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domingo, 6 de setembro de 2009


II CONGRESSO CARMELITANO – OC-OCD

MÍSTICA E PROFECIA NO CARMELO

Contribuição da Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência

para elaboração do subsídio preparatório:

1. A Experiência do Deus vivo

A Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência nasceu da experiência de Deus de sua fundadora, Rita de Cássia Aguiar, Madre Maria das Neves. Somente uma forte experiência do Deus amor poderá ter impelido a jovem viúva, sem filhos, a dedicar-se aos pobres e infelizes, na Santa Casa de Saquarema, uma minúscula cidade de pescadores no litoral do Estado do Rio de Janeiro. A discrição e o silêncio são marcas da vida de Madre Maria das Neves. Tendo morrido tuberculosa, doença incurável e muito temida na época, seus pertences foram queimados, impedindo o acesso aos documentos e escritos sobre sua vida e experiência. Tudo isso faz com que nós, Carmelitas da Divina Providência, continuadoras de seu carisma, vejamos em Madre Maria das Neves traços de semelhança com o Profeta Elias que aparece e desaparece na Bíblia, sem muitos dados de sua biografia. O que temos de nossa fundadora é a Congregação que ela iniciou com traços bem definidos: Ingresso na Ordem Terceira do Carmo com hábito marrom e véu preto recebido na Igreja da Lapa, no dia 02 de dezembro de 1899, no Rio de Janeiro. Orientação de vida pela Regra do Carmo adaptada para os terciários e por outros livros de espiritualidade do Carmelo. Os traços de sua ação junto aos pobres, que se tornaram características das Carmelitas da Divina Providência, foram simplicidade, acolhimento, ausência de estruturas rígidas e, sobretudo, o olhar contemplativo que a fazia perceber o apelo de Deus na realidade. Por isso que, tendo dito que desejava “consagrar o resto de sua vida em servir a Deus, aos pobres e enfermos nos Hospitais das Casas de Caridade”. Com liberdade, soube alargar sua ação, atendendo o apelo dos pobres em seus casebres e na paróquia através da catequese e liturgia. A ação profética dessa mulher corajosa, naquele final do século 19, indo a lugares onde ninguém queria ir, dedicando-se a minorar o sofrimento daqueles que não tinham a quem recorrer, nos remete às recomendações da Igreja da América Latina em Aparecida:

“Nossa fé proclama que “Jesus Cristo é o rosto humano de Deus e o rosto divino do homem”. Por isso, “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que fez pobre por nós, para nos enriquecer com sua pobreza”. Essa opção nasce de nossa fé em Jesus Cristo, o Deus feito homem, que se fez nosso irmão (cf.Hb 2, 11-12). Opção, no entanto, não exclusiva, nem excludente. Sendo que essa opção está implícita na fé cristológica, os cristãos, como discípulos e missionários, são chamados a contemplar, nos rostos sofredores de seus irmãos, o rosto de Cristo que nos chama a servi-lo: “Os rostos sofredores dos pobres são rostos sofredores de Cristo”. (Doc.Aparecida 392-393)

2. A nova consciência

No requerimento que fez ao Bispo de Petrópolis, em novembro de 1899, Rita de Cássia Aguiar diz que deseja dedicar o resto de sua vida em servir a Deus, aos pobres e enfermos nos hospitais das casas de caridade. Pede para usar um hábito marrom e adotar o nome de Maria das Neves, a fim de poder realizar seu intento na Casa de Caridade de Nossa Senhora de Nazaré, de Saquarema-RJ. Seu projeto é muito específico e bem definido. Ela já estava vivendo e prestando serviços nesta Casa de Caridade e deve ter experimentado ali o chamado de Deus para uma entrega de sua vida aos mais necessitados.

A história mostra como nossa fundadora, ao entregar-se a Deus na realização do seu apelo, foi adquirindo uma nova consciência do que significa servi-lo na pessoa dos pobres. Assim é que, ao fechar-se a Santa Casa de Saquarema, por falta de recursos, ela parte para outro campo de trabalho. Em janeiro de 1902 ela vai para Campos e, superando muitas dificuldades, assume a direção do Asilo da Lapa, instituição de assistência a meninas órfãs. Em pouco tempo, já formando pequeno grupo, assume também o Asilo da Lapa de assistência a idosos. Assim ela passa do serviço aos enfermos, para a educação de crianças e o cuidado com idosos.

O amor de Deus, acolhido em sua experiência profunda, vai dando a Madre Maria das Neves uma nova percepção e descoberta dos destinatários desse amor. Ela não mede esforços para levar a bondade, o cuidado, o rosto amoroso do Pai Celestial aos que mais sofrem e se sentem abandonados.

O pequeno grupo, que ela deixa ao morrer em 1906, segue seus passos no serviço a Deus, aos pobres e enfermos. Com os olhos iluminados pela fé, descobrem os caminhos que Deus lhes indica. Em 1912 partindo para a cidade mineira de Cataguases, iniciam uma nova forma de serviço: a educação de jovens. E a recém fundada Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência vai delineando os espaços para a vivência do Carisma deixado pela sua Fundadora.

3. Justiça e Paz

A experiência de Deus em Jesus Cristo nos coloca diante do Pai, que nos chama à identidade de filhos e filhas, acolhidos e abraçados em seu infinito amor. Essa experiência, vivida na profundidade do ser humano provoca uma fundamental mudança nas relações interpessoais. Torna-se impossível ficar indiferente ao sofrimento de tantos irmãos e irmãs igualmente amados pelo mesmo Pai. “Eu ouvi o clamor do meu povo e envio você até ele”.

Ainda que não tenhamos anotações de Madre Maria das Neves sobre suas motivações, podemos afirmar que sua experiência mística a levou a acolher todas as pessoas como irmãs. Assim noticia o Monitor Campista, jornal de Campos:

“MONITOR CAMPISTA” 1905 – 20 DE JULHO – 1ª página:

“JANTAR DOS POBRES”

Realizou-se ontem no refeitório do Azylo N. S. do Carmo, o jantar oferecido aos pobres pela Conferência Vicentina S. Francisco em honra ao seu padroeiro. Tomaram parte no jantar os pobres do Asylo e os que se apresentaram com os cartões da Gazeta do Povo e Monitor Campista.

Na primeira mesa sentaram-se 30 pobres seguindo-se outra mesa na qual tomaram parte mais 11pobres. Os pobres do Azylo que não puderam sair dos seus leitos, foram servidos nos próprios dormitórios. Os pobres foram servidos por Monsenhor Cruz Paula, Monsenhor Capellini, Major Guilherme, Irmã Maria das Neves, Noviça Maria do Carmo, Irmã Bernadete e senhoras e senhoritas.

MONITOR CAMPISTA - 1905 - 20 de julho – Quinta feira – Pág. 2

Asilo N. S. do Carmo – Relatório apresentado pelo Sr. Dr. Luiz Antonino de Souza Neves, digno presidente da Associação Mantenedora do Azylo do Carmo,em sessão de 16 do corrente.

“... A administração do Azylo está confiada às Irmãs Carmelitas, sob a direção da Veneranda Irmã Maria das Neves. Quem conhece o valor precioso das Ordens religiosas na direção das casas de caridade há de logo contar com a maior ordem econômica, respeito e aceio no nosso Asilo e não será iludido nessa sua previsão, se visitá-lo. Nunca poderei encarecer bastante os sacrifícios que fazem estas boas Irmãs para nos auxiliarem nessa obra de religião e caridade que tomamos sobre os nossos ombros.

Quem tem o hábito de freqüentar o nosso Asylo não se pode furtar a um sentimento de veneração por essas senhoras que deram de mão a todos os prazeres do mundo para exclusivamente consagrarem-se a essa missão sublime de enxugar as lágrimas dos que sofrem. O espírito mais indiferente há de dobrar-se respeitosamente diante desse hábito negro que, pela noite a dentro quando todos se entregam ao descanso, esquece-se das suas fadigas para ir de leito em leito, aconchegando aqui a coberta, endireitando ali o travesseiro, tendo para este uma palavra de conforto e para todos um sorriso de bondade, que é o melhor bálsamo para as dores do infortúnio”.

4. Solidariedade

A mesma experiência de Deus como Pai amoroso está na base de uma atitude de solidariedade.

Nossa Congregação, seguindo as pegadas de nossa Fundadora, ao longo deste centenário de existência, sempre esteve engajada numa luta solidária á causa dos que sofrem, sem distinção de pessoas. Procura minimizar seu sofrimento, suprir suas necessidades e suas carências, ajudando-as a reconquistarem, na sociedade humana, seu lugar de pessoa criada á imagem e semelhança de Deus.

Luta ao lado dos necessitados, preferencialmente ao lado dos pobres e enfermos atingidos hoje, por tantos e variados males instalados no nosso meio desta sociedade pós - moderna.

Ouvindo o seu clamor, na contemplação, busca ser, para os que sofrem, a Providência amorosa de Deus Pai, colocando-se inteira e generosamente, a serviço do outro para que ele sinta que o amor providente do Pai o alcançou.

Como Maria, procuramos na sua atitude solidária nas Bodas de Caná, apresentar a Cristo a necessidade de seus filhos, ensinando-lhes a ouvi-LO e a vê-LO no cotidiano através de seus sinais. E assim, a Providência Divina vai sendo percebida no meio de nós, por meio daqueles que se dispõe a ajudar o outro em nome de Deus providente.

Cristo é sempre e em todas as ocasiões o Mestre! É Ele quem mais uma vez nos é exemplo de solidariedade!

Deste modo, identificando-nos e assimilando em nossas vidas o olhar contemplativo de nossa Fundadora, procuramos ver a realidade em nosso entorno e sempre atentas ao apelo do Pai Providente e, na solidariedade, vamos realizando nossa missão de Carmelitas da Divina Providência.

5. Animar a Esperança do povo

A esperança faz parte da constituição humana, ela emerge como uma necessidade de cada dia ver um horizonte novo, é como uma força propulsora que nos conduz para realização de nossas utopias, gerando a alegria para enxergar o cotidiano, as tarefas rotineiras, como a realização e a descoberta da novidade!

Fé e esperança são companheiras, é preciso acreditar num Deus que morre na cruz, para esperar pelo Deus da ressurreição. A fé cristã é inconcebível sem uma esperança que nos leva de modo radical ao amanhecer Pascal!

Deus semeia a esperança na sua criação. Quem ainda não viu nascer um vegetal, um verde e até uma flor numa fenda de uma calçada?

As impossibilidades recuam quando a esperança anima o nosso cansaço, a nossa debilidade.

Nossa Congregação, sem pregar o providencialismo, anima os irmãos e irmãs a caminharem com esperança neste mundo globalizado, especialmente no nosso continente, invadido e subjugado pelo neoliberalismo, pregando o consumismo, fabricando ricos e pobres, marginalizando pessoas. Mesmo assim, continuamos experimentando e evangelizando com o Evangelho de Cristo narrado por Mateus 6, 25 e seguintes: “ para o Pai, valemos mais que as aves do céu que Ele alimenta, e os lírios do campo que Ele veste com toda pompa e esplendor”.

Cristo veio “para que todos tenham vida e vida em abundância”. Não pode haver mesas fartas e até sobrando e mesas vazias.Deus criou o mundo e tudo que nele existe para todos homens e mulheres para o bem estar e felicidade de todos.

O Pai é comum, somos irmãos, logo a criação é a herança de todos os filhos. Este é um ponto importante, fundamento de nossa esperança: A humanidade é a Família de Deus, Ele nos criou à sua imagem e semelhança. Ele fez e fará novas todas as coisas, quantas vezes forem necessárias para o bem comum de sua família e de toda sua criação.

Há fases da nossa vida nas quais parece que Cristo dorme na barca quando a tempestade assusta os discípulos e as discípulas. Ele vai nos censurar: onde estão a fé e esperança de vocês? Ele está vivo no meio de nós! Cristo é a nossa grande esperança e salvação! Ele veio para nos libertar de toda forma de escravidão e de opressão!

Elias, nosso grande Profeta, também experimentou o silêncio de Deus e caiu no desânimo, viveu a experiência do abandono, do medo, da covardia. E Deus o fez caminhar mais e espera-LO, no monte Horeb, mostrando que os sinais convencionais não diziam mais nada do Deus verdadeiro ao qual servia com zelo ardente.

Não será isto que nos está acontecendo, dando para a humanidade sinais de Deus que não têm significado e nem expressão para o hoje, o agora de nossos dias? Onde está a sabedoria que o Pai nos deu para discernir seu tempo e sua hora?

Nós, que caminhamos como e com o povo de Deus, estamos juntos atravessando o deserto, lugar do nada, do medo do ladrão, da tentação, mas que também pode ser o lugar da experiência do Deus de nossa contemplação, do nosso amor, da nossa fé, da nossa ESPERANÇA!

Um mundo novo, uma humanidade nova podem nascer desta experiência de Deus provada no deserto e que nos dará forças para caminhar junto do seu povo, rumo à terra prometida “buscando em primeiro lugar o Reino de Deus e tudo mais nos será dão por acréscimo”.

6. Discernimento: saber distinguir a falsa profecia

“Guardai-vos dos falsos profetas que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes”. ( Mt. 7, 15)

O profeta anuncia a salvação que vem de Deus e todo bem trazido por ela e, denuncia o mal que corrompe e perverte a criação de Deus, gerando o egoísmo, o orgulho, a vaidade, a opressão, a injustiça, o ódio, o pecado, enfim toda a espécie de mal que existe no mundo.

João Paulo II, em “Vita Consecrata” fala-nos sobre a verdadeira profecia, exprimindo-se assim: “A verdadeira profecia nasce de Deus, da amizade com Ele, da escuta diligente da sua Palavra nas diversas circunstâncias da história. O profeta sente arder no coração a paixão pela santidade de Deus e, depois de ter acolhido a palavra no diálogo da oração, proclama-a com a vida, com os lábios e com gestos, fazendo-se porta-voz de Deus contra o mal e o pecado. O testemunho profético requer a busca constante e apaixonada da vontade de Deus, uma comunhão eclesial generosa e imprescindível ”.

Este texto do referido documento eclesial dá-nos pistas para um bom discernimento, da falsa profecia, pois a mesma é contraditória à verdadeira.

Então qual é a falsa profecia?

É aquela que não tem o Deus verdadeiro como centro de seu anúncio. O Deus de Abraão, o de Moisés, o de Ester o de Isaias e dos outros profetas, como Elias e Eliseu, o de Maria, o de nossos Santos e de nossas Santas, o dos Mártires e que não é o Deus Uno e Trino cujo Filho unigênito vive no meio de nós.

A falsa profecia revela o deus do prazer pelo prazer, da felicidade que vem do poder e subjuga o homem, fazendo-o escravo, tirando-lhe os direitos de cidadania porque não aceitou o suborno para mantê-lo no poder.

Prega o deus que traz a felicidade que vem de um “ter” que foi conseguido na exploração de seu irmão ou irmã, sonegando-lhes um salário justo, os direitos trabalhistas, um “ter” vindo da corrupção, comprando com dinheiro valores, pessoas, invalidando ou criando leis novas para o favorecimento da riqueza ilícita.

Anuncia o deus do capitalismo selvagem que cria classes sociais, convalidando a miséria como uma das classes e justifica o neoliberalismoalidando ou criando leis novas do favorecimento da riqueza ilieu irmem do poder e subjuga ohomem com o seu consumismo, como o gerador do progresso.

A falsa profecia prega ainda o ódio, a guerra, cria nações poderosas que exploram outras, gerando a segregação pela força, negando o direito à saúde, à educação aos bens que lhes pertencem por direito de serem gerados nos paises explorados e qualificados como subdesenvolvidos porque suas riquezas naturais estão nas mãos das nações poderosas. Gerou também uma espécie humana de menos valor, um sub-homem ou sub-mulher que vivem no sub-mundo.

O falso profeta é do mesmo modo, um apaixonado pelo seu deus, descrito acima. Sua boca e seus lábios proferem palavras enganosas, anunciando uma felicidade passageira que vem do sofrimento daqueles que os poderosos sugaram-lhes a vida, fizeram-lhes seu objeto de prazer, subverteram seus valores pessoais em troca de seu silêncio. Aquele silêncio que poderia ser a grande e valiosa denúncia feita pela verdadeira profecia!

A verdadeira profecia pertence aos cristãos e de modo preferencial à Vida Consagrada e a nós Carmelitas que temos na base do Carmelo a inspiração de Elias. Ele era um profeta bem humano, ao alcance de nossa imitação, pois conheceu em si próprio a coragem do anúncio do Deus verdadeiro, mas também sofreu as limitações de ser humano: teve medo dos poderosos, escondeu-se! Viveu a santidade do verdadeiro Profeta e a intimidade de seu Senhor pelo qual se inflamou de zelo, mas não entendeu os sinais de sua presença e ainda achou-se imprescindível ao Deus Verdadeiro!

Se pelos frutos, conhece-se a árvore, pelo testemunho profético se distingue a verdadeira da falsa profecia. Um testemunho que dá sinais convincentes de quem vive com e em Deus. A coerência entre a vida e a palavra é outro sinal que diferencia o (a) profeta do Deus Vivo, à semelhança de Elias, dos profetas de Baal, no hoje de nossos tempos! A vivência de união com a Igreja é outro sinal da diferença entre as duas realidades aqui em questão!

As falazes e mirabolantes promessas, acompanhadas de milagres forjados são os sinais mais freqüentes de distinção de quem prega em nome do Deus dos nossos antepassados e dos deuses vendedores de ilusão, fazendo do ser humano um verdadeiro inocente útil para confirmação de seus milagres!

7. Comunidade orante e profética

No artigo sessenta de nossa Constituição encontramos: “A oração no Carmelo é resposta a uma vocação que lhe é peculiar na Igreja: vigiar sempre em oração. Isto constitui a principal missão da Carmelita para quem a oração e a ação apostólica brotam da mesma intimidade com Deus. Por isto as nossas Comunidades devem ser, no mundo, sinais da Igreja orante”.

O nosso ideal na oração, é por ela penetrarmos sempre mais, no mistério de Cristo. Guiadas pelo Espírito Santo, dóceis às suas inspirações, à imitação de Maria, no abandono à Divina Providência, desejamos realizar em nós e por nossa missão, o seu plano redentor e misericordioso, no mundo, caminhando na trilha de Madre Maria das Neves.

Exercemos o ministério da profecia, em união com a Igreja, participando, como consagradas, da função profética de Cristo. Que seja a vida de cada uma de nós a profecia contida nesse artigo de nossa Constituição.

A nossa profecia nasce e se confirma no cotidiano, da união com Deus, da união entre nós, pois a fraternidade é sinal profético num mundo cheio de divisões, de desamor, de disputa pelo poder e pelo ter!

O testemunho de vida simples, despojada, sem disputas para os primeiros lugares já é algo inquietante para a sociedade de hoje!

O acolhimento e a simplicidade são características marcantes das Carmelitas da Divina Providência! Madre Maria das Neves deixou-os seu testemunho de entrega radical nas mãos do Pai e uma herança espiritual que nos fala da vida na presença de Deus, da consciência tranqüila, para termos o céu perto de nós.

O salmo 14(15) nos fala dessa consciência tranqüila que nos recomenda a Santa Fundadora. “Senhor, quem pode habitar na sua tenda? É aquele que anda com integridade, pratica a justiça, não jura falso, fala a verdade, mas despreza a companhia do ímpio e honra os que amam a Javé. Não difama o irmão, não empresta com usura, nem aceita suborno contra o inocente”.

E assim, as Carmelitas da Divina Providência ouvem as palavras de sua Fundadora e as carregam em seu coração: “Minhas filhas, vivamos com a consciência tranqüila e teremos o céu perto de nós”. Caminham meditando no que ela disse, confirmado nas palavras do salmista expressas nesse salmo. O olhar contemplativo da querida Fundadora nos faz descobrir, amar e agir, profeticamente na transformação da realidade contemplada.

Viver com a consciência tranqüila, nesta pós-modernidade, é falar uma linguagem estranha às pessoas deste tempo, só mesmo o impulso profético de uma consagração dá sustento a esse gesto. Para nós Carmelitas da Divina Providência, é a força de uma dupla herança: a de Elias e a de Madre Maria das Neves que sustentam a coerência da nossa vida com o nosso anúncio!

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