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domingo, 6 de setembro de 2009


TEMA III

Congresso da ALACAR

Mística e Profecia no Carmelo: a experiência fundante.

Frei Francisco de Sales A. Batista, O. Carm.

1. A vocação: a experiência do Deus Vivo.

Toda experiência vocacional tem sua origem e princípio em um movimento amoroso plantado por Deus no coração humano que se transforma numa inquietação gerada pela consciência da presença daquele que vive e age na vida e na história das pessoas, impelindo-as a uma resposta generosa que envolve a construção de um ideal. Os primeiros Carmelitas viveram esta experiência quando, mergulhados num contexto um tanto ‘medíocre’ de vivência da fé, buscaram dar vazão a um desejo incontido de radicalidade, e se fizeram peregrinos do absoluto, tentando dar sentido à vida através da incessante busca da face do Deus vivo. Movidos por este desejo de fidelidade radical ao evangelho, eles peregrinaram para a Terra Santa, com o intuito de lá encontrarem o Senhor da terra, descobrirem os seus caminhos, trilharem suas veredas (Sl.24,4), construindo assim o sentido de plenitude para suas vidas dispersas.

O movimento que eles integraram, chamado Peregrinatio Ierosolimitana, tinha como foco principal a busca de um contato quase físico com as fontes mais genuínas da fé, simbolizadas nos lugares marcados pelos feitos e acontecimentos narrados nas Escrituras Sagradas, especialmente aqueles da vida de Jesus. Nestes espaços, eles descobrem a face do Deus vivo e encontram a razão para a inquietação que os movia num processo de êxodo e transformação, cuja meta era a conformação com Cristo na sua vida, paixão, morte e ressurreição. “A terra de Jesus é o espaço que acolhe a epifania do único Deus, o Pai, revelado e manifestado no Filho Salvador, pela potência do Espírito Santo” (Carlo Cicconetti, in Simboli Carmelitani, p. 73).

O Monte Carmelo foi o espaço referencial para o qual os primeiros carmelitas se sentiram convocados a fazer a experiência de encontro com o Deus vivo. É uma realidade carregada de simbolismo e significados, com o poder de revelar a natureza da dinâmica do propósito de vida por eles abraçado e de conferir ao grupo uma identidade:

· O Monte é um jardim onde a vida é exuberante, memorial do jardim primaveril, no qual o ser humano, moldado à imagem e semelhança do Criador, goza de sua familiaridade;

· É o lugar no qual, a beleza, com seus matizes e cores, revela-se como via para a redenção do ser humano, feito íntegro para a experiência do belo;

· É solo profético, marcado pela presença e ação do Profeta Elias, ícone do homem apaixonado por Deus, que vive em sua presença e se deixa consumir de zelo pela causa do Senhor e que se transforma em modelo e guia para a vida de santidade que eles buscavam viver;

· É um memorial do caminho de ascensão para Deus, símbolo da longa jornada empreendida pelo peregrino até à íntima união com o Senhor.

2. Nova consciência nascida da certeza “Deus conosco” – liberdade interior

O Monte Carmelo foi lugar do encontro das aspirações dos corações inquietos dos primeiros carmelitas. O monte fez ecoar em seus corações a voz do deserto, do silêncio como lugar da redenção de suas vidas. Ali, eles deram à luz a um modo de viver que acentuava uma escala de valores diversa daquela apresentada pelas expectativas de felicidade da sociedade na qual eles vivam e da qual se retiraram para salvar suas vidas. Recordavam à Igreja do seu tempo, que o cristão “não tem aqui cidade permanente, mas busca aquela futura” (Heb. 13,14). O silêncio, por eles escolhido, foi o campo de batalha (combate espiritual) para a conquista da terra do próprio coração para Cristo. No retiro do Carmelo, eles recompõem, de forma radical, o tecido da própria humanidade, agora compreendida à luz do mistério do amor de Deus. A montanha deixou de ser um espaço geográfico determinado para ser uma terra de vastas dimensões, o qualificativo da própria experiência interior de ascensão para Deus. O Carmelo será, pois, uma montanha interior que, na jornada para a intimidade com Deus, atuará como lugar da mais profunda solidão e da mais intensa comunhão, enquanto componentes indispensáveis para a ascensão do Carmelita na construção da liberdade interior.

Assim posto, descobre-se o caminho Carmelita, na experiência fundante do Carmelo, passa necessariamente pelo monte, com todos os significados que a espiritualidade e a tradição mística lhe atribuíram. Para os primeiros Carmelitas foi o lugar da parada dos peregrinos, sua Terra Santa, o espaço do encontro que transformou suas vidas, o caminho da subida, da jornada para a comunhão com o Senhor. O Monte confere ao grupo um nome, uma identidade, uma terra. Eles irão levá-lo a todos os recantos por onde se espalharam, fazendo de suas habitações outros “Carmelos”, lugares evocativos da aventura inicial nos quais se custodia, nutre e se desenvolve o dom particular com o qual o Espírito Santo agraciou aqueles que foram os primeiros pais. Eles foram peregrinos, homens inconformados com um modelo de viver a fé que não mais respondia às demandas de sua própria busca. Inquietos e movidos pelo desejo de seguir a Jesus mais de perto, desinstalaram-se, fizeram as rupturas necessárias, construíram o novo e se arriscaram para garantir a autenticidade de sua fé e de sua busca e a liberdade que sonhavam alcançar

3. Justiça e a Paz: lutar pela reconstrução da convivência social mais justa e mais fraterna.

Na experiência original dos primeiros Carmelitas há um propósito fundamental a partir do qual toda a existência é ordenada e a própria dignidade da vida cristã que eles buscavam viver e testemunhar com radicalidade é reconstruída, de forma a transformar-se em força de convocação, oferecendo à Igreja e à sociedade um novo modo de estar no mundo como resposta às demandas da fé. A Regra expressa na atitude de “... in obsequio Ihesu Christi vivere” a perspectiva da nova construção da existência. É ao mesmo tempo um convite e um indicador permanente a partir do qual a qualidade da vida é retomada. “Viver no obséquio de Jesus Cristo” implica assumir uma atitude de seguimento incondicional de Jesus como Mestre, contemplá-lo como modelo sublime da vida que se busca; é abrir-se a uma atitude de imitação, fazendo o que fez Jesus, tendo o seu sentimento, pensando como Ele, amando com o seu coração, agindo com as mãos de Cristo. Os Carmelitas tinham a consciência de que sua razão de ser estava centrada em Cristo e a transformação da vida por eles empreendida tinha como meta a plena configuração em Cristo.

Este processo não é uma simples compreensão da vida que atinge somente o nível da racionalidade. É algo concreto, permeado de mediações, atitudes e valores que expressam de forma vivencial a novidade que foi abraçada. A Regra oferece estes elementos ordenados em um ritmo, com espaços sempre abertos para a ação criadora de Deus que, pelo seu Espírito, irrompe no andar da história. A Vida em comunidade, a solidão, o trabalho, a comunhão de bens, o silêncio que favorece a justiça, o combate espiritual, o serviço desinteressado, a obediência e o discernimento são atitudes permanentes que forjam a construção de uma nova ordem de valores, qualificam as relações e propõe uma forma de vida, ordenada por um justo equilíbrio de forças, que se transforma em anúncio e testemunho para a Igreja e para a sociedade.

4. Solidariedade: refazer o relacionamento humano

Um dado significativo das origens do Carmelo é o fato de não existir a figura de um fundador ou líder carismático que condensa em si a energia carismática inicial que é transmitida aos discípulos que, cativados pelo seu modo de ser, são congregados em torno dele. Deparamo-nos nas origens, com um grupo de eremitas que, reunidos em torno de um propósito comum, colocavam o ideal da primitiva comunidade de Jerusalém (At. 2, 42-47) no centro de sua visão. O ideal da primeira comunidade dos cristãos atua como protótipo e paradigma em todos os movimentos de reforma ao longo da história da Igreja. No tempo do nascimento do Carmelo, quando a imagem Jerusalém despertava o fascínio em peregrinos que ansiavam por uma vida de autêntica fidelidade ao Evangelho, o tipo bíblico da comunidade primitiva inspirou de forma decisiva o ordenamento da comunidade dos primeiros carmelitas, na sua estrutura e valores fundamentais.

A arquitetura da vida e do espaço, na sua dinâmica, era organizada de forma a condensar valores permanentes que visavam responder a um desejo comum de fidelidade radical à proposta do Evangelho. Assim, a comunidade enquanto lugar de vivência da fraternidade tornar-se-á o referencial fundante primordial. A razão da existência do Carmelo deve-se, portanto, a uma comunidade de irmãos que discerniu a vontade de Deus e ordenou a vida através de atitudes e estruturas que respondessem ao propósito de vida por eles abraçado.

Viviam em um local aprazível e solitário, distantes o suficiente uns dos outros; dedicavam o seu tempo à oração e reflexão; liam as Escrituras e procuravam marcar com suas linhas os seus corações; jejuavam; trabalhavam e marcavam suas vidas ao compasso do silêncio; reuniam-se diariamente para a eucaristia e semanalmente para revisar a vida à luz do propósito comum; viviam uma vida de pobreza; seu líder era eleito e morava à porta da habitação comum; acolhiam e serviam àqueles que batiam a sua porta. O ritmo de vida no Monte Carmelo centrava suas existências dispersas através do binômio solidão/comunhão e apaziguava suas mentes confusas, libertando os seus corações das urgências e compulsões do tempo, dispondo-os a uma vida de fraternidade operante que se transformou em sinal e profecia para o mundo dilacerado por discórdias e divisões.

Esta visão original do Carmelo condensa o ideal primeiro de fidelidade que se aninhava no coração daqueles que, advindos de vários lugares e contextos humanos e sociais decidiram formar uma fraternidade. A Regra procurou expressar em suas linhas, através de atitudes muito concretas, uma forma de vida que se transformou no referencial permanente, na fonte de onde todo o Carmelo, na sua diversidade de expressões, busca nutrir-se, enquanto torna histórico em cada tempo o carisma concedido. Enraizados nestes valores permanentes, o Carmelo, em todos os tempos, assume a responsabilidade comum de ser testemunha permanente de uma “fraternidade contemplativa no meio do povo” com todas as conseqüências que esta afirmação encerra.

5. Utopia do Reino: animar a Esperança do povo.

O grupo primitivo do Carmelo é parte de um grande movimento de renovação que toma conta da Igreja e da sociedade no final do Século XII e início do século XIII e que se expressou concretamente numa multiforme presença de formas de vida, que no confronto com o Evangelho, questionavam o modus vivendi da sociedade e da Igreja do seu tempo, e buscavam oferecer novas formas radicais e autênticas de seguimento de Jesus Cristo em resposta às transformações porque passavam a sociedade e a Igreja no seu tempo. Alguns desses movimentos, em sua maioria laicais, acentuavam a pobreza evangélica como razão fundamental de suas aspirações de fidelidade; outros buscavam na solidão dos ermos as raízes da própria fé, recuperando os valores essenciais da vida cristã em confronto direto com a integridade do ensinamento evangélico. Todos, a partir de um novo modo de vida, chamavam atenção de toda a Igreja para um retorno ao essencial e acendiam no coração das pessoas o desejo de conversão e a esperança de uma coerência de vida em conformidade com o Evangelho.

O “lugar” vocacional dos primeiros Carmelitas transforma-se em paradigma para a formação da identidade do grupo, intimamente ligado ao Carmelo e ao Profeta Elias. Este é eleito como figura arquetípica para o dinamismo do modo de vida dos eremitas do Carmelo. Os testemunhos mais antigos relacionam o grupo dos primeiros carmelitas ao Monte e à figura do Profeta. A partir destes referenciais, explicitam o propósito e o fim da vida por eles abraçada. O monge grego Johannes Phokas nos conta em um relato de viagem do ano 1185, que um dos cruzados do ocidente, vindo da Calábria, foi inspirado pelo próprio Profeta Elias a reunir no Monte Carmelo os eremitas que viviam na redondeza, a fim de que se juntassem para uma vida em comum. Também é digno de menção o testemunho de Jacques de Vitry em sua “História Orientalis” sobre a vida dos primeiros Carmelitas e a dignidade de sua vocação: “Outros segundo o exemplo e imitação do santo e solitário homem, o profeta Elias, vivem a solidão, no Monte Carmelo... em pequenas celas, como abelhas do Senhor, produzindo o mel da doçura espiritual” (Ancient Carmelite Texts – Publicação dos Carmelitas Descalços da Inglaterra 1982)

Sob muitos aspectos, o Profeta Elias transforma-se na figura inspiradora referencial para os Carmelitas: sua intimidade com Deus, sua fé, sua experiência de fragilidade, sua ação em defesa da justiça e da dignidade da vida, sua vida em comunhão com os “filhos dos profetas”, serão sempre evocados como referenciais para a novidade de vida que eles buscam testemunhar.

A eleição da Virgem Maria como “Senhora do Lugar”, irmã e modelo da fidelidade desejada, em quem os Carmelitas “contemplam como em perfeita imagem o que esperam e desejam ser na Igreja”, confere um caráter particular à forma de vida dos Eremitas do Carmelo e uma dinâmica própria de familiaridade com Deus e de construção da fraternidade entre os irmãos que, sem dúvida, condensa uma força de profecia e anúncio para a Igreja no seu modo de presença no mundo.

6. Discernimento: saber distinguir a falsa profecia.

Na vida da comunidade carmelita, para além da norma, a Regra atua como poderoso instrumento de animação da vivência autêntica do Carisma. Ela fornece elementos e atitudes para um contínuo discernimento da dimensão testemunhal e profética da vida:

  • A escuta e a meditação quotidiana da Palavra de Deus no recolhimento da cela constrói e dinamiza a qualidade da vida. A Palavra Sagrada deve habitar na boca e no coração do Carmelita, a fim de que tudo seja feito na Palavra do Senhor (Regra 19). A familiaridade com a Palavra sagrada deve marcar a vida de cada Carmelita. A qualidade de nossa resposta ao chamado que Deus nos fez passa necessariamente pela capacidade de nossa familiaridade com a Sagrada Escritura. A freqüência quotidiana à Palavra, através da escuta, meditação, oração, plasmam, a partir do seu interior, o Carmelita que, nutrido com o alimento da Verdade revelada, adquire a sensibilidade divina para marcar o compasso da vida no ritmo da Palavra de Deus.
  • A reunião semanal (regra 15) na qual se trata da observância da vida é outro instrumento permanente de discernimento da qualidade da vida em confronto com os valores perenes e sustentam o edifício da existência da Comunidade Carmelita.
  • O oratório, lugar da oração e da Eucaristia comum, enquanto espaço central na arquitetura do Carmelo fornece o nutrimento necessário para a qualidade da vida que se busca testemunhar. O Carmelita é chamado cada dia da solidão de sua cela para o encontro com os demais ao redor da mesa do Senhor. Lá acontece a verdadeira Koinonia e se descobre a alegria de viver em comunidade como força de testemunho. Para a comunidade carmelita, a eucaristia não é somente um anúncio de fraternidade, mas um sinal visível de sua realização. A participação na mesa Eucarística expressa a unidade de vidas doadas, oferecidas, à semelhança de Jesus que se doou plenamente pela humanidade. “Nisto nós conhecemos o amor: Ele deu sua vida por nós e nós também devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo. 3, 16). Da eucaristia vivida nasce a missão e o testemunho com todas as dimensões e horizontes que eles comportam.
  • O combate espiritual, necessário para a construção da autêntica fidelidade ao propósito de seguimento radical de Cristo, expressa o dinamismo da vida que, por um lado, deve estar acompanhado de contínua vigilância, para preservar seus valores fundamentais, e, por outro, deve ser combativo no sentido do enfrentamento permanente de todas as forças que se erguem em oposição ao ideal de vida perseguido.

· A regra recomenda o silêncio como um valor fundamental e espaço para o discernimento e o equilíbrio da qualidade da vida e para a prática da justiça. O silêncio recomendado é a atitude de quem descobriu que em Deus se encerra tudo aquilo que anela o coração humano. Ele é o único que pode curar este vazio do ser humano, que ninguém pode preencher. O cultivo do silêncio contemplativo na vida do Carmelita torna-o capaz de reconstruir-se interiormente e reconstruir o tecido da comunidade de forma mais digna e humana. No silêncio com Deus, aprende-se a escutar e amar aos seres humanos. Desde esse silêncio é mais fácil captar todo o bom, o belo, o digno, o grande que há na vida humana. E é mais fácil também escutar os sofrimentos e a dor da humanidade ferida, pois “é no silêncio que se cultiva a justiça”[1]O verdadeiro silêncio faz o carmelita mais sensível aos medos, anseios e esperanças dos seres humanos. É sua experiência de Deus que o leva a amar mais profundamente a comunidade humana e a ser sinal de esperança no mundo.

· A autoridade do testemunho do Apóstolo São Paulo é apresentada como caminho seguro para um discernimento e para a autenticidade da vida: “... tendes o ensinamento e igualmente o exemplo de São Paulo, apóstolo, por cuja boca Cristo falava, e foi constituído e dado por Deus como pregador e mestre dos gentios na verdade e na fé, o qual se seguirdes, não podereis errar” (Regra 20)

· Os “espaços abertos” presentes em todo o texto da Regra favorecem o dinamismo da vida, permitem uma fidelidade criativa, numa atitude de contínua atenção aos sinais dos tempos e lugares que interpelam e demandam respostas novas que vão para além do texto. “Se alguém, porém, fizer mais do que o prescrito, o Senhor mesmo, quando voltar, o recompensará; seja usada, contudo, a discrição, que é a moderadora das virtudes”. (Regra 24).

7. Comunidade orante e profética.

Fiéis à grande tradição da vida contemplativa, que, na história Igreja, nasce como um movimento marginal de apelo à fidelidade ao Evangelho e volta às fontes mais genuínas da fé, os primeiros Carmelitas, a partir de um estilo de vida centrado na profunda experiência de Deus, são sinais e profecia para a Igreja e para o mundo. A vida de oração e a profecia são realidades que se entrecruzam na experiência do Carmelo e jamais podem ser dissociados. Os primeiros Carmelitas foram uma comunidade orante porque assumiram a audácia profética e foram profetas porque fizeram de sua experiência de comunidade contemplativa uma força de anúncio e testemunho em tempos de profundas e necessárias transformações, sobretudo quando o fosso entre o ideal evangélico e a prática concreta dos cristãos fazia ecoar um grito de redenção para a Igreja. Ofereceram, com a simplicidade de seu modo de vida, um caminho alternativo para a comunidade dos seguidores de Jesus.

Eles não se permitiram ser meros expectadores e simples observadores do mundo no qual viviam e foram capazes de nutrir a esperança, alimentar um sonho e comunicaram de forma contagiante uma visão poderosa da vida capaz de perpassar os séculos e chegar aos nossos dias com o mesmo frescor das origens.

A experiência fundante do Carmelo condensa, pois, uma força simbólica potente. Nossos primeiros pais são memória viva das verdades fundamentais sobre nossa vida enquanto Carmelitas, realidades que, comumente, tendemos a esquecer. São eles, de fato, profetas da única verdade capaz de despertar em nós o desejo de aprender de novo aquilo que realmente devemos ser e recompor a beleza de nossa existência. “Recordemos que nossa vida religiosa tem seus fundamentos entre as rochas do Carmelo e que nossos antigos pais viveram no deserto [...] com grande santidade. Se queremos ser seus legítimos imitadores, amemos a solidão com singular afeto. Com razão se podem aplicar aqui as palavras do profeta Isaías: ‘olhai para a rocha da qual fostes talhados, para a pedreira de onde fostes tirados’(Is. 51,1)” (Diretório dos noviços da Reforma Touronense III,5 )


[1] Regra 21

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