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quarta-feira, 20 de junho de 2012

EXPERIÊNCIA COMUNITÁRIA DA FÉ NA TRILHA DE SANTA TERESA DE JESUS E À LUZ DO DOCUMENTO DE APARECIDA




EXPERIÊNCIA COMUNITÁRIA DA FÉ NA TRILHA DE SANTA TERESA DE JESUS E À LUZ DO DOCUMENTO DE APARECIDA

Luciano Dídimo

1- Experiência comunitária da fé

A palavra “comunidade” tem origem no termo latim communitas. O conceito refere-se à qualidade daquilo que é comum.
Em biologia, comunidade é o conjunto de todos os organismos vivos, de todos os tipos, que habitam um mesmo ecossistema. Na sociologia, comunidade é um conjunto de pessoas que se organizam sob o mesmo conjunto de normas, geralmente vivem no mesmo local, sob o mesmo governo ou compartilham do mesmo legado cultural e histórico. Politicamente, a comunidade é um grupo de países que se associam para atingir determinados objetivos comuns, como por exemplo, a União Europeia.
Existem, ainda, comunidades virtuais, constituídas por pessoas com interesses e objetivos semelhantes e ligações em comum, mas que se relacionam apenas virtualmente através das tecnologias da informação, como as comunidades existentes nas redes sociais da internet.
A comunidade em sentido religioso é formada por pessoas que partilham da mesma crença e pode ter várias amplitudes, como comunidade dos cristãos, comunidade dos católicos, comunidade carmelitana, comunidade carmelitana secular, até chegar às comunidades locais da OCDS, das quais participamos.
A palavra “experiência” significa prática, vivência.
A palavra “fé” significa crença, convicção.
Dessa forma o termo “experiência comunitária da fé” significa a prática, a vivência em comum daquilo que cremos, que acreditamos, que temos convicção de que é verdade.
Assim, o carmelita secular praticará sua fé comunitariamente.
O Documento Ratio Institutionis para a Ordem Secular nos conceitua a comunidade carmelita secular:

24. A comunidade secular do Carmelo é uma associação de fiéis de Cristo, inspirada pelo ideal da Igreja Primitiva onde “tinham um só coração e uma só alma” (At. 4,32). Seus membros são animados pela espiritualidade do Carmelo Descalço.

25. A comunidade secular expressa o mistério da Igreja-Comunhão. E de fato, ele provém da comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, de quem ela se alimenta. Ela toma parte na missão da Igreja, missão de convidar a todos para comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo (LG 1,19).

2 – Na trilha de Santa Teresa de Jesus



Em comunidade, vamos viver a nossa fé seguindo um caminho especial: sendo carmelitas. Existem muitos caminhos que nos levam a Jesus. Santa Teresa de Jesus nos mostra um desses caminhos. Ela nos mostra um carisma a ser vivido.
O carisma de Santa Teresa é mais um entre tantos outros carismas da nossa Igreja Católica. No Catecismo da Igreja Católica encontramos o significado e a finalidade dos carismas para a Igreja:

§799 Quer extraordinários quer simples e humildes, os carismas são graças do Espírito Santo que, direta ou indiretamente, têm urna utilidade eclesial, pois são ordenados à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo.
§800 Os carismas devem ser acolhidos com reconhecimento por aquele que os recebe, mas também por todos os membros da Igreja, pois são uma maravilhosa riqueza de graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de Cristo, contanto que se trate de dons que provenham verdadeiramente do Espírito Santo e que sejam exercidos de maneira plenamente conforme aos impulsos autênticos deste mesmo Espírito, isto é, segundo a caridade, verdadeira medida dos carismas.

Assim, os membros da Ordem dos Carmelitas Descalços Seculares devem viver comunitariamente a fé cristã segundo o carisma Teresiano, ou seja, segundo o espírito de Santa Teresa.
O Documento final do Definitório Geral Extraordinário realizado em Ariccia de 0 5 a 12/09/2011, intitulado “Como devemos ser? Comunidades teresianas para a Igreja e o mundo de hoje” conclui que devemos “constituir comunidades teresianas que sejam lugares de autêntico crescimento humano e espiritual e de irradiação da verdade e beleza nelas experimentadas. (...) Naturalmente, a comunidade em sentido teresiano significa algo bem específico. É um modo de ser, que requer profunda re-orientação da pessoa no triplo sentido indicado por Teresa,  a saber, no amor fraterno, no desapego do mundo e na humildade. Sem isso não existe comunidade em sentido teresiano.” A poesia abaixo sintetiza todo o conteúdo do documento:


Como devemos ser?[i]

A comunidade teresiana
deve viver seu carisma
no mundo atual

Deve viver o amor,
a verdadeira humildade
e o desapego total

Deve ser um lugar
de autêntico crescimento
humano e espiritual

Deve ser um lugar
que obtenha fruto
experiencial

E que irradie
a beleza e a verdade
como meta final

                           Luciano Dídimo


2.1. A comunidade teresiana deve viver seu carisma no mundo atual

Devemos viver o carisma teresiano de acordo com a realidade atual e não como se estivéssemos há cem, duzentos ou quinhentos anos atrás. É por isso que a Ordem nos dá subsídios através de cartas, documentos e constituições que periodicamente vão sendo atualizados para que a vivência do carisma seja adaptada à mudança dos tempos. O carisma é e continuará sendo sempre o mesmo. A forma de vivenciá-lo é que vai sendo modificada.
Dessa forma, o carmelita secular não poderá, por exemplo, viver o seu carisma segundo as Normas de Vida, de 1979, porque tal documento foi substituído pelas Constituições da OCDS no ano de 2003.

2.2. Deve viver o amor, a verdadeira humildade e o desapego total

Os três pontos fundamentais do carisma teresiano são exatamente estes: amor fraterno, humildade e desapego, conforme escrito pela própria santa em seu livro Caminho de Perfeição:
“A primeira é o amor de uns para com os outros; a segunda, o desapego de todo o criado; a terceira, a verdadeira humildade - que, embora tratada por último, é a principal, abarcando todas” (C 4,4).

Assim nossas Constituições OCDS ressaltam a importância desses pontos para a oração e para a vida espiritual da Ordem Secular:

7. A origem do Carmelo Descalço se encontra na pessoa de Santa Teresa de Jesus. Ela viveu uma profunda fé na misericórdia de Deus, que a fortaleceu para perseverar na oração, humildade, amor fraterno e amor pela Igreja, que a conduziu à graça do matrimônio espiritual. Sua abnegação evangélica, sua disposição ao serviço e sua constância na prática das virtudes são um guia cotidiano para viver a vida espiritual. Seus ensinamentos sobre a oração e a vida espiritual são essenciais para a formação e a vida da Ordem Secular.

2.2.1 .  Amor fraterno

A vida fraterna é inspirada primeiramente na Regra de Santo Alberto, conforme explica a Ratio para a OCDS em seu art. 26:

26. A vida fraterna, inicialmente, se inspira na regra “primitiva” dos Irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo dada por Santo Alberto, patriarca de Jerusalém e confirmada por Inocêncio IV. Fieis aos ensinamentos de Nossa Santa Madre Teresa, os membros são conscientes de que seu compromisso não pode ser levado sozinho; a sua vida fraterna é um lugar privilegiado onde eles se aprofundam, se formam e amadurecem.

A poesia abaixo vai nos apontar a fraternidade como um dos pontos presentes na Regra que deve ser observado na caminhada em comunidade:

A Regra do Carmo

A Regra do Carmo
é um dos caminhos
que nos leva a Jesus,
nosso Salvador.

Nessa caminhada
seguimos Elias
e Nossa Senhora,
exemplos de Amor.

Buscamos o alvo
pela meditação,
silêncio, trabalho
e fraternidade.

Somos carmelitas,
vivemos a Regra,
subimos o Monte
em comunidade.

                       Luciano Dídimo

O Estatuto Particular da Província São José da OCDS nos orienta como deve acontecer a vida fraterna em nossas comunidades:

21. Unidos ao Deus Trindade pelo amor, os membros da Comunidade também o serão entre si, à imitação das comunidades cristãs primitivas que viviam como se fossem um só coração e uma só alma. Para criar e favorecer tal espírito são necessários atos comuns: os membros da Comunidade devem participar da oração comunitária, onde escutarão a Palavra de Deus para vivê-la no enriquecimento do diálogo fraterno, das reuniões, da recreação caracterizada pela alegria e simplicidade. Destes atos, expressões características do espírito fraterno, ninguém, está desobrigado. Quem não os puder frequentar, justifique-se com o Presidente, se possível antes da reunião.

22. O Presidente ou seu representante manterá contato com aqueles que, por justo motivo, não comparecerem às reuniões.

23. Os membros que habitualmente não puderem comparecer às reuniões e atividades formativas,  devem pedir, por escrito, ao Conselho da Comunidade, um afastamento temporário.

24. Os enfermos deverão ser permanentemente lembrados nas orações da Comunidade, visitados por seus membros, e incentivados a colocarem este particular período de sofrimento como fecundo exemplo de fé cristã para todos.

25. Para favorecer a atuação e o dinamismo da Comunidade, escolher-se-á entre seus membros coordenadores com a incumbência de dinamizar as seguintes atividades:
orações, celebrações e animação espiritual;
ação missionária;
pastoral vocacional;
recreação.

26. Para favorecer o mútuo conhecimento e incentivar a ajuda mútua e cooperação nas necessidades aconselha-se organizar a cada ano:
uma reunião de todas as Comunidades da Província ou de uma região;
um dia de convivência, de preferência reunindo-se mais de uma Comunidade.

27. Com o fim de favorecer o espírito da Família Carmelitana – religiosos, religiosas e seculares – é muito útil que os irmãos se encontrem em circunstâncias particulares, porque é desejável que participem:
da celebração da Liturgia das Horas;
da Missa da Comunidade;
da Salve Regina;
das festas da Ordem;
da Páscoa, etc...

28. Cada Comunidade fará celebrar periodicamente Missa nas seguintes intenções:
aniversariantes;
membros e Assistentes Espirituais da Comunidade falecidos;
falecidos da Ordem.

2.2.2. Verdadeira humildade

O Documento Final do Definitório Geral Extraordinário da Ordem dos Carmelitas Descalços, realizado em Ariccia, “COMO DEVEMOS SER? – COMUNIDADES TERESIANAS PARA A IGREJA E O MUNDO DE HOJE” nos explica de forma muito simples e profunda o que é a humildade para Santa Teresa de Jesus:

A humildade para Teresa é algo mais do que uma virtude entre as outras. Teresa fala de “verdadeira humildade” porque a humildade que ela tem em mente é o resultado de uma experiência cognoscitiva, é a condição característica de quem encontrou a Verdade, na sua dupla face: a Verdade do Deus Amor e a verdade da própria humanidade pobre e ferida, mas amada, tanto mais radicalmente porque não há outra razão desse amor que não seja a bondade de Deus. Neste sentido, humildade não significa desestima para com o homem, mas ao contrário estrada mestra para que o homem realize a altíssima vocação a que é chamado. Por isso a humildade é a condição própria de Jesus Cristo, exprime sua atitude fundamental diante da existência. Seguir Jesus significa portanto,  antes e mais do que qualquer outra coisas, assumir como própria essa atitude: “Tende em vós, os mesmos sentimentos que foram de Cristo Jesus” (Fil 2,5), isto é, o seu abaixamento e a sua obediência para compartilhar da sua exaltação. Trata-se de uma “altíssima humildade”, que enquanto abaixa e dobra, ao mesmo tempo eleva e restitui dignidade à pessoa. É por isso que Teresa, quando tem presente a “verdadeira humildade”, concebe-a como uma virtude soberana, compara-a à “rainha” no jogo de xadrez (C 16,2)

2.2.3. Desapego total

Desapegar-se das coisas é colocar Cristo no centro de tudo, Cristo acima de tudo, Cristo à frente de tudo. Assim nos orientam as Constituições OCDS:

10. Cristo é o centro da vida e da experiência cristãs. Os membros da Ordem Secular são chamados a viver as exigências de seu seguimento em comunhão com ele, aceitando seus ensinamentos e entregando-se a sua pessoa. Seguir Jesus é participar em sua missão salvífica de proclamar a Boa Nova e de instaurar o Reino de Deus (Mt 4,18-19). Há diversos modos de seguir Jesus: todos os cristãos devem segui-lo, fazer dEle a norma de sua vida e estar dispostos a cumprir três exigências fundamentais: colocar os vínculos familiares abaixo dos interesses do Reino e da pessoa de Jesus (Mt 10,37-39; Lc 14,25-26); viver o desapego das riquezas para demonstrar que a chegada do Reino não se apoia em meios humanos e sim na força de Deus e na disponibilidade da pessoa humana diante dEle (Lc 14,33); levar a cruz da aceitação da vontade de Deus manifestada na missão que Ele confia a cada um (Lc 14,27[1]; 9,23).

2.3. Deve ser um lugar de autêntico crescimento humano e espiritual

O meio que a comunidade nos oferece para crescermos humanamente e espiritualmente é através da formação, conforme Constituições OCDS:

34. A formação teresiano-sãojoanista, tanto inicial como permanente, ajuda a desenvolver no Secular uma maturidade humana, cristã e espiritual para o serviço da Igreja. Na formação humana desenvolvem a capacidade do diálogo interpessoal, o respeito mútuo, a tolerância, a possibilidade de serem corrigidos e de corrigirem com serenidade e a capacidade de perseverar nos compromissos assumidos.

(C, 19). O estudo e a leitura espiritual da Escritura e dos escritos de nossos Santos, especialmente dos que são Doutores da Igreja – Santa Teresa, São João da Cruz e Santa Teresa do Menino Jesus –, ocupam um lugar privilegiado para alimentar a vida de oração do Secular. Os documentos da Igreja são também alimento e inspiração para o compromisso do seguimento de Jesus.


Por isso o plano de formação da nossa Província São José OCDS aborda quatro dimensões: espiritual, carmelitana, doutrinal e humana.

2.4. Deve ser um lugar que obtenha fruto experiencial

Nossas comunidades devem ser lugares não apenas para receber aulas teóricas ou históricas sobre o carisma carmelitano, mas lugares de verdadeira prática e vivência desse carisma. Devem ser lugares onde aconteça essa experiência que transforma vidas, que confirma vocações e que nos movem a dar testemunho, a evangelizar, ao apostolado, enfim, à missão. Assim está em nossas Constituições OCDS:

(C, 27). O Carmelita Secular está chamado a viver e testemunhar o carisma do Carmelo Teresiano na Igreja particular, parte do povo de Deus na qual se faz presente e atua a Igreja de Cristo. Cada um procure ser testemunho vivo da presença de Deus e se responsabilize pela necessidade de ajudar a Igreja na pastoral de conjunto, em sua missão evangelizadora, sob a direção do bispo. Por esta razão, cada um tem um apostolado, seja em colaboração com outros na comunidade, seja individualmente.

(C, Epílogo) Como Seculares, filhos e filhas de Teresa de Jesus e João da Cruz, estão chamados a “ser perante o mundo testemunhas da ressurreição e vida do Senhor Jesus e sinal do Deus vivo”, mediante uma vida de oração, de um serviço evangelizador e por meio do testemunho de uma comunidade cristã e carmelitana.

2.5. E que irradie a beleza e a verdade como meta final

Irradiar a beleza e a verdade nada mais é do que um transbordamento de tudo o que foi vivenciado em comunidade. O amor fraterno, o desapego, a humildade, a formação humana e espiritual, a experiência adquirida, tudo isso será utilizado para o anúncio do Evangelho através de um apostolado individual ou comunitário, servindo à Igreja, servindo à Ordem e servindo à humanidade. Essa é a missão do carmelita secular, conforme Constituições OCDS e Estatuto Particular da Província São José da OCDS:

(C, 10). Cristo é o centro da vida e da experiência cristãs. Os membros da Ordem Secular são chamados a viver as exigências de seu seguimento em comunhão com ele, aceitando seus ensinamentos e entregando-se a sua pessoa. Seguir Jesus é participar em sua missão salvífica de proclamar a Boa Nova e de instaurar o Reino de Deus (Mt 4,18-19).

(C, 25). “Os fiéis leigos, precisamente por serem membros da Igreja, têm por vocação e por missão ser anunciadores do evangelho: para essa obra foram habilitados e nela empenhados pelos sacramentos da iniciação cristã e pelos dons do Espírito Santo”. A espiritualidade do Carmelo desperta no Secular o desejo de um compromisso apostólico maior, ao dar-se conta de tudo o que implica sua chamada à Ordem. Consciente da necessidade que tem o mundo do testemunho da presença de Deus, responde ao convite que a Igreja dirige a todas as associações de fiéis seguidores de Cristo, comprometendo-os com a sociedade humana por meio de uma participação ativa nas metas apostólicas de sua missão no horizonte do próprio carisma.

 (C, 26).  A vocação da Ordem Secular é verdadeiramente eclesial. A oração e o apostolado, quando são verdadeiros, são inseparáveis. A observação de Santa Teresa de que o propósito da oração é “o nascimento de boas obras” recorda à Ordem Secular que as graças recebidas sempre devem ter um efeito em quem as recebe. Individualmente ou como comunidade, e sobretudo como membros da Igreja, a atividade apostólica é fruto da oração. Onde seja possível, e em colaboração com os superiores religiosos e com a devida autorização dos encarregados, as comunidades participam do apostolado da Ordem.

(EPPSJ, 17).  Baseado em nossa Santa Madre Teresa, que iluminada pela experiência do mistério da Igreja, quis que a nossa oração, vida fraterna e abnegação evangélica fossem impregnadas de um ideal apostólico, o Carmelita Secular procurará trabalhar em diversos campos a serviço da Igreja com as palavras e com as obras, mais com estas do que com aquelas.

3 - À LUZ DO DOCUMENTO DE APARECIDA


Como devemos ser?


A comunidade teresiana
deve viver seu carisma
no mundo atual



COMUNIDADE

(DA, 156).  A vocação ao discipulado missionário é convocação à comunhão em sua Igreja. Não há discipulado sem comunhão. Diante da tentação, muito presente na cultura atual de ser cristãos sem Igreja e das novas buscas espirituais individualistas, afirmamos que a fé em Jesus Cristo nos chegou através da comunidade eclesial e ela “nos dá uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica. A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos conduz à comunhão”.

Deve viver o amor,
a verdadeira humildade
e o desapego total


VIDA FRATERNA

(DA, 158). Igual às primeiras comunidades de cristãos, hoje nos reunimos assiduamente para “escutar o ensinamento dos apóstolos, viver unidos e participar do partir do pão e nas orações” (At 2,42). A comunhão da Igreja se nutre com o Pão da Palavra de Deus e com o Pão do Corpo de Cristo.


Deve ser um lugar
de autêntico crescimento
humano e espiritual


FORMAÇÃO

(DA, 212). Para cumprir sua missão com responsabilidade pessoal, os leigos necessitam de uma sólida formação doutrinal, pastoral, espiritual e um adequado acompanhamento para darem testemunho de Cristo e dos valores do reino no âmbito da vida social, econômica, política e cultural.


Deve ser um lugar
que obtenha fruto
experiencial



TESTEMUNHO

(DA, 159). A Igreja, como “comunidade de amor” é chamada a refletir a glória do amor de Deus que, é comunhão, e assim atrair as pessoas e os povos para Cristo. A Igreja “atrai” quando vive em comunhão, pois os discípulos de Jesus serão reconhecidos se amarem uns aos outros como Ele nos amou (cf. Rm 12,4-13; Jo 13,34).



E que irradie
a beleza e a verdade
como meta final





MISSÃO

(DA, 184). A condição do discípulo brota de Jesus Cristo como de sua fonte pela fé e pelo batismo e cresce na Igreja, comunidade onde todos os seus membros adquirem igual dignidade e participam de diversos ministérios e carismas. Deste modo, realiza-se na Igreja a forma própria e específica de viver a santidade batismal a serviço do Reino de Deus.

(DA, 211). Os leigos também são chamados a participar na ação pastoral da Igreja, primeiro com o testemunho de sua vida e, em segundo lugar, com ações no campo da evangelização, da vida litúrgica e outras formas de apostolado segundo as necessidades locais sob a orientação de seus pastores.

                           Luciano Dídimo






[i] Inspirado no texto “COMO DEVEMOS SER? – COMUNIDADES TERESIANAS PARA A IGREJA E O MUNDO DE HOJE” (Documento Final do Definitório Geral Extraordinário da Ordem dos Carmelitas Descalços, realizado em Ariccia, de 05 a 12 de setembro de 2011)

O compromisso missionário dos membros da OCDS na igreja e no mundo




"A Igreja peregrina é missionária por natureza, porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai". Por isso, o impulso missionário é fruto necessário à vida que a Trindade comunica aos discípulos.(DA347)


Cidinha Paula,ocds


VIVER E COMUNICAR A VIDA NOVA EM CRISTO  NOSSOS POVOS
Neste tópico tem duas palavras importantes. Primeiro: natureza.
A Igreja é missionária por sua natureza essência. Essa essência é de Deus, porque ―este desígnio brota do amor de Deus, isto é, da caridade de Deus Pai.   Em outras palavras, a missão vem de Deus porque Deus é amor, um amor que não se contém, que transborda, que se comunica, que sai de si já com a criação do mundo, e conseqüentemente ao pecado da humanidade, com a história da salvação para reintegrar as criaturas na vida plena do Reino. É a Missio Dei, o próprio Deus que se auto-envia pela missão do Filho e do Espírito através dos quais o próprio Pai se revela como amor (cf. Jo 14,9).Resumindo, Deus é missão.
A segunda palavra é missionária. A Igreja é por sua natureza missionária. Isso constitui uma revolução no próprio conceito de Igreja, que procede da missio Dei. Não é mais a Igreja que envia missionários, mas é ela própria enviada como missionária. Seu envio não é conseqüência: é essência.
A atividade missionária não é tanto uma ação da Igreja, mas é simplesmente a Igreja em ação.

Um Deus humano
Jesus causa desconforto, conflito com as estruturas de poder da sociedade. O anuncio de um Deus tão humano deixa os homens da Lei e os poderosos indignados.
Se o Evangelho é uma Boa Nova libertadora para os pobres e os humildes, ao mesmo tempo, é uma notícia terrível e ameaçadora para os ricos e os poderosos (cf. Lc 1,52-53).

Uma vida plena
  Fazer discípulos na missão (cf. Mt 28,19), portanto, quer dizer fazer irmãos. A comunhão de vida estabelecida mediante relações fraternas constitui a origem, o caminho e a meta da missão: ―descobrimos, dessa forma, uma profunda lei da realidade: a vida só se desenvolve plenamente na comunhão fraterna e justa (DA 359).

Uma missão que comunica vida
A partir daqui entendemos por que uma vida plena segundo o Evangelho é uma vida que se torna dom. A vida de Jesus foi um dom: ―tomai e comei, isto é o meu corpo. Nós fazemos eucaristicamente memória desse dom quando nos entregamos inteiramente à doação, até coincidir rigorosamente com o Dom recebido.
A referência maior é o Mestre e Senhor que lava os pés (Jo 13,1-17) e que recomenda: ―vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz (Jo 13,15). Ou, em outras palavras: “fazei isto em memória de mim”.
A Eucaristia é o centro vital do universo, capaz de saciar a fome de vida e felicidade: Aquele que se alimenta de mim, viverá por mim‘ (Jo 6,57). Nesse banquete feliz participamos da vida eterna e, assim, nossa existência cotidiana se converte em Missa prolongada (DA 354).

RENOVAÇÃO MISSIONÁRIA DAS COMUNIDADES
A missão de comunicar vida é a razão de ser da Igreja (cf. DA 373) Por isso ela é chamada a desinstalar-se: a Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do Continente (DA 362).
Se missão significa envio, todo envio pressupõe um deslocamento e uma saída: nós somos agora, na América Latina e no Caribe, seus discípulos e discípulas, chamados a navegar mar adentro para uma pesca abundante. Trata-se de sair de nossa consciência isolada e de nos lançarmos, com ousadia e confiança , à missão de toda a Igreja (DA 363). A conversão missionária da qual fala o DA em uma de suas páginas centrais (cf. 7.2 Conversão pastoral e renovação missionária das comunidades) trata-se substancialmente de uma saída. Na saída de si, do círculo da própria comunidade e dos confins da própria terra, se realiza para a Igreja essa conversão. Paradoxalmente, é nessa saída que a Igreja encontra sua razão de ser e sua própria identidade.

“Temos que ser de novo evangelizados” (DAp 549)
O tema da conversão, antes de ser dirigido aos destinatários da missão, é apontado pelo DA como exigência fundamental para a própria Igreja. Com o mesmo espírito do Vaticano II, Aparecida analisa que, na atual conjuntura de grandes mudanças, ―sentimo-nos desafiados a discernir os sinais dos tempos (DA 33) e a assumir uma atitude de permanente conversão pastoral (DA 366). Na mudança global a Igreja precisa mudar também, mas não apenas pastoralmente ―seu jeito de ser, ela precisa ser evangelizada de novo para converter-se numa Igreja cheia de ímpeto e audácia evangelizadora (cf. DA 549). Conversão é um convite para Igreja e não, primeiramente, para o mundo.

Como “peregrinos a caminho” (DA 553)
 A missão consiste no seguinte: não podemos esperar que as pessoas venham a nós, precisamos nós, ir ao encontro delas e anunciar-lhes a Boa Nova ali mesmo onde se encontram. Esse princípio parece quase óbvio. No entanto, na prática, a Igreja sempre teve a tentação de evangelizar os povos a partir de sua própria condição, permanecendo em seu lugar, a partir de sua própria cultura, enviando e delegando seus missionários, mas sem se envolver num movimento de saída e de inserção nas situações que desejavam evangelizar.
Missionário não é, em si, aquele que acolhe, mas é o acolhido.
Uma Igreja enviada é uma Igreja que está fora de casa, que faz a experiência radical do seguimento, do despojamento e da itinerância, como companheira dos pobres (cf. DA 398) e como hóspede na casa dos outros.
O verbo mittere, origem da palavra missão, quer dizer também libertar, deixar andar, soltar: o envio tem tudo a ver com liberdade e libertação. O anúncio do Reino de Deus precisa andar solto pelo caminho.

“Além de uma pastoral de mera conservação” (DA 370)
Somos convidados a transformar não apenas as nossas pessoas, mas o nosso próprio agir. Praticamente, devemos passar do hábito de apenas planejar , mas continuamente avaliá-lo, acompanhá-lo, modificá-lo: ―Esse projeto diocesano exige acompanhamento constante por parte do bispo, dos sacerdotes e dos agentes pastorais, com atitude flexível que lhes permita manter-se atentos às exigências da realidade sempre mutável (DA 371).
A nota do DA é extremamente indicativa: ―não se trata só de estratégias para procurar êxitos pastorais mas da fidelidade na imitação do Mestre (DA 371). Ter um projeto missionário significa imitar Jesus, ser fiel a ele. Ele teve um projeto missionário? Sim, sem dúvida. O encontramos em Mateus 9,35-10,42. Ai podemos buscar linhas mestras para traçar nossos projetos e nosso caminhos.

NOSSO COMPROMISSO COM A MISSÃO AD GENTES

A Igreja se encontra hoje numa situação de diáspora diante da fragmentação e da multi-culturalidade do mundo atual.O catolicismo na América Latina perde porcentagens de supostos adeptos e assiste ao crescimento das igrejas pentecostais.
 Nessa situação de efervescência, cidades e metrópoles substituíram aldeias em todos os continentes. Sabedorias populares e estruturas comunitárias deram lugar à autonomia e à liberdade das pessoas. A questão religiosa, no seu conjunto, se amplifica e se aprofunda diante dos desafios do mundo pós-moderno e globalizado (cf. DA 37). Para a humanidade do século XXI, a religião torna-se sempre mais  uma mercadoria para satisfazer as necessidades/desejos espirituais de sentido dos indivíduos, dispensando, porém, a adesão a uma comunidade e a afiliação a uma confissão .
Numa realidade marcada por grandes e profundas mudanças, a Igreja procura encarar os desafios do mundo de hoje com uma atitude ambivalente: de um lado, positivamente, com confiança, atenção e escuta, discernindo os ―sinais dos tempos em que Deus se manifesta (DA 366); por outro, com apreensão, frente ―à desordem generalizada que se propaga por novas turbulências sociais e políticas, pela difusão de uma cultura distante e hostil à tradição cristã (DA 10).

Missão aos corações
Por isso que a missão não é primariamente uma questão de estruturas, de métodos e de estratégias, mas é uma questão de homens e mulheres novos: ―não há novas estruturas se não há homens novos e mulheres novas que mobilizem e façam convergir nos povos ideais e poderosas energias morais e religiosas (DA 538). O diálogo e o anúncio missionário, antes de mais nada, precisa passar de pessoa a pessoa, de casa em casa, de comunidade a comunidade (...) procurando dialogar com todos em espírito de compreensão e de delicada caridade (DA 550). De coração a coração, objetivo da missão é converter os corações, fazendo com que todos se tornem discípulos missionários (cf. Mt 28,19). Isso significa praticar a Palavra e reconhecer-se como irmãs e irmãos, filhos do mesmo Pai, uns com os outros, próximos aos demais no mundo inteiro.

Comunidade missionária
O segundo âmbito da missão ad gentes que podemos identificar no DA é a constituição da comunidade missionária:
A Diocese, em todas as suas comunidades e estruturas, é chamada a ser comunidade missionária (cf. ChL 32). Cada Diocese necessita fortalecer sua consciência missionária, saindo ao encontro dos que ainda não crêem em Cristo no espaço de seu próprio território e responder adequadamente aos grandes problemas da sociedade na qual está inserida. Mas também, com espírito materno, é chamada a sair em busca de todos os batizados que não participam na vida das comunidades cristãs (DA168).
Trata-se de uma firme decisão que ―deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja (DA 365). Aqui, a consciência missionária é explicitamente ad gentes porque se caracteriza pela saída ao encontro dos que ainda não crêem em Cristo, e só como complemento a comunidade é chamada a sair em busca de todos os batizados que não participam na vida das comunidades cristãs.

Missão Continental

“Assumimos o compromisso de uma grande missão em todo o Continente, que de nós exigirá aprofundar e enriquecer todas as razões e motivações que permitam converter cada cristão em discípulo missionário. Necessitamos desenvolver a dimensão missionária da vida de Cristo. A Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do Continente. Necessitamos que cada comunidade cristã se transforme num poderoso centro de irradiação da vida em Cristo. Esperamos em novo Pentecostes que nos livre do cansaço, da desilusão, da acomodação ao ambiente; esperamos uma vinda do Espírito que renove nossa alegria e nossa esperança. Por isso é imperioso assegurar calorosos espaços de oração comunitária que alimentem o fogo de um ardor incontido e tornem possível um atraente testemunho de unidade para que o mundo creia (Jo 17,21) (DA 362).
Nesse esforço, as comunidades cristãs podem ganhar de qualidade em sua vivência e testemunho missionário sem, porém alcançar as metas esperadas. Com efeito, a nova evangelização encontra na figura do semeador uma sua possível metáfora. O lugar não é mais o redil do Bom Pastor. Agora o campo é o mundo (Mt 13,48), lugar aberto, de risco e de insegurança, onde o semeador sai para semear. Ele lança a semente em todo tipo de terreno, mas não é ele que rega (cf. 1Cor 3,7) menos ainda aquele que faz crescer (cf. Mc 4,26-29). A ação do semeador é marcada por uma gratuidade radical: ele somente lança a Palavra de Deus, talvez pequena como semente de mostarda (cf. Mc 4,30-32) e não se preocupa nem de arrancar o joio (cf. Mt 13,29). Mas é animado por uma profunda esperança de que algo possa dar fruto.

Missão ad gentes
A missão ad gentes é uma atividade marcada pela pura fé.
Para o DA, as gentes destinatárias da missão são, em primeiro lugar, os pobres, enquanto carecem de reconhecimento por parte da sociedade com um todo. São os excluídos, ―não são somente explorados, mas supérfluos e descartáveis (DA 65), povo de rua, migrantes, enfermos, dependentes químicos, presos (cf. DA 8.6), pessoas que representam somente um custo e que, portanto, para a lógica neo-liberal, devem ser eliminados.
Também destinatária dessa missão é a família (cf. DA 548), como patrimônio da humanidade inteira, núcleo da sociedade mundial, afetado por difíceis condições de vida que ameaçam diretamente sua existência (cf. DA 432), junto a todos seus sujeitos (crianças, adolescente, jovens, idosos, mulheres, homens, mãe e pai de família). O DA não esquece dos areópagos da cultura moderna global : o mundo da educação, da comunicação, da política, da economia, da ciência e tecnologia, onde o Evangelho e a Igreja são vistos muitas vezes como estranhos e hostis. Enfim, um enfoque especial sobre a cidade, onde surgem novos costumes e modelos de vida, e sobre os indígenas e afro-descendentes, com os quais a missão ad gentes tem uma dívida histórica.
Tudo isso representa para a Igreja da América Latina e Caribe uma missão ad gentes fora de sua casa e de seus quintais. Podemos dizer que ela está mergulhada nessa missão, e que, portanto, constitui para ela e seus missionários uma atividade primária e essencial, jamais concluída.

Missão universal
Vivemos num mundo globalizado – queiramos ou não queiramos – que nos impele para uma visão mundial dos desafios e das perspectivas para a humanidade (cf. DA 406). Somos cidadãos mundiais que precisam cuidar do planeta-casa e da humanidade-família (cf. DA 470 – 475).
Muitas vezes no nosso ministério lembrar aos cristãos que eles são missionários pelo batismo e por sua própria vocação (cf. DA 284 – 285; 377), mas não se recorda, com o mesmo ânimo, que são universais, católicos, e que têm compromissos com o mundo inteiro. Sem essa característica se desvirtua completamente o ser discípulo missionário. A paixão pelo mundo, própria da vocação cristã, se expressa no sentir e no vibrar profundamente pela humanidade inteira, e em ser capaz de realizar gestos simples, ousados e concretos de solidariedade e de partilha com os outros povos, até o envio de missionários e missionárias além-fronteiras. Em outras palavras, ―pensar mundialmente e agir localmente. Só assim nos tornaremos um sinal profético de uma nova humanidade mundial, fraterna e multicultural.

A serviço do projeto de Deus

Todos nós fiéis leigos temos o compromisso de ser anunciadores do evangelho(cf. C. OCDS 25), mas como carmelitas seculares o nosso compromisso é maior. Somos chamados a testemunhar o carisma teresiano onde estivermos inseridos: no trabalho, na comunidade, no lazer, na Igreja, na pastoral de conjunto, em sua missão evangelizadora, e sob a direção do Bispo (cf. C.OCDS 27), levando a riqueza de nossa espiritualidade nas missões, paróquias, casas de oração, Institutos de espiritualidade, grupos de oração, pastoral da espiritualidade.
Iluminados pela Palavra, pelo testemunho dos nossos santos fundadores, alimentados pela Eucaristia e contemplando Maria como Mãe e Irmã, modelo da vida dos membros da Ordem(cf C.OCDS 29), ela que melhor assimilou e viveu o evangelho, seja sempre nosso modelo de ação evangelizadora , nos ajudando a estar sempre a serviço do projeto de Deus, fazendo tudo aquilo que seu Filho nos disser.

domingo, 10 de junho de 2012

A “FORMAÇÃO” DO CARMELITA SECULAR




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IX CONGRESSO REGIONAL NORTE-NORDESTE
Recife-   7 a  10 de junho de 2012


A “FORMAÇÃO” DO CARMELITA SECULAR[1


Frei Aloysius, OCD[2]
(Tradução: comissão de formação-J.E.Manfredini)

dizer com a palavra formação[3], porque penso que há muita confusão na definição de Quero dar respostas a algumas questões e tratar de alguns pontos de suma importância que se acham em três documentos citados anteriormente. Esses pontos nos ajudarão a entender exatamente o que queremos formação.
Na maioria dos casos, quando falamos de programas de formação, na realidade estamos falando, na verdade, de “programas de informação”. Mas a informação não é necessariamente formação.
A fim de compreender bem a diferença que existe entre um e outro conceito (formação/informação), quero adiantar que é o que identifica precisamente um membro da Ordem Secular.
a)         Existem muitas pessoas que tem um vivo interesse pela espiritualidade carmelitana, por Santa Teresa, São João da Cruz, Santa Teresinha ou Edith Stein. Tem muito interesse, mas não sentem nenhuma inclinação/vocação a formar parte, de pertencer a Ordem Secular.
b)         Há muitas pessoas que amam a Santíssima Virgem e querem levar seu escapulário.
c)         Muitos mais levam o escapulário em todo o mundo e não são carmelitas. E é que o escapulário é um sacramental da Igreja. Quando fiz a primeira comunhão, no dia seguinte, todos os primocomungantes recebemos o escapulário, e não éramos carmelitas.
d)         Dá-se o caso de muitas pessoas que querem seguir uma vida de oração, uma vida interior e tendem a buscar uma oração profunda, mas não tem vocação para a Ordem Secular.
Então, o que é que identifica uma pessoa com a vocação à Ordem Secular dos Carmelitas Teresianos? Minha resposta é: O compromisso com a Ordem. Esse compromisso é precisamente o que distingue o carmelita secular de outras pessoas que tem muito interesse espiritual pela Santíssima Virgem, o escapulário, a oração. Os que têm vocação de carmelitas são aqueles que desejam FORMAR PARTE (formar = formação) DA ORDEM[4].
Ontem, uma de vocês me recordava o que disse no Congresso de Pamplona, e, que por outra parte vou dizendo em todo o mundo: “Tenho para vocês duas notícias, uma boa e outra nem tanto. A boa é que vocês são carmelitas, membros da Ordem. Mas a outra notícia que não é tão boa é que ser carmelita não é privilégio; é uma responsabilidade”.
Certo. Trata-se de uma responsabilidade. Vocês fazem um compromisso com a Ordem. Por este compromisso assumem a responsabilidade de corresponder às exigências de serem carmelitas. Vocês com o compromisso – seja qual for a fórmula que se adota: promessa temporária ou definitiva, votos ou outra fórmula – tem que abrir-se à formação que quer e lhes pede a Ordem. Não necessariamente a “informação”.
Desejo ler alguns pontos da Ratio e do que disse frei Luis Aróstegui no documento Assistência Pastoral. Trata-se de entender o que quer dizer-nos a Igreja em seus documentos quando usam a palavra formação[5].

A COMUNIDADE NO PROCESSO DE “FORMAÇÃO”

Quero falar do lugar que desempenha a comunidade no processo de formação. Sigo alguns números da Ratio, do 24 ao 29. Estes seis números falam do papel que representa a comunidade no processo de “formação”.
24. A comunidade secular do Carmelo é uma associação de fiéis de Cristo, inspirada pelo ideal da Igreja Primitiva onde “tinham um só coração e uma só alma” (At. 4,32). Seus membros são animados pela espiritualidade do Carmelo Descalço.
25. A comunidade secular expressa o mistério da Igreja-Comunhão. E de fato, ele provém da comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, de quem ela se alimenta. Ela toma parte na missão da Igreja, missão de convidar a todos para comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo (LG 1,19).
Por isso eu prefiro a palavra “comunidade” à palavra fraternidade. A Igreja universal tem certeza na comunidade/comunhão, mas não na fraternidade.
26. A vida fraterna, inicialmente, se inspira na regra “primitiva” dos Irmãos da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo dada por Santo Alberto, patriarca de Jerusalém e confirmada por Inocêncio IV. Fieis aos ensinamentos de Nossa Santa Madre Teresa, os membros são conscientes de que seu compromisso não pode ser levado sozinho; a sua vida fraterna é um lugar privilegiado onde eles se aprofundam, se formam e amadurecem.
27. É Cristo, em seu mistério pascal, o modelo e sustentáculo da vida fraterna. Esta vida fraterna constitui um modo evangélico de conversão que requer a ousadia de renunciar a si mesmo para acolher e integrar o outro dentro da comunidade. Esta renúncia torna-se um modo de vida para viver como Jesus viveu.
28. "Por causa desta identidade da comunidade Ordem Secular Carmelitana, ela é o lugar apropriado para a formação do candidato que busca a admissão. A comunidade deve oferecer um bom exemplo de como vive um Carmelita Secular, mesmo se o ideal...
(Para entrar na comunidade perfeita há que esperar a morte. É a vida eterna a comunidade perfeita. Todas as comunidades que existem sobre esta terra são imperfeitas. A comunidade perfeita não existe, somente na vida eterna)
Somente como exceção, e em circunstâncias extraordinárias, pode um candidato ingressar na Ordem como membro isolado. A comunidade da Ordem Secular como um todo, e cada um de seus membros, tem responsabilidade formativa, a ser concretizada: na maneira determinada, em cooperação com o responsável pela formação e com o Conselho.
29. O Conselho da Comunidade tomará cuidado especial ao eleger seculares acertados para a equipe de formação, pessoas de oração e cultura, com mente aberta e ansiosos por partilhar sua experiência carmelitana com os candidatos...
Experiência carmelitana, não simples e só conhecimento da espiritualidade, das obras... Experiência carmelitana.
Nomeados os formadores e estando todos - os melhor qualificados, por númerosos que sejam -  em sintonia em seus objetivos e métodos será mais bem-sucedida a educação dos candidatos. Um papel formativo importante na comunidade é exercido pelos membros mais velhos, os enfermos ou aqueles que estão de alguma forma incapacitados, os quais, em seu contato regular com os candidatos, devem ser um muito bom exemplo por sua experiência.
Estamos falando, em consequência, da comunidade como “lugar” de formação; não tenho falado de programa de informação. É certo que uma boa formação depende de uma boa informação, mas a formação, afinal, não se reduz a só informação. Um pode dominar toda a informação que queira e não haver chegado a formar parte da comunidade.
Frequentemente, recebo perguntas, de um bravo, bom e excelente presidente e me põe a seguinte questão: Pode seguir adiante um membro da comunidade, quer dizer, passar ao seguinte período de formação, pois já tem conhecimentos de sobra da espiritualidade carmelitana? Não vamos acelerar os passos, respondo, porque o propósito dos seis anos de formação é incorporar progressiva e paulatinamente as pessoas na comunidade de pessoas. Não se trata unicamente de dominar matérias e conteúdos. É saber como viver a espiritualidade. São conceitos diversos formação e informação, como tenho tentado deixar claro.


Reflexão -    EMAÚS – ACOMPANHAMENTO EDUCATIVO
“13.Eis que dois deles viajavam nesse mesmo dia para um povoado chamado Emaús, a sessenta estádios de Jerusalém;14.e conversavam sobre todos esses acontecimentos.15.Ora, enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles;16.seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo.17.Ele lhes disse: "Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?" E eles pararam, com o rosto sombrio.18.Um deles, chamado Cléofas, lhe perguntou: "Tu és o único forasteiro em Jerusalém que ignora os fatos que nela aconteceram nestes dias?" —19."Quais?", disse-lhes ele. Responderam: "O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obra e em palavra, diante de Deus e diante de todo o povo:20.nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram.21.Nós esperávamos que fosse ele quem iria redimir Israel; mas, com tudo isso, faz três dias que todas essas coisas aconteceram!22.É verdade que algumas mulheres, que são dos nossos, nos assustaram. Tendo ido muito cedo ao túmulo23.e não tendo encontrado o corpo, voltaram dizendo que tinham tido uma visão de anjos a declararem que ele está vivo.24.Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas tais como as mulheres haviam dito; mas não o viram!"25.Ele, então, lhes disse: "Insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram!26.Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?"27.E, começando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito.28.Aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais adiante.29.Eles, porém, insistiram, dizendo: "Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina". Entrou então para ficar com eles. 30.E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e distribuiu-o a eles. 31.Então seus olhos se abriram e o reconheceram; ele, porém, ficou invisível diante deles. 32.E disseram um ao outro: "Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?"33.Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém. Acharam aí reunidos os Onze e seus companheiros;”
Biblia de Jesrusalem Lucas 24,13-33

- O Viandante que se aproxima e caminha com os discípulos para propor-lhes  esperança e  vida;
- é necessário um relacionamento interpessoal projetado para frente, que dê sentido e plenitude;
- fazer-se companheiro de caminho;
- o Modelo de Jesus, Viandante, que retorna aos discípulos no momento da tristeza, caminha com eles, fala-lhes até que sua Palavra faça arder seu coração... até o ponto de ser convidado: “Permanece conosco”...
- Jesus não quer entrar, mas entra porque foi convidado: ele quer que sua presença seja desejada.. ; é modelo para o educador que deve fazer-se amar, que pode educar somente quando ama; é um amor que preenche as tensões do principiante com palavras, mas sobretudo com gestos, capazes de dizer que o fim de toda obra educativa é o de conduzir ao amor, como dizia S. Agostinho: “Não existe convite maior ao amor, do que amar por primeiro”.
-reconhecem-No no repetir o gesto de partir o Pão...
-é uma educação que fala ao coração... não pode ser somente verbal, mas necessita de gestos prenhes de significado e de paixão, capazes de comunicar ao outro a vida...
- quando Jesus desaparece, os discípulos fazem-se perguntas e decidem voltar a Jerusalém... a educação autêntica não faz dependentes do mestre, mas os torna capazes de caminharem sós, mesmo no escuro da noite;
- é uma educação que forma para viver e contagiar a liberdade...
- Emaús revela-nos o momento da companhia, da memória e da profecia; é uma estrutura exemplar de cada um dos processos educativos...
(Bruno ForteUna teologia per La vita, (Brescia: La Scuola ed. 2011) 123ss.)

É  importante que o estilo e toda a comunidade se torne formativa... os conteúdos são importantes, mas a vida é mais! E deve-se formar para a vida...( Frei Alzinir)
Bibliografia:  Constituições, a Ratio e Acompanhamento pastoral da OCDS

Apresentação  no Congresso Regional: Rose Piotto, ocds



















[1] Palestra proferida em Ávila.
[2] Frei Aloysius foi delegado geral para a OCDS.
[3] As palavras em negrito significam que frei Aloysius frisou com insistência sobre elas.
[4] Sublinhou de maneira especial e particular este jogo de palavras. Enfatizou o “formar parte da Ordem”, por um lado; por outro o binômio: formar = formação.
[5] Há pessoas que dizem conhecer a espiritualidade teresiana porque leram Santa Teresa, São João da Cruz e adicionam que podem citar de memória exaustiva seus textos. Então concluem que tem vocação de carmelita secular. [O texto é original de Frei Aloysius; parece ilustrativo. Ao colocá-lo na nota de roda pé  foi opção do transcritor].