primeiramente como abelhas operárias na fabricação do néctar divino, para depois poder saboreá-lo, isto é adentrar no dinamismo da obra Espírito Santo.

Existe ainda outro perigo, que sem uma pedagogia da oração orientada para o crescimento na vida espiritual, ela acabe se tornando apenas um modismo passageiro, que venha somente preencher um espaço do vazio humano existencial, sem deixar sua marca de interpelação na Igreja.

Neste ponto é de suma importância ter o máximo de cuidado para que esses novos buscadores de Deus pela oração e servidores dos irmãos pela prática da caridade cristã, não abandonem este exigente caminho transformando-o numa corrente espiritual de modismo passageiro, por não terem tido a capacidade de equilibrarem suas dificuldades no caminho a percorrer, e esses novo peregrinos de Deus na oração, acabem abandonados a margem das primeiras dificuldades.

Para superarmos este desafio é necessário recorrermos aos exemplos bíblicos dos grandes amigos de Deus na oração. Apresentar a História da Salvação na experiência e na perspectiva dos grandes orantes da bíblia, cujo ápice atinge a sua plena revelação manifestada no Filho de Deus. Jesus de Nazaré, modelo e mestre de oração e de uma oração perseverante e constante, viveu a prática da oração desde o início até o término da sua missão redentora. É assim que a Introdução Geral sobre a Liturgia das Horas vai apresentá-lo:

“Toda a sua atividade cotidiana está muito ligada à oração. Mais ainda, toda sua ação brotava dela, retirando-se ao deserto e ao monte para orar, levantando-se muito cedo ou permanecendo até a quarta vigília e passando a noite em oração a Deus. Até o fim da vida, já próximo da Paixão, na última ceia em sua agonia e na cruz, o divino Mestre nos ensina que a oração foi sempre a alma de seu ministério messiânico e o termo pascal da sua vida”[3]

Esta citação é de máxima importância, pois nos apresenta a estreita relação entre: Oração Vida Mistério Pascal de Jesus. A perspectiva da oração cristã hoje, deve ser interpretada nesta mesma perspectiva de unidade de relação, como numa escada de ascensão que nos leva à Deus:
 

                                                                                                   Caridade: Ressurreição e Reino de Deus.
                                                                Esperança: Paixão e morte Martírio.
                                         Fé: Oração e vida Ministérios


Esta escada de ascensão é uma experiência que se realiza não de forma destacada e divida entre si, mas integrada e cíclica, vivida em diversos momentos da nossa vida. As virtudes teologais é a força propulsora de ascensão que leva a alma à plena comunhão com Deus.

A nascente primordial da oração está fundada na experiência vivencial do cristão numa relação dialógica com o Pai no mistério pascal do seu Filho (Paixão, Morte e Ressurreição) do qual fomos assinalado pelo batismo.

Finalmente a oração seja pessoal ou comunitária são pequenos elos interligados dessa grande corrente que chega até nós como expressão perseverante da Igreja orante. A atitude orante da Igreja antes de ser uma resposta a uma necessidade moral ou uma qualidade constitutiva de fidelidade oracional cotidiana é essencialmente uma expressão de amor e fidelidade ao Mistério da Revelação numa atenta espera da realização do Reino.

Fidelidade a Revelação e perseverança na oração é nisto que consiste a verdadeira perspectiva da oração cristã, ela une o reino de Deus à cidade dos homens no espaço e no tempo através da Palavra e da Liturgia. A oração dá força e dinamismo para a ação da Igreja, e a faz perdurar no tempo a existência da vida cristã.

Diante destas questões e perspectivas teológicas, buscaremos também recuperar o ensinamento essencial dos grandes mestres da oração da Igreja e aprofundar um pouco mais a sua compreensão convergindo seus ensinamentos na relação ente:

1.        Vida no Espírito Santo Espiritualidade.
2.        Oração Litúrgica Oração Comunitária.
3.        Oração e Contemplação Oração Pessoal.
4.        Itinerário cristão Pastoral e Missão.
5.        Experiência Mística Total Consagração.

Sobre a vida de oração surge uma voz autorizada, Hurs Von Balthasar, sua teologia recebeu o nome de "Teologia de joelhos" porque esta é profundamente ligada à oração contemplativa e intensamente ligada à fé em busca da compreensão guiada pelo coração e o ensinamento da Igreja. Nesta perspectiva surgem ainda novidades e tendências sobre a oração:

c  A valorização do corpo na oração.
c  Integração harmônica da sensibilidade para atingir a pacificação.
c  Interiorização dos sentidos.
c  Técnicas para maior concentração psicológica em torno da Palavra de Deus,
       através de uma imagem, um Ícone ou um fato da vida.
c  A oração como finalidade terapêutica, curativa e libertadora.
c  Maior valorização do silêncio profundo e pleno como expressão de acolhida e resposta.
c  Uma maior abertura ao guia espiritual e a redescoberta da sua importância no crescimento da vida
       de oração.

       Segue ainda outras contribuições sobre a vida de oração:

c  Integração de todas as dimensões da pessoa: psico-físico-espiritual.
c  Atenção para o consciente e inconsciente.
c  Silêncio mental.
c  Uso do mantra ou de jaculatória.
c  A respiração como experiência de oração profunda.
c  Experiência do inefável[4],
c  Visualização = Memória.
c  Transferência da oração para o dinamismo vital: força, bem estar,
        cura, libertação, ascesi, e empenho.

A redescoberta da “oração do coração” ou como também é conhecida de “oração continua” com a invocação do nome de Jesus. Nascida entre o povo pobre e simples e de forma quase devocional, esta oração tem comprovada eficácia, mas necessita ser fundamentada e explicada a partir da teologia ocidental e apresentada através de uma apropriada pedagogia da oração, para que esta altíssima forma de orar possa ser também integrada a oração litúrgica, a ascese e as atividades da vida cotidiana e não sejam somente aplicadas às modalidades da vida monástica.

Neste sentido surgem novas propostas e formas encontradas nos grandes mestres da espiritualidade como Teresa de Jesus e João da Cruz com a “Oração de recolhimento” uma forma de contemplação a partir da comunicação amorosa de Deus à alma. A escola Teresiana de oração tem como centralidade da sua oração a busca da união da alma com Deus através da Humanidade de Cristo, não tanto pelo intelecto, mas pelo afeto e pela amizade.

Este novo método aponta sempre como centralidade a busca da interioridade através das mediações externas para o absoluto interno, passar do discurso para o silêncio, da razão para o afeto, isto é, racionalizar segundo o esquema bíblico judaico de oração, "pensar com o coração", passar da Palavra de Deus ao Deus da Palavra.

Se existe uma deficiência atual da oração está no seu muito falar, outra limitação está em querer transformar a meditação num momento de análise racional do objeto e do conteúdo da meditação procedendo como um arqueólogo catalogador das coisas do espírito. Mas restam ainda no coração humano uma sede insaciável na busca das coisas do alto e o desejo de recuperar a unidade do homem constituído imagem e semelhança de Deus que foi retalhada e dividida pelo pecado. O coração humano neste mundo conturbado e barulhento ainda tem fome de silêncio que é a máxima expressão da acolhida da voz de Deus. A resposta definitiva à esta procura está numa mais forte experiência de comunhão e de comunicação pessoal com Deus. 


Frei Geraldo Luis Boletini ocd. freigeraldo@yahoo.com.br
Frade Carmelita Descalço – colaborador no Centro Teresiano de Espiritualidade em São Roque/SP na Pastoral da Espiritualidade em encontros e Retiros Espirituais.


[1] Jacques Maritain, in Por um humanismo cristão, pg 42, Editora Paulus.
[2] Escolas: Agostiniana, Beneditina, Carmelitana, Dominicana e Franciscana.
[3] Introdução Geral sobre a Liturgia das Horas (I.G.L.H) nr 4.
[4] Experimentar aquilo que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza indizível, indescritível.

sábado, 31 de março de 2012

Seguindo os passos de oração com Sta. Teresa




 Introdução

Respondendo ao convite lançado pelo I Definidor da nossa Ordem, diria que os alicerces edificados pela santa madre Teresa, estão prontos para edificarmos as moradas as quais ela quis fazermos habitar.
Para mim, o livro das Fundações é o II livro da Vida é um convite para mim, para que também eu cante as misericórdias e a providência que Deus operou em Teresa e no princípio da reforma. Graças as Fundações sabemos como o Espírito Santo foi actuando em Teresa; e graças as Fundações Temos em primeira mão o testemunho ocular (Teresa) daquilo que foi, a difícil tarefa da reforma da Ordem, e sobre tudo o convento de Duruelo que eu pessoalmente muito estimo e claro, como em todas as suas obras, deixa-nos transparecer sempre a sua determinada determinação, apoiada sempre sobre as alavancas da obediência, da fraternidade, da gratuidade e do amor de umas para com aos outras. É como que o livro dos actos dos apóstolos, mas, na versão de Teresa.

Se para Teresa a vida religiosa é uma opção profunda de fé configurada com Cristo na cruz (F 28, 43), então exige de mim uma entrega sem reservas, buscando sempre a perfeição cristã dando provas do amor de Deus como ela mesma diz em (F 5, 15). Por isso, sinto-me omprometido com as missões, a recomeçar com Teresa aquelas aventuras de Medina del Campo (F 3); Malagón (F 9); Valladolid (F 10); Duruelo (F 13-14); Toledo (F 15); Prestrana (F17); Salamanca (F 18); Alba de Tormes (F 20); Segovia (F21); Beas (F 22); Sevilha (F 23); Villanueva de la Jara (F 28); Palencia (F29) e de Soria (F 30). Ela ensina-me com as Fundações, a percorrer caminhos cujo fim é a liberdade em Deus!


Parece-me que a missão da Igreja e portanto do Carmelo é de sair ao encontro das necessidades e angústias espirituais dos homens deste tempo e deste contexto cultural. Assim sendo, julgo que santa Teresa hoje e mais do que nunca dá resposta a essas necessidades ao pedir-nos que fixe-mos os olhos em Cristo. De facto, Cristo é caminho seguro! Se ontem Teresa percorreu com meios rudimentares aqueles lugares, com muito maior razão poço hoje percorre uma distância ainda maior e alcançar um número de povos sem fim. Mas desta vez seria por Angola. De Norte a Sul, do mar ao Leste. Sem temer dificuldades, sem esperar comodidades, tenho fé que o mesmo espírito que animou Santa Teresa é o mesmo que me anima a mim também. Então não há razão para temer. Antes pelo contrário. Em comunhão com este mesmo espírito, quero convosco dar graças a Deus, pela minha consagração nesta família fundada por Santa Teresa; pelo ministério que me foi confiado; por Deus me ter escolhido no número dos seus ministros. Continuai a rezar comigo a Deus, por Teresa.


Seguindo os passos de oração com Sta. Teresa I

Quando Santa Teresa entrou para o convento da Incarnação de Ávila (1536), pouco tempo depois, isto é, após dezoito meses no convento, sobreveio-lhe uma grave crise de padecimentos físicos que a obrigaram a voltar para casa do pai. Regressou ao convento em 1538, e durante dezassete anos levou a vida exemplar duma freira de observância mitigada, guardando a sua Regra, frequentando o locutório, onde era frequentemente procurada por causa da sua graça e humorismo.
A oração de Teresa durante mais de dezanove anos como freira foi árida e penosa, e apesar de todas as suas amizades ou talvez, com maior pro¬priedade, por causa delas, a sua vida afigurava-se-lhe vã e sem uma finalidade. Tinha quarenta anos, a idade em que normalmente os melhores anos da mulher já passaram, quando começou a viver a vida para que Deus a criara.

Poucos meses depois de ler a história emocionante da conversão de Santo Agostinho, nas suas «Confissões», que a impressionaram vivamente, sentiu-se impelida a orar diante de Cristo, preso à coluna (). Fora um destes momen¬tos da graça em que o Criador se compraz em agir instan¬taneamente na vontade da criatura e traçar à sua vida novo rumo. Quando Teresa saiu do oratório, um só caminho lhe faltava percorrer: o «Caminho da Per¬feição», que é o caminho do amor e da renúncia.

O Amor apoderou-se dela e nada mais ansiava agora que submergir-se neste amor e aproximar-se cada vez mais do Amante divino. Assim começa também o amor humano: um olhar, uma palavra, e o fogo logo se ateia e o amante quer estar só com a amada. Mas uma vez que o matrimónio foi consumado, os amantes não querem ficar sós por muito tempo, pois todo o amor tem por fim ser frutífero. Passada a lua-de-mel, uma árdua tarefa surge: a família aumenta e os primeiros arroubos esquecem-se. Contudo, o amor lança suas raízes cada vez mais profundas na alma e, purificada pelas dores e provações sofridas em comum, faz com que a união se robusteça e se revele por vezes até na assimilação dos traços físicos do marido e da esposa. O mesmo se passa com o amor divino; normalmente desenvolve-se pouco a pouso, crescendo em intensidade e firmeza, e no que respeita a estes estados sucessivos e conducentes à vida mística, Santa Teresa não teve ainda quem a ultrapassasse na lúcida descrição deles. Cava os alicerces muito fundos, construindo o alto edifício do Castelo Interior na rocha da humildade e do desprendimento das criaturas, um desprendimento que «não se adquire removendo o corpo, mas pela resolução da alma de abraçar o bom Jesus, de buscar tudo n'Ele e de esquecer tudo o mais».

A verdadeira humildade é o requisito da contem¬plação, que, por sua vez, aumenta na medida do progresso na mesma contemplação.

Entretanto, a mesma humildade é uma virtude que pode correr o risco de ser fingida e falsa. No tempo de Teresa, a oração contemplativa era tida em suspeita, afigurando-se um favor extraordinário, que era não só perigoso receber e muito mais desejar. A humildade exigia (assim se pensava) que um tal dom devia ser rejeitado. A própria Santa sofreu gravemente da parte de directores que, reputando-a uma doente da imaginação, ordenaram-lhe que renunciasse à sua maneira de fazer oração e de se manter distante do Senhor, que não deseja senão ser amado das Suas criaturas.

Foi assim que o Senhor a ensinou a tratar com Ele, desde que a visão do mesmo Senhor, preso à coluna, açoutado e vertendo sangue, lhe inflamou a alma de amor. Esta a razão também por que passa, rapidamente, pelas primeiras três «moradas» do Castelo Interior, entretida com a meditação e a oração de quietude e, como que impaciente por chegar ao primeiro estado da vida mística, por ser ele a vida de amor puro.

 Seguindo os passos de oração com Sta. Teresa II

Antes de Santa Teresa descrever a ascensão da alma até Deus, nenhum escritor espiritual se ocupara propo¬sitadamente dos estados intermediários da via mística, a que chama a oração de quietude e a oração unitiva. Entre a oração (meditação) praticada pela maioria das pessoas devotas e os êxtases dos santos, havia uma região a que ninguém se dera ainda ao incómodo de investigar.
Mas, na ordem normal da vida interior, apesar de haver, claro está, excepções, a alma é erguida ao estado extático, somente após um período prolongado nos graus inferiores da contemplação.

Mal Santa Teresa se consagrou totalmente a uma vida de perfeição, Deus concedeu-lhe, de novo, a oração de quietude e de união unitiva, que lhe haviam sido conferidas no primeiro período de fervor e, seguida¬mente, retiradas durante dezoito anos de penosa aridez e de distracções.

Recordemos a célebre transverberação do seu coração com um dardo incandescente, cravado por um serafim; os transportes violentos e frequentes levitações e, como remate deste estado extático, o famoso êxtase de Sala¬manca, depois do qual volveu a si com as palavras tão frequentemente citadas: «Morro porque não morro».

Tudo isto é muito difícil de compreender se não tivermos constantemente presente que todos os fenó¬menos exteriores dos estados místicos mais sublimes são pura e simplesmente acidentais, que a única e grande realidade consiste em os místicos viverem pelos dons do Espírito Santo e, designadamente, pelo dom da Sapiência.

E isto torna-se ainda mais patente no último estado da vida contemplativa, quando os fenómenos físicos cessam quase por completo, em virtude de o corpo se ter habituado às visitas divinas. A alma entra agora na estabilidade do Casamento Místico, a estado máximo que pode ser atingido aqui na terra, antes de a cari¬dade, substância da contemplação, ser consumada na visão beatífica.

A nota dominante deste estado, a «Sétima Morada», é a paz, uma paz que nem a dor nem as vicissitudes são capazes de perturbar. A alma «não sente observa a Mística nem aridez, nem qualquer perturbação inte¬rior, como nas moradas anteriores, mas um recolhimento constante e suave de Nosso Senhor, porque, aqui, Ele e a alma gozam-se mutuamente, em profundo silêncio».

Eis o estado da alma quando o maior dos mistérios cristãos, a vida divina da Santíssima Trindade, lhe é revelada de modo especialíssimo.

Os efeitos da união transformante são ainda mais maravilhosos do que os das outras Moradas, pelo facto de produzirem «um esquecimento tão completo de nós mesmos, que a alma parece realmente não existir e só deseja ser tida na conta de nada». Ao mesmo tempo, a sua sede de sofrimento aumenta, embora seja menos violenta, e «sente grande alegria interior quando perseguida».

Os dons do Espírito Santo completaram a sua obra; a árvore podada e inoculada pelo divino jardineiro pro¬duz frutos cem por cento.


fonte de pesquisa >: 
http://teresadejesus.carmelitas.pt/noticias/noticias_view.php?cod_noticia=388 


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Rabi’a al-’Adawiyya e Teresa de Jesus: a busca do Amado de forma intensa e gratuita


Rabi’a al-’Adawiyya e Teresa de Jesus: 

Rabi’a al-’Adawiyya introduziu no universo sufi a concepção de amor gratuito pelo Amado. Já Teresa abriu-se para o Mistério por meio de uma vida de oração, entendida como “vida de amizade com o Amado”, explica Carlos Frederico Barboza de Souza

Por: Moisés Sbardelotto

Mulher ou homem: isso não importa para se “viver a experiência radical de encontro com o Mistério Profundo”. Para Carlos Frederico Barboza de Souza, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, “o que é primordial na vida mística é a capacidade de abertura, de receptividade e acolhimento ao Totalmente Outro, ao Mistério Absoluto que a tudo constitui. E para isso não importam questões de gênero”.
Porém, é necessário “o desenvolvimento de novos paradigmas capazes de recuperar a singularidade – e de certa forma, sua irredutibilidade – da experiência dessas mulheres”, um verdadeiro “resgate da mística na perspectiva feminina”, defende, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.


Essa via feminina se expressa em mulheres que experimentam o “Mistério profundo do Real como acolhida, ternura, receptividade, entrega, fragilidade (não no sentido pejorativo, mas como fruto do reconhecimento profundo e radical da condição humana), sombra, silêncio, criatividade, misericórdia”: como Rabi’a al-’Adawiyya e Teresa de Jesus, dois marcos da mística no islamismo e no cristianismo, respectivamente, analisadas nesta entrevista.


Rabi’a al-’Adawiyya foi uma das figuras mais significativas da primeira fase do sufismo e “sua singularidade no universo sufi é ter introduzido a concepção do amor gratuito, desinteressado, pelo Amado”. Já Teresa, a partir de um “cansaço interior”, irá se abrir para “a busca de um novo estilo de vida mais coerente consigo mesma e seus questionamentos”, por meio de uma vida de oração, entendida como “vida de amizade com o Amado”. E ambas “acabaram encontrando-se com o Amado, a quem dedicam um amor total e exclusivo, chegando à opção celibatária”. Em ambas, também, pode-se 
encontrar “a busca do Amado de forma intensa e gratuita”.



Carlos Frederico Barboza de Souza é doutor em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, professor de Cultura Religiosa e Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas e coordenador do Anima PUC Minas, Sistema Avançado de Formação. Também é autor do livro A mística do coração (Edições Paulinas, 2010) e da coleção de Ensino Religioso Construindo a vida (Editora Fumarc). 



Confira a entrevista.



IHU On-Line – Em sua opinião, qual a importância, hoje, de se retomar o estudo e a reflexão da mística a partir da experiência feminina?


Carlos Frederico Barboza de Souza – Penso que muitas considerações podem ser feitas sobre esse assunto. A primeira é que, para muitos místicos, viver a experiência radical de encontro com o Mistério Profundo independe de se ser homem ou mulher: “No estado místico não há diferença entre eles [homens e mulheres], não são diferentes na ‘unidade da existência’ (wahdat al-wujud). Na ‘unicidade de Deus’ (tawhid) que coisa resta da existência do Eu e do Tu? Como poderia haver, então, diferença entre homem e mulher?” . Assim, o que é primordial na vida mística é a capacidade de abertura, de receptividade e acolhimento ao Totalmente Outro, ao Mistério Absoluto que a tudo constitui. E para isso não importam questões de gênero. Entretanto, essa concepção desqualifica os estudos e reflexão da mística a partir da experiência feminina? Creio que não, pois, se por um lado pode-se pensar que, para esta experiência, o que vale são as atitudes humanas frente ao Sagrado, por outro lado, penso ser importante complexificar esta relação entre masculino, feminino e a mística, pois as questões referentes aos homens e mulheres, feminino e masculino, de alguma maneira permeiam as vivências envolvendo as experiências místicas e suas possibilidades na vida humana.
Assim, numa sociedade machista, caracterizada pela leitura masculinizada da vida e que se constituiu de forma patriarcal, impedindo muitas vezes as vozes das mulheres de expressarem seus dizeres mais íntimos, singulares e originais, nessa sociedade há a tendência de se reprimir, também no nível da espiritualidade e da mística, as vozes femininas. Como afirma Constance FitzGerald, em 1699, a marginalização da linguagem dos místicos “possui uma afinidade simbólica com a marginalização das mulheres e a negligência do Espírito. Não tenha dúvida de que o silenciamento da contemplação estava/está diretamente relacionado com o lugar das mulheres na sociedade, o papel da consciência na religião e na política, o medo da inspiração direta do Espírito e o transformativo e rebelde caráter da contemplação” . Isso porque o processo de marginalização das mulheres e o fato de se considerá-las como seres de segunda categoria em muitas sociedades impediram a muitas mulheres de desenvolverem autoconfiança a ponto de lhes permitir um profundo amadurecimento espiritual e na vida mística e, sobretudo, de desenvolver uma voz singular e única a partir da qual sua experiência pode se concretizar, ser ouvida, compreendida e comunicada.
A repressão da mulher e, consequentemente, das expressões da feminilidade presentes em homens e mulheres se traduzem, de alguma maneira, numa repressão no nível da experiência mística ou de aspectos dela, exigindo de quem se dispõe a caminhar por esta trilha que tenha, além do grande esforço a ser feito em se superar e superar suas forças egoicas que lhe impedem a abertura radical ao Totalmente Outro, que se deparar com a dificuldade de não ter em seu repertório, desenvolvido e amadurecido, todo o potencial que a feminilidade pode lhe propiciar em termos da realização de uma vida mística.



Perspectiva feminina


Dessa maneira, torna-se de grande importância o resgate por parte das tradições místico-religiosas, das mulheres que, de alguma forma, viveram profundamente esse tipo de experiência. E isso não se faz sem o estudo e a redescoberta dessas mulheres. E estudos como esses serão ricos se não forem simplesmente leituras pautadas por uma lógica masculina de ler as tradições místicas, formas construídas em meio a séculos de patriarcalismo. Exige-se, sobretudo, o desenvolvimento de novos paradigmas capazes de recuperar a singularidade – e, de certa forma, sua irredutibilidade – da experiência dessas mulheres. Se formos capazes disso, penso que o resgate da mística na perspectiva feminina propiciará – e já tem propiciado – maneiras criativas e inusitadas desse tipo de vivência se revelar, possibilitando novas linguagens e novas traduções da experiência do Real, fornecendo um repertório rico com que esse – de forma infinita, inesgotável e inabarcável em sua totalidade – possa ser reconhecido em suas infinitas manifestações na história humana. Assim, o resgate da mística na perspectiva feminina possibilitará novos e inusitados acessos ao Mistério Profundo que a tudo habita.


Além do mais, as vivências místicas realizadas por muitas mulheres resgatam dimensões fundamentais e profundas de todos os seres humanos, sendo mais uma das possíveis e ricas manifestações com que a humanidade pode se expressar. Nesse sentido, retomar o estudo e a reflexão da mística a partir das experiências femininas pode possibilitar a integração com as expressões masculinas dessas vivências. Isso, por si só, pode colaborar com os próprios homens na descoberta de dimensões femininas de suas vivências místicas, elemento muito comum em muitos místicos, sendo João da Cruz um exemplo claro: chama a atenção que em seu Cântico espiritual e no poema da Noite escura, a personagem que busca o Amado é uma mulher. Dessa forma, pode-se pensar na existência de uma via feminina que pede reconhecimento, aberta a homens e mulheres que experimentam o Mistério profundo do Real como acolhida, ternura, receptividade, entrega, fragilidade (não no sentido pejorativo, mas como fruto do reconhecimento profundo e radical da condição humana), sombra, silêncio, criatividade, misericórdia (é interessante observar como misericórdia, em árabe, possui a mesma raiz linguística que útero, lugar que protege a gestação de uma vida nova), etc. Por fim, com Ibn ‘Arabi, tendo a pensar e reconhecer que, se a receptividade perfeita é um dos atributos da mística feminina, “a atividade de Deus se observa mais claramente nas mulheres” .



IHU On-Line – Uma das figuras mais importantes do misticismo islâmico foi uma mulher, Rabi’a al-’Adawiyya? Quem foi ela e como se deu a sua abertura à experiência mística?


Carlos Frederico Barboza de Souza – Rabi’a al-’Adawiyya foi uma das figuras mais significativas da primeira fase do sufismo, sendo que muitos sufis a citaram com frequência. Sua singularidade no universo sufi é ter introduzido a concepção do amor gratuito, desinteressado, pelo Amado. Entretanto, de sua vida, cercada por lendas, pouco se sabe. A principal fonte sobre ela foi sua auxiliar, ‘Abda, que registrou muitos de seus ditos e atos.



Rabia al-Qaysiyya al-’Adawiyya al-Basriyya – seu nome completo – nasceu na cidade de Basra, hoje situada ao sul do país que denominamos Iraque. Nasceu entre 713 e 718 do calendário cristão (entre 95 e 98 do calendário islâmico), em uma família paupérrima, sendo sua quarta filha. Daí seu nome Rabi’a, que em árabe significa “a quarta”.

Na adolescência, torna-se órfã de pai e mãe e acaba sendo vendida para uma pessoa que provavelmente a leva para Damasco, onde servirá em regime de escravidão, submetendo-se a serviços pesados. Nesse ambiente, um homem desconhecido por ela se encanta e tenta molestá-la. Diante disso, ela foge e faz uma oração: “Senhor, eu sou uma estrangeira, uma órfã, prisioneira e até me tornei escrava, mas o que me preocupa é saber se tu te comprazes ou não se comprazes em mim”. E nesse instante ela ouviu uma voz que lhe disse: “Não te entristeças, porque no paraíso os que te forem próximos te olharão e te invejarão devido ao lugar por ti ocupado” . A partir dessa experiência, Rabi’a descobre sua vocação da entrega amorosa total e incondicional a Deus, retorna à casa de seu patrão e passa a levar uma vida dedicada à oração e jejum, buscando a união com Deus (wasl).



Mais tarde, após adquirir sua liberdade novamente, Rabi’a retorna a Basra, onde vai morar numa casa simples fora da cidade, para dedicar-se integralmente à sua busca espiritual. Mora na companhia de ‘Abda, que é uma discípula que se colocou a seu serviço. Distanciando-se da visão majoritária presente no Islã, opta por uma vida celibatária: “O matrimônio é necessário para quem tem escolha. Quanto a mim, não tenho escolha; sou do meu Senhor e vivo à sombra dos seus mandamentos” . Não demorará muito para sua casa se tornar lugar de “peregrinação”, onde muitos – inclusive sábios – irão lhe consultar e ouvir seu falar de Deus. Daí que sua vida será muito marcada por tempos dedicados à oração e tempos dedicados à orientação espiritual.



Puro e gratuito amor

Sua concepção acerca da oração situa-se dentro da tradição sufi, que insiste na oração contínua e na educação para esta prática por meio do dhikr, que é a repetição dos nomes divinos – acompanhada, muitas vezes, com exercícios de introspecção baseados na postura corporal, respiração, recitações, etc. – no intuito de recordar contínua e cordialmente de sua presença: “Recorda continuamente o Seu nome” . Com isso ela visava uma vida de intimidade com Deus, pois “tudo tem um fruto. E o fruto do reconhecimento é aproximar-se de Deus” .


Aqui nos deparamos com o elemento que mais chama a atenção em sua mística: a busca do puro e gratuito amor: “Amo-te com dois amores: um é fruto da minha paixão e o outro porque Tu és digno de ser amado. No primeiro, penso em Ti, excluindo qualquer outro. No segundo, Tu mesmo te desvelas a mim, para que eu te veja” . Na linha da gratuidade amorosa, uma história ficou famosa e retrata bem sua experiência: “Um dia, nas ruas de Basra, ela foi perguntada por que estaria carregando uma tocha em uma mão e um jarro na outra, e ela respondeu: ‘Eu quero jogar fogo no Paraíso e despejar água no Inferno, pois assim esses dois véus desaparecerão e se tornarão claros os que adoram a Deus por amor, não por medo do Inferno ou pela esperança do Paraíso” . Dessa maneira, nos ditos de Rabi’a depreende-se uma concepção de um Deus próximo e íntimo, terno e amoroso, que, sem perder sua transcendência, torna-se presente na sua vida e a acompanha continuamente.




Rabi’a morre em Basra, com quase 90 anos, depois de um processo de envelhecimento e adoecimento. Mesmo assim, não perde sua lucidez e afirma: “Todo o bem que hás decretado para mim neste mundo, dê-o aos seus inimigos; e tudo que hás decretado para mim no Paraíso, concede-o aos teus amigos. Eu aspiro somente a Ti” .



IHU On-Line – Por outro lado, que fatos históricos – pessoais ou sociais – fizeram aflorar ou despertar a experiência mística no caso de Teresa de Jesus?


Carlos Frederico Barboza de Souza – As experiências místicas, embora possam muitas vezes estar relacionadas a situações históricas vividas pelo/a místico/a, têm em sua subjetividade as causas do seu despertar. E isso é claro em Teresa de Jesus.



Teresa de Ahumada nasce em 1515, na cidade de Ávila, Espanha. De uma família de comerciantes e, tendo ficado órfã de mãe aos 14 anos, aos 20 anos entra para o mosteiro das Carmelitas da Encarnação. Quatro anos depois tem uma doença grave que a leva à Becedas, onde tem contato com um tio que lhe introduz em algumas práticas da vida de oração. Em seguida, em 1543, aos 28 anos, perde seu pai.

Após a morte de seu pai, ela passa a se dedicar com mais intensidade à oração, porém, a duras penas, de modo que se pode dizer que, nos 10 anos seguintes, ela oscilou entre a busca intensa da oração e a acomodação e dispersão, associados aos momentos em que passava no locutório com pessoas da sociedade abulense, entretida e distraída com conversas fúteis. Foi um período de grande luta entre a mediocridade que caracterizava algumas de suas posturas e costumes e a coerência de vida e profundidade por ela almejada.



Além disso, o ambiente do mosteiro da Encarnação em nada lhe favorecia a vivenciar um ambiente de maior interiorização, visto que nele moravam muitas irmãs (quase 200); não havia um clima orante, mas necessidades financeiras que favoreciam a saída de irmãs por alguns períodos para se instalarem em casas de pessoas ricas – pelo menos nestas casas teriam sustento e não onerariam os parcos recursos do mosteiro – e, por fim, mantinha-se neste mosteiro a divisão de classes sociais muito presente na sociedade espanhola daquele tempo, havendo monjas que possuíam empregadas domésticas particulares e mantinham seus títulos de nobreza, situação que em muito prejudicava o centramento na vida espiritual e a prática da fraternidade no contexto da comunidade. Essa época na vida de Teresa é caracterizada como um período de crise acerca de sua vocação fundamental na vida, marcado pela experiência de uma grande e solitária luta em busca de seu caminho.



A grande mudança nesta situação vai ocorrer em 1554. Nesse ano, em seu relato autobiográfico – Livro da Vida – ela narra o seguinte: “A minha alma já estava cansada e, embora quisesse, seus maus costumes não a deixavam descansar” (Vida 9,1). Como se depreende desse relato, em sua subjetividade Teresa experimentava um cansaço interior, o que lhe abrirá para a busca de um novo estilo de vida mais coerente consigo mesma e com seus questionamentos.



Cristo e Agostinho

Além disso, dois eventos – ambos narrados no Livro da Vida – são importantes. No primeiro deles, ela se depara, ao entrar num oratório do Mosteiro da Encarnação, com uma imagem de Cristo chagado e ela o narra assim: “Aconteceu-me de, entrando certo dia no oratório, ver uma imagem guardada ali para certa festa a ser celebrada no mosteiro. Era um Cristo com grandes chagas que inspirava tamanha devoção que eu, de vê-lo, fiquei perturbada, visto que ela representava bem o que Ele passou por nós. Foi tão grande o meu sentimento por ter sido tão mal-agradecida àquelas chagas que o meu coração quase se partiu; lancei-me a seus pés, derramando muitas lágrimas e suplicando-lhe que me fortalecesse de uma vez para que eu não O ofendesse mais” (Vida 9,1). Essa experiência lhe foi tão marcante que ela afirmou que não se levantaria dali enquanto sua “súplica não fosse atendida” (Vida 9,3).


O segundo evento importante, nesse mesmo ano de 1554, foi a publicação em Salamanca das Confissões, de Santo Agostinho . Teresa leu-as com intensidade e paixão, identificando-se com a busca de Agostinho: “Começando a ler as Confissões, tive a impressão de me ver ali” (Vida 9,8). Houve uma empatia tão grande com ele que chegou a afirmar que, quando se deparou com a “sua conversão e li que ele ouvira uma voz no jardim, senti ser o Senhor quem me falava, tamanha foi a dor do meu coração. Passei muito tempo chorando, com grande aflição e sofrimento” (Vida 9,8).



A partir dessas experiências, a vida de Teresa sofre uma guinada e muda completamente. Fazendo uma breve interpretação da estrutura do Livro da Vida, pode-se pensar assim: nos capítulos iniciais (até o capítulo 7), ela narra sua vida em família, sua formação e seus altos e baixos na busca da oração; no capítulo 8 ela define o que é oração: “Para mim, a oração mental não é senão tratar de amizade – estando muitas vezes tratando a sós – com quem sabemos que nos ama” (Vida 8,5). Aqui ela já dá o seu tom sobre a oração: vida de amizade com o Amado. Em seguida vem o capítulo 9, indicando verdadeiro divisor de águas em sua vida, onde ela vai narrar sua experiência que passa para a história como uma experiência de conversão; após esse, o capítulo décimo indica sua mudança e a seguir ela interrompe a narrativa da sua vida, introduzindo um pequeno tratado sobre a oração (capítulos 11 a 21).



Nesse tratado, ela apresenta uma metáfora, comparando a vida de oração a um jardim e as formas de irrigá-lo, articulando a ação humana e a divina no irrigar. Na verdade, trata-se da explicação de quatro graus de oração, indo do grau em que mais esforço pessoal se tem – que é o tirar a água de um poço puxando-a por meio de um balde (1) e passando pela utilização de roldanas (2) e a captação da água de um rio (3) – até o grau em que não se precisa fazer esforço, pois a própria chuva irriga o jardim (4). Esse é o tipo de oração mais mística, em que a pessoa se coloca em atitude de total receptividade e recolhimento das suas potências e paixões diante do Mistério divino, que a inunda totalmente. A partir da explicação dos quatro graus da oração, Teresa se detém em narrativas acerca das graças místicas recebidas (capítulos 22 a 31) para, logo em seguida, narrar a fundação do Carmelo de São José de Ávila, início da Reforma (verdadeira e singular Fundação) Teresiana que dará origem à Ordem dos Carmelitas Descalços. Ou seja, há uma Teresa antes da oração (até o capítulo 8) e outra depois da oração (do capítulo 10 em diante), cujo fruto maior será sua obra de fundadora.



Teresa continua sua vida de profunda experiência do Mistério e se dedica a fundar mosteiros, em sua maioria femininos;também participa e colabora com fundações de frades. Vive uma vida de intensa atividade e contatos. Morre em Alba de Tormes aos 15 de outubro de 1582, deixando três grandes obras: Livro da Vida; Caminho de Perfeição; e Castelo Interior ou Moradas.



IHU On-Line – É possível estabelecer uma relação entre Rabi’a al-’Adawiyya e Teresa de Jesus a partir de suas experiências místicas?


Carlos Frederico Barboza de Souza – Sim, é possível estabelecer paralelos entre ambas, resguardando a singularidade de cada uma e a irredutibilidade de suas experiências, assim como de suas pertenças religiosas, pois uma era muçulmana e a outra era cristã. Ou seja, é importante não se perder de vista o que David Tracy  chamará de a existência de “similaridades na diferença”.
Ambas foram órfãs e já na infância experimentaram uma busca por Deus. E passando por diversos dissabores vivenciaram algum tipo de experiência fundante – o que não é exclusividade delas, mas trata-se de um elemento presente em muitos místicos –, que as modificou e lhes abriu para uma intimidade profunda com o Real. Dessa forma, acabaram encontrando-se com o Amado, a quem dedicam um amor total e exclusivo, chegando à opção celibatária – o que no caso de Rabi’a extrapola a tradição islâmica, que valoriza o casamento de forma muito significativa. Assim, em ambas se pode encontrar a busca do Amado de forma intensa e gratuita; e também se percebe uma semelhança nas diferentes etapas espirituais percorridas por elas rumo à união mística. E esse amor gerou comportamentos e atitudes de amantes, registrados na busca intensa que ambas vivenciaram por meio de buscas de orientação e vivências comunitárias, forte ascese, vigílias, momentos intensos de oração, graças místicas, cultivo da solidão, etc. Desenvolvem uma linguagem esponsal e apaixonada pelo Amado e sua busca de união com ele se baseia na condição amorosa do Amado que sai de si em busca da Amada, objeto de seu amor. Por isso em ambas é comum a linguagem amorosa dos esposos, que trocam carícias e anseiam pela presença e entrega mútuas.



Por fim, um último elemento comum entre elas que seria importante ressaltar é que, devido a esta trajetória intensa de busca, de experiências e de interlocuções com pessoas de seu entorno, elas vêm a se tornar grandes orientadoras espirituais e muito requisitadas inclusive por lideranças religiosas de suas épocas. E seus escritos, apesar de datados e serem elaborados dentro de contextos históricos específicos, adquirem uma dimensão de universalidade, sendo capazes de falar a leitores e “buscadores” de outras épocas, religiões e contextos socioculturais distantes dos delas, além de comunicarem certo “calor”, na linguagem de João da Cruz, aos que os leem.



IHU On-Line – Rabi’a e Teresa estão separadas por quase um século. A partir dessa diferença, qual foi a relação dessas místicas com a cultura, a teologia e a sociedade do seu tempo?


Carlos Frederico Barboza de Souza – Rabi’a vive em um período de mudanças muito intensas na história das sociedades islâmicas: ela se encontra entre a grande transição da dinastia dos omíadas para a dos abássidas. Períodos como esses, de grande transição, são marcados por convulsões e verdadeiras revoluções no pensamento, nas artes e na teologia.
Em termos históricos, os abássidas, que governarão o Império Islâmico de 750 a 1258 do calendário cristão, mudarão a capital do império de Damasco para Bagdá. Com isso, a região da Mesopotâmia se converterá em um grande centro da cultura árabe, abrindo-se às mais diversas manifestações culturais, filosóficas e artísticas. Basra, cidade em que nasce Rabi’a, também conhecerá um grande florescimento cultural, sendo referência inclusive nas ciências religiosas: a sua grande mesquita se converterá numa pequena universidade com duas especializações: as ciências literárias e as ciências jurídicas.
Rabi’a bebe deste ambiente e, embora não seja propriamente uma intelectual, vai se encontrar com muitos mestres de sua época, de quem muito aprende e, mais tarde, orientará. Pautada em seu ambiente histórico e cultural, ela desenvolverá uma relação profunda e singular com o Islã e sua teologia, sendo capaz de deixar sua marca em ambos, sendo a primeira mística a introduzir o elemento do amor puro e desinteressado por Deus no meio do austero e ascético ambiente vivido pelos sufis de sua época. Essa sua concepção influenciará muitos mestres sufis posteriores, como Jafar al-Sadiq , Dhu’n Nun , ‘Attar  – que possui um relato sobre sua vida – e Rûmî, que também reconta histórias por ela contadas. Junto a esse elemento amoroso, também acabará por direcionar o sufismo na direção de uma busca da união mística com o Real.
Teresa também possuiu um fecundo diálogo com sua cultura (cf. a obra de Tomás Álvarez, 100 fichas sobre Teresa de Jesus, que em seus capítulos iniciais faz essa contextualização da obra e vida de Teresa com a Espanha do século XVI). É capaz de criticar os valores de sua sociedade, como o culto da honra e as leis relativas à pureza de sangue, a busca desenfreada pelo dinheiro, a busca incessante dos deleites, assim como a forte divisão de classes sociais: “Nunca, jamais a priora ou qualquer uma das irmãs poderá chamar-se de dona” (Constituições 9,13). Da mesma forma, dá voz e decisão às mulheres em seus mosteiros e insiste para que estudem, coisa não muito valorizada em sua época, de modo que não concebe a estrutura de seus Carmelos sem uma boa biblioteca para “alimento espiritual” das monjas. Ao mesmo tempo, sua preocupação em fundar seus mosteiros é de prestar um serviço à sua igreja e sociedade por meio da oração. É claro que também absorveu pensamentos característicos de sua época. Apesar de apontar para alguma valorização da mulher, em seus escritos aparece uma concepção de certa inferioridade da mulher em relação aos homens. Também manifesta uma concepção cristã que lida com dificuldade com a reforma protestante, sobretudo com o luteranismo, ao mesmo tempo em que tem grandes preocupações com os índios que poderão morrer nas Américas sem o batismo.



Porém, apesar disso tudo que aponta para sua pertença a uma determinada época e história, Teresa, com sua rica personalidade e inteligência, acabou oferecendo uma síntese importante para a espiritualidade de seu tempo, juntamente com outros místicos do Século de Ouro espanhol, sobretudo, João da Cruz e Inácio de Loyola : “Na obra dos grandes místicos espanhóis vemos, pois, realizar-se um equilíbrio entre tendências opostas, que não somente interessam à experiência religiosa, mas que valem para a vida cultural em geral: submeter a sensibilidade a uma disciplina para não deixar-se levar a uma adesão ao que é simplesmente confuso e vago; construir uma técnica intelectual que permita ir mais adiante dos estados distintos sem perder-se nas regiões turvas da vida afetiva; controlar a inspiração pela análise; inventar um método em vez de contentar-se com fiar-se no instinto; conciliar experiência pessoal e vida coletiva” .



IHU On-Line – No atual contexto contemporâneo, em sua opinião, qual o papel da mística e da espiritualidade? É possível que o ser humano do século XXI se abra novamente para o lado místico da existência?


Carlos Frederico Barboza de Souza – Sobre o papel da mística e da espiritualidade na sociedade contemporânea: inicialmente penso que há uma tendência a banalizar essa dimensão tão fundamental nas vivências das tradições religiosas. Hoje muita coisa vira consumo e meio de satisfação intimista, evidenciando o risco de a mística se perder nessa busca de autossatisfação egocêntrica em que o centro é o próprio ser humano e não o Mistério Real. Junto a tal concepção, percebe-se também uma forma de compreender a mística como algo da ordem da produção humana, fruto de um ambiente preparado para gerar sentimentos de êxtase provocados por rituais e elementos exteriores ao sujeito humano e ao Real. Penso que isso tudo descaracteriza a mística, que se fundamenta, sobretudo, numa busca profunda e intensa de abertura ao Mistério Sagrado, gerando um autoesquecimento, desapego e atitudes reais de compromisso com o Real e com as pessoas.



Quanto ao papel da mística, penso que ela pode nos humanizar ao ajudar a relativizar o que não é essencial. Nesse sentido, nos ajuda a ser mais críticos em relação a todo comportamento superficial que nos cerca, comportamentos que não nos abrem ao amor, ao compromisso e à solidariedade, seja com Deus, seja com outros seres humanos e a natureza. De igual forma, a experiência mística ajuda a superar a dispersão e a falta de concentração e integração que muitos de nós sofremos nesta sociedade fragmentada e dispersa. Nesse sentido, penso que a mística é muito útil em termos de autoconhecimento, pois o que entra no Mistério e nele se aprofunda conhece profundamente a miséria de que é feito e a fragilidade de sua própria condição humana, ao mesmo tempo em que reconhece sua riqueza e percebe-se de forma positiva como amado e acolhido por Alguém ou Algo para além de toda obscuridade que possa estar vivendo.



Dessa maneira, penso que a mística pode gerar experiências de potencialização das capacidades humanas e de sutilização das próprias percepções, gerando um olhar para além do costumeiro, do corriqueiro, como afirma Comte-Sponville  no livro O espírito do ateísmo : devemos descobrir o mistério “por trás da fingida transparência das explicações. Na maioria das vezes passamos ao largo: somos prisioneiros das falsas evidências da consciência comum, do cotidiano, da repetição, do já conhecido, do já pensado, da familiaridade suposta ou comprovada de tudo, em suma, da ideologia ou do hábito”. Assim, creio que a mística nos ajuda a ir além das falsas impressões, da necessidade de ver tudo, obrigando-nos a desenvolver o encantamento que nasce da descoberta da dimensão simbólica da vida. Por isso muitos místicos foram artistas e souberam poetizar suas experiências com a natureza, a vida e Deus, transformando tudo em poesia. Como escreveu Rainer Maria Rilke : “Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair suas riquezas” (Cartas a um jovem poeta, p. 23).



Quanto ao que é necessário para que as pessoas deem atenção ao lado místico da vida: penso que um primeiro ponto é não ter ilusão do que é a mística. Há uma tendência a enfatizar apenas os momentos alegres que a experiência do Mistério proporciona, mas o que se vê nos relatos dos místicos é que todos se submetem a um longo e doloroso processo de autoconhecimento e desprendimento, para deixar-se transformar pelo Real e, com isso, se submeterem à morte sempre dolorosa de seu “Eu”. A satisfação é presente também, porém, como fruto de um renascer, de um ressignificar a vida, de um permitir-se ser transformado.

E para se entrar nesse caminho, é preciso se cercar de bons orientadores espirituais, pessoas vividas nesse tipo de experiência e que podem nos oferecer indicações dos perigos de engano que se encontram pelo percurso. Dentre esses orientadores, também são úteis se recorrer a livros com relatos de místicos. É o caso de ler as obras de Teresa e João da Cruz, assim como de tantos outros que oferecem pistas interessantes para quem quer perseverar nesta via profunda, como Rûmî, Rabi’a, Mestre Eckart, Teresa do Menino Jesus , Thomas Merton, Charles de Foucauld , Suzuki , Dogen , ‘Attar, etc.
Por fim, é necessária prática insistente e perseverança... mesmo em meio às noites e tempestades, saber que tudo pode ser vivido como encontro com o Real. Não que ele queira e seja responsável por todas as dores do mundo, mas, nestas dores, ser capaz de encontrar uma palavra que enxergue além, por trás das aparências, e que ajude a recobrar o sentido e a beleza do existir e da condição humana.

CARLOS FREDERICO DE SOUZA
Possui mestrado em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2002) e doutorado em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2008). Atualmente é professor Adjunto III da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Tem experiência na área de Ciências da Religião, atuando principalmente nos seguintes temas: espiritualidade, mística, mística comparada, islamismo, sufismo, mística carmelitana, diálogo inter-religioso, joão da cruz, educação e psicanálise.
(Texto informado pelo autor)