Nós, os irmãos da Comunidade TOC, “Zelo Zelatus Sum”, acolhemos a tarefa de partilhar nossas reflexões e oferecê-las, desejando que possam servir ao crescimento de toda a família carmelitana.
Lima, peru, Setembro de 2008
1o. VOCAÇÃO: EXPERIÊNCIA DO DEUS VIVO
Quando experimentamos o Deus vivo próximo de nós revela-se o que Ele quer que façamos em nossa vida; O descobrimos em nosso meio e Ele nos faz viver experiências incríveis de seu amor, aprendemos a amar como Ele nos ama, sem questionamentos.
O cristão deve tornar conhecido o Cristo que vive dentro dele, não apenas através dos ritos ou celebrações religiosas, mas também de forma direta e humana: no trabalho, na música, no estudo. Elas constituem vias efetivas para se chegar àqueles que pela razão desvalorizam a priori viver a experiência do Deus vivo. Em minha pessoa, em meus afazeres o que faz com que os demais creiam num Deus vivo?
Deus me conhece e me chama pelo nome; desse momento em diante não sou mais o mesmo, nem meu nome soará do mesmo modo em meu interior. Deus me convocou e deu-Se a conhecer a minha consciência; transformou-a, fazendo-a diferente e dando-lhe sustento. Descubro que sua presença abarca tudo em meu ser e em minha vida, as vezes de maneira oculta ao meu conhecimento e outras de forma clara.
Conhecer ao Deus da vida? Somente com a ajuda de sua graça. Fazer a experiência de Deus é ser tocado pelo Amor que não se contém em si mesmo e se comunica. Meu ser inteiro estremece ante a experiência de sua presença e abarca todas minhas relações: passadas e presentes. A experiência de um Deus vivo que chega perto, próximo, que pergunta: “Que queres que eu faça por ti...?” (Mc. 10, 51), como ao cego de nascimento, assim age com todo aquele que se achega, que se aproxima Dele.
A resposta não se faz esperar; a cura, a saúde vem. A Vida chega de maneira completa. Ele dá vida, vida em abundância, com toda gama de sentimentos, emoções e circunstâncias que ela implica, nos faz estar bem e sentir Sua Presença em meio das vicissitudes da vida. Sentir Paz, encontrar o lado bom: a visão cristã dos acontecimentos da vida.
Somos chamados a viver plenamente nossa realidade, a assumi-la. No Evangelho encontramos a pergunta: “Que queres que faça?”. O Senhor assume assim um compromisso de realização, de plenitude e dignificação com a pessoa toda e não apenas com um aspecto da mesma. Nossas comunidades terceiras são chamadas a continuar esta atitude e resposta que o Senhor nos ensina: “Que queres que faça”, devem converter-se em espaços onde cada um de seus membros assumam, transformem e dignifiquem suas realidades a partir do encontro com este Deus Vivo; devemos converter-nos em sinais críveis, visíveis de como a oração pode tornar plenas nossas realidades de fraternidade e serviço aos demais.
2º. NOVA CONSCIÊNCIA: NASCIDA DA CERTEZA DO DEUS CONHECIDO
(Liberdade interior)
Um Deus conhecido e percebido próximo me motiva, me convida, me atrai para a reconciliação. Um Deus que ao me escutar inicia uma relação e tomando a iniciativa me propõe que O conheça.
Tomo consciência da certeza deste Deus que se mostrou ao longo de minha história, que esteve comigo nos vários momentos da vida e entro em relação com Ele. Em nossas comunidades este estilo de vida se torna concreto e palpável na coerência do compromisso e na doação que realizamos com liberdade interior, quando realizamos a profissão dos votos como terciários ou nossa consagração como leigos.
A certeza de tê-Lo vivo e presente em nossa vida muda a maneira de ver o mundo e o que acontece nele. Conhecê-Lo foi a maneira de descobrir como nos ama e de que maneira podemos viver seu amor. A certeza é a experiência do encontro com o Deus Vivo, o Deus da Vida. A partir desse momento, a pessoa assume uma opção com liberdade interior e articula um estilo de vida.
É assim que a fraternidade vivida no interior de nossas comunidades possibilita a cada um de seu membros dar uma resposta pessoal e íntima à pergunta do Senhor: “e vocês, QUEM DIZEM QUE EU SOU?” (MT 16, 15).
Talvez nossa resposta teria que ser: “... o Deus a quem pertenço e a quem presto culto...” (cf. Atos 27, 23). Ao qual entrego minha vida. Paulo fala e atua em nome de um Deus conhecido por ele de forma pessoal e próxima. Sua proximidade é tal que sente que todo seu ser lhe pertence; oferecer-Lhe seus afazeres de cada dia é o culto que lhe deve e o oferece.
Deus se encarnou para oferecer-nos sua amizade e nos ensinar como partilhar Sua Vida. Aconteceu a aqueles que seguiam a Jesus porque queriam conhecê-lo: “Jesus voltou-se e ao ver que o seguiam lhes disse: “Que procurais? Eles responderam: “Mestre, onde moras?. Ao que respondeu: Venham e vejam. Foram e viram onde vivia e ficando com ele aquele dia...” (cf. João 1, 38-39). Somente então tomaram a decisão de unir suas vidas à de Jesus. Já não havia outro caminho na vida. Tiveram ou adquiriram uma nova consciência de que doavam sua liberdade.
Assim acontece conosco ao tomarmos consciência deste DEUS, que nos acompanha, que conhecemos, a quem podemos doar nossa liberdade e viver Nele.
3º. JUSTIÇA E PAZ: LUTAR PELA RECONSTRUÇÃO DE UMA CONVIVÊNCIA SOCIAL MAIS JUSTA E MAIS FRATERNA
O fruto da Paz é a Justiça (Tiago 3, 18). E a justiça se constrói; se faz no dia a dia. Somos testemunhas em nossos centros de trabalho, em nossos colégios, escritórios, em nosso caminhar por situações de injustiça, de maus-tratos. Somos testemunhas do modo como são tratadas as pessoas que convivem conosco, das oportunidades negadas e também da maneira como não permitimos que se desenvolvam como pessoas.
Somos chamados a mudar este contexto, conscientes do dever de mostrar este Deus Misericordioso que nos compromete a partir do nosso laicato carmelitano a reconstruir as relações pessoais; a melhorar a convivência, a tornar nossos ambientes mais justos e fraternos. Ele nos compromete a realizar esse desejo interior de que todos sejam felizes.
Nós, cristãos, vamos tomando consciência do compromisso de transformação do mundo e que a participação de cada um de nós é indispensável. Isto nos obriga a pensar e atuar de maneira distinta.
Sabemos que temos o dever de mostrar a todos como Deus é, o quanto nos ama e como nos ama. Tratamos de procurar respostas para esse amor, nossa resposta concreta nos leva a trabalhar por um mundo melhor no qual todos sejamos igualmente felizes e tenhamos as mesmas oportunidades. Um mundo onde haja paz e justiça para todos mas não que outros o procurem para nós mas que nós o construamos a partir do lugar que nos cabe viver. Em nossas comunidades terciárias trabalhar pela construção da família e das relações pais e filhos é uma prioridade.
Por não tratar o assunto de justiça e paz como um tema ou problema que há que resolver ou como uma série de ações que temos que realizar mas a enfocar o assunto a partir da atitude do que devemos e temos que viver: VIVER NA JUSTIÇA E NA PAZ nos dá uma perspectiva diferente como leigos terciários.
“A ti te digo: Levanta-te e come, pois o caminho é longo”... (1 Reis 19, 7b). Come, fortalece-te no Senhor, ora, comunga. O caminho é longo, seja constante, há muito que fazer. A vivência das comunidades terciárias há de centrar-se neste desafio permanente de impulsionar as pessoas e ambientes sociais a levantar-se e caminhar para trabalhar nesta vivência social alternativa. Esta atitude amplia nosso horizonte, os desafios e ações a assumir como construtores do reino. “Amem-se uns aos outros como eu os amei” (João 15, 11), deste mesmo mandamento emana os afazeres sociais do cristão já que somos guardiães da vida de nosso irmão, imagem e presença do Deus Vivo entre nós (Cf. Mateus 25, 31-46). Expressamos desta maneira nossa fidelidade à vocação profética que recebemos de Elias.
A pobreza pessoal, o seguimento de Cristo pobre e humilde, é um sinal profético que denuncia um mundo construído sobre a idolatria do material e o culto do poder para possuir. (Hedonismo, consumismo, egoísmo).
4º. SOLIDARIEDADE: REFAZER AS RELAÇÕES HUMANAS
“QUEM É MINHA MÃE E MEUS IRMÃOS” (Mateus 12, 48)
A solidariedade, ou melhor, a atitude solidária, não pode ficar no plano da intenção ou do propósito. Deve levar-nos a trabalhar numa série de ações caracterizadas pela ternura, a escuta, a acolhida, o diálogo e o acompanhamento (preocupação e ocupação para partilhar e resolver juntos as situações de carência e injustiça dos irmãos). Transformar o mundo pela prática de uma nova forma de viver e poder dar conta disto.
A pergunta é: como refazer as relações humanas? Tu não conheces o irmão necessitado, mas se o reconhecer em teu coração, porque o Senhor move teu coração e todo teu ser para ser solidário, ser fraterno com o irmão.
Ser no âmbito pessoal e comunitário é a expressão constante e sensível da presença misericordiosa de Jesus. “Nisto verão que são meus discípulos” (João 13, 35).
O Senhor atua quando aparece a partilha com o outro que se converte em irmão.
Ele nos acompanha e anima quando oramos com e pelo outro para que cure seu coração e o encha de paz; reconforte-se em nossa presença, então o outro se torna nosso irmão e começamos a partilhar uma história de fé com os demais, os outros transformam-se em nossos, nossos irmãos.
A solidariedade nos faz irmãos e portanto responsáveis. Faz-nos dizer NÓS e refazer as relações de uma maneira diferente. O conceito de solidariedade encontra seu fundamento na afirmação: “Todo homem é meu irmão”. A solidariedade pretende fazer-nos mais humanos e irmãos.
A solidariedade é possível na medida em que nos tornamos capazes de deixar, converter e transformar tudo aquilo que nos faz supor que somos uma classe ou grupo especial.
Nossas comunidades terciárias para viver a solidariedade, necessitam crescer na aceitação e trabalhar para a promoção das diferenças pessoais, religiosas, culturais que nos leve a realizar um trabalho conjunto com aqueles que pensam, sentem e vivem de modo diferente. Ser solidário implica abrir nossa mente e coração a um olhar mais fraterno e de serviço tendo como base uma experiência cotidiana de oração contemplativa. Para contemplar o homem, ao outro, ao irmão e estabelecer novos vínculos e relações amparados no amor. Romper esquemas, conjunturas jugos, grades, amarras... nas nossas formas de relação em sociedade.
Se estas atitudes não são características das nossas comunidades ainda não estamos partilhando o carisma e o espírito do Carmelo e se nossos trabalhos pastorais não refletem estas características então não estamos vivendo os princípio evangélicos que distinguiam as primeiras comunidades cristãs. Estas atitudes realizam a vontade de Deus Pai. E Ele nos tornou irmãos.
5º. UTOPIA DO REINO: ANIMAR A ESPERANÇA DO POVO
Que nossa atitude de servos, servidores e nosso atuar seja possível que os demais, o povo, restaure sua confiança
Um Deus vivo que está em nosso meio nos ensina a ter esperança. A não nos deixarmos vencer por nada nem ninguém. Se “Deus está conosco, quem estará contra nós” (Romanos 8, 31). A esperança em Deus não é uma utopia se nasce da experiência de um Deus Vivo que está ao nosso lado animando-nos a ser melhores, da certeza de que Ele nos ama, da vivência da ressurreição e da transformação de nossa vida em vida nova e estas certezas nos levam a construir o Reino.
Animar as pessoas considerando as experiências de comunidades que através de um trabalho conjunto desenvolveram habilidades não previstas. Este animo aparece no trabalho criativo e organizado das pessoas, que se convertem em portadores de uma “confiança em si mesmos” de comunidades inteiras. Assumindo uma atitude crítica e construtiva frente às circunstancias que nos cabe viver.
Na medida em que nos chamemos cidadãos do reino, que nos sintamos participantes do reino, colaboradores, responsáveis, que façamos nosso esse trabalho, estaremos contribuindo para que desapareça a utopia e se torne realidade. É necessário confrontar esta realidade com a Palavra de Deus através da lectio divina.
Daí a necessidade de converter nossa oração, fraternidade e serviço em sinais sensíveis e visíveis que transmitam a esperança em Deus pelo mundo.
O termo Utopia nos obriga a repensar nosso atuar no sentido que toda realização humana é limitada e relativa. Tudo é também suscetível de melhora. Esta melhora nos leva a pensar que tudo será pleno quando a criação retornar ao seu criador. No entanto, todo esforço humano se torna realidade com a participação de Deus.
Por isso pensemos no Magnificat (cfr. Lucas 1, 46-55), esta oração que contém um contexto utópico mas real: há um anúncio evangelizador, uma boa notícia do Amor de Deus encarnado; acontece a alegria em Deus que nos salva; nos mostra a face de um Deus misericordioso que cumpre suas promessas porque é fiador da vida de seu povo. O Magnificat é a visão contemplativa daquilo que Deus quer para o mundo e isso é a Utopia do Reino.
6º. DISCERNIMENTO: SABER DISTINGUIR A FALSA PROFECIA
Falar de discernimento é falar da abertura à ação de Deus em nossa vida. É na contemplação que se purificam nossas intenções para que logo se inicie as ações e se tenha paz no coração.
Os profetas do Antigo Testamento sofriam ao ver seu povo vítima dos imorais e poderosos, por isso denunciavam a realidade injusta, os atentados contra a vida, aqueles que propunham os vícios e a corrupção e procuravam uma mudança de atitude ou o que é mais importante: uma mudança de coração.
Este profetismo falado no Carmelo refere-se também em nossos contextos atuais a uma busca por mudança de atitude, mudança de coração. Para estar de acordo com ele, nas coisas públicas há de se denunciar a maldade e ao mesmo tempo, guiado pelo Amor, ativado pelo Espírito e movido pela boa intenção, trabalhar pela defesa das pessoas.
Aparece então o ensino de Jesus “Corrige teu irmão a sós” (Mateus 18, 15), que ele reflita sobre a realização de seu trabalho, missão e que entenda que age assim porque o ama. Tudo deve ser feito com ternura e delicadeza para com aqueles que erram, com aqueles que se equivocam. É teu amigo aquele que se equivocou, é teu irmão aquele que agiu mal. Ajuda-lhe a seguir em frente na vida. Isto é justiça. Fale para ele dos elementos positivos que há na vida. Este é o discernimento que deve utilizar todo aquele que é leigo consagrado, membro da Ordem Terceira.
É necessário que nossas comunidades possam formar-se no exercício do discernimento baseadas numa formação bíblica e espiritual, de maneira que dentro delas se mantenha um espaço de oração, aprendizagem e conciliação entre a realidade a realização do Reino. Tudo aquilo que seja contrário à proposta do Evangelho é FALSA PROFECIA.
7º. COMUNIDADE ORANTE E PROFÉTICA: FAÇAM ISTO
Por que somos Comunidade Orante?
Nossas comunidades carmelitas definem-se por sua atitude contemplativa que nos impele a Viver em Obséquio de Jesus Cristo. Encontramos na oração, na fraternidade e no serviço notas distintivas e uma maneira diferente de viver as relações com os irmãos.
Ser membro de uma comunidade que ora, nos faz descobrir nossa missão. Testemunhamos que a oração permanente, individual e comunitária, nos mantém
Que quer o Senhor que façamos? Que permaneçamos em oração (cfr. Lucas 22, 46). Quando nos reunimos para orar, começamos a discernir e nossa consciência é levada a profetizar.
A própria comunidade é um testemunho profético. Partilhamos a mesa do Amor, que nos nutre com o pão fraterno e assim damos testemunho, começando a viver nossa fé na ótica de novos compromissos.
Onde a lei está escrita? Em tua consciência? Está em teu coração, impelindo-te a pregar, a profetizar a Boa Nova em teu ambiente, pois sai de tua consciência e se manifesta na Palavra. Esta é nossa maneira de pregar o Deus conosco.
Possuímos uma raiz, uma tradição de oração e profecia: Elias, Monte Carmelo, Espada são sinais bem claros desta herança. Ao abrires teu coração a Deus a palavra penetra em ti, queima teu peito, abrasa-o e te impele a falar: “Ardo de amor ciumento pelo Senhor” (1Reis 19, 10). Assim nasce e assim continua nossa missão de profetizar.
Nossas comunidades devem ser espaços de celebração e promoção da vida, de desenvolvimento de atitudes concretas de serviço e fraternidade, de modo perseverante próprio do leigo consagrado.
Fantástico! Quantas coisas compreendi até agora.Bendito seja Deus para sempre!
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