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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Definição teresiana da oração

A primeira surpresa com que nos deparamos é que não encontraremos sua definição pessoal de oração no Caminho de perfeição, e sim no livro de sua Vida. Ela, que lera tantos livros piedosos de seu tempo, poderia haver-se limitado a copiar uma das clássicas definições tão em voga então, por exemplo: “Oração é uma elevação da mente e do coração a Deus”, ou “Oração é pedir a Deus tudo aquilo que necessitamos”, ou, finalmente, aquela tão comum entre os “letrados”: “A oração é uma virtude moral, um ato da virtude da religião, parte integrante da virtude cardeal da justiça pela qual se aperfeiçoa a virtude teológica da fé, através da qual chegamos ao reconhecimento da soberania de Deus sobre todas as coisas e lhe pedimos tudo aquilo que necessitamos.”

Mas a Madre Teresa não era uma teóloga abstrata, e formulou sua definição da oração baseando-se em sua experiência pessoal. Não se preocupa com questões técnicas, isto é, se a oração pertence a uma virtude cardeal ou moral, se é infusa ou adquirida, indispensável ou opcional. Como mulher prática que era, quis oferecer às suas filhas uma definição que pudessem compreender facilmente. Assim, saiu de sua pena uma belíssima e original definição que vamos estudar atentamente, porque estamos convencidos de que se - como alguns sustentam - o Carmelo está atravessando um período de crise na oração, isto talvez se deva a que não se estudou e meditou com atenção suficiente a definição dada por sua Madre Fundadora.

Para compreendê-la plenamente, poderemos recorrer à técnica da ciência, ou seja: examinar seu contexto, analisar cuidadosamente a definição, anotar os paralelismos e, sobretudo, estudar a analogia da amizade proposta pela Madre. De fato, todo nosso conhecimento nos vem da analogia, porque pouca coisa poderíamos compreender sem comparações com o que já conhecemos ou com aquilo de que já temos experiência pessoal.

Eis aqui, pois, a definição da oração mental nas próprias palavras de sua Autora: “A meu ver, a oração não é outra coisa senão tratar intimamente com aquele que sabemos que nos ama, e estar muitas vezes conversando a sós com ele.” (V 8, 5).

Como se pode perceber de imediato, a palavra chave desta belíssima definição é o verbo “tratar”, repetido duas vezes: tratar de amizade (ativo) e tratar a sós, conversando - usado aqui no gerúndio para indicar uma ação em curso, progressiva. Mas este verbo “tratar” - como tantos outros - pode ser usado em contextos diferentes, com significados e matizes diversos conforme o uso. Portanto, o exato significado na definição da Madre dependerá do contexto e de tantas outras particularidades.

De fato, se consultarmos o “Dicionário da Real Academia Espanhola” (DRAE), encontramos que o verbo “tratar” tem pelo menos dez acepções diferentes ou complementares. Deixando de lado duas acepções do verbo “tratar” que não nos interessam aqui (significado comercial: tratar de mercadorias, casas ou cavalos, etc, e o significado moral de mau entendimento com alguma pessoa, moralmente censurável, etc), restam-nos oito significados muito úteis para compreender melhor a definição teresiana, a saber:

- falar com outro: se duas pessoas não se falam, dizemos que não se tratam”;

- comunicar-se com outro, o que implica abertura e confiança em relação a outra pessoa, e não somente uma troca de palavras;

- ocupar-se com alguma coisa, como estudos, oração, etc;

- consultar alguém, pedir-lhe conselhos, tratar com o professor, o confessor, etc;

- ter relações amorosas, o que supõe um maior grau de intimidade, tratar-se entre si os noivos, esposos, etc.;

- ter interesse ou empenho em contentar outra pessoa, tratar de ou empenhar-se em contentar ao outro ou agradar-lhe;

- entreter-se ou divertir-se com outra pessoa, tratar-se alegremente duas pessoas;

- conversar freqüentemente com outra pessoa, tratar-se muito em freqüentes conversações.

Tendo em conta todas estas diversas acepções do verbo “tratar”, tentemos agora precisar, se possível, o significado concreto na definição teresiana.

NASCIDOS PARA VOAR



“A etapa mais alta da vida alcança-se na convivência com Deus. Precisamente aqui radica a audácia da aventura humana”(Joseph Ratzinger). “Dá graças pelos rostos das pessoas boas e pelo doce amor que há detrás dos seus olhos... Pelas flores que se movem ao vento” (Carta de Cary Grant a sua filha antes de morrer). “Poucas coisas nos interessam tanto a nós, homens e mulheres de hoje, como os grandes fenómenos de mudança que marcam a nossa vida e o rumo da história humana. Essa inabarcável mudança da nossa humanidade, desde o homem das cavernas ao homem dos arranha-céus” (Tomás Álvarez).“Quem foram os que viveram desde o mais profundo essa experiência de mudança: os convertidos, os poetas, os místicos... expressaram-na em imagens e símbolos que nos questionam muito mais que as palavras e que as teorías” (Tomás Álvarez).“Num prazo de tempo brevíssimo amplos sectores da sociedade sofreram uma espécie de ataque nuclear espiritual, uma espécie de big bang na cultura cristã que até agora constituía o nosso fundamento. Embora as pessoas não neguem Deus, ninguém conta já em que exerça poder sobre o mundo e possa fazer algo de verdade" (Peter Seewald).


O BICHO-DA-SEDA .

A força do desejo
. O Senhor é quem faz em nós obras grandes (cf M V,2,1). A nós toca dispormo-nos (cf M V,2,1). A oração começa sendo o que podemos fazer para nos pormos diante de Jesus. Quando este desejo é grande, não há dificuldade que se ponha por diante. “Vieram então trazer-lhe um paralítico transportado por qutro homens. Como não podiam levá-lo à presença de Jesus, devido à multidão, descobriram o telhado no sítio em que Ele se encontrava e, tendo feito uma abertura, arrearam o catre em que jazia o paralítico” (Mc 2,3-4). Santa Teresa é uma testemunha forte do desejo profundo do ser humano por ir a Deus. .


As filigranas da natureza.
Quando contemplamos com olhos limpos a natureza que nos rodeia, nasce-nos o assombro e brota em nós o louvor a Deus que faz maravilhas e mostra em cada pequenina coisa a sua sabedoria (cf M V,2,2). Muitos oram assim..

A morte do velho.
O que soa a morte não gostamos. Repugna-nos a pena de morte, as mortes violentas. Temos medo da própria morte ou da morte daqueles a quem mais queremos. E sem embargo há mortes que nos levam à vida. “Matando, morte em vida a trocaste” (São João da Cruz). E somos nós os encarregados de dar morte ao que não nos dá vida. Como faz o bicho da seda “que começa a fabricar a seda e a edificar a casa onde há-de morrer. Esta casa quereria eu dar a entender aqui, que é Cristo” (M V,2,4). “Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Col 3,3-4). A morte “em vez de estar diante de nós, está atrás” (R. Panikker). .

Ânimo e ao trabalho!
Para deixar qualquer vício que se nos tenha pegado pelo caminho necessitamos de muito ânimo. Quanto mais para deixar todo o velho que levamos dentro! “Eia, pois , minhas filhas, demo-nos pressa em fazer este trabalho e a tecer este casulo, despojando-nos do nosso amor próprio” (M V,2,6). “Morra, morra este verme tal como o da seda em acabando de fazer para aquilo para que foi criado, e vereis como veremos a Deus e nos vemos tão metidas em Sua grandeza” (M V,2,6).


A NOVA CRIATURA


Tudo para a vida.
Esse passo pela morte é para renascer a outra maneira de viver, com horizonte novo, com psicologia nova, com nova abertura ao transcendente, com insaciável apetência de mais vida. Todo este processo está envolto em alegria. “A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas depois de ter dado à luz o menino, já se não lembra da aflição, pelo prazer de ter vindo ao mundo um homem” (Jo 16,21). “Que não teremos ainda acabado de fazer nisto tudo quanto podemos, quando este trabalhito que não é nada, junte Deus com Sua grandeza e lhe dê tão grande valor que o mesmo Senhor seja o prémio desta obra” (M V,2,5).







. A borboletinha. “Ó grandeza de Deus, e como sai daqui uma alma por haver estado um pouquinho metida na grandeza de Deus e tão junta com Ele” (M V,2,7). Aparece um novo sentido para a vida. “O tirar forma parte desde o princípio da essência de Deus. Tirar de confusões, tirar da apatia, tirar da solidão e do isolamento” (Martin Buber). . Algo insuspeito. “A mesma alma não se conhece a si mesma... Vê-se com um desejo de louvar ao Senhor... Logo começa a ter o de padecer grandes trabalhos... Os desejos de penitência grandíssimos, o de solidão, o de que todos conheçam a Deus; e daqui lhe vem uma grande pena de ver que é ofendido” (M V,2,7). “Ó grandeza de Deus! Poucos anos antes, e ainda talvez há dias, estava esta alma que não se lembrava senão de si! Quem a meteu em tão penosos cuidados?” (M V,2,11).


DESENHO DA PESSOA NOVA


- Tem asas para voar.
“Já não tem em nada as obras que fazia sendo lagarta, que era tecer a pouco a pouco o casulo; nasceram-lhe asas. Como se há-de contentar, podendo voar, andando passo a passo? Tudo lhe parece pouco de quanto pode fazer por Deus, segundo os seus desejos. Não tem por muito o que passaram os santos, entendendo já por experiência como ajuda o Senhor e transforma uma alma que já não parece ela, nem ainda sua figura” (M V,2,8). A fraqueza converte-se em fortaleza, a escravidão em liberdade; só Deus é para ela o seu verdadeiro gozo (cf M V,2,8). A fé cristã, ademais de memória, é também liberdade, abertura ao futuro.


- Enfrenta novos trabalhos. “Ó Senhor! e que novos trabalhos começam para esta alma! Quem dissera tal, depois de mercê tão subida? Enfim, de uma maneira ou de outra, há-de haver cruz enquanto vivemos” (M V,2,9). “O contemplativo é a pessoa totalmente entregue à acção, mas tendo o coração totalmente posto aos pés do Senhor” (Tony de Mello). A caridade vive-se até ao heroísmo.


- Tudo o vive com paz. “Não quero dizer que não tenham paz os que chegam aqui, que a têm, e muito grande; porque os mesmos trabalhos são de tanto valor e de tão boa raíz, que, embora muito grandes, deles mesmos sai a paz e o contentamento” (M V,2,10). E daí nascem caminhos de paz.

- Todo o seu ser ressuma louvor. Expressa-o muito bem o salmo 64: “Ressumam as pastagens do deserto, / as colinas revestem-se de alegria; / os campos cobrem-se de rebanhos, / e os vales enchem-se de trigais / expandindo-se com gritos e cantares”. A benção de Deus traduz-se em abundância, e a mesma terra parece sentir a alegria do dom divino.

- Tem o olhar posto em Jesus. “Pois vede, irmãs, o que o nosso Deus faz aqui para que esta alma já se conheça por Sua; dá-lhe do que tem, que é o que teve Seu Filho nesta vida: não nos pode fazer maior mercê” (M V,2,13). “Seguir a luz é o mesmo que ficar iluminados” (Ireneu de Leão). E com Jesus imagina a nova humanidade, para dar novas oportunidades ao amor.


Momento de Oração


Começa a orar com o louvor.
Deus é o que faz maravilhas.
EU TE LOUVO E TE BENDIGO, TU ÉS O MEU SENHOR.
EU TE LOUVO E TE BENDIGO, CANTO PARA TI.

Recorda o teu caminho cristão, os momentos de dor e de alegria, a presença sempre próxima do Senhor. Tem em conta que a santidade é a tua pobreza oferecida que se encontra com a grandeza de Deus.

Faz presente os amigos de Deus, eles são testemunhas da maturidade de todo o crescimento espiritual.

Escuta esta parábola:


A BORBOLETA “Um dia, uma pequena abertura apareceu num casulo. Um homem sentou-se e observou a borboleta por várias horas e como ela se esforçava para que o seu corpo passasse através daquele pequeno espaço. Então parecia que se tinha dado por vencida pois não se via nenhum movimento e não parecia fazer nenhum progresso. Parecia que tinha feito mais do que podia e ainda assim não conseguia sair. Então o homem decidiu ajudá-la. Pegou numa tesoura e com ela cortou o casulo para que a borboleta pudesse sair. A borboleta saiu com uma grande facilidade. Mas o seu corpo estava atrofiado, muito pequeno e com as asas maltratadas. O homem continuou observando a borboleta porque esperava que em qualquer momento as suas asas se fortalecessem, se abrissem com força e fossem capazes de suportar o seu peso afirmando-se com o tempo. Mas nada se passou. Na realidade, a borboleta passou o resto da sua vida arrastando-se com o corpo atrofiado e com as asas maltratadas e encolhidas. Nunca foi capaz de voar. O que o homem na sua gentileza e desejo de ajudar não comprendia era que o casulo apertado e o esforço necessário para sair pelo pequeno buraco era o modo em que Deus fazia que o flúido do corpo da borboleta fosse até às suas asas de maneira que estivesse listra para voar logo que tivesse saído do casulo.

AO ORAR A NOSSA VIDA FAZ-SE TRANSPARENTE


copiado do blog: http://www.oracaovirtual.com.pt/?id=content&id_content=26

domingo, 31 de janeiro de 2010

CARTA 396.

A D. PEDRO DE CASTRO Y NERO, EM AVILA

AVILA, 19 DE NOVEMBRO DE 1581

O LIVRO DAS MISERICÓRDIAS DE DEUS

UMA CONFERÉNCIA ESPIRITUAL COM D. PEDRO PARA ABRR-LHE A ALMA.

DÁ-LHE SEUS ESCRITOS PARA QUE OS LEIA E DÉ SUA OPINIÃO.

LOUVA AS “GALAS” DO ESTILO DE D. PEDRO

Jesus esteja com vossa mercê. O favor que vossa mercê me fez com sua carta de tal maneira me enterneceu, que dei primeiro graças a Nosso Senhor com um Te Deum laudainus, antes de as dar a vossa mercê, porque me pareceu recebê-la das mãos de que me vieram tantas outras. Agora beijo as de vossa mercê infinitas vezes, e quisera fazê-lo mais que por palavras. Que coisa é a misericórdia de Deus! Minhas maldades fizeram bem a vossa mercê; e tem razão, vendo-me fora do inferno que há tanto tempo tenho merecido. Assim é que intitulei esse livro “Das Misericórdias de Deus”.

Seja Ele para sempre louvado, que estava eu longe de pensar nesta graça que agora recebi; e contudo sentia-me perturbada a cada palavra mais forte. Não quisera dizer-lhe mais, por escrito. Suplico a vossa mercê venha ver-me amanhã, véspera da Apresentação, e porei diante dos olhos de vossa mercê uma alma que se desviou muitas vezes, a fim de que faça vossa mercê nela tudo o que julgar conveniente para torná-la agradável a Deus. Espero em Sua Majestade dar-me-á graça para obedecer-lhe toda a minha vida. Não pretendo, se houver de ausentar-me, recuperar a liberdade, nem a quero porque desejar isto seria coisa nova para mim; portanto, não é possível que me deixe de vir grande bem por seu meio, se vossa mercê de seu lado não me desamparar, e sei que não há de fazê-lo. Guardarei este seu bilhete comopenhor deste ajuste, embora tenha outro maior’.

O que suplico a vossa mercê, por amor de Nosso Senhor, é que sempre tenha presente quem eu sou, a fim de não fazer caso das mercês que recebo de Deus a não ser para considerar-me pior, pois, correspondendo tão mal a elas, está claro que o receber é ficar mais endividada. Vingue antes vossa mercê em mim a honra deste Senhor, já que Sua Majestade não quer castigar- me a não ser com mercês, o que é não pequeno castigo para quem se conhece.

Em acabando vossa mercê de ler esses papéis, dar-lhe-ei outros. Se os vir, não é possível deixar de aborrecer a quem deveria ser tão diferente do que sou. Penso que darão gosto a vossa mercê. Dê-lhe Nosso Senhor de Si, como Lhe suplico. Amém.

Nada perdeu vossa mercê para comigo pelo estilo com que escreve; tencionava até falar a vossa mercê nas suas galas: tudo aproveita para Deus, quando a raiz é a vontade de servi-lo. Seja por tudo bendito, amém, que há muito não sinto tão grande contentamento quanto nesta noite. Pelo título beijo a vossa mercê muitas vezes as mãos; mas é muito grande para mim.

TERESA DE JESUS

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A VASSOURA DE SANTA TERESA



A VASSOURA DE SANTA TERESA

Ribeira, o douto biógrafo de Santa Teresa, conta que a Santa Madre costumava, nos dias de varreção comum, reservar para si o pátio. Viam-na com o hábito modestamente arregaçado, de tamancos, tirar alguns baldes de água, e com ela, pressurosa esfregar o chão, com sua vassoura lançar a água suja no esgoto do jardim e tudo, cuidadosamente, pois ela gostava que reinasse por toda parte um asseio extremo.

Um dia, depois de haver cumprido este ato de humildade, vendo suas religiosas rodeá-las na recreação, disse com aquela graça e alegria de costume:

- Minhas filhas, qual é o modelo de uma perfeita carmelita?

Todas, interrompendo o trabalho, interrogavam-na com o olhar.

Uma irmã aventurou uma proposta, depois uma outra: cada uma propunha uma coisa. Santa Madre, porém acenava negativamente com a cabeça; e, com um fino sorriso, repetia:

- Não adivinhastes: procurai. Todos os dias tendes nas mãos. Bem que o conheceis!

Os espíritos estavam suspensos, aviva-se a curiosidade. Enfim, todas exclamaram:

- Nossa Madre procuramos em vão!

É preciso pois, vo-los dizer? Minhas filhas o modelo de uma carmelita perfeita é ... uma vassoura.

-Uma vassoura, nossa Madre?

- Sim, uma vassoura; e nós vamos coloca-la aqui de pé, e ela vai pregar-nos com o exemplo;

Entrou uma irmã trazendo alçada a vassoura de santa Madre, sendo acolhida por uma modesta gargalhada: pois se alegria fugisse da terra, no carmelo é que se devia procura-la.

-Vêde, minhas filhas, diz santa Teresa, os juncos que uma mão industriosa recolheu nas bordas de uma lagoa, exata imagem do mundo, para fazer os secar, liga-los e neles enfiar um pau e fazer esta vassoura que vos apresento.

- “Que excelente modelo é ela ... Sabe obedecer ... Não o negareis; faz tudo o que se quer sem murmurar. Não tem vontade própria; jamais empreende cousa alguma por si mesma; sempre espera que a obediência a mova. Nunca lhe vem ao pensamento dizer: “Mas a coisa seria melhor varrida assim”: não, sua submissão é cega, pronta e constante. Acabado o trabalho atiram-na em um canto: e aí fica sem dizer palavra. São necessários os seus serviços? Sempre a encontram pronta a trabalhar e a sofrer.

“Não é esse um verdadeiro exemplo de humildade? Quer se utilize dela para tirar teias de aranha do oratório, ou para esfregar a cozinha, tudo faz com a mesma boa vontade, sem alegar a baixeza do ofício. Para tudo serve sem resmungar. Não ousa ensinar, nem mesmo a última noviça, e muito menos criticar de outrem. Jamais se julga superior às outras ... vassouras. Quando se acha a obra mal feita, tranquilamente a recomeça, uma, duas, três vezes, sem de nenhum modo se perturbar: que igualdade de humor! ... repreendida não se zanga: não quer guiar os que devem conduzi-la, nem julga-los, nem aborrece-los, nem caçoar deles: imagina que isso seria ofender a Deus ... E completamente indiferente pela elevação como pelo o abatimento. Se dela se serve ? A tudo se presta ... Rejeitam-na como inútil? Permanece no último lugar sem se lastimar.”

“Se acontece que a senhora vassoura se desloca um pouco, a irmã a vira para cima e bate o cabo no chão, toc, toc.”

“Ela cala-se, e, concertada, continua seu ofício. Há! Para nós, não é msiter que se nos bata com força na cabeça tão dura, quem quer sempre ter razão e nunca ceder: não é preciso chegar a esse ponto para nos fazer romper em queixas pela repreensão ou humilhação recebida.”

“Quem não queria ser criativa e boa como a vassoura? Quem já lhe ouviu dizer não, a quem lhe pediu um serviço? Não sabe guardar rancor. Jogaram-na bruscamente no seu lugar: um instante depois acham-na em paz, pronta como dantes: que espelho de virtudes! Se as vezes ofende alguém, é bem involuntariamente. O coração brando, previdente e amável é um tesouro numa comunidade. Minhas filhas, não é verdade que o progresso de uma alma em Jesus se prova pelo aumento de sua mansidão?

“Falemos da vida oculta. Por ventura já se viu esta modesta vassoura exaltar-se na imaginação e querer se mostrar? Quando chega alguém de fora, depressa, se esconde por detrás da porta; aí guarda para Deus só suas belas qualidades a sua sólida virtude. Não quer sair de sua humilde obscuridade, nem mesmo pelo desejo. Ignora as misérias que rege a ternura consigo mesmo ou com os outros, as amizades particulares e suas perigosas doçuras”.

“Grande reboliço na casa! Chegada de uma irmã jovem vassoura. A irmã a pões em bom lugar, porque é nova: que serviços vai prestar à comunidade! Mas, como está cheia de si mesma! Com olhar de zombaria muitas vezes considera as mais antigas! Que noviça não se julga um pouco ... reformadora? Se começasse por si mesma ?! ...

“Admirai duas preciosas qualidades de nossa cara vassoura: não se perturba, nem se zanga. Tal me parece dever ser a alma verdadeiramente religiosa: cheia dessa bondade, nascida do fundo do coração, tão carinhosa, verdadeira imagem de Deus, que nossas importunações nunca perturbam; é senhora de si mesma nessa paz celeste, tão arrebatadora, que excede a todo sentimento e que nada aborrece nem enfada. Não se perturbar, nem se zangar: que de mortificações não ocultam estas frases, simples na aparência!

“Todavia, minhas filhas, a singular beleza do silêncio: faz ouvir coisas mais altas que a terra. Quem poderá escutar sem espanto o silêncio eterno dos espaços infinitos! ... Não é alguma coisa de admirável o silêncio de Deus e a sua longa paciência em face dos crimes que cobre a terra? Considerai o silêncio misterioso do Verbo encarnado nos trinta anos que precederam sua vida pública; o silêncio quase ininterrupto de Jesus sobre a Cruz; o silêncio das almas sepultadas nos claustros, escondidas do mundo, que ai se consome como a lâmpada; o silêncio do zelo, que a fome e sede de justiça devoram e que imola esses santos ardores à vontade de Deus; silêncio dos corações apostólicos que abraça desejo da salvação das almas e que permanece na inação imposta pela obediência, essa voz de Deus ...; o silêncio das almas que o sofrimento torna importante a tudo, e que fica crucificadas, sem proferir queixa alguma, como o cordeiro imolado pelos pecados do mundo, se calou torturado pelos seus carrascos; o silêncio da alma de oração, desprezando a terra para se elevar a contemplação celeste; ó sacrifícios heróicos do silêncio cujo merecimento é inexprimível, cuja fertilidade é infinita.

“Eis enfim a nossa vassoura exausta no serviço do Senhor, estragada até o cabo, não tendo mais senão alguns destroços sobre a cabeça, esta abandonada, talvez como inútil, num canto. AH! As jovens não encontram prazer perto das velhas.

“Em tal ocasião nossa velha vassoura percebeu jovens irmãs, eu queria dizer vassouras novas, rindo-se do pobre trabalho que lhe impuseram e resmungando disseram: É preciso sempre revistar-lhe o trabalho, tão mal feito!”

“Mas como do sol no ocaso os últimos raios iluminaram ainda o horizonte de uma claridade, assim nossa heroína, perto do seu fim, proteja em redor de si o brilho sereno de uma vida de sacrifícios a espera que chegue a hora de Deus.”

“esse momento soa enfim. Chega uma irmã, uma dessas naturezas ativas, diligentes, amantes da boa ordem em toda parte. Que faz aqui esta vassoura velha, só faz encher a casa: depressa metamo-la no fogo! Vede a vassoura seca, arder no fogão: como levanta para o alto uma tão viva e clara chama”.

“Assim o Anjo de Deus, colhe a alma da carmelita que consumou sua obra de dedicação a Jesus: e para acabar de purificá-la, lança-a no Purgatório. Preparada, entretanto como ela está, pela sua mortificação e sofrimento, suas últimas imperfeições ai são rapidamente consumidas, e a alma feliz voa para o Céu, para os braços de Jesus: aí imergindo-se no seu coração, não pode mais senão dizer “Enfim, Senhor, a tanto tempo que eu Vos esperava!”.

MÍSTICA E PROFECIA NA PERSPECTIVA DE SANTA TERESA E DE SÃO JÕAO DA CRUZ

MÍSTICA E PROFECIA NA PERSPECTIVA DE SANTA TERESA E DE SÃO JÕAO DA CRUZ

COLOMBIA -OUTUBRO - 2009

A VOCAÇÃO: UMA EXPERIÊNCIA DO DEUS VIVO

FREI CAMILO MACICCE

Do ponto de vista cristão, a vocação é um chamado de Deus que, de uma ou outra forma está unida a uma experiência do Deus vivo, Senhor da história e da nossa própria história. Deus chama através das circunstâncias e dos acontecimentos da vida de cada um. Isto aconteceu também com Teresa de Jesus e João da Cruz.

É interessante constatar como Teresa de Jesus em juventude era “inimicíssima” de ser monja (Vida 2,8). Foi aos 16 anos, quando seu pai a enviou ao colégio de Santa Maria das Graças, que começou a realizar-se nela uma mudança na maneira de pensar. Deus lhe falou através de uma monja exemplar, Maria de Briceño, o que conseguiu diminuir “um pouco a grande aversão que tinha por ser monja...” (Vida, 3,1). Outra mediação que a tornou aberta à escuta do chamado de Deus foi a leitura de livros espirituais, especialmente as epístolas de S. Jerônimo. Estas a animaram de tal maneira que se decidiu a dizer a seu pai e fugir de casa para entrar no mosteiro da Encarnação (Vida, 4,1). Deus lhe fez compreender, como ela mesma diz, “que tudo era nada” (Vida, 3,4). A estes motivos, uniu-se o temor de perder a Deus para sempre. Um influxo maior sobre ela foi o nascente amor a Cristo, se bem, como ela afirma, ainda lhe permanecia um temor servil sobre o amor (Vida, 3,6). Mas pouco a pouco, descobre que, no fundo de sua vocação está a proximidade e a ação do Deus vivo: “Oh! Valha-me Deus, por quais meios andava Sua Majestade dispondo-me para o estado o qual ele quis servir-se de mim, que, sem querer eu, forçou-me a que me forçasse” (Vida, 3,4). “Dar-me o estado de monja foi grandíssima mercê de Deus” (Caminho 8,2).

CONSCIÊNCIA, NASCIDA DA CERTEZA DE “DEUS CONOSCO” – LIBERDADEE INTERIOR

A certeza da presença de Deus transforma a vida de oração de Santa Teresa, em caminho de amizade libertadora: Para ela a oração é uma experiência libertadora por vários motivos. Antes de tudo, porque a oração é uma relação de amizade com Deus que vai crescendo e libertando (Vida, 8,5. Ao abrir-se à amizade com Deus, a pessoa humana vai superando a desintegração que a escraviza. A oração é integradora da pessoa porque a abre ao Outro e a faz crescer no amor (Caminho 10, 1-2, 5-8) Deus é integrador da pessoa. Conforme avança para seu centro, se encontrará consigo mesma e com Deus: (Moradas VII 1,5-6) quanto mais cresce seu amor a Deus mais vai sendo libertada por Ele, para “andar na verdade diante da mesma Verdade (Vida 40,3). Sua oração está centrada em Cristo, verdadeiro amigo que livra de todas as escravidões e leva à aceitação de si mesmo: (Vida 37,6) Cristo é o mestre da oração: (Caminho 24,5). Cristo acompanha no caminho de conquista da liberdade. A palavra de Deus liberta. (Jo 8, 31-32; Heb 4, 12).

Os diversos graus de oração são etapas diferentes no caminho para a autêntica liberdade. A pessoa tem que esforçar-se para tomar consciência da presença do Senhor; uma presença libertadora (Caminho Valladolid 25,3) Por meio dela irá alcançando as virtudes que libertam do egoísmo e orientam ao exercício do amor que liberta (Caminho 24,3) Mais adiante, a oração de recolhimento permitirá à pessoa submergir-se em Deus e dar-se conta do amor do Pai que a levará a superar tudo o que a escraviza (Caminho Valladolid 28,2). A oração mística realiza uma libertação mais profunda porque vai levando a pessoa ao desposório e matrimônio espiritual. Deus a leva a centrar-se cada vez mais Nele (Moradas IV 3,2). Deixa as coisas que a satisfaziam e atavam. A oração de quietude faz crescer na liberdade e na paz interior (Vida 14,9). Finalmente, na oração de união, chega-se à renuncia da própria vontade para unir-se com a vontade de Deus (Moradas V 3,5). Já não vive ela, mas Deus nela (Vida 18,4). No desposório espiritual a pessoa experimenta a liberdade de todas as escravidões (Vida 20,23). E no matrimônio espiritual a pessoa se une totalmente a Cristo (Moradas VII 2,5). A pessoa livre, transformada m Cristo, encontra-se agora em seu centro, onde sempre Deus a acompanha (Moradas VII, 2,4).

JUSTIÇA E PAZ: LUTAR PELA RECONSTRUÇÃO DE UMA CONVIVÊNCIA SOCIAL MAIS JUSTA E MAIS FRATERNA

Certamente, Teresa de Jesus e João da Cruz não se ocuparam diretamente da justiça e da paz, mas falando do amor ao próximo a partir do amor a Deus e do que Ele nos tem, puseram as bases para uma fraternidade que, em nosso tempo tem uma forte dimensão social.

Teresa de Jesus, libertada e arraigada em Cristo, orientou-se para umas opções que eram uma crítica aos postulados da sociedade de seu tempo, baseados na divisão por motivos de sangue, de ambições de conquista e busca da riqueza e metida em guerras. Ela decide fundar pequenas comunidades fraternas, donde todas “hão de se amar, todas hão de se querer, todas hão de se ajudar” (Caminho Valladolid, 4,7). Uma crítica à sociedade foi a opção pela pobreza, a fundação dum convento com um estilo de vida que revolucionava valores e postulados comuns. Teresa levanta sua voz de mulher e verte em seus livros palavras audazes de crítica (Caminho 2,5-6; Vida 35, 3-6). Da identificação com a pobreza e os pobres, Teresa pronuncia, faz denúncias cristãs com força profética e de atualidade eclesial (Vida 21,2) Tomou consciência da realidade social de sua época e de participação nos acontecimentos, dentro dos limites da sociedade de seu tempo. Tem uma visão universal do mundo onde vive e segue com extrema precisão os acontecimentos eclesiais e sociais de sua época: “muitas vezes não sei o que dizer, senão que somos piores que animais, pois não entendemos a grande dignidade de nossa alma” (Carta a Lorenzo de Cepeda 17.01.1570). Os tempos não lhe permitiram outros avanços e compromissos, mas Teresa se prodigalizou até onde lhe permitiram suas forças e as circunstâncias do tempo. Traduziu o humanismo cristão em sensibilidade social de virtudes evangélicas e gestos humanitários.

SOLIDARIEDADE: REFAZER AS RELAÇÕES HUMANAS

Santa Teresa teve muita facilidade para as relações humanas. No cultivo da relação fraterna brilham com luz própria sua honradez e sinceridade: “não era inclinada a murmurar nem a dizer mal de ninguém, nem me parece podia querer mal a alguém” (Vida 32,7). Não é de se estranhar que tivesse tantas amigas (Vida 36,8). Ela experimentou sempre a necessidade de relações profundas, não só com confessores ou conselheiros espirituais, mas com todas as pessoas, especialmente com suas irmãs de comunidade. Ela cria além disso, um círculo de amizades no qual estão também seculares, que se reúnem para ajudar-se na oração. Teve a capacidade de refazer as relações humanas em sua comunidade. Uma chave importante na atitude solidária de Santa Teresa, é o estilo do humanismo e suavidade: “grande perfeição com muita suavidade” (Vida 36,30). Varias das religiosas que entraram para tomar parte do Carmelo o fizeram pela fascinação que ela exercia, através da suavidade e discrição com quem se relacionava e por seu testemunho de vida e capacidade de comunicação. Teresa de Jesus é uma boa testemunha da amizade em sua dupla manifestação: amizade puramente humana e amizade espiritual. Esta experiência a levou a criar um nó de relações entre familiares, entre parentes próximos e distantes, entre companheiros, entre duas pessoas ou em grupo. Ensina que o que deteriora a relação humana é qualquer tipo de interesse. Por isso, existem relações humanas falsas. Se não houvesse interesse, nem egoísmo, as relações humanas seriam autênticas e profundas: “Com que amizade se tratariam todos, se faltasse interesse de honra ou de dinheiros. Tenho para mim, que se remediaria tudo” (Vida, 20,27).

UTOPIA DO REINO: ANIMAR A ESPERANÇA DO POVO

A esperança ocupa um lugar central em Santa Teresa porque nela temos a tensão dinâmica para o encontro com Cristo, no qual descobre a plenitude de seu ser. Nela mesma acontece a tensão da esperança. Por uma parte, deseja morrer para encontrar-se com o Senhor; por outra deseja seguir vivendo para servir a seus irmãos e Igreja. Esta tensão, contudo, não a tira do presente temporal, nem do drama da Igreja européia de seu tempo. Pelo contrário, ela insere-se nesta realidade e compromete-se com a mesma, segundo as perspectivas de seu tempo. Busca dar a conhecer a Cristo e seu Reino. Como ela disse, falando das pessoas que chegaram ao cume, no matrimônio espiritual: “não desejam ainda [a glória do céu]; sua glória a colocam em poder ajudar em alguma coisa ao Crucificado, especialmente quando veem que é tão ofendido, e quão poucos existem que de verdade olhem por sua honra, desapegados do resto” (Moradas VII, 3,6). A mesma coisa diz ela na Relação 6,1: “anda tão esquecida de seu próprio proveito, que lhe parece que perdeu em parte o ser, segundo anda esquecida de si. Nisto tudo vai a honra de Deus e como fazer sua vontade e seja ele glorificado”. Em Teresa de Jesus, a esperança cristã é fonte de missão e princípio inspirador e renovador das realidades terrenas. Se da conta também da necessidade de quem tem esperança firme apóiem aos fracos e os animem: “nestes tempos são necessários amigos fortes de Deus para sustentar aos fracos” (Vida 15,5). Também os que pensam que são fiéis podem deixar-se levar pelas circunstâncias e desanimar, por isso “é preciso apoiar-se mutuamente os que lhe servem [a Deus]… é necessário buscar companhia para defender-se, até que já estejam mais fortes e não lhes pesa o padecer, caso contrário, ver-se-ão em apuros”. (Vida 7,22).

DISCERNIMENTO: SABER DISTINGUIR A FALSA PROFECIA

Santa Teresa, em sua busca da verdade e pela fadiga em discernir a autenticidade de suas graças místicas e de sua vida, nos dá algumas chaves para distinguir a verdadeira da falsa profecia no mundo e na Igreja de nosso tempo. Ela busca quem lhe aporte luz e lhe garanta a verdade de suas experiências. Para a Santa tudo deve fundar-se na verdade: “Espírito que no tenha começado em verdade, mais o quereria sem oração” (Vida 13,16). “Em definitivo, Teresa é, estruturalmente, uma buscadora da verdade, necessitada de “andar na verdade”, refratária à mentira e a todo quanto cheire a mentira. Repete o tema evangélico: a mentira é do diabo, “ele é todo mentira” (Vida 15,10), “é amigo de mentiras, e a mesma mentira” (Vida 25,21). Pelo contrário, Deus “é a verdade em si” (Vida 40,1; Caminho 19,15)” (Tomás Álvarez). Para conhecer a verdade de si mesmo requere-se a luz de Deus. Outro tanto para discernir os valores da vida. Quando Teresa sofre por ter que abandonar os livros que lhe davam luz, para obedecer à proibição feita pela Inquisição de seu tempo, Cristo lhe oferece ser para ela “livro vivo”: “Sua Majestade tem sido o livro verdadeiro onde tenho visto as verdades. Bendito seja tal livro, que deixa impresso o que se deve ler e fazer, de uma forma que no se pode esquecer!” (Vida 26,5). É Cristo, modelo e mestre, quem ajuda a saber distinguir a verdadeira e a falsa profecia quando a pessoa parte do próprio conhecimento: “Uma vez eu estava considerando por que razão era nosso Senhor tão amigo desta virtude da humildade, e colocou-me diante disso: que é porque Deus é a suma verdade, e a humildade é andar na verdade, que é mui certo não termos coisa boa por nós mesmos… e quem não entende isso está enganado. Quem mais o entende agrada mais à Suma Verdade, porque anda nela” (Moradas VI, 10,7).

COMUNIDADE ORANTE E PROFÉTICA

Um ponto central na concepção da vida religiosa em Santa Teresa é a da fraternidade comunitária profética. Por isso, tendo feito a experiência de viver num mosteiro numeroso, onde isto era impossível, decide – o que foi novidade para sua época- que suas comunidades fossem pequenas, orantes e a serviço da Igreja (Vida 36,19; Caminho Valladolid, 4,10). A base desta vida é o amor fraterno. Nesta forma de vida comunitária tudo tem que ser familiar e todas tem que participar nos trabalhos da casa (Caminho, c.1): “Nesta casa… todas hão de ser amigas, todas hão de se amar, todas hão de se querer, todas hão de se ajudar (Caminho 4,7). Teresa de Jesus insistiu que a comunidade vivesse na amizade com Cristo através da oração. As irmãs hão de viver a contemplação tanto na oração como na vida (cf. Vida 8,5). Por exigência do carisma teresiano, a oração, a consagração e todas as energias da carmelita hão de estar orientadas para a salvação das almas (cf. Caminho, 1,2.5; 3,10), quer dizer, testemunhar e proclamar o Reino de Deus. Ela apresentou a ascese em função de uma vida teologal mais intensa ao serviço da Igreja (cf. Caminho, 10,5; Moradas VII 4,5). Teresa de Jesus descreve sua comunidade como um “castelinho… de bons cristãos” (Caminho 3,2). A comunidade não está reunida somente para sua própria santificação, mas para viver pela Igreja e a humanidade, para entrar no combate por meio da intercessão. “Este é o vosso chamado… Está ardendo o mundo” (Caminho 1,5). Por isso “todas ocupadas na oração pelos que são os defensores da Igreja e pregadores e letrados… ajudássemos no que pudéssemos” (Caminho, 1,2).